Os Verdadeiros Heróis ! Por:Wasterland Ferreira Leite


Há muito tempo vinha observando na crônica sobre o Cangaço, quase a total ausência de obras de relevo a respeito da atuação, combate e repressão das forças policiais volante contra o banditismo no sertão. Entretanto, não posso deixar de lembrar aqui, e ao mesmo tempo já fazer uma justíssima homenagem a pelo menos três autores com suas respectivas obras, e quê vem assim, talvez, nessa pequena síntese, representar os demais, como a seus livros. São eles: Marilourdes Ferraz, autora do monumental "O Canto do Acauã" (ora, salvo engano em 4.edição); O saudoso João Gomes de Lira, que deu-nos de "presente"o maravilhoso livro Lampião, memórias de um soldado de volante (Fundarpe, Gov.PE, 1.ed.1990, e ora parece-me em 4.ed); e por fim, Roberto Pedrosa Monteiro, escritor e autor do livro O outro lado do cangaço: as forças volantes em Pernambuco. 

O Canto do Acauã, obra de nome deliciosamente regional-sertaneja, e quê segundo o Mestre Frederico Pernambucano de Mello, em artigo publicado ainda em 1978, em jornal de relevo na capital pernambucana, (...)"é obra quê já nasceu clássica"(...)! O Mestre ali exaltava o talento notório da professora pernambucana Marilourdes Ferraz e sua obra prestes a ser publicada, naquele ano mesmo de 1978. Baseado nas memórias do seu pai, Cel.PM-PE Manoel de Souza Ferraz, o famoso Manoel Flor, o livro é sensacional e absolutamente impactante quanto ao relato denso, porque em profundidade no tocante à veracidade dos fatos, porém leve em relação à linguagem empregada, ou seja, de fácil entendimento (sem o refinamento ou sofisticação linguística muito própria da academia, mesmo tendo sido escrito por notória intelectual), a todo cioso pelo estudo do cangaceirismo. É obra basilar no estudo histórico, antropológico e científico daquele fenômeno juridicamente criminal e marginal.


Wasterland Ferreira Leite

A obra do tenente PM-PE João Gomes de Lira, é igualmente monumental e de muita ênfase! Desde pelo menos o final da década de 80 do século 20, os jornais de Recife, a exemplo do Jornal do Commercio, já vinha trazendo artigos ou reportagens divulgando da sensação no meio literário quanto à publicação de seu importantíssimo "Lampião". O tenente Lira destacou a importância histórica dos clãs Jurubeba e Flor, na formação daquela sociedade florestana, e situada na antiga Fazenda Algodões, que deu origem à famosa vila de Nazaré, e quê na década de 40 teve seu nome trocado pela estranha denominação Carqueja, e isso pelo então governador de Pernambuco Agamenon Sérgio de Godoy Magalhães, que no fim do ciclo histórico do Cangaço atuava em Pernambuco como interventor federal, em pleno Estado Novo. É impressionante o relato histórico apresentado no livro do tenente João Gomes de Lira, e ele traz à luz, e de uma maneira (acho eu) quase que de uma maneira inédita, a grandiosa importância e atuação singular da chamada "força de Nazaré", quê verdadeiramente notabilizou-se como tropa de elite da Polícia Militar de Pernambuco no combate ao banditismo lampiônico. 

Por fim, a obra do eminente historiador e também Cel.PM-PE Roberto Pedrosa, é de grande importância para uma melhor compreensão, e bem como de excelente subsídio histórico e literário (inserida na bibliográfica especializada), sobre esse chamado "outro lado do cangaço", ou seja, o universo Militar das tropas policiais em ação, no entanto em análise voltada a atuação em território pernambucano. Há outras obras de grande vulto, como por exemplo: Lampião, do Major PM-PE Optato Gueiros, bem como o livro de suma importância escrito pelo Cel.PM-AL João Bezerra da Silva, intitulado Como dei Cabo de Lampião, também já em 4.ed., e sendo a primeira delas lançada ainda em 1940, nos rescaldos dos acontecimentos de Angico, e ano-Marco do fim do Ciclo. É obra fundamental, sendo a primeira edição, creio, que muito rara, e quê temos a satisfação de possui-la. 



Ainda bem que os verdadeiros heróis do sertão estão sendo muito bem reconhecidos, nesta continuação de obras reeditadas e outras publicadas, e ora também lembrados e homenageados, como o soldado Adrião Pedro de Souza, quê ganhou biografia escrita pelo eminente professor e amigo Antônio Vilela de Souza, tendo sido seu nome cravado em memorial póstumo na Gruta do Angico. Foram muitos policiais mortos em combate contra o Cangaço, e em repressão ao bando de Lampião. Mas muitos mortos mesmo! Deveriam e muito serem bastante lembrados, inclusive pelas altas autoridades dos nossos estados, onde imperou o terrível flagelo do banditismo intitulado Cangaço. 

É uma pena que no Brasil hoje, com a distância do tempo no tocante ao fim daquela "guerra de guerrilhas", muitas pessoas, e muito notadamente os das novas gerações, tomadas de paixão pelo tema (e tem de sê-lo, porquê também o sou), não consigam de todo enxergar a realidade histórica do assunto, e invertem os valores, sendo ora Lampião (a meu ver, o maior bandido da história universal) herói, e até mesmo endeusado por padre-escritor meio quê aloprado (desculpem-me), e ora um cangaceiro Jararaca (chefe de bando e quê aliou-se a Lampião no malogro de Mossoró, "virou santo", para muitos crédulos! E os soldados que "queimaram sua mocidade na guerra do sol", foram sendo relegados ao esquecimento, ou sendo menosprezados e acusados de um sem-número de arbitrariedades que em certos casos aconteceu mesmo, e não devemos desconsiderar! Mas, aplaudimos sim os Nazarenos, como também a maioria deles que prestaram relevantes serviços para o Nordeste e o Brasil. 

Wasterland Ferreira Leite,
Paulista, Pernambuco

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