GECC Festeja seu Programa Inaugural em Fortaleza


Fonte: You Tube Canal: Aderbal Nogueira - Cangaço

Um dos mais destacados e antigos grupos de estudo do cangaço  no Brasil, inaugurou seu mais novo programa na internet, explorando a temática. O GECC - Grupo de Estudos do Cangaço do Ceará, com mais de 20 anos de atuação inaugurou nesta última semana seu primeiro programa na rede mundial de computadores. Com a produção e expertise de Aderbal Nogueira em seu canal do You Tube, que ao lado de Ângelo Osmiro, presidente, e Manoel Severo; Curador do Cariri Cangaço protagonizaram o primeiro programa da série.

Para Aderbal Nogueira "o programa do GECC trará para os expectadores um conjunto qualificados de entrevistados, pesquisadores, escritores, estudiosos das temáticas do sertão". Já o presidente do GECC, Ângelo Osmiro, afirma:"Exploraremos não só o tema cangaço, mas todos os temas ligados ao estudo do sertão, como o messianismo, coronelismo, religiosidade, enfim, serão programas plurais". Manoel Severo, curador do Cariri Cangaço, lembra:"Os nossos amigos de todo o Brasil não perdem por esperar por essa nova empreitada do GECC, com certeza vem muita coisa boa por ai".

Programa do GECC
You Tube - Canal Aderbal Nogueira
22 de Fevereiro de 2020

Que venha o Cariri Cangaço Paulo Afonso Por:Antônio Galdino

Antônio Galdino e João de Sousa Lima

Tenho acompanhado pelas redes sociais a vinda - até que enfim - do Cariri Cangaço para Paulo Afonso. Em muitos anos, foram também muitas as tentativas para que isso acontecesse. Que bom que esse ano deu certo! Admiro o teu trabalho duro para resgatar valores preciosos, realmente grandes tesouros enterrados, elos importantes da cultura sertaneja, prédios, edificações de patrimônio histórico e cultural valiosíssimos, que viveram abandonados por anos, séculos e agora se mostram ao mundo, pela importância dos olhares que fazem o Cariri Cangaço, com a real importância que têm para que se compreenda, se estude melhor, as raízes sertanejas em muitos lugares.


O Cariri Cangaço, pelo elevado nível dos seus pesquisadores, que já resultou na criação de muitos livros, vídeos, publicações diversas, se transformou, desde aquele seu primeiro momento no Crato/Juazeiro/Barro, numa espécie de Universidade Aberta de Estudos do Sertão. Conte comigo, no site www.folhasertaneja.com.br e no jornal Folha Sertaneja que completa 16 anos neste mês de Fevereiro para divulgar o Cariri Cangaço como um todo e, de forma especial esta edição que acontecerá em Paulo Afonso nos idos de Junho deste ano, período junino, de festas tão marcantes no sertão e onde, certamente, o ritmo do xaxado, tida como a dança dos cangaceiros estará inserida no contexto da programação, nesta terra de Maria Bonita e também de beatos e coronéis. Sucesso, caro Severo!!! Abraço fraterno.

Antônio Galdino da Silva - presidente da Academia de Letras de Paulo Afonso
Diretor da Galcom Comunicaçõese Jornal Folha Sertaneja
16 de Fevereiro de 2020

O Dia que Nazaré Colocou Lampião para Correr Parte 2 Por:Luiz Ferraz Filho

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Como dito antes, em meio ao cerco da Coluna Prestes e do bando de Lampião, muitos acreditavam que Nazaré do Pico dessa vez iria ser incendiada. Porém, naquela madrugada de 20 de fevereiro de 1926, a fina flor dos nazarenos se reuniram no povoado para combater até a morte. Da Fazenda Ipueira, bem cedinho Lampião seguiu com destino ao povoado onde chegou tocando corneta e atirando para todos os lados. O primeiro tiro em defesa partiu de Aureliano de Souza Nogueira (Lero Conrado, depois casado com uma irmã do coronel Theophanes Ferraz Torres), que se encontrava na calçada de Antônio Freire. Entraram aí os defensores da terra em feroz luta. Em pleno fogo, Odilon Flor perguntou com quem estavam brigando, se era com os revoltosos da Coluna Prestes ou com Lampião. Respondeu o bandido que era com o bando dele, animando ainda mais o valente Odilon Flor. Então, saltaram no meio da rua para combater os cangaceiros e o cancão piou. 

Ricardo Ferraz passa às mãos de Luiz Ferraz Filho o Diploma do Cariri Cangaço

Euclides Flôr partiu para a casa dele pensando que estava fazia sem ninguém. Chegando lá, encontrou o sogro Antônio Gomes Jurubeba e o primo João Jurubeba defendendo a casa. Dos fundos das casas, David Jurubeba brigava animado dizendo: - Eu pensava que estava brigando com homem, mas estou perdendo meu tempo brigando com um ladrão de bode de Zé Saturnino. O bandido ouvindo isso deu total carga no combate. A casa de Abel Thomaz estava sendo defendida por ele próprio e por Lúcio de Souza Nogueira. Por ser uma casa bem próxima da igreja, foi a mais atingida, pois os cangaceiros usavam a traseira da igreja para atirar em direção a casa. 

