A Morte de Sabiá e a Doença Ruim do Matador Por:Manoel Belarmino


Aqueles 9 anos de cangaço em Sergipe, quase uma década, mais parecia um século sem fim. O sertão estava em alvoroço. Mortes, tragédias, chacinas, combates, medo, carreiras, atrocidades. Cangaceiros, coiteiros e volantes.Um dos acontecimentos que marcou a história do Cangaço em Sergipe foi a morte do cangaceiro Sabiá e a lenda que nasceu dessa morte.

Sabiá (provavelmente este era o quarto cangaceiro com este nome) era natural de Poço Redondo e filho de Dona Maria Antônia Alves e Zeca Bié. O seu nome civil e de batismo era João Alves dos Santos, conhecido como João Preto. Sabiá, ao entrar no cangaço, logo passou a pertencer ao grupo comandado por Zé Sereno. É naquela segunda visita dos cangaceiros à cidade de Aquidabã, feita pelo grupo de Zé Sereno e que Sabiá estava presente, que acontece a trágica morte do filho de Zé Bié.
Era o mês de outubro de 1936. O grupo de Zé Sereno chega às proximidade de Aquidabã. E um grupo de jovens, já escaldados daquela visita de 1930 feita por Lampião e seus cangaceiros, quando aconteceram diversas malvadezas praticadas pelos cangaceiros aos moradores daquele lugar, resolveram perseguir os cangaceiros que se aproximavam dali. Houve, ali, um tiroteio e o cangaceiro Sabiá foi atingido na cabeça, na malhada da Fazenda Barra Salgada, no município de Canhoba. A bala do jovem Gustavo Guimarães atingiu o cangaceiro Sabiá. Era a vingança dos homens de Aquidabã contra Lampião que, quando em 1930 esteve ali, arrasou aquela povoação. Os cangaceiros, imaginando que fosse uma perseguição da volante, fugiram.

Manoel Severo, João de Sousa Lima e Manoel Belarmino

Sabiá ainda não estava morto. Horas depois, os jovens de Aquidabã retornaram à sede da fazenda Barra Salgada e vêem o cangaceiro baleado, mas ainda vivo, agonizando. O mesmo Gustavo que desferiu o tiro certeiro que atingiu a cabeça do cangaceiro, escarra e cospe na boca do já quase morto Sabiá. O cangaceiro já quase morto, em seguida, é arrastado por um caminhão até Aquidabã onde é exibido como troféu e como vingança às atrocidades feitas naquele lugar quando Lampião ali esteve.
Aquele ato impensado e cruel de Gustavo gerou uma lenda. E o próprio Gustavo afirmava que o fato realmente aconteceu, dando conta que naquele momento que cuspiu na boca do quase morto cangaceiro Sabiá, sentiu o seu corpo coçar, surgindo borbulhas estranhas e mal cheirosas. Apareceu, dias depois, uma doença ruim que tomou conta do seu corpo, desconfigurando-o completamente. Nem médico e nem reza forte dos mais renomados rezadores de Aquidabã e Canhoba deu jeito.
Segundo alguns pesquisadores, o próprio Gustavo Guimarães dizia que aquela doença ruim invadiu o seu corpo naquele momento infeliz do seu cuspe na boca do cangaceiro Sabiá.
Sabiá morreu ali nas terras de Canhoba e Aquidabã, depois de ser ferido de bala de fuzil, cuspido, pisado e arrastado, e, logo depois, Gustavo, o matador do cangaceiro Sabiá, morreu de uma doença ruim que invadiu o seu corpo.

Manoel Belarmino, pesquisador, poeta e escritor
Conselheiro Cariri Cangaço
Poço Redondo, SE

Padre José Kehrle e os Cangaceiros Por:Beto Rueda


Padre José Kehrle, homem admirável, culto, proveniente de família Judia, nasceu em 19 de maio de 1891, na cidade de Rheinstetten, Alemanha. Cursou medicina na Universidade de Munique tendo desistido da carreira no último ano de faculdade para ingressar no seminário e tornar-se sacerdote. Veio para o Brasil em 1909, optando pela vida religiosa e ordenou-se em 14 de março de 1914, no Mosteiro de São Bento, em Olinda-PE.

