Carmela Eulina do Amaral Gusmão
Um dos personagens mais marcantes da história do nordeste sem dúvidas foi o cearense de Ipu, Delmiro Gouveia; abaixo trazemos um dos capítulos impressionantes da vida desse grande visionário e espetacular empreendedor.
Partimos de seu retorno da Europa, quando em Recife se apaixonou perdidamente pela bela Eulália.
Aqui nasceria uma paixão que iria mudar a história do nordeste. Ao retornar da Europa, com sérias dificuldades financeiras, Delmiro Gouveia se apaixonaria por uma jovem de nome Carmela Eulina do Amaral Gusmão, filha do governador de Pernambuco, Segismundo Gonçalves, (Foto acima) este, forte aliado do senador Rosa e Silva, inimigo declarado de Delmiro Gouveia. De temperamento forte e impulsivo, Delmiro Gouveia resolve raptar Eulina, seria processado e pronunciado em Juízo, assim; foge para Alagoas, mais precisamente para a localidade de Pedra, município de Água Branca, uma pequena estação ferroviária da Great Western, construída por D. Pedro II em 1878, com poucas casas e habitantes, bem próximo às cachoeiras de Paulo Afonso, às margens do Velho Chico.
Dali, Delmiro Gouveia realiza o sonho de ter Eulina e manda um cabra seqüestra-la em Recife e traze-la para Pedra. Naquela época foi acolhido pelas famílias Torres e Luna, a primeira, do lendário Barão de Água Branca, cuja viúva veria a ser em 1922 a primeira vítima de Lampião, investido de chefe do bando de Sinhô Pereira.
1ª Residência de Delmiro em Pedra
Estabelecido comercialmente, retoma o negócio de peles e couros e viria novamente a se tornar um dos maiores empresários do nordeste; naquela época a localidade de Pedra recebia cerca de 200 a 400 burros carregados da matéria-prima, só a empresa Iona & Cia. possuía mais de 200 animais que atuavam no transporte de diversas cargas. Foi por essa época que os irmãos Ferreira mantiveram contato com o comércio de couros e peles de Delmiro Gouveia.
Vislumbrando o potencial do Velho Chico e de Paulo Afonso, Gouveia em 1909, trouxe ao Brasil a missão Moore, americana; além de realizar contatos com as empresas Bromberg, do Rio de Janeiro, e W.R. Brand & Company, de Londres; ali encomendava projetos de eletrificação via rio São Francisco. Depois de ver o insucesso de sensibilizar o governador de Pernambuco, Gal. Dantas Barreto, para a empreitada da eletrificação de boa parte do estado e da região, acabaria redeuzindo o seu projeto inicial e mesmo assim, sendo o pioneiro na construção de usinas hidroelétricas, através da usina Angiquinho em 1913, com turbinas e geradores alemães e suíços, instalada num dos saltos da cachoeira de Paulo Afonso. A usina foi fundamental para o empreendimento de Delmiro Gouveia e os irmãos Rossbach, a Fábrica da Pedra; Cia. Agro Fabril Mercantil; unidade industrial que produzia linhas para costura, renda e bordados, da marca “Estrela”.
A Fábrica da Pedra
Delmiro Gouveia viria a modificar inteiramente o cenário da antiga Pedra que logo se transformaria em uma próspera comunidade de mais de 250 casa e uma população de cerca de 5 mil pessoas. Já no primeiro ano de seu funcionamento, com uma produção entre 1.500 e 2.000 carretéis/dia, a unidade fabril chegou a empregar cerca de 800 operários, entre homens e mulheres, chegando a trabalhar três turnos diários. Já em 1916 Delmiro Gouveia começava a exportar para países da América Latina, ali a Companhia Agrofabril empregava 3.500 pessoas. Naquela época “se dizia que grande homem no sertão não havia quatro, só três: Lampião, na valentia; Padre Cícero, na grandeza de coração; e Delmiro, no trabalho”.