Em pleno fogo, Antônio Ferreira (irmão de Lampião) passava ao redor da casa de Gomes Jurubeba dizendo: - Velho Gomes, agora você vai tomar leite no inferno , que matamos seu gado todo e daqui a pouco você vai morrer sangrado. Na retaguarda, Euclides Flôr e Odilon Flôr comandavam as ações. Chegaram depois para reforçar João Domingos Ferraz, Manoel Jurubeba, David Jurubeba, Pedro Gomes de Lira, Hercilio Nogueira e Manoel Gomes de Lira. Vendo que a resistência dos nazarenos era uma verdadeira fortaleza, Lampião tocou a corneta para recuar e os cangaceiros saíram correndo em plena caatinga. Antônio Ferreira correu tanto que perdeu as alpercatas de couro.


Lampião com raiva da carreira que deu dos nazarenos, foi tocar fogo nas fazendas de Euclides Flôr, João Flôr, Afonso Nogueira e Praxedes Capistrano. De lá rumou ele a Serra do Pico, onde se escondeu para planejar um novo dia que retornaria para tentar tocar fogo em Nazaré. Do alto da serra, Lampião avistou ele a força do povo nazareno e nunca mais teve a ousadia de tentar entrar em Nazaré do Pico. Foi o dia que o povoado colocou Lampião para correr. (FIM...)

(FONTE:LIRA, João Gomes de, - Memorias de Um Soldado de Volante, Pág. 259-278; NETO, José Malta de Sá, - David Jurubeba Um Heroi Nazareno, Pág. 143-151).

Luiz Ferraz Filho, pesquisador
Serra Talhada, Pernambuco

Natimorto Literário Por:Antonio Correa Sobrinho


Acabo de ler o livro "LAMPIÃO CONTRA O MATA SETE", e confesso, embora eu já considerasse o autor Archimedes Marques um bom escritor, estou impressionado com a sua capacidade de, em frases e períodos tão longos, mas com clareza e objetividade, num linguajar até certo ponto jornalístico, sem perder de vista a técnica investigativa, fazendo disso, talvez, o maior "inquérito" de sua vida; formular argumentos tão lógicos, utilizando-se, inclusive, de forma constante, da ironia para dizer com humor das suas críticas e censuras aos ditos de Pedro Morais e, principalmente, para impor a este a obrigação de provar as suas acusações, ironia esta que também lhe serve para desvalorizar mais ainda o texto deste senhor. Trata-se de obra equilibrada, parecendo até que foi feita num só instante. Ao mesmo tempo, doutor Archimedes, inteligentemente, divide o ônus desta contestação com as principais vozes da historiografia do Cangaço, sem falar do cuidado para não atingir moralmente a pessoa de Pedro Morais.
Realmente, mesmo considerando a sua vasta experiência como delegado de polícia, a sua paixão pela cultura nordestina, notadamente o Cangaço, associado a um impulso natural que conduz os homens de bem a insurgir-se contra as injustiças, confesso mais uma vez a minha grande e grata surpresa, até porque o autor construiu tudo isso em tão pouco tempo, visto que "Lampião, o Mata-Sete" foi publicado um dia desses. Embora eu não seja um crítico literário, considero o livro "Lampião Contra o Mata Sete" uma obra completa no seu propósito de rebater as mal-intencionadas acusações de Pedro Morais, e tenho certeza de que os leitores estão se deleitando com tão boas explicações e excelentes raciocínios.

"Lampião Contra o Mata Sete", portanto, não apenas contesta de forma robusta e insofismável as aleivosias infundadas de Pedro Morais, mas condena este autor a viver doravante como um natimorto literário. Além do mais, o que é pior, o sentencia a ter que se explicar e ser criticado o resto da vida.
Daqui pra frente, o escritor Archimedes Marques pode considerar-se inscrito nos anais da história do Cangaço, com todos os méritos, não apenas pelo ineditismo da sua obra, mas pela excepcional defesa que fez, em última análise, desse pedaço da história nordestina, o que orgulha e enche de honra todos os sergipanos. Minhas efusivas congratulações.

Aracaju, Sergipe

A Casa Histórica de Adauto Felix do Cajueiro Por:Manoel Belarmino

Robertinha do Cajueiro na casa de Adauto Felix

Na manhã de hoje, vendo as imagens no status das redes sociais da cantora Robertinha do Cajueiro, volto a falar de uma relíquia histórica que está quase na situação de escombros, esquecida e abandonada. É a casa histórica que pertenceu o coiteiro de Lampião Adauto Felix. Aquela casa de Adauto Felix na comunidade ribeirinha do Cajueiro, ali nas margens do Rio São Francisco, em Poço Redondo, é uma relíquia da história do Cangaço em Sergipe e Poço Redondo. Sempre vou ao Cajueiro, não só para saborear as delícias do peixe na mesa e do banho na praia d'água doce, mas olhar um pouco a história do lugar e do seu povo.
Além da Capela de Santa Ana, pintada de azul, misturando-se com a luz do Sol da tarde, ali na Rua da Frente, pertinho das águas do Velho Chico, está, mais para o centro do Povoado Cajueiro, a casa onde o coiteiro de Lampião Adauto Felix morou. A casa de Adauto Félix está ali resistindo no tempo como uma velha testemunha da história do Cangaço e do povo ribeirinho do Sertão do São Francisco.
Infelizmente, poucas pessoas de Poço Redondo conhecem a importância histórica daquela casa e pouco valorizam o nosso patrimônio histórico. Tomara que os nossos governantes tomem a iniciativa de construir uma política de recuperação e conservação do nosso patrimônio histórico.Os de fora conhecem e valorizam muito mais a nossa história e o nosso patrimônio cultural do que nós de Poço Redondo.
Manoel Belarmino, pesquisador e escritor
Conselheiro Cariri Cangaço, Poço Redondo-SE
18 de Fevereiro de 2020

Antônio Vilela em nome do Cariri Cangaço presta homenagem a familia do personagem histórico do cangaço, Adauto Felix, no grande Cariri Cangaço Poço Redondo em junho de 2018.