Transferiu-se no ano seguinte para Quixadá-CE., onde chegou a ter contato com o Pe. Cícero, em Juazeiro do Norte. Foi encarregado de assumir a secretaria do bispado de Floresta, onde ficou por quatro anos. Tornou-se o primeiro pároco de Rio Branco, atual Arcoverde.
Assumiu a paróquia de Nossa Senhora da Penha, em Vila Bela (atual Serra Talhada), ficando também responsável pela paróquia de São José do Belmonte.

Conheceu Virgolino Ferreira, o Lampião, ainda no começo de sua vida como cangaceiro, sendo inclusive seu conselheiro. Ainda em sua missão pelo Sertão pernambucano, o padre alemão passou pelas cidades de Venturosa, Afogados da Ingazeira, Brejo da Madre de Deus e Moxotó. Por fim, chegou em Buíque no ano de 1947.No ano de 1967, a pesquisadora e escritora Aglae Lima de Oliveira, foi a Buíque e coversou com ele: segundo Oliveira(1970, p.126)."Tive a satisfação de conhecê-lo pessoalmente. Pesquisador do banditismo, inteligente, forte sotaque germânico, estimadíssimo na cidade. Conta com 76 anos de idade. Possui vasto documentário sobre o cangaço. Conheceu de perto todos os problemas desse fenômeno. Recorda-se de Lampião como cangaceiro iniciante em Vila Bela.Perguntei:

- Padre, Lampião e os cabras confessavam-se com o senhor?
- Não.
Nunca se confessaram comigo, os outros padres, tenho certeza, não os receberam no confessionário.
- Fale padre, sobre a personalidade de Lampião, pois tão bem o conheceu.
- Eu fui vigário em Vila Bela, conheci Lampião quase menino. Ele me obedecia. Tomava-me a benção, desarreado e desarmado. Todos os cangaceiros assistiam a Santa Missa, com os chapéus na mão, respeitosos.
No momento que chegavam às capelas, as armas eram ensarilhadas, guardadas e trancadas na sacristia.
Os cabras não perdiam missa, principalmente se incursionassem nas fazendas e povoados pertencentes a paróquia onde eu era vigário. Eram fiéis as missas celebradas por mim. Prestavam atenção ao aviso das próximas, fitavam-me com respeito e absoluto silêncio.
- A polícia sabia que Lampião assistia a missa nas capelas da sua Paróquia?
- Sabia, e nunca foram procurá-los nas igrejas.
- Padre, fale sobre Sinhô Pereira.
- Conheci muito. Era de família nobre, neto do barão Andrelino Pereira do Pajeú. Teve suas razões para entrar no cangaço.
- Padre Kehrle, conheceu outros cangaceiros?
- Conheci todos em minha região, até 1940.
- O que achava da personalidade deles, da religião, costumes e da vida que levavam?
- Observava que o meio e as injustiças sociais foram responsáveis por todos os bandidos do Nordeste. Sobre a religião, eu ficava impressionado diante da fé e da confiança. Não desviavam a atenção das imagens e da minha pessoa. Ouviam o meu sermão cabisbaixos. Rezavam rosários e orações fortes.
- Padre Kehrle, fico impressionada com a personalidade complexa dessa gente. Eles não temiam a surpresa de as volantes cercarem as capelas?
- Não.
As volantes também me respeitavam e jamais escolheriam as igrejas para cercar bandos desarmados. A polícia também nunca castigou padres. Lembro-me de que, depois da missa, eu retirava do bolso da minha batina a chave da sacristia e Lampião distribuía as armas e os arreios.
Anotei os costumes e a vida que levavam e consegui encher uma mala cheia de documentários.
- Padre, o senhor aparenta gostar também do assunto?
- Imensamente.
Sou alemão de nascimento mas amo profundamente o Brasil. É a minha segunda pátria, vivo a muitos anos nos sertões.
- O que mais o impressionou em Lampião?
- Seus modos. Era calmo. Falava manso. Atendia aos meus pedidos.
- O senhor lhe solicitava que abandonasse o cangaço?
- Sim. Várias vezes.
Ele baixava a cabeça, segurava o fuzil e dizia:
- Padre José, não tem mais jeito."

