Pajeú: O Maior Estrategista de Canudos Por: Romero Cardoso

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Batalhão Patriótico Moreira Cesar - "Corta-cabeças"

Pajeú: O maior estrategista das guerrilhas da guarda católica de Antônio Conselheiro.

Como ficou conhecido nas lutas de Canudos, Pajeú era pernambucano do famoso vale imortalizado por Luiz Gonzaga décadas depois do massacre abominável que manchou indelevelmente a história do Brasil. Escravo liberto que rumou para Canudos apostando nas promessas do Bom Jesus Conselheiro tendo achado por lá, às margens do rio Vaza-Barris, a tão sonhada liberdade que a sociedade negou, e ainda nega de forma inadmissível e desumana, aos excluídos.

Quando da desastrosa campanha comandada pelo famigerado Coronel Moreira César, Pajeú se destacou pela impecável forma como conduziu a guerrilha da guarda católica do Conselheiro. Dizem que foi ele quem pôs fim à arrogância de Moreira César, acertando certeiro tiro de bacamarte boca-de-sino, municiado com chifre de novilho, no sanguinário corta-cabeças. Não obstante usar colete de aço, Moreira César foi milimetricamente varado pelo disparo em local desprotegido.

O oficial responsável pela substituição do Coronel Moreira César no comando da tropa também não agüentou as táticas de guerrilha implementada por Pajeú. Uma ordem do Coronel Tamarindo ficou famosa: “Em tempo de murici, cada um cuida de si”. O que restou da tropa de Moreira César foi fustigada pelos guerrilheiros comandados por Pajeú. Verdadeira carnificina foi feita pelos bravos combatentes para pagar a profanação do arraial sagrado do belo Monte, pois inadvertidamente Moreira César desprezou todas instruções do regimento do Exército Brasileiro e ordenou ataque de cavalaria a Canudos, cuja característica era a topografia extremamente íngreme, impossível de ter sucesso por parte de Moreira César através de investida com esse tipo de estratégia militar.

Para tentar coibir e amedrontar outras expedições que vieram em direção a Canudos, Pajeú ordenou que os cadáveres dos soldados e oficiais ficassem insepultos, pendurados em árvores como exposição macabra do ódio devotado pelos conselheiristas às tropas do governo federal.

 38º Batalhão


Quando a quarta expedição foi enviada para destruir canudos, cujo comando ficou a cargo do General Arthur Oscar de Andrade Guimarães, foi com terror e suspense que a soldadesca encontrou o aviso dos guerrilheiros da guarda católica, na forma de corpos ressequidos pelo sol esturricante do sertão nordestino. Com certeza, aumentou o ódio do corpo militar do Exército Brasileiro contra os membros da comunidade mística de Antônio Conselheiro.

Pajeú foi responsável pelas mais significativas baixas contra as tropas federais. Acostumados a caçar para sobreviver, os guerrilheiros usaram a experiência adquirida e se tornaram franco-atiradores, pois quando algum soldado desavisado, principalmente em noite sem lua, acendia um cigarro, certeiro tiro o prostrava imediatamente. Usavam os “presentes” que Moreira César lhes deixou, ou seja, fuzis mausers de fabricação alemã do Exército Brasileiro.

Não obstante terem conseguido canhões e metralhadoras, esses não foram usados, pois os guerrilheiros do Conselheiro não souberam como manusear as mortíferas armas tomadas da expedição de Moreira César, destroçada pela genialidade incontestável das táticas do maior guerrilheiro de Canudos. Quando a guerra de Canudos tornou-se insustentável, com sucessivas baixas e derrotas das tropas federais, o governo enviou verdadeiras máquinas de matar. Entre essas estava um canhão Withworth 32, a famosa “matadeira”, como ficou conhecido entre os habitantes de Canudos. Foi a única forma que conseguiram para pôr a baixo as torres da igreja nova do belo Monte.

Cada tiro da “matadeira” era verdadeiro massacre que a mesma proporcionava. O famoso canhão tornou-se o terror dos canudenses, razão pela qual Pajeú organizou grupo de assalto intuindo destruir a máquina destrutiva. Onze guerrilheiros chegaram de surpresa a bem guardada arma. Nesse ataque, o bravo comandante conselheirista perdeu a vida, bem como nove companheiros, sendo que apenas um conseguiu escapar.

Conselheiro Morto


Com a morte de Pajeú, a guarda católica do Conselheiro ficou desfalcada do principal estrategista, abalando sensivelmente a estrutura das estratégias da guerra de guerrilha que até então vinha obtendo sucesso indiscutível. Pajeú, o famoso negro ex-escravo que marcou de forma impressionante a guerra de guerrilhas nas batalhas em canudos, foi imortalizado por Euclides da Cunha, que não obstante racismo e estereótipos, dedicou-lhe páginas de reconhecido mérito pela bravura indômita em “Os Sertões: Campanha de Canudos”.

José Romero Araújo Cardoso. Geógrafo. Professo-adjunto do Departamento de Geografia da Faculdade de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte. Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente.
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8 comentários:

Unknown disse...

Fontes?

Unknown disse...

Moreira Cesar lixo assassino. Canudos, vergonha nacional. Massacre, assassinatos. Página negra na história do Brasil.

Manoel Moreira disse...

Oi, Rê, leia o livro "Os Sertões: Campanha de Canudos", de Euclydes da Cunha", que vivenciou a guerrilha de Canudos in loco, como correspondente de guerra.

Unknown disse...

Eu já li esse livro dezenas de vezes, de tanto que gosto do mesmo. Mas muitas das informações descritas no texto não estão no livro.

Unknown disse...

Anualmente, por ocasião do inicio dos estudos sobre o pré modernismo brasileiro, eu e meu alunos e 3ª serie estudamos, debatemos a obra "Os sertões", excelente oportunidade para analisar o Brasil de ontem e de hoje, dando consciência critica aos estudantes. Eu tento.
Lamento constatar que mesmo professores de pouco ou nada leram desta obra que é de extrema importância na formação politica e critica dos jovens.

Unknown disse...

Dispones de alguna fuente que no sea OS sertoes?

Léo Pajeú disse...

Uma triste história, uma vergonha verde oliva, hoje uso Pajeú no meu pseudônimo para fazer homenagem ao povo da região da poesia, dos versos, dos cordeis, de guerreiros e da cultura nordestina...

Anônimo disse...

Euclides da Cunha viveu em seu tempo uma certa censura também, só pesquisadores modernos entrevistando sobreviventes do massacre poderam nos dar uma pequena amostra do que por lá de fato aconteceu, na revista veja no comemorativo dos 100 anos da guerra de canudos , há um texto maravilhoso riquíssimo em datalhes. vale conferir