O Dia que Nazaré Colocou Lampião para Correr Por:Luiz Ferraz Filho

Antônio Gomes Jurubeba

Em 17 de fevereiro de 1926, estava Antônio Gomes Jurubeba em sua Fazenda Genipapo , quando o primo Fortunato Ferraz Nogueira (Fortunato do Pico) chegou apressado numa burra para dizer-lhe que os Revoltosos haviam atacado a cidade de Betania-PE. O velho Gomes tomou a providencia de tirar objetos de valor de dentro de casa e esconder no mato, como também transferir a família para a casa do amigo Antônio Lorota, que era um pouco mais afastada da sua. Depois, Gomes Jububera se dirigiu ao povoado de Nazare do Pico acompanhado do filho Manoel Gomes de Lira e o genro Abel Thomaz Ferraz Nogueira. "Ali chegando, Gomes ficou seriamente preocupado, por não ter encontrado a guarnição em defesa do povoado", lembrou o filho dele, João Gomes de Lira. Estando ele no povoado, o terror foi ainda maior quando João Lopes de Souza Ferraz (primo legitimo do coronel Luiz Gonzaga, assassinado em São José do Belmonte) avisou que a Coluna Prestes vinha acompanhada do bando de Lampião. Todos abandonaram o povoado. Mulheres correram com crianças em plena caatinga e alguns homens preocupados foram atrás de encontrá-las, ficando assim o povoado abandonado. 

Casa de Abel Thomaz, na Fazenda Jenipapo, incendiada por Lampião 

Para reunir os nazarenos de volta ao povoado, Gomes Jurubeba tomou a iniciativa de deflagrar vários tiros de rifle para o alto acompanhados de gritos. Foi pior. Muitos se afastaram ainda mais lamentando no pensamento que 'os Revoltosos e Lampião já estavam queimando Nazaré'. Depois de um tempo, o barulho dos tiros silenciaram. Alguns nazarenos então foram se aproximando para ver o que 'Lampião tinha queimado em Nazaré', mas para surpresa de todos, encontraram foi o velho Gomes Jurubeba com raiva chamando todos de volta. Não demorou e chegaram de volta ao povoado os nazarenos Odilon Flôr, Aureliano Nogueira, Antônio Capistrano, Afonso Nogueira (irmão de Manoel Neto que na ocasião estava ferido em tratamento), João Jurubeba (irmão de David Jurubeba), José Flôr, Eloi Jurubeba, Militão Jose dos Santos (pai de David Jurubeba), Vicente Grande, Aureliano Francisco de Souza, João Terto, entre outros, que ficaram em defesa do povoado.


Luiz Ferraz Filho, Manoel Severo e Ingrid Rebouças em Nazaré do Pico

Nada de Coluna Prestes e nada de Lampião chegar. Dormiram e no dia seguinte (18 de fevereiro), Gomes Jurubeba foi em sua fazenda (5km do povoado) olhar a família, quando chegou o amigo Zé Rosa e avisou que voltasse a Nazaré que os Revoltosos estavam chegando. Retornou e nada deles chegarem. A Coluna Prestes passou com destino a vila de São Francisco, em Serra Talhada-PE, não atacando o povoado.

Casa de Antônio Gomes Jurubeba, na Fazenda Genipapo, incendiada por Lampião 

Estava tudo calmo até que de repente começou uns estrondos. O bando de Lampião chegou na Fazenda Genipapo - que estava abandonada sem ninguem - e começou a tocar fogo na casa e matar todo o criatório do terreiro. Foram 48 cabeças de gado, matou bodes, porcos, galinhas e até um papagaio de estimação. Só se salvou o oratório, que Lampião retirou e colocou embaixo de uma quixabeira. Depois queimaram também as casas de Abel Thomaz, de Alexandre Xandú e de Zeca Lopes , três genros de Antônio Gomes Jurubeba. "Lembro-me que, naquele dia, foi um grande suplício, pois eu tinha 13 anos e fui também vitima do episodio, quando ouvir Inês (tia) dizer: - Lampião queimou o Genipapo. Vai-se os anéis e ficam os dedos", relembrou João Gomes de Lira.

Próximo ao povoado na Fazenda Lagoa do Bom Nome, Aureliano Sabino chegou para avisar ao fazendeiro João de Souza Nogueira (João Flôr). Juntou ele a família e veio para a casa das irmãs Izadora e Sérgia Flôr no lugar chamado Boião, menos de 1km para Nazaré. 

Odilon Flôr, Euclides Flôr, Manoel Jurubeba e Pedro Thomaz

Diante deste ataque de Lampião, os nazarenos mandaram avisar aos soldados Euclides Flôr e David Jurubeba que estavam em São João dos Leites, 84km de distancia, que ao saberem pediram ao Tenente Optato Gueiros para seguir para a terra natal. Liberados, partiram Euclides Flôr, David Jurubeba, Manoel Jurubeba, João Domingos Ferraz, Hercilio Nogueira e Pedro Gomes de Lira. Foi quase um dia todo de viagem. Somente de noite chegaram na Fazenda Ema, 6km para o povoado, onde ouviram os tiros e a fumaça do incêndio queimando as casas da Fazenda Genipapo.