José Kehrle faleceu em Buíque no dia 06 de agosto de 1978, aos 87 anos. Sua grandiosa contribuição é lembrada para a história do interior de Pernambuco.
REFERÊNCIAS:
OLIVEIRA. Aglae Lima de. Lampião, cangaço e Nordeste. 2.ed. Rio de Janeiro: O Cruzeiro, 1970.
MELLO, Frederico Pernambucano de. Guerreiros do sol: violência e banditismo no Nordeste do Brasil. São Paulo: A Girafa, 2004
Por: Beto Rueda - FaceBook

PADRE CICERO volta aos Grandes Encontros Cariri Cangaço: 150 de Ordenação Sacerdotal


PADRE CICERO volta aos Grandes Encontros Cariri Cangaço: Sem sombras de dúvidas uma das mais significativas e ao mesmo tempo polêmicas personalidades de nosso nordeste e porque não dizer do Brasil, foi o santo padre do Juazeiro do Norte, o cearense do século. O Cícero Romão Batista nascido no Crato, ordenado em Fortaleza e que realizando sua Missão sacerdotal no antigo "Tabuleiro Grande" viria a se tornar a figura mais estudada do clero brasileiro, com mais de cinco centenas de publicações a seu respeito, despertando amor e ódio entre todos aqueles que entraram em contato com sua controversa historia e legado. Para debater os 150 Anos de sua Ordenação Sacerdotal, Manoel Severo Barbosa recebe os renomados pesquisadores da vida e da obra de Cicero Romão Batista; Jose Carlos Santos, Fatima Pinho e Renato Dantas, além da presença preciosa do Reitor da Basílica de Nossa Senhora das Dores, padre Cicero José, ou seja: IMPERDIVEL, Nesta sexta-feira dia 27, as 20 horas em nosso Canal do YouTube. Ate lá !!!



DIA 27 DE NOVEMBRO DE 2020 - AS 20 HORAS

CANAL DO YOU TUBE DO CARIRI CANGAÇO


O Cangaceirismo e a Rixa entre "Arrudas" e "Moreiras" em Aurora Por:João Tavares Calixto Junior


Na região sul cearense que compreende os municípios de Aurora e Missão Velha, tendo o distrito de Ingazeiras ao centro, começaram a surgir, no início do ano de 1921, os mesmos comentários que levaram Isaías Arruda de Figueiredo a sair de Cedro (CE): a prática de extravio de gado e saque a pequenos comércios locais.

A primeira queixa registrada após a volta do futuro mandão regional a sua terra natal, Aurora, foi a dos irmãos Moreira, já no fim de 1921, nas proximidades do distrito de Boa Esperança, hoje Iara, município de Barro (Ceará), próximo da fronteira com a Paraíba. Foi assim que se referiu a este fato o ex coletor de impostos José Soares de Gouveia, em interessante artigo sobre o cangaço no Nordeste brasileiro em "O Jornal" (Rio de Janeiro, 21 de agosto de 1927, p.3):
“(...) Isaías refugiou-se então com sua família na Vila de Aurora, e inimizando-se com a família Moreira, atacou- a no povoado próximo de Boa Esperança com os seus cangaceiros. Roubou e transportou para Aurora todo o estabelecimento comercial do Sr. Antônio Moreira, que hoje cobra do estado do Ceará 140 contos de indenização (...)”. É importante salientar que a questão com os Moreiras se iniciou a partir de queixa prestada por Antônio Moreira, que era negociante, contra Isaías Arruda, então delegado de polícia de Aurora, o que lhe fez ser exonerado logo após isso.

