Testes para Atores e Atrizes da Sedição de Juazeiro


Atenção Atores e Atrizes do Cariri,

Nestes próximos dias 5 e 6 de maio, quarta e quinta-feira, a equipe de produção da mini-série "Sedição de Juazeiro", uma das mais ousadas iniciativas da televisão brasileira, estará reunindo o que de melhor o cariri tem em seu universo das artes cênicas.

O Teatro do Complexo Cultural do Araripe - Largo da RFFSA, em Crato, será palco dos testes para as escolhas de todo o elenco, apoio e figuração, dessa que já é considerada, a mais festejada iniciativa da televisão nordestina dos últimos tempos. Os horários dos testes serão entre 8 da manhã às 6 da tarde, nos dois dias.



Dessa forma convidamos a todos os atores e atrizes do Cariri para estarem participando deste momento único, de onde com certeza sairão os principais responsáveis por trazer à vida nas telas, os grandes personagens da história de nosso Cariri. Nos dias acima especificados, compareça ao Teatro da RFFSA em Crato, se identifique com o pessoal da produção, e... Boa Sorte.

Maiores informações:
Secretaria de Cultura do Crato - (088) 3523.2365 com Edmar Soares

Manoel Severo.

NOTA CARIRI CANGAÇO: Sem dúvidas a realização dos testes para a escolha do elenco da mini-série "Sedição de Juazeiro" acontecendo também e principalmente, em nossa própria região, mostra o compromisso e convicção dos produtores do empreendimento; tendo à frente o amigo Jonasluis da Silva, de Icapuí; e toda a equipe do Diretor Daniel Abreu, em aproximar o máximo a película do verdadeiro sentimento raiz de nosso cariri. O Cariri Cangaço se sente honrado por ser parceiro da "Sedição de Juazeiro".


Recado dos amigos do Zé Testinha



Olá, tudo bem! Faço parte de uma quadrilha junina chamada Zé Testinha de Fortaleza-ce, que resgata a cultura do cangaço a 34 anos. Dentro do nosso grupo tivemos palestra sobre o cangaço e uma gincana em cima do que foi dito. Uma das tarefas da gincana é de mostrar um livro de Frederico Bezerra Maciel - Lampião, seu tempo e seu reinado, onde mostre que Lampião era sanfoneiro e dançava quadrilha, mais nao encontro e queria saber se vocês podem me ajudar a encontrar ou ate mesmo onde posso comprar este livro! 
um grande abraço e espero resposta. 

Iris , Quadrilha do Zé Testinha
iris.linda85@hotmail.com

Quando Lampião quase foi aniquilado Parte I Por: Rostand Medeiros



 Rostand Medeiros e Dra. Francisquinha

Nos primeiros meses do ano de 1924, o chefe cangaceiro Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, mantinha junto com seu bando uma intensa atividade de pilhagens, assaltos e ataque aos seus inimigos na região fronteiriça entre os estados de Pernambuco e da Paraíba. Neste setor não eram incomuns as notícias dos cangaceiros nas cidades de Princesa (PB), Triunfo e São José de Belmonte (PE). São deste período dois grandes ataques do bando de Lampião contra o ex-companheiro de cangaço, Clementino Furtado, ou o famoso “Clementino Quelé”. 

Segundo o livro “Pernambuco no tempo do cangaço, Volume I”, de Geraldo Ferraz de Sá Torres Filho (Recife,2002), em sua página 328, informa que segundo o Boletim Geral nº 05, da Polícia Militar de Pernambuco, as primeiras horas da manhã de seis de janeiro e 1924, dia dedicado aos Santos Reis, o chefe cangaceiro atacou um sítio próximo a vila de Santa Cruz, atual cidade de Santa Cruz da Baixa Verde, a apenas seis quilômetros de Triunfo, acompanhado de um grupo de cangaceiros calculado em sessenta homens.