Depois de queimar todos as casas, Lampião saiu e resolveu ir dormir com seu bando na casa de Pedro Gregório Ferraz Nogueira (pai de Neco de Pautilia), na Fazenda Ipueira, onde passou a noite preparando o ataque ao povoado no dia seguinte. (CONTINUA....)

(FONTE: LIRA, João Gomes de - Memorias de Um Soldado de Volante, Pág. 259-278; NETO, José Malta de Sá - David Jurubeba Um Herói Nazareno, Pág. 143-151) 

Continua...

Luiz Ferraz Filho, pesquisador
Serra Talhada, Pernambuco

Canudos e Antônio Conselheiro: Bate-papo com Bruno Paulino


Fonte: You Tube
Canal: Blog do Felipe Nunes

"É impossível passar por Canudos
sem ler Euclides"
Bruno Paulino

Bruno Paulino; poeta, pesquisador e escritor
Presidente da AQUILETRAS
Coordenador do Cariri Cangaço em Quixeramobim

GECAPE Realiza Reunião Ordinária em Recife e Exibe o Filme "Cangaceiro Gato".

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Aconteceu na manhã do ultimo dia 15 de fevereiro mais uma reunião do GECAPE- Grupo de Estudos do Cangaço de Pernambuco. Foi a 6a.reunião ordinária no auditório da Biblioteca Pública do Estado de Pernambuco, e nesta oportunidade assistimos o excelente filme documental intitulado Cangaceiro Gato. Um rastro de ódio e de sangue, seguido de um interessante debate a respeito do personagem central do filme e bem como da própria produção apresentada. O filme aqui exposto foi dirigido e produzido pelo historiador, pesquisador e escritor João de Sousa Lima, a maior autoridade no que toca a participação feminina no universo cangaceiro e uma das grandes referências nacionais no estudo do tema.Em seguida demos continuidade à pauta da reunião, onde discutimos os assuntos de sumo interesse do Grupo.
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 Reunião do GECAPE em Recife 
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Nota de agradecimento:
A Presidência do GECAPE- Grupo de Estudos do Cangaço de Pernambuco agradece a presença de todos que participaram (alguns tiveram sua ausência muito bem justificada), e de modo especial agradecemos ao confrade Ailton Mattos, pela confecção e cessão do lindo banner, em cuja estampa há uma bela foto da Grota do Angico (local da morte de Lampião e Maria Bonita...), sob o nome do nosso Grupo de Estudos - GECAPE. Portanto, Ailton, muitíssimo obrigado! Nossos agradecimentos especiais também seguem aos novos membros do GECAPE: o Dr. Herbert, e o Dr. Armando Umbelino. Sejam muito bem-vindos!

Agradecemos também ao confrade, Dr.Evandro Duarte de Sá, professor-titular da UNIVISA - Universidade de Vitória de Santo Antão, pela doação do livro biográfico Benjamin Abrahão. Entre Anjos e Cangaceiros, 1a.edicão 2012, pela Escrituras Editora, e de autoria do historiador e escritor Frederico Pernambucano de Mello. A obra doada é destinada a compor a biblioteca do GECAPE. Não podemos deixar de agradecer a tamanha gentileza da administração da insígne BPE em sempre nos ceder o espaço às reuniões e de nos suprir de toda a logística necessária. Segue nossos sinceros agradecimentos aos funcionários Hélio (gestor da BPE); Roberta Alcoforado (gestora da BPE); Sandra Veríssimo (chefe do departamento de eventos culturais) e André, quê hoje nos deu plena assessoria. A todos estes, nosso muito obrigado. Finalmente, muito gratos somos a todos os amigos confrades e confreiras do nosso GECAPE- Grupo de Estudos do Cangaço de Pernambuco.

Wasterland Ferreira Leite.
Presidente do GECAPE.

Em Junho a Emoção do Cariri Cangaço Paulo Afonso 2020



Nunca um cenário foi tão místico e desafiador...Do Lendário Raso da Catarina; da nação Pankararé; às belezas da Malhada da Caiçara; berço da Rainha do Cangaço, do Brejo do Burgo a Lagoa do Mel, da bela Serra do Umbuzeiro às ruínas da Casa de Generosa... da magnifica Angiquinho às estonteantes turbinas de Paulo Afonso... Esse chão é cheio de história, memória e tradição: 

Bem vindos ao Cariri Cangaço Paulo Afonso 
11 a 13 de Junho de 2020.
Nem pense em perder.
 
Realização: Cariri Cangaço, IGH Instituto Geografico e Histórico de Paulo Afonso e Prefeitura Municipal de Paulo Afonso.
Apoio: SBEC - ABLAC - GECC - GPEC

Manoel Severo - João de Sousa Lima

Vem aí a Segunda Edição do Concurso Literário "Antônio, o Conselheiro do Brasil" AQUILETRAS e Cariri Cangaço


A Academia Quixeramobinense de Letras, Ciências e Artes (AQUILETRAS), em parceria com o Instituto Cariri Cangaço, realizará a segunda edição do concurso literário "Antônio, o Conselheiro do Brasil".
Conforme o edital, poderão participar alunos do 1º, 2º e 3º anos, devidamente matriculados em escolas públicas ou privadas em 2020. Neste ano, o tema será "A história que não se rendeu: As lutas de Antônio Conselheiro nos dias atuais", devendo obedecer às regras de um texto dissertativo-argumentativo (artigo de opinião). A entrega dos trabalhos deve ser feita até o dia 04 de março, na Associação Luz e Vida à pessoa com câncer, na Avenida Dr. Joaquim Fernandes, Nº 706, no Centro, das 9h às 17h. O resultado será divulgado no dia 06 de março, e as premiações, que variam conforme as colocações, serão entregues em sessão da AQUILETRAS alusiva ao evento Conselheiro Vivo.
Premiações:
1º lugar
R$ 200,00, medalha e certificado, assim como o professor orientador também ganhará medalha e certificado. A escola do vencedor receberá placa de congratulação.
2º lugar
150,00 R$, medalha e certificado, assim como o professor orientador receberá medalha e certificado.
3º lugar
100,00 R$, medalha e certificado, assim como o professor orientador receberá medalha e certificado.