Isaias Arruda
Isaías supôs que o motivo da denúncia se deu em virtude de ter atirado e causado tumulto no dia da eleição, em 21 de fevereiro de 1921, o que lhe fez ter perdido o cargo, o seu primeiro emprego, na realidade. Antônio Moreira de Oliveira era amigo e compadre do Dr. Daniel Cardoso, que havia se candidatado e perdido a eleição para deputado, ocorrida em fevereiro de 1921 e por isso ficou ressentido pelo prejuízo que este candidato sofrera (BRAZIL, 1923).
Depois disto, Isaías intrigando-se com Antônio Moreira, continuou com perseguições e hostilidades que culminaram com o saque realizado em seu comércio em dezembro de 1921. Para os Arrudas, foi este um “acerto de contas” pelo prejuízo que Moreira dera a Isaías em virtude da exoneração.
Em 6 de janeiro de 1922 Isaías Arruda entra em confronto com policiais nas proximidades do mercado público em Aurora, no que se acreditou ter sido vingança dos Moreiras, vinda de Boa Esperança.
Isaías, acusado de atentar contra a força policial da vila e contra a vida do soldado Francisco Paulino Sobrinho, viu ser aberto processo contra ele e alguns dos seus, dois dias depois; e já no dia 30, foi expedido mandado de prisão preventiva pelo suplente de juiz substituto em exercício da vila d’Aurora, Justino Alves Feitosa, o mesmo que iria ser padrinho de sua filha Orlandina, em 1924. Foram apontados, além de Isaías Arruda, o seu irmão Lino Arruda, seu primo José Cardoso de Figueiredo, seu sobrinho Manoel Furtado de Figueiredo, Antônio Padeiro, José Bernardo e Vicente do Carmo.

Joao Tavares Calixto Junior e Manoel Severo

Cinco testemunhas foram intimadas e ouvidas neste processo: Antônio Jaime Araripe, comerciante, 29 anos de idade, natural de Jardim; Eduardo da Silva Leite, proprietário na vila d’Aurora, natural do Rio Grande do Norte; Gabino Bezerra de Barros, solteiro, comerciante, natural do Pernambuco; Alfredo de Castro Jucá, solteiro, 18 anos, comerciante, natural de Iguatu e Moisés Vilela de Oliveira, solteiro, de 32 anos, comerciante e natural da vila d’Aurora.
Após ouvidas as testemunhas, aos 13 de janeiro (1922), o promotor de justiça adjunto Emídio Cabral de Almeida resolve não dar prosseguimento à denúncia e o inquérito foi arquivado.
Nos depoimentos, informaram as testemunhas que Isaías Arruda encontrava-se na calçada dos fundos do hotel de Gabino Bezerra de Barros (hoje Av. Santos Dumont, Centro da cidade), quando se aproximaram cerca de seis soldados, que adentraram ao comércio de Gabino afim de comprarem aguardente e cigarros. Na entrada, um deles cumprimentou Isaías de forma cordial, tendo um outro, demonstrado hostilidade ao se referir a Isaías, e com isto, houve discussão seguida de troca de tiros. Foram unânimes, as testemunhas, ao se referirem à seguinte sequência de eventos:
1 – Que houve discussão na calçada de Gabino Bezerra entre Isaías e os policiais; 2 – Que houve tiros de revólver após a discussão; 3 – Que houve descarga de vários tiros de mauser e rifle; 4 – Que houve tiros nas paredes da casa de Isaías (que ficava próxima ao local do desentendimento), e que foram quebradas as portas da casa, inclusive as do interior.