Virgulino e seu irmão Antônio Ferreira, em foto do início do cangaço

Durante seis horas de nutrido tiroteio, Clementino Quelé suportou juntamente com outros membros de sua família, uma terrível provação. Mesmo tão próximo a cidade de Triunfo, somente as onze daquela manhã foi que o sargento Higino Belarmino, ordenou o deslocamento de sua tropa para salvar os sitiantes. Diante do fogo dos policiais, Lampião ordenou a retirada. Na casa ficaram três mortos, sendo um deles irmão de Quelé, e um ferido.

Não satisfeito pelo fato de ter conseguido matar o ex-companheiro de bando, o chefe Lampião retorna cinco dias depois a casa de Quelé, com igual número de cangaceiros, e reinicia o ataque. Aparentemente desta vez a tropa veio em socorro dos sitiantes mais rapidamente. Entretanto, como na ocorrência anterior novamente Quelé perdeu outros parentes e amigos.
Diante da situação, Clementino Quelé o homem que suportou is ataques de Lampião, cruzou a fronteira e seguiu para a cidade de Princesa, onde através da influência do “dono” do lugar, o coronel José Pereira, sentou praça na polícia paraibana. Ele recebeu a patente de sargento e tratou logo de montar uma força volante para caçar seu maior inimigo e o seu bando.
Diante da repercussão destes combates, as forças policiais dos dois estados aumentam a pressão contra os cangaceiros. Pelos próximos dois meses circulam notícias da presença do bando na proximidade da vila de Nazaré e informações de um assalto ao sítio São Domingos. (Ferraz, op. cit. Págs. 331 e 332).



Major Theophanes Torres Ferraz

Entre os oficiais da polícia pernambucana que desejavam capturar, ou abater, Lampião estava o major Theophanes Torres Ferraz. Aos 30 anos de idade, este militar era considerado uma verdadeira lenda no seio da corporação em que atuava. Ferraz havia se notabilizado pela prisão do famoso cangaceiro Antônio Silvino, em novembro de 1914, após o tiroteio ocorrido no sítio Lagoa da Laje, na zona rural do atual município pernambucano de Vertentes. Há algum tempo ele estava baseado na cidade de Vila Bela, atual Serra Talhada, atuando no desbaratamento de grupos cangaceiros.

Considerado atuante, enérgico e determinado, o nome do major Ferraz é visto costumeiramente nas páginas dos antigos jornais conservados na hemeroteca do Arquivo Público do Estado de Pernambuco. Estes periódicos estampavam principalmente seus telegramas destinados a Eurico Souza Leão, então Chefe de Polícia de Pernambuco, cargo atualmente equivalente ao de Secretário de Segurança. Nestes relatos o major Ferraz dava conta da atuação da força policial no interior. 

Em março de 1924, a frente de uma tropa de vinte e cinco policiais, o major Ferraz seguiu de Vila Bela para várias localidades da região do Pajeú pernambucano. Consta que uma das missões do major Ferraz era arregimentar o maior número de homens para formar uma grande volante destinada a combater os cangaceiros que assolavam a região. 

Um dos locais para onde a tropa seguiu foi a Serra do Catolé, distante cerca de 30 quilômetros de São José de Belmonte. Este elevado maciço granítico, que possui altitudes que ultrapassam os mil metros, está fincada na região onde as fronteiras dos estados de Pernambuco, Ceará e Paraíba se encontram, tendo seu nome originado a partir da existência de uma grande quantidade de pequenas palmeiras conhecidas como coqueiro catolé. A força policial chegou à região da serra no dia 23 de março.

Continua...

NOTA CARIRI CANGAÇO: Agradecemos ao confrade Rostand Medeiros; presença confirmada no Cariri Cangaço 2010; o envio do referido artigo, que será postado em dois momentos.


Aurora, a mais nova Anfitriã do Cariri Cangaço


 Manoel Severo e Prefeito de Aurora, Adailton Macedo

O curador do Cariri Cangaço, Manoel Severo, recebeu na tarde deste dia 27, em Fortaleza, a visita do prefeito municipal de Aurora, Dr. Adailton Macedo. Na oportunidade foi consolidada a adesão oficial do município ao Cariri Cangaço, em sua edição 2010 - Coronéis, Beatos e Cangaceiros.