Vem aí o Espetacular "Como Vivem os Bravos" - How The Brave Live



Realizado pela STORYKNIGHT Audiovisual Entertainment Enterprise em associação com a Toque de Midas Produções, Ogunté Arte Cultural Produções, Ipalma, MV Moises Veloso Studios, Instituto Icapuí Filmes e JLS Comunicação e Editora, em parceria com a Prefeitura Municipal de Palmácia/CE através da Secretaria Municipal de Cultura em ação conjunta com a Casa da Cultura e Escola de Artes Casulo, o longa-metragem cearense do gênero Nordestern intitulado COMO VIVEM OS BRAVOS (2020) - precedido por ONDE NASCEM OS BRAVOS (2017) - é o segundo capítulo da "Trilogia do Silêncio" sobre a saga do pistoleiro Mumbaca e do cangaceiro Alfinete, dando continuidade em QUANDO MORREM OS BRAVOS (2021).
COMO VIVEM OS BRAVOS teve sua avant première em exibição aberta ao público na Praça 7 de Setembro (Paço Municipal), cidade de Palmácia, Estado do Ceará, no dia 21 de dezembro de 2019.

Gravado em formato Digital 4K e com recursos limitados, sem apoio de leis de incentivo, editais ou patrocínios, COMO VIVEM OS BRAVOS foi possível através de parcerias e da colaboração de diversos atores e técnicos. As gravações, na sua maioria, foram realizadas em 2017 no Sítio Olival e noutras regiões do município de Palmácia/CE. Em 2018 retomou as filmagens na Fazenda Pinhão, onde estão localizados os estúdios da STORYKNIGHT Audiovisual Entertainment Enterprise, no município de Quixeramobim/CE, e no Sítio Jardim do Éden, em Icapuí/CE, nos estúdios do Instituto Icapuí Filmes. Em 2019, encerrou a produção na Fazenda Serrote do município de Caridade/CE, contando com o apoio logístico da Prefeitura Municipal.


Apresentação de "Onde Nascem os Bravos" no CineTeatro São Luiz dentro do Cariri Cangaço Fortaleza 2018; com Jonas Luis da Silva,de Icapuí; 
Manoel Severo e Daniel Abrew.

No dia 28 de abril de 2018, o Cariri Cangaço apresentou a seus convidados , a exibição em grande estilo do primeiro capítulo da trilogoa; a noite foi com a película Onde Nascem os Bravos, de Daniell Abrew; ator, cineasta, roteirista e produtor. Daniell é cearense de Quixeramobim e aos 7 anos de idade iniciou seus primeiros trabalhos cinematográficos em curta-metragem na fazenda do avô localizada no interior do Ceará, em Quixeramobim, onde passou a maior parte de sua infância. Em 2005 foi diretor de Centopeia, o primeiro longa-metragem do gênero ficção-científica do Ceará lançado nas salas de cinema em 2008 e relançado em 15 de janeiro de 2010 no próprio Cine São Luiz.


A apresentação naquela noite foi precedida por um debate tendo como mediador e mestre de cerimonia, Manoel Severo; curador do Cariri Cangaço; além do cineasta e produtor Jonas Luiz da Silva, de Icapuí, e io próprio diretor, Daniell Abrew. Em suas palavras, Jonas Luis falou da trajetória de Daniell Abrew desde os tempos iniciais de um sonhador espetacular até os dias de hoje como consagrado cineasta de uma nova geração de cineastas cearenses, para logo em seguida o próprio Daniell Abrew dá as boas vindas aos convidados do Cariri Cangaço em Fortaleza.

Imperdível:
Como Vivem os Bravos
 (How The Brave Live) 
PRÉ-ESTREIA - CINETEATRO SÃO LUIZ
18 de Fevereiro de 2020
19H - Entrada Gratúita

GECC Promove Reunião em Fortaleza

Sob o comando do pesquisador e escritor Angelo Osmiro Barreto, o GECC - Grupo de Estudos do Cangaço do Ceara, realizou na noite desta ultima terça-feira, 11 de fevereiro de 2020, mais uma reunião ordinária, na residência do cientista Melquiades Pinto Paiva. 
A pauta da reunião, além de informes sobre os novos lançamentos de obras sobre o cangaço e assuntos ligados ao tema, contou com o lançamento do cordel 
" Chuva de bala no país de Mossoró que expulsou o Rei do Cangaço Virgulino Ferreira Lampião" do poeta Matheus da Silva, cearense da cidade de Jaguaruana. A referida obra  já havia sido lançada em 2019 na feira do livro em Mossoró. 