Delmiro Gouveia viria a ser o responsável por outras inusitadas inovações da modernidade para a outrora pequena vila da Pedra. O automóvel, que possuia cinco; o telégrafo, a máquina de gelo, o carrossel, a tipografia, bandas de música e até o cinema estariam entre as novidades do Midas do sertão.
A Companhia Agrofabril contruiu uma vila operária, a primeira do nordeste, onde Delmiro impunha normas e regras rígidas para seus moradores. Os cuidados e rigor para com a postura e o comportamento de todos muitas vezes era fiscalizado pelo próprio Gouveia. A disciplina, a higiene, o rigor com os horários, até o fato de cuspir no chão era motivo para que o transgressor fosse multado. O estudo dos meninos e meninas era acompanhado severamente, caso faltassem, os pais eram advertidos. Tamanho rigor acabou trazendo para seus funcionários o pânico com a simples presença do coronel da Pedra. Com referência a esse rigor vamos encontrar na obra de Mario de Andrade o curioso trecho: “Macunaíma (...) pensou em morar na cidade da Pedra com o enérgico Delmiro Gouveia, porém lhe faltou ânimo. Para viver lá, assim como tinha vivido era impossível”.
Em Breve mais Delmiro Gouveia...
Manoel Severo
6 comentários:
Delmiro desafiou muito mais que as autoridades constituidas da época; desafiou o tempo. Quem conhece a Usina de Angiquinho e ver que tudo aquilo foi construido ainda no início do século XX, pelos idos de 1900, saberá que esse grande cearense, pernambucano e alagoano: Delmiro, desafiou mesmo foi o Tempo.
Delmiro um homem muito à frente de seu tempo, no mínimo uns cem anos.
Parabéns ao Cariri Cangaço pela pluralidade das temáticas e pela riqueza que irá nos proporcionar em 2010.
Professor Mario Hélio
Estive pesquisando sobre Delmiro Gouveia, esse homem era um dínamo para trabalhar, um iluminado, como pode já naquela época ter um espírito desbravador daquele jeito, puxa vida!
E parece que também tinha lá suas queinhas por um rabo de saia, rsrsrs.O que é lamentável!!!!!!
Parabens´ao cariri cangaço.
Pessoal vamos trazer também palestras sobre o pessoal do Cariri, por exemplo seria maravilhoso discutirmos Bárbara de Alencar, a heroina da primeira metade do século XIX, que tal, vamos lá Severo.
Fiquem com Deus.
Paula Alencar
Excelente postagem Manoel Severo, aproveito para lhe pedir informações sobre a possibilidade de encontrar o filme Coronel Deumiro Gouveia, pois utilizava o mesmo na disciplina de agraria, porém o local onde locava fechou e o filme sumiu.
Onde posso encontrá-lo?
Saudações Geográficas!
João Ludgero Sobreira Neto
Caro Manoel Severo,
Segundo o excelente escritor e cordelista Gonçalo Ferreira da Silva, conterrâneo de Delmiro Gouveia, relatou no livro Lampião: a força de um líder que Virgulino foi tropeiro de Delmiro, sendo me parece o primeiro emprego do cangaceiro vilabelense.
Um abraço,
Edilson Segundo
Caro amigo Edilson,
Já havia ouvido falar nisso, inclusive pode até ser verídico; uma vez que Virgulino acompanhava o pai e irmãos na profissão de almocreve pelos estados de Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia, enfim, pelos idos de 1916, 17.... Como Delmiro foi assassinado em outubro de 1917 poderia sim ter tido essa relação, mas te confesso que não tenho nenhuma fonte de confirmação.
Caro amigo é sempre uma satisfação receber seus comentários.
Severo
QUEM REALMENTE FOI O RESPONSAVEL PELO MORTE DE DELMITO GOUVEIA, UM DOS CRIMES MAIS BÁRBAROS DE TODOS OS TEMPOS? HA A HISTÓRIA DE QUE HAVIA UMA BRIGA ENTRE AS EMPRESAS INGLESAS, OU FOI ALGUM,A COISA LIGADA A CRIME PASSIONAL?
SAUDAÇÕES,
RIBEIRO - CRUZ ALTA
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