Para o Curador do evento, Manoel Severo "sem dúvida nenhuma a chegada de Aurora em muito enriquecerá o Cariri Cangaço; pela sua história, tradição, e o vasto conjunto de ligação com a temática, notamente a partir dos episódios do Fogo do Taveira, as Minas do Coxá, o Tipi de Marica Macedo, a Ipueiras de Isaias Arruda, enfim; o Cariri Cangaço recebe de braços abertos os parceiros de Aurora, e juntos vamos esforçar para proporcionar um grande evento aos nossos convidados".

 Secretário José Cícero e Manoel Severo

Para o Secretário de Cultura de Aurora, professor José Cícero, "estamos contentes pelo município poder contribuir de alguma forma para o estudo e uma releitura da história de Lampião e do cangaço. Aurora jogará um papel de destaque neste contexto de estudo e de análise do movimento pelos sertões caririenses. Além da relação do rei do cangaço e Massilon Leite com o coronel Isaías Arruda e a célebre invasão de Mossoró que foi tramada em Aurora, descambando com a tentativa de envenenamento e cerco de Lampião no sítio Ipueiras, propriedade de Isaías. Para tanto, duas edições da Revista Aurora esteve sendo publicada anos atrás para tratar exclusivamente deste tema." E completou:"Já estava na hora da nossa cidade também participar do Cariri Cangaço, um dos maiores e mais badalados eventos lampiônicos do Brasil".

Nesta próxima sexta-feira os Organizadores do Cariri Cangaço estarão reunidos no município de Aurora com o prefeito Adailton Macedo, com o secretário José Cícero e as respectivas equipes para a formalização da adesão de Aurora ao Cariri Cangaço.

Gabriel Barbosa.


Região Metropolitana do Cariri

NOTA CARIRI CANGAÇO: Com a adesão de Aurora, agora são cinco os municípios anfitriões do Cariri Cangaço 2010; além de Aurora; Crato, Juazeiro do Norte, Barbalha e Missão Velha, formam o time de anfitriões do evento.

Quanto Custa uma Guerra Por: Manoel Severo


 Coronel Joaquim Santana, da Serra do Mato

Missão Velha, um dos anfitriões do Cariri Cangaço, guarda histórias marcantes relacionadas à época dos coronéis; Róseo Jamacaru, Joaquim Santana, José Dantas, Isaias Arruda, Zé Gonçalves, dentre outros, que se revezavam no poder desde o final do século XIX até as primeiras décadas do século passado, na República Velha. Alguns desses nobres proprietários do poder, mantinham fortes ligações com o Rei do Cangaço, Virgulino Ferreira, entre esses, o coronel Santana da Serra do Mato e o coronel Isaias arruda, célebre por sua participação no episóido do ataque a Mossoró.

O coronel Antônio Róseo  Jamacaru, foi nomeado  em 30 de abril de 1899 e ficou no poder até 02 de novembro de 1902, data em que foi deposto pelas forças dos apaniguados  (cangaceiros)  do  coronel  Antonio  Joaquim  de Santana, segundo notícias fidedignas da época, narrados por pessoas que conviveram com os acontecimentos, o coronel Antonio Róseo, residia no sítio Tapera, senhor de muitos haveres, com muitos legumes e rapaduras armazenadas, os quais foram destruídos pela sanha dos cangaceiros do coronel Santana, que atearam fogo nos quatro cantos da propriedade citada, cujos proprietários para escaparem com vida  tiveram que fugir para localidade Crôa de Frade, do Município de Aracati, de onde eram egressos, dali e de Maranguape. Conta a tradição que todo o gado foi sacrificado e dentro das levadas de água de regadia e nos baixios, corriam mel da rapadura derretida dos armazéns do coronel Antonio Róseo.

Missão Velha, porta de entrada do Cariri Cearense

Abaixo transcrevemos a ATA da Sessão Extraordinária da Câmara Municipal de Missão Velha, com os custos da guerra; logo após a tomada de poder no município pelo coronel Santana, destituindo "à bala" o coronel Róseo Jamacaru.

