Cangaceiros de Elise Jasmin Por:Cicinato Neto

Ivanildo Silveira e Cicinato Neto em dia de Cariri Cangaço

Em 2006, foi publicado o livro "Cangaceiros", da francesa Élise Jasmin. Trata-se de uma edição de luxo, trazendo as fotos conhecidas dos cangaceiros e dos principais componentes de volantes. A maioria das fotos é do acervo de Benjamim Abraão, da década de 1930. Quase todas as fotografias são comentadas pela autora. Destaque para um escrito introdutório do mestre Frederico Pernambucano de Mello. O livro ressalta-se pela beleza e pelo cuidado na sua edição, embora tenha pequenos defeitos, entre os quais a indicação errônea de alguma fotografia ou de algum detalhe como o nome de um cangaceiro.

Estrutura: Texto de Frederico Pernambucano; A Guerra das Imagens; Fotografias de Cangaceiros e componentes das volantes; Comentários sobre as imagens. 

Trecho significativo (edição utilizada: São Paulo, Terceiro Nome, 2006, p. 23-24):
"Enquanto seus predecessores tinham feito de sua existência no cangaço um meio de obter vingança, após 1926 - e, mais especificamente, a partir dos anos 1930 - o grupo de Lampião fez do cangaço um meio de adquirir bens materiais, riquezas, e uma notoriedade que lhe permitia obter respeito de parte da classe abastada da sociedade do sertão e de algumas personalidades da vida pública e política da região. Embora muitos jornalistas fizessem questão de demonstrar desprezo por um grupo de indivíduos que se limitavam a imitar a sociedade do litoral, Lampião e seus cangaceiros exerciam sobre eles certo fascínio, gerado por essa mistura de riqueza, extravagância e barbárie. E, mesmo a contragosto, os jornalistas desempenhariam seu papel, publicando muitas fotografias e falando recorrentemente desses personagens de romance. Não foi por acaso que, em 1936, Lampião aceitou ser fotografado - e, principalmente, filmado - por Benjamim Abrahão. Sempre desconfiado dos jornais que publicavam artigos sobre ele cujo conteúdo não podia controlar, Lampião certamente compreendeu que as fotografias e o filme de Benjamim Abrahão lhe permitiriam impor uma imagem sobre a qual nenhuma intervenção, nenhuma distorção seria possível. E se, por um lado, diversos autores e jornalistas divertiam-se evocando a inabilidade de sua linguagem, que evidenciava suas origens camponesas, sua representação fotográfica e cinematográfica, muda e incontestável, deveria mostrar claramente seu sucesso e o de seu grupo. Benjamim Abrahão desempenhou seu papel e pagou caro: morreu em Águas Belas, Pernambuco, no dia 9 de maio de 1938, com 42 golpes de faca".

Cicinato Neto 
http://cicinato.blogspot.com/

Um comentário:

ADERBAL NOGUEIRA disse...

Amigo Cicinato. Parabéns pela matéria. Porém, queria realmente era lhes dar um parabéns atrasado pela sua brilhante obra. "A MISTERIOSA VIDA DE LAMPIÃO". Seu livro deve figurar entre os melhores já escritos sobre o tema. É um trabalho que indico com a certeza de uma boa leitura a qualquer pessoa. Parabéns.
Aderbal Nogueira