Antônio Jaime Araripe, primeira testemunha a depor, informou que soube estar acompanhado de Isaías Arruda apenas o seu irmão Lino Arruda, além de Vicente do Carmo e quanto aos outros, não sabia se estavam no confronto. Gabino Bezerra afirmou que viu as mulheres da família de Isaías pedindo socorro e afirmando que não havia ninguém no interior da casa, estando elas sozinhas. Disse também que antes do tiroteio Isaías estava na casa dele, testemunha, que este estava desarmado e que depois que quebraram as portas da casa ouviu dois soldados discutindo entre si, tendo dessa discussão resultado dois tiros. Daí, segundo Gabino, chegou o tenente Raimundinho e levou os policiais para o quartel.
Moisés Vilela de Oliveira informou que na hora do crime estava na casa de Firmino Leite, quando passaram pela rua, de seis a oito soldados. Com ele, Moisés, estava José Bernardo, a quem os soldados lhe perguntaram se já era cangaceiro, ao que José Bernardo respondeu que não, dizendo aos soldados que estes tinham vindo de Boa Esperança, sob encomenda.
Pela leitura dos depoimentos das testemunhas, principalmente os de Antônio Jaime Araripe e Moisés Vilela, o promotor concluiu que a luta que travou Isaías Arruda e algumas praças do destacamento policial da vila foi provocada pelos policiais, e não por Isaías Arruda. Para o promotor, houve agressão por parte dos soldados a Isaías, o qual foi obrigado a se defender.
“A primeira testemunha alegou também que uma das praças aludidas, ao mesmo tempo que um seu companheiro dava a Isaías respeitosamente dirigia ao denunciado palavra insulta, ao que se seguiu o conflito referido, vendo-se Isaías obrigado a lançar mão de revólver para se defender. Assim sendo, impossível considerá-lo, assim como aos demais denunciados, como incursos na sanção do art. 294 do cod. Penal, combinado com o art. 13 do mesmo código.
Não se enquadra neste processo a figura jurídica do crime de tentativa de homicídio por não estar conforme a prova dos autos e pelas circunstâncias de que se cercou o fato delituoso. Nenhuma das testemunhas afirmou ter sido o soldado Francisco Paulino
Sobrinho, ferido por Isaías nem tão pouco os demais denunciados terem atacado o destacamento policial, fazendo diversas descargas de rifle. Além do mais, a 5ª testemunha depôs por ouvir dizer que depois do tiroteio houve luta entre dois soldados, os quais chegaram a atirar um contra o outro. Dou parecer, pois, que não havendo provas dos autos pelas quais se possa afirmar que os denunciados sujeitos á sanção do art. 294 do código penal combinado com o art. 13 do mesmo código, que os mesmos sejam
impronunciados, baseado não só nos depoimentos das testemunhas, como também no princípio de que na incerteza ninguém deve ser punido”. (Autos do Inquérito policial e processo-crime contra Isaías Arruda de Figueiredo e outros, Aurora, 1922, p.14-16).
No entanto, conforme consta no processo (p.2) foi procedido exame de corpo de delito no soldado Francisco Paulino Sobrinho, que era natural de Fortaleza e nada tinha de parentesco com os Paulinos de Aurora. Reinaldo Leite de Oliveira foi nomeado para proceder como escrivão ad hoc e intimar José Dias Neto e Luiz Altino de Andrade para atuarem como peritos no exame de corpo de delito, a pedido do delegado militar Crisóstomo Borges.
Em depoimento, o soldado afirma que no dia e hora já ditos, ele e outros do destacamento foram ao mercado a fim de fazerem uma refeição ao que encontraram com Isaías Arruda. Sem conhecê-lo, deu “boa noite”, ao que lhe respondeu Isaías Arruda: “Vocês sabem com quem estão falando, cachorros? ”, e foi logo sacando um revólver, de onde começou a enrasca.
De certo, não houve confronto sangrento entre Moreiras e Arrudas em 7 de janeiro de 1922, na sede da vila d’Aurora, como anunciado, inclusive, pelo próprio presidente do Estado Justiniano Serpa, que ao falar por telegrama com o Presidente da República sobre um outro episódio com tiroteio e mortes ocorrido em Lavras, justifica este, de Aurora.
Esclareça-se, aqui, que a data do confronto foi 6 de janeiro e não 7 de janeiro, no mesmo dia da hecatombe de Lavras episódio sangrento que ficou conhecido também como dia do barulho. O combate de Aurora foi travado com policiais e não com os irmãos Moreira que, no entanto, tiveram seus nomes apontados como mandantes da vindita contra Isaías Arruda, fato este, que se utilizou o Promotor de Justiça para requerer o arquivamento do processo contra os Arrudas.
João Tavares Calixto Junior, pesquisador e escritor
Conselheiro Cariri Cangaço, Juazeiro do Norte-CE

BRAZIL. Anais da Câmara dos Deputados. Congresso
Nacional, vol, 2, Rio de Janeiro: Departamento de Imprensa
Nacional, 1923.
CALIXTO JÚNIOR, J.T. Vida e Morte de Isaías Arruda - Sangue dos Paulinos, abrigos de Lampião. Fortaleza, Expressão Gráfica, 2019

A Maria do Capitão Chega aos Grandes Encontros Cariri Cangaço

MARIA BONITA, a Maria do Capitão, a Rainha do Cangaço é nossa convidada especial para os Grandes Encontros Cariri Cangaço desta próxima sexta-feira, dia 20 de Novembro de 2020 no Canal do YouTube do Cariri Cangaço. Manoel Severo recebe o pesquisador e escritor Joao de Sousa Lima, presidente do IGH Paulo Afonso, Conselheiro Cariri Cangaço, para conhecermos mais de perto a história desta mulher da terra do condor, que mudou os rumos do cangaço de Virgulino Ferreira.

Entre Caneta e Bacamarte - A Saga de Fideralina, nos Grandes Encontros Cariri Cangaço.

"Conhecida como figura de destaque do coronelismo, cujo espírito encarnou com a sua armadura de guerreira, Fideralina sempre levou às últimas consequências as vinditas com os seus adversários, ganhando ou perdendo as demandas com as quais se envolveu. Falecida aos 16 de janeiro de 1919, foi casada com o major Ildefonso Correia Lima, e entre os fatos marcantes da sua trajetória podem ser enumerados: a detenção do poder político supremo, em Lavras da Mangabeira, e a derrubada do seu próprio filho, Honório Correia Lima, da chefia da Intendência local.

Senhora de vastos domínios territoriais e de grande vocação para o exercício da política, em Lavras estabeleceu residência em casarão localizado na então Rua Grande, hoje Major Ildefonso, e sua vivenda de campo foi construída no sítio Tatu do mesmo município, ostentando, além da casa-grande, a senzala, a capela e o engenho, símbolos máximos da autonomia do sistema latifundiário. Vastíssima tem sido a crônica histórica a seu respeito, valendo destacar algumas opiniões de abalizados conhecedores da nossa história política, selecionadas entre a complexa bibliografia que regista a sua trajetória. Em torno de sua pessoa disse Antônio Barroso Pontes: “Dona Fideralina, que na sua época dominou toda a região sul do Ceará”. E Joaryvar Macedo: “Mulher forte, Dona Fideralina tornou-se uma das maiores expressões da política cearense do seu tempo". O autor do texto, Dimas Macedo e Cristina Couto, são os convidados de Manoel Severo para esta noite ímpar, sobre uma das mais preciosas personagens do coronelismo sertanejo: Entre Caneta e Bacamarte - A Saga de Fideralina.

Serra do Catolé, Gruta de Lampião e a Pedra do Reino nas Andanças de Optato Gueiros Por:Valdir Nogueira

2º tenente da Força Pública do Estado de Pernambuco, Optato Gueiros, temível caçador de cangaceiros, alcunha que recebeu por ter combatido de modo valoroso os bandos do cangaço, por sua rígida fama, após a hecatombe de outubro de 1922, que ceifou a vida do coronel Luiz Gonzaga Gomes Ferraz, foi nomeado delegado de Belmonte por ato do governo do Estado no dia 18 de julho de 1923. Em suas incursões de trabalho, no combate ao banditismo, pelas veredas tidas como perigosas no solo belmontense, um diálogo seu com um morador da Serra do Catolé transformou-se em curioso relato do livro das suas memórias do tempo do cangaço intitulado: “Lampião – Memórias de um oficial ex-comandante de forças volantes”.

Eis um trecho do diálogo:
“Pelo fim do ano de 1922, o major Teófanes Ferraz Torres, em um encontro na Serra das Panelas, feriu Lampião no pé esquerdo. Ai foram mortos Cícero Costa e Lavandeira.
Nesse encontro, foi o grupo completamente destroçado. Lampião não pode fugir e, escondido por baixo de uma espessa moita, esteve para se entregar algumas vezes. Dele, se aproximavam soldados de vez em quando, a ponto de, se avançassem mais uns cinco metros, o encontrariam estendido com um pé esmigalhado por uma bala.


GRUTA DE LAMPIÃO, também conhecida como “Casa de Pedra”, local altamente estratégico dada a sua localização, na parte mais alta da Serra do Catolé em São José do Belmonte. Antes era apenas uma furna de onça, depois que o rei do cangaço ali esteve em decorrência do tratamento de um tiro no pé, ficou o local conhecido como “Gruta de Lampião”. De lá tem-se uma visão magnífica da “Ilumiara Pedra do Reino”.