A Segunda vez que Lampião visitou a Igreja de Poço Redondo Por:Rangel Alves da Costa


Era alvorecer do dia 14 de junho de 2018, e foi neste dia e nesta aurora sertaneja que Lampião fazia a segunda visita ao templo maior do catolicismo poço-redondense. A primeira, como se sabe pelos anais da história, ocorreu nos idos de 1929, mais precisamente no dia 19 de abril, quando o cangaceiro-rei assistiu missa, juntamente com a cangaceirama que lhe fazia companhia, no interior dessa mesma igreja, logicamente bem antes de todas as reformas havidas.

Essa história hoje é tida como célebre e até denominada por uns “O encontro entre a cruz e a espada” e por outros como “A cruz e o mosquetão se encontrando no sertão”. Num cordel caberia um pomposo título: “Quando uma buchada selou a amizade entre o sacerdote e o cangaceiro”. De qualquer modo, a verdade é que o fato até hoje é tido como um dos mais pitorescos da história cangaceira, e tudo acontecido naquele Poço Redondo de antigamente.


Na ocasião, a 19 de abril, ao repentinamente surgir no pequeno arruado de Poço Redondo e logo procurar a residência de China do Poço e Dona Marieta (meus avôs maternos), Lampião não esperava encontrar o vigário da paróquia naquela mesma moradia. Mas Padre Artur Passos estava lá, e repousando num dos quartos para a celebração de missa mais tarde. Era costumeiro que o vigário buscasse estadia na casa de China e Marieta, mas não era costumeiro que a cangaceirama aparecesse na povoação e logo num dia de missa. Aliás, foi a primeira vez que o grupo de Lampião bateu às portas da pequena povoação.



Já tendo tomado informações sobre a importância de China na região, então Lampião foi diretamente à porta. E que desespero danado para os donos da casa. Espanto pela repentina chegada do cangaceiro maior e medo do que poderia acontecer se o padre de repente saísse do quarto e desse de frente com a ferocidade em pessoa. Valha-me Deus, e agora! Atormentou-se Dona Marieta. Vixe Maria! Silenciosamente dizia o desassossegado China. Vai num vai, acabou que o dono da casa encontrou coragem para dizer ao Capitão quem estava trancado e dormindo num daqueles quartos.

Lampião só faltou gargalhar na hora, mas manteve o comedimento que o ilustre vigário merecia. Respeito e acatamento às coisas da igreja, pois Virgulino era devotado e religioso em profusão. Contudo, o mundo quase acaba para China e Marieta quando o cangaceiro disse que ia até o quarto para falar com o padre. A dona da casa, numa aflição de causar dó, correu pra garapa forte e depois se ajoelhou em orações. Implorou por todos os santos. China, sempre procurando manter a calma para não tremelicar diante do Capitão, tinha o rosto esbranquiçado e então avermelhou de vez dos pés à cabeça.

Padre Artur Passos 

“O que foi Seu China, tá nervoso?”. Perguntou o cangaceiro. “É o calor Capitão, é o calor que tá grande demais, só isso!”. Foi o que conseguiu responder enquanto apontava qual era a porta do quarto onde o padre estava. “Toc, toc, toc...”. Lampião repetiu as batidas, porém sem nada falar. Mais uns toques e ouviu-se lá de dentro, em tom raivoso: “Mas quem será esse que se atreve a cortar o sono do vigário?”. “Sou eu padre, sou eu. Eu mesmo em carne e osso: Virgulino Ferreira da Silva, conhecido por Lampião”. Foi a resposta de pronto. E novamente o padre, já virado na gota de raiva: “Não é só pecado, mas merece ser excomungado quem diz uma mentira dessas. Mas eu queria mesmo encontrar Lampião. Só assim ele ia ver o que uma batina é capaz de fazer!”.

E foi abrindo a porta enquanto falava, e num instante não acreditou no que via. Diante dele, frente a frente, olho no olho, o rei cangaceiro, o temido e terrível Lampião. E quase dá um chilique quando o cangaceiro lhe estendeu a mão pedindo a benção. “Isso é um sacrilégio, isso é um sacrilégio!”. Ia negar a benção, mas achou mais conveniente abençoar depois que avistou o armamento despejado por cima do cangaceiro. Daí em diante, a esperteza de Lampião passou a comandar as ações. Não demorou muito e os dois já estavam em regabofe como dois velhos amigos. E mais: com a permissão de que Lampião e seu bando fossem assistir missa.

E assim, naquele dia 19 de abril, a cangaceirama se ajoelhou perante o rústico altar e orou pedindo proteção contra as temeranças da estrada. E depois todos tomaram caminho pelos carrascais sertanejos. E oitenta e nove anos após, no dia 14 de junho de 2018, Lampião faria a segunda visita ao templo maior do catolicismo poço-redondonse. E ali chegou em madeira de lei, pelas mãos do artesão Mestre Tonho, e para os festejos de abertura do Cariri Cangaço Poço Redondo.

Só que dessa vez encontrou a igreja de portas fechadas. Padre Mário havia se atrasado para receber o famoso cangaceiro. Por ali mesmo Lampião ficou, perguntou pelo compadre Manoel Severo e pela sua madrinha Lili, para depois sair de fininho e se meter dentro dos livros de história.


Rangel Alves da Costa, pesquisador , poeta e escritor
Conselheiro Cariri Cangaço, Poço Redondo-SE
blograngel-sertao.blogspot.com

A História que nos Perdoe, mas Porque não se Conta de uma Vez a Verdade sobre o Cangaço?