SESSÃO   EXTRAORDINÁRIA   EM   2  DE  SETEMBRO DE 1903. Presidência do Cap. Sabino de Almeida Pires. Secretário Francisco Pereira dos Santos. Aos dois dias do mês de setembro do ano de mil novecentos e três, nesta Villa de Missão Velha, no Paço da Câmara Municipal as dez horas do dia, presentes os Vereadores Capitão Sabino de Almeida Pires – Presidente, Tenente Coronel José Leite de Oliveira, Major José Homem de Figueiredo, Major João Marinho Falcão e Capitão José Machado Papinha: Aberta a sessão compareceu o Intendente Municipal Tenente Coronel Antonio Joaquim de Santana e disse que havia convocado a presente sessão para o fim de, submeter ao conhecimento desta Câmara a despesa desta Câmara, digo, a despesa  que se autorisada, a contar de novembro do ano findo, quando infelismente começaram os grandes e horrorosos desastres políticos desta Villa, promovidos pelo ex Chefe Antonio Jamacaru, e esta Intendência atendendo as reclamações da população e alarmes que se sentiam as famílias, resolveu augmentar a força municipal,  usando-se do que dispõe o art. 6º do orçamento vigente, contraiu empréstimos na importância de onse contos cento sessenta e nove mil, tresentos  cinqüenta  e nove réis (11:169:359 réis) aos senhores Cândido José de Macedo, Pedro de Figueiredo Rocha Sobrinho, Aurélio Zábulon de Almeida Pires e Fenelon Gonçalves Pitta, sacando letras a seis, douse e desoito mêses, tudo isto para pagamento da mesma força, fardamento, armamento, munição e mais necessários, conforme os documentos que apresenta para serem examinados. Tãobem compareceu Pedro de Figueiredo Rocha Sobrinho, representando os herdeiros do Coronel Antonio Luis Alves Pequeno e disse que trasia ao conhecimento desta Câmara que esta mesma municipalidade era devedora aos mesmos herdeiros da quantia de setecentos e vinte mil réis, proveniente de aluguéis da casa que servia de cadeia desta villa, a contar do ano de 1898 até esta data, ainda compareceu Fenelon Gonçalves Pitta e disse que esta municipalidade tãobem era devedora a firma comercial Sabino de  Almeida  Pires  &  Genro,  a  quantia  de  dusentos  e  seis  mil  tresentos  e quarenta réis (206:340 réis), proveniente de objetos fornecidos pelo ex-Presidente, digo, objetos fornecidos pela ordem do ex-Presidente desta Câmara Antonio Jamacaru, conforme a conta que apresentava para serem examinadas. Tomando a Câmara conhecimento do ex, digo, examinadas. Disse ainda o Intendente Municipal que todas as lutas promovidas em defesa deste município, achavão-se presentemente terminadas, achando-se este mesmo município em paz e harmonia, tendo resolvido despensar o augmento que fisera da força, compondo-se esta somente do numero de  praças  funcionais para o policiamento. Tomando a Câmara conhecimento de tôdo expôsto a constante desta acta, votou por sua maioria unânime, que se efetuasse os pagamentos  retro referidos, isto de conformidade aos rendimentos desta municipalidade, do que para constar lavrei esta acta que vai  assignada pelo Presidente e mais Vereadores. Eu, Francisco Pereira dos Santos, Secretário o escrevi. assinados): Sabino de Almeida Pires. José Leite de Oliveira. João Marinho Falcão. José Homem de Figueiredo. José Machado Papinha. Antonio Joaquim de Sant´Anna.” 

Manoel Severo.

NOTA CARIRI CANGAÇO: Agradecemos ao confrade João Bosco André a gentileza de nos enviar a ATA da Sessão Extraordinária da Câmara Municipal de Missão Velha, por ocasião da Tomada do poder pelo coronel Joaquim Santana da Serra do Mato, contra o coronel Róseo Jamacaru.     
    