Mais de um ano depois desses acontecimentos, conquistei a amizade e confiança do velho João Menezes, da encosta da Serra do Catolé, que me revelou o seguinte:
- O senhor sabe; quem mora, como eu, num ermo deste, tem que fazer o que não quer, pra poder passar. O senhor está vendo aquela pedra grande na ponta da serra? Disse o velho.
- Sim estou vendo, respondi.
- Pois bem, continuou, por traz daquela pedra, pelo lado esquerdo, há um “sucavão”, que comporta vinte homens. É uma furna de onça. Ali passou Lampião quarenta dias, se tratando do balaço que arrebentou-lhe o pé. Eu não sei como aquele pé ainda emendou, pois o osso ficou um facho...”
E a conversa continuou:
“- Seu João, como vive o senhor numa solidão dessa, sendo visitado somente por tropas volantes e cangaceiros? Aduzi, ao mudar o assunto.
- Vivo muito bem seu tenente. A minha ocupação aqui é tirar catolé e mandar vender nas feiras. As minhas andadas nunca passam desta encosta de Serra à Pedra do Reino.
- E que Pedra do Reino é esta seu João, perguntei.
- Há! ... isso é uma história comprida. Quem pode lhe contar tudo é o velho João Menino da ponta da Serra, e o major Quincas Leonel, da Oiticica. Eles lhe “debulham” tim tim, por tim tim. Já os ouvi contar a homens de posição, de passagem em casa deles.
- E o senhor não gravou nada?
- A história é mais ou menos assim: Há uns sessenta anos passados, um João Antônio dos Santos, juntou na Pedra do Reino, umas quatrocentas pessoas entre homens mulheres e crianças, e botou na cabeça deles que Dom Sebastião iria surgir na Pedra do Reino, montado num cavalo branco, mas, para isso, para que o rei aparecesse logo, seria necessário matar muitas crianças e mulheres e aspergir o sangue na pedra. O povo se deixou levar pelas pregações e os pais entregavam os filhos, que eram logo sangrados em cima da pedra. E assim muitas crianças, em número elevadíssimo, e mulheres, foram mortas com a maior indiferença e sangue frio.
Cariri Cangaço em visita à Gruta de Lampião em São José de Belmonte

As forças do governo e civis armados, em número de quatrocentos, mais ou menos, atacaram o arraial sebastianista, na Pedra do Reino. Houve uma luta de um dia todo, até que, depois de muitas baixas, conseguiram tomar a Pedra do Reino e acabar com o fanatismo”.
Valdir José Nogueira de Moura,
Conselheiro Cariri Cangaço
São José de Belmonte, 08/11/2020

OS FLÔR DE NAZARÉ - No Rastro de Lampião nos Grandes Encontros Cariri Cangaço


OS FLÔR DE NAZARÉ - No Rastro de Lampião nos Grandes Encontros Cariri Cangaço, nesta sexta !!! A atual Nazaré do Pico, já foi Carqueja, que já foi Nazaré. A vila que nasceu da antiga fazenda Algodões, foi o resultado de um sonho do filho do professor Domingos Soriano Ferraz, "Manu" ; que via nascer naquele lugar uma vila. Dali até a realização do sonho foi rápido. Ao sonho se uniram outros jovens e entre esses, os filhos de João Flor, era agosto de 1917 quando foi inaugurada a primeira feira de Nazaré. Depois dos primeiros embates entre os "filhos de Zé Ferreira" com Zé Saturnino, a família mudou para os arredores de Nazaré, já estamos em 1919 e a fazenda Poço do Nêgo era a nova morada do futuro rei do cangaço. Dali para frente o conflito entre Virgulino e seus irmãos com o povo de Nazaré só aumentaria e viria a se tornar uma verdadeira saga, envolvendo mais de 100 integrantes do afamado vilarejo que entraram na luta contra o cangaço.

Neste primeiro programa Ao Vivo dos Grandes Encontros Cariri Cangaço sobre a Vila mais famosa do cangaço: Nazaré do Pico, Manoel Severo; curador do Cariri Cangaço; recebe tres descendentes destes valorosos e encardidos nazarenos: Fabiano Ferraz, Euclides Neto e Odilon Nogueira; netos respectivamente dos comandantes nazarenos: Manoel, Euclides e Odilon Flor; para nos trazer o primeiro capítulo desta saga, é nesta sexta, dia 06 de novembro as 20horas, até lá !!!