Transcrição de matéria do jornal "O Estado de São Paulo" Edição de 31 de julho de 1973 com coronel Higino Belarmino; nego Gino.
Dizer que Padim Ciço, um santo, fez Virgulino Ferreira um bandido é um sacrilégio. Mas o santo fez o bandido virar capitão, sim, embora historiadores do cangaço omitam esse episódio em seus livros. Há outras omissões. Embora os personagens da História ainda estejam dispostos a depor para a História. Por enquanto, porque estão todos muito velhos.
O coronel aposentado Higino José Belarmino, o homem que mais combates travou com Lampião e seu bando, durante a primeira fase do cangaço, até 1928, desistiu de ler qualquer livro, jornal ou revista que trate desse assunto. Tem dois motivos para isso. O primeiro é pessoal: até hoje, segundo ele, ninguém descreveu corretamente a morte dos dois irmãos de Virgulino Ferreira, Antônio e Livino, considerados por todos como mais violentos, ferozes e ousados do que o irmão. Prova é que morreram logo, em combates com o então tenente Higino. O segundo motivo – e o que mais irrita o coronel – é a sua obsessão pela minúcia. “Já perdi a conta dos doutores (escritores, jornalistas, sociólogos) que vieram aqui falar comigo. E esta é a segunda vez que trazem a maquininha (gravador)”. A maioria dos entrevistadores do coronel conversava horas – até dias – com ele, anotando um dado ou outro, geralmente datas. “Um negócio feito assim só pode sair torto”, diz ele. O coronel está alertando, com muita seriedade, todos os estudiosos do assunto.




A maioria dos livros históricos – que fique claro: a maioria – ou ensaios sobre cangaceirismo parte de premissas discutíveis (alguns até partem de preconceitos) ou escolhem, a esmo, um determinado ângulo do fenômeno. Então temos livros que, sem maiores explicações, rotulam Lampião de “revolucionário”, vestem-no de Robin Hood, tratam as volantes como “forças opressivas” e, no fundo, descrevem o velho lugar comum que leva o leitor a identificar o bandido como mocinho e vice-versa. Se a intenção é politica, esses escritores perdem, nos seus preconceitos, ótimos detalhes que até ajudariam a defesa de suas teses; que, por exemplo, os métodos usados pela polícia na luta, em nada, mas em nada mesmo, se diferenciam dos métodos dos cangaceiros. Quando o coronel Higino diz que “eu era um boi”, fica claro sua identificação com os inimigos. 

A volante, enfim, seria um grupo de cangaceiros funcionários públicos. Igualmente ferozes e ingênuos. Outros pontos: não é possível pesquisar o cangaço sem o conhecimento profundo da República Velha, das condições socioeconômicas do Nordeste, na época, da psicologia do seu povo, das complicadíssimas árvores genealógicas, os clãs, os feudos, as pequeninas máfias. Como falar de cangaço sem o entendimento das relações estado-igreja-povo? A função dos beatos, o messianismo, o compadrismo político, tudo isso contribuindo direta e indiretamente para a formação dos bandos sanguinários, na verdade manuseados por uma série de elementos que vão desde o cínico senhor feudal às relações econômicas do Nordeste com o Centro-Sul. Há um exemplo edificante, de um homem que pesquisa o assunto há mais de vinte anos e ainda não escreveu o seu livro: o paulista Antônio Amaury C. Araújo.


Antônio Amauri

À medida que ele avança no conhecimento do cangaceirismo, mais dados lhe são exigidos. Talvez uma pesquisa dessas, que além de muita cultura e paciência, obriga a gastos inestimáveis de dinheiro, nunca venha a ser feita no Brasil. A solução poderia estar num trabalho de equipe, financiado por uma riquíssima instituição cultural. E alguém teria realmente interesse de esmiuçar tão obsessivamente um período regional da História do Brasil? É fácil concluir que um trabalho assim é impossível, mas não se pode perdoar a desonestidade (ou o despreparo, vá lá) de alguns autores. Como é possível perdoar um “historiador” que, pelo simples fato de venerar o Padre Cícero do Juazeiro, omita da sua “história do cangaço” o episódio da “promoção” de Virgulino Ferreira a “capitão”?

Alguns personagens desta página – todos da primeira fase do cangaço, a mais desconhecida, que vai de 1914 a 1928, quando Virgulino atravessou o rio são Francisco e foi brigar na Bahia – estão dispostos a testemunhar, depor. Ainda podem chegar à minúcia. Mas os historiadores bem intencionados devem se apressar: a média de idade dessa primeira fase está por volta dos oitenta anos. A arteriosclerose começa a apagar a memória de muitos. A morte natural está bem próxima. E logo agora que se descobre que cangaceirismo está longe de ser um assunto esgotado pela História, como dão a entender os representantes do sensacionalismo escrito, falado, filmado e televisionado.

O ESTADO DE S. PAULO – 31/07/1973
Gentileza da Postagem do Facebook
Antônio Correa Sobrinho

Os Curiosos Nomes do Cangaço Por Rangel Alves da Costa

Rangel Alves da Costa

Difícil de imaginar um pássaro levando no bico um punhal, um mosquetão, uma faca afiada, um rifle, uma cartucheira repleta de balas cuspideiras de fogo. Realmente difícil imaginar a ave escondida entre as folhagens e ramarias e num instante fazer espanar adiante o grito, a dor e o sangue. Qual passarinho seria capaz de fazer assim, tão humanamente agindo e mais parecendo um bombardeiro em meios às catingueiras e carrascais?
Mas assim acontecia. Assim acontecia nos tempos do cangaço, onde cada integrante do bando passava a ostentar um nome de guerra, alcunha ou apelido. Quem era Timóteo, por exemplo, na vida cangaceira passava a ser Perfumado, Cabriola ou Estrangeiro, dentre muitos outros nomes. Denominações até poéticas, exóticas, inocentes, cordiais, mas apenas para ocultar a verdadeira feição destemida, a voracidade em pessoa, o barbarismo em forma de gente. Ao invés de Besta-Fera, escolhia-se Querubim. Mas nada de anjo. Apenas a fera de sangue no olho e ferro nos dentes.


Por escolha do próprio Virgulino Ferreira da Silva, o Capitão Lampião, vez que este - em sua maestria de estrategista até repetia velhos apelidos em novos cangaceiros, de modo que as baixas fossem menos percebidas e a sensação de unidade de grupo tivesse continuidade -, procurava amenizar as durezas da vida cangaceira a partir de apelidos singelos e até contrastantes com a realidade. E assim foram surgindo as alcunhas, e hoje mais famosas que os próprios nomes.

A povoação sergipana e sertaneja de Poço Redondo teve nada menos que 34 filhos seguindo as veredas de Lampião. Foi igualmente fecunda tanto no fornecimento de rapazes e mocinhas ao bando como em apelidos sublimes demais para o destino escolhido. Numa ligeira observação, os filhos cangaceiros de Poço Redondo formaram fauna, flora, higienização e muito mais. De Sabiá a Cajarana, de Cravo Roxo a Sabonete, tudo é de Poço Redondo. Mas por que Delicado ser nome de um feroz cangaceiro? Cabia delicadeza no cangaço? Supõe-se que Zumbi não era dos mais simpáticos.


Fora os nomes de pássaros que logo adiante citarei, vejam que salada de apelidos que adornaram aqueles filhos de Poço Redondo: Delicado (João Mulatinho, irmão da cangaceira Adília) Demudado (Zé Neco), Coidado (Augusto), Cajazeira (José Francisco do Nascimento, o Zé de Julião), Novo Tempo (Du, irmão de Sila), Marinheiro (Antônio, também irmão de Sila), Elétrico, Penedinho (Teodomiro), Bom de Vera (Luís Caibreiro), Moeda (João Rosa), Alecrim (Zé Rosa), Moeda (João da Guia), Sabonete (Manoel Rosa), Borboleta (João Rosa), Quina-Quina (Jonas da Guia), Ponto Fino (José da Guia), Zumbi (Angelino), Cravo Roxo (Serapião), Cajarana (Francisco Inácio), e Santa Cruz. E ainda outros.

Mais de perto, interessei-me pelos nomes de passarinhos dados àqueles jovens sertanejos. Sabiá (João Preto), filho de Zé Bié e Dona Antônia; Canário (Bernardino Rocha), filho de Dona Virgem e Cante; Zabelê (Manoel Marques da Silva), filho de Antônio Marques da Silva e Maria Madalena de Santana; Mergulhão (Gumercindo, filho de Paulo Braz São Mateus e irmão de Sila); Lavandeira (filho de Virgem de Pemba); Beija Flor (Alfredo Quirino), filho de Quirino da Lagoa do Boi; e Azulão (Luís Maurício da Silva). E ainda houve um Borboleta (João Rosa). Borboleta, um lindo e multicolorido inseto, dando nome a uma fúria humana.


Como visto, um bando, uma revoada de passarinhos, uma ninhada de voejantes cortando os céus catingueiros e nordestinos. Vai um Sabiá, vai um Canário. Segue um Zabelê e logo ao lado um Mergulhão. Voando vai Lavandeira e bem à frente o Beija Flor. E também o Azulão. Tudo pássaro, tudo passarinho. Uma lindeza de avoantes, a mais linda das revoadas. Assim seria se em cada pássaro não estivesse um homem aprisionado em seu destino de luta, de guerra e de sangue. Maldosos e perversos sim, mas também pelo instinto de sobrevivência. Muito mais a luta pela sobrevivência do que a esperanças de dignas conquistas.

Canário, por exemplo, é passarinho bonito, de penas amareladas, de canto belo e voo plangente. Simboliza o ouro, a vitória, a conquista. Já o outro Canário, o cangaceiro, era tido como carrancudo e um dos mais feios do bando de Lampião. Ao invés da suavidade e singeleza do pássaro, este possuía ilimitada ferocidade e transformava suas poucas palavras em atitudes brutais. O Canário cangaceiro foi derrubado de seu voo na mata em 1938. Seu algoz, o também cangaceiro Penedinho, não usou badoque ou peteca baleadeira. Ao invés disso, lançou mão de arma de fogo e, atirando pelas costas, fez espanar sem pena as penas passarinheiras.

Já Zabelê, meu tio-avô Manoel Marques da Silva, possuiu história e destino muito parecido com o do pássaro de igual nome. O passarinho Zabelê, como se sabe, é ave de terno canto, um tanto recluso, tido até como poeta das aves. Bem assim o Zabelê cangaceiro, pois tido como versejador, romântico e reservado. Estava na Gruta do Angico em 1938 quando ocorreu a chacina. Salvou-se, contudo. E salvou-se, talvez em voo passarinheiro e para local tão distante que nunca mais apareceu em Poço Redondo, seu berço familiar.

Rangel Alves da Costa
Pesquisador, Poeta e Escritor
Conselheiro Cariri Cangaço - Poço Redondo-SE