Lampião pelas Terras de Missão Velha Por:Bosco André


Natinho da Caiçara, Manoel Severo e Bosco André

Em conversa com o Sr. Miguel Pinto, antigo morador do Sítio Tuncas, já falecido, o mesmo contou-me que em um dado momento, isso no mês de junho de 1927, se encontrava em sua casa, no Sítio Tuncas, cuja moradia se localizava nas imediações da casa do seu sogro Amâncio Alves; quando viu chegar muitos homens a cavalo;os cangaceiros de Lampião; e de imediato começaram a lascar uns cortiços de abelhas que o seu sogro conservava em frente a sua casa da fazenda e passaram a comer o mel e o saburá existentes nos cortiços; pelo visto estavam com muita fome.

Em seguida chegou um homem franzino, alto, de chapéu de couro, lenço vermelho ao pescoço, tratava-se de Lampião e repreendendo aos seus cangaceiros, com palavras de ordem, “que não se faz aquilo em propriedade de ninguém” e, aí Lampião se dirigiu ao seu sogro, Sr. Amâncio Alves, que a essa altura já se encontrava em meio a cabroeira, para perguntar quanto custava aquele estrago feito na sua propriedade, ao que o seu sogro respondeu, nada haver a pagar, foi aí que o Sr. Amâncio, se ofereceu para mandar preparar um almoço; era cerca de 10 horas do dia; para o bando, tendo Lampião agradecido.

No ato, Lampião pediu para deixar um animal ali em sua propriedade, que era de um amigo de Floresta-Pernambuco, e que depois mandaria apanhá-lo, pedindo ainda, um cavalo emprestado e uma pessoa para guiá-lo até a casa do seu amigo Zezé Tavares, no sítio Caiçara, pois não conhecia o caminho por alí. De pronto, o Sr. Amâncio, emprestou o animal e destacou ao próprio Miguel Pinto, seu genro e meu entrevistado, para ensinar o caminho para a Caiçara.

Seu Lino, filho de Lino Tavares; se encontrava no ventre materno quando sua casa foi invadida

Aqui Miguel Pinto, observa e lembra que Lampião, sempre ficava arredio, distante da cabroeira, cerca de umas duzentas ou mais braças. Foi quando aí chegaram a casa do Sr. Lino Tavares, no mesmo sítio Tuncas, se encontrando no alpendre o Sr. Lino, os cangaceiros dirigiram-se ao mesmo, perguntando se tinha alguma coisa para comer naquela casa, ao que ouviram de resposta de Lino, que nada tinha para oferecer, os cangaceiros entraram de casa a dentro e ao chegar a cozinha, onde se encontrava a mulher do Sr. Lino, preparando um pão de milho (cuscús) e feijão já pronto, os cangaceiros, comeram o feijão, o pão de milho e quebraram as panelas e voltaram para o alpendre, encostando o Sr. Lino, na parede com os rifles encostados a sua cabeça ameaçando-o de matá-lo, foi quando se aproximou o Capitão Virgulino, que mandou seguir e que deixasse o homem em paz.

Ao chegarem ao sítio Caiçara, na casa do amigo Zezé Tavares, o mesmo não se encontrava em casa, mais a sua mulher Dona Lídia Cavalcante, os recebeu e mandou logo matar uma ovelha para a feitura de comida para o bando, mandou colocar em uma mesa grande, farinha, queijo e rapadura para os homens que vinham muito famintos. Em seguida chegou Lampião, agradeceu a boa acolhida por parte da matrona e disse a Miguel Pinto, que podia voltar, levando também o animal do seu sogro e que o agradecesse, Miguel Pinto, aliviado, criou alma nova, pois pensava que iria ser até morto (foi aí que o Sr. Miguel Pinto, contou-me que ao ser abordado, por um cangaceiro de Lampião a pedido do seu sogro, na sua casa lá nas Tuncas, para ir ensinar o caminho, se encontrava com uma febre muito alta, más ao receber a ordem, para guiar os cangaceiros, o medo foi tão grande, que a febre cessou na mesma hora). 

 Local da Antiga Casa de Zezé Tavares na Caiçara


Danielle Esmeraldo na Fazenda Caiçara de Zezé Tavares

Bosco André e Natinho da Caiçara

Depois de deixar a propriedade do Sr. Zezé Tavares, após percorrer cerca de dois quilômetros voltando para as Tuncas, fora seguido por um dos cangaceiros de Lampião, que lhe dera o recado de que o Capitão desejava falar-lhe, deixou um dos animais amarrado na estrada e voltou pensando de que seria morto por Lampião, ao chegar na presença do temido bandoleiro, este, lhe perguntou se usava camisas de mangas compridas ou curtas, tendo Miguel Pinto, informado que usava de mangas compridas, foi aí que Lampião ordenou a um dos seus cangaceiros, que desse a Miguel Pinto, dois cortes de tecidos para fazer duas roupas (calças e camisas) da mais nobre mescla da época. O Capitão saiu da fazenda de Zezé Tavares direto para a Ipueiras, em Aurora onde foi arquitetado o plano para invadir Mossoró

Bosco André
Historiador

NOTA CARIRI CANGAÇO: Tivemos o privilégio de acompanhar o confrade Bosco André pelas terras de Zezè Tavares, um dos grandes coiteiros de Lampião em terras cearenses. Entrevistamos o Senhor Natinho da Caiçara e o senhor Lino Tavares, remanescentes daquele fatídico junho de 1927.

3 comentários:

Anônimo disse...

Fico impressionado como tanta história do cangaço em nosso Ceará e não se tinha nenhuma idéia de tudo isso.

O cariri cangaço é realmente um momento importante para esse resgate. Que se possa no futuro trazer outras temáticas também esquecidas, como por exemplo a Confederação do equador.

sds

Jerimum - Cratim de Açucar

Anônimo disse...

Muito importante para o registro historiográfico,os debates, as discussões e sobretudo os "achados" que o Cariri Cangaço faz. Parabéns a todos. Bosco André, é uma figura muito importante nesta discussão! Parabéns!

Ana Katia disse...

Sou Ana Katia Tavares Macêdo Filha de Eduardo
Macêdo de Missão Velha. Fiquei muito feliz de ver
locais da minha cidade natal que tanto sinto
saudade e tambem ver pessoas conhecidas como o
amigo Bosco Adre. Por favor,lembranças para ele.

Parabéns!!!!!