Fatos Anteriores ao Ataque a Fazenda Quixaba Por:Geraldo Ferraz

 
Theophanes Ferraz Torres

Theophanes Ferraz Torres, então capitão, teve que deixar o comando do Esquadrão de Cavalaria e seguiu em agosto de 1918, para o interior, com apoio em Vila Bela, para combater o banditismo e fiscalizar as 7ª, 8ª, 9ª e 10ª Regiões Policiais. No dia 30 de setembro, tomou parte no combate na Fazenda 28, no mesmo município, tendo os bandoleiros, após forte resistência, debandarem do local. Entrava-se em um ano de pavorosa seca cíclica. Em meados de janeiro de 1919, Theophanes recolheu-se e ficou a disposição do Comandante da Força, Coronel José Novaes. Ele vinha de intensas diligências no município de Belmonte. Pelo ato de bravura, na fazenda 28, Theophanes e seus soldados foram Elogiados em Boletim da Força.

No final de janeiro, o Desembargador Antônio Guimarães, Chefe de Polícia, recebia telegrama informando que os grupos liderados por Sebastião Pereira e Praxedes Pereira incendiaram propriedades de Malhados, no lugar Cortado, município de Vila Bela. Os cangaceiros levaram os animais pertencentes a Francisco Carvalho. Em abril de 1919, tiroteio na Vila de São Francisco, município de Vila Bela, forçou o governo a dar início a combate mais efetivo aos bandos de cangaceiros. Estava bem acesa a luta entre Pereiras e Carvalhos. Aquela vila era o quartel general da facção dos Pereiras e dos seus liderados bandoleiros. A Força policial não foi feliz em sua missão. Por este fato, em meados de abril, Theophanes é enviado em diligência para o interior comandando 60 praças.

Casa de Theophanes em Vila Bela, hoje: Serra Talhada

No dia 19 de maio, Teophanes e sua tropa são elogiados, em Boletim, pelo agora comandante da Força, Alfredo Duarte, pelas ações contra o banditismo. No final daquele mês Luiz Padre e Sinhô Pereira ameaçavam atacar o povoado de Bom Nome. Noticiava-se que os chefes concentravam cangaceiros em Barro/CE e na Serra do Catolé/PE, três léguas de Bom Nome. Meados de junho, o Capitão Holanda Cavalcanti, informava ao Chefe de Polícia, que cangaceiros invadiram a Fazenda Chocalho, município de Vila Bela, propriedade de Mário Lyra, cometendo assassinatos e depredações. O banditismo não dava trégua!

No início de julho, Theophanes seguiu para Vila Bela para comandar a 8ª Região Policial (Vila Bela como sede, mais os municípios de Belmonte, Floresta e Jatobá de Tacaratú). O governador, em meados daquele mês, recebeu despacho de Triunfo e Vila Bela comunicando que os cangaceiros estavam concentrados no município de Princesa/PB, com o propósito de invadir Triunfo. A frente do bando achava-se Luiz Leão, assassino do coronel Deodato Monteiro, Luiz Padre e Sebastião Pereira. No dia 06 de agosto, Luiz Padre e Sebastião Pereira lideraram depredações no município de Vila Bela. Para desviar a ação repressiva da polícia, se deslocaram para os limites do Estado da Paraíba e assaltaram a fazenda Santa Rita. Comunicado o ocorrido, Theophanes seguiu para a fazenda assaltada em perseguição aos facínoras. No dia 11 de agosto, Theophanes envia telegrama para o Chefe de Polícia informando que Luiz Padre e Sebastião Pereira ameaçavam atacar a cidade de Vila Bela daí seu retorno para lá para defender a cidade. Devido as medidas adotadas por Theophanes os bandidos desistiram do audacioso plano. Adiantou Theophanes que no cerco na fazenda Santa Rita, tinham apreendido vários animais roubados. Adiantou, também, que o grupo de cangaceiros liderados por Luiz Padre e Sebastião Pereira, fora estes, era composto por 50 homens.

Sinhô Pereira e Luiz Padre

O governador Manoel Borba, em 30 de agosto, transfere o 3º Batalhão para Triunfo, para facilitar a persiga aos fora da lei. No início de setembro, Luiz Padre e Sinhô Pereira atacaram o povoado de Bom Nome. Quem defendia o local era o Capitão José Caetano. Após o ataque, Theophanes, em companhia de Caetano e o Tenente Costa Gomes, seguiram na trilha do grupo. No dia 06 de outubro, ocorria o combate na Fazenda Quixaba, município de Vila Bela. Capitão José Caetano, Tenentes Manuel Gomes e Lira Guedes, atacaram a Quixaba, com força de 74 praças. A luta era contra Sebastião Pereira e Luiz Padre que comandavam numeroso grupo em local bem entrincheirado. Cabo Higino assaltou a casa pelo oitão e traseira e Sebastião fugiu com o grupo. Às 18 horas daquele mesmo dia, Theophanes envia telegrama para a força informando do ocorrido e de que havia soldados feridos e que seguia para o local conduzindo munição. A fazenda ficava localizada a 8 léguas de Vila Bela.

Capitão José Caetano

Como Theophanes estava acompanhado por, apenas, 4 praças, na Fazenda Exu, do Coronel Antônio Alves, recebeu auxílio de alguns rapazes armados. Légua e meia antes de Quixaba, Theophanes encontra ferido no crânio, o Cabo Marques, acompanhado de duas praças e foi informado que o combate durou duas horas de renhido tiroteio e que os bandidos tinham dado costa. Primeiras horas do dia 7, Theophanes chegava a Quixaba. O Capitão Caetano já havia se retirado, conduzindo soldados feridos. Theophanes foi informado que o produto do roubo ocorrido no povoado de São João, encontrava-se no lugar Umburanas, duas léguas de Quixaba. Theophanes chegou Umburanas, após rigorosa busca e interrogatórios e conseguiu descobrir nas caatingas todo roubo, que constava de: Carga de fazenda avaliada em 2:000$000; e 4 rifles. Theophanes confirma que foi informado erroneamente, nas primeiras notícias, que a Força havia conseguido cercar os cangaceiros. Na realidade a Força, composta por 71 homens, inclusive oficiais, caíram em uma emboscada.

Theophanes relaciona as praças feridas: Cabo Antonio Marques Silva, os Soldados Izidoro Leite Silva, João Mathias Santos, José Soares Costa, Henrique Ludgero Santos, Firmino Jeronymo Silva e Antonio Francisco Xavier, tendo falecido consequência tiroteio, Soldado José de Souza Oliveira, destacado em Belmonte. No dia 08, Theophanes pede recursos médicos devido ao fato de ter vários soldados feridos e informa que se achava recolhido a cadeia, bandido Bernandes Thomé, vulgo Atmosfera, capturado ferido depois tiroteio. No dia 09 de outubro, Theophanes, mais uma vez na companhia do Capitão Caetano e o 2º tenente Costa Gomes, informava que se achava na Fazenda Santa Rita, com o Capitão Carneiro, comandante geral das forças do Ceará, seus auxiliares 1º tenente Dourado e 2º tenente Clovis José Cardim, mais 2º tenente Salgado, Força Paraibana, combinando medidas mais enérgicas para combater os celerados.

Theophanes em São José de Belmonte

Chamado pelo tenente coronel Antônio Batista de Oliveira Correira, comandante do 3º Batalhão sediado em Triunfo, Theophanes, no dia 18 de outubro, informava que seguiu para Belmonte o Capitão Caetano e seus oficiais auxiliares e ficava em Vila Bela, o Tenente Costa Gomes. No final de novembro, Recife vivia momento de greve duríssima, a primeira de grande vulto! Fazia-se necessária a presença do comandante da Cavalaria para, se fosse o caso, reprimir o movimento. Na noite do dia 10 de dezembro, após regressarem de diligências na cidade de Vitória, Theophanes e o tenente José Alvino Correia de Queiroz, quando saiam da Sorveteria Helvética em direção da Ponte da Boa Vista, no Recife, foram vítimas de atentado a tiros, mas não foram atingidos. Não teve nenhuma conotação com o cangaço. Tratava-se da ação delituosa de dois rapazes que tinham arquitetado vingança contra José Alvino. No dia 15 de dezembro, Theophanes recebe elogio do Chefe de Polícia, pelos serviços realizados na Zona Sertaneja.

Geraldo Ferraz, pesquisador e escritor , Conselheiro Cariri Cangaço. Recife, 05 de Janeiro de 2022

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