V Simpósio de Turismo Sertanejo


 
 
FONTE: sbec-mossoro.blogspot.com

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Métodos de Sangramento Uitlizados por Volantes e Cangaceiros Por:José Romero Cardoso


A partir de entrevistas com o Coronel Manuel Arruda de Assis (Pombal - PB)

O sangramento era um dos crimes mais hediondos cometido no sertão nordestino no tempo do cangaço, praticado tanto por tropas volantes, as quais dispunham de "sangradores oficiais", como por cangaceiros.

Símbolo de uma cultura forjada pela colonização erigida sob a ênfase da força e da violência, responsável pelo extermínio dos índios que habitavam a hinterlândia, a "técnica" de sangramento foi aperfeiçoada ao máximo. A razão econômica da penetração interiorana exigia que o gado criado de forma ultra-extensiva fosse, necessariamente, abatido para o consumo de uma minoria privilegiada da população, principalmente a do litoral canavieiro. No sertão, se tornou um "trabalho de mestre" matar sangrando a jugular ou a carótida.

 

As carótidas são duas artérias, a comum direita e a comum esquerda, sendo que a comum direita é originária do tronco braquiocefálico e a comum esquerda é originária do arco aórtico. A ruptura dessas artérias significa morte certa. A hemorragia violenta na via arterial do fluxo de sangue da aorta se encarrega de tudo.

Quando o soldado João da "mancha", considerado inclusive por seus antigos colegas de farda, como um psicótico, extravagante sangrador das forças volantes paraibanas, rompeu, com um bisturi pertencente ao medico Luiz de Góes, a carótida do advogado João Dantas, assassino do presidente João Pessoa, quando de sua detenção na penitenciária do Recife (PE).

João Dantas estava preso na companhia do cunhado, o engenheiro Augusto Caldas, também assassinado com a mesma "técnica". O "serviço" fora feito por um profissional macabro que conhecia muito bem o seu "ofício". O militar sabia milimetricamente onde iria romper a artéria, visto que a luta corporal travada entre o intrépido advogado João Dantas e os seus algozes impediu o seccionamento no ponto exato, como pretendia Dr. Luiz de Góes. Conforme Arruda, só alguém que estava profundamente em contato com a "arte" de sangrar poderia ter feito um "trabalho" com tamanha perfeição.

As veias jugulares, outras que também eram preferidas pelos "sangradores" das lutas do cangaço nordestino, são de extrema importância para o organismo. A veia jugular interna é a principal. Ao rompê-la é quase impossível de haver qualquer possibilidade de salvação, a não ser que haja modernas técnicas de reversão, como presença de médicos e hospital, praticamente inexistentes nos ermos esquecidos dos sertões de outrora, embora ainda hoje encontremos tal situação em diversos lugares espalhados pelo nordeste e pelo Brasil afora.

Com o comprometimento da veia braquiocefálica, poucas chances de vida havia às vítimas desse suplício macabro promovido por solados e bandidos no sertão do cangaço, principalmente quando do apogeu de Lampião. Essa veia se anastomisa com a veia braquiocefálica direita, formando a veia cava superior, de fundamental importância à manutenção da vida.



Lampião era expert nesta técnica, dispondo para isso de imenso punhal de setenta centímetros de lâmina. Tarimbado na lida do campo, sobretudo no que diz respeito à pecuária, fornecendo peles e couros ao "Coronel" Delmiro Gouveia, com quem a família Ferreira negociava, o "rei do cangaço" inovou e utilizou-a profusamente quando de sua chefia no cangaço (1922 - 1938).

A veia jugular externa, quando rompida, representa morte certa. Essa veia é constituída da junção da veia retromandibular com a veia auricular posterior, e, após vários estágios de grande importância, desembocará, mais freqüentemente, na veia subclávia.


Segundo o Coronel Manuel Arruda de Assis, (Foto acima) sobre quem há registros históricos indeléveis, tendo marcado de forma extraordinária a história das lutas do povo do semi-árido nas primeiras décadas do passado século, outro método bastante utilizado por ambas as partes envolvidas nas lutas, consistia em perfurar a clavícula, introduzindo-se, com violência, o instrumento perfuro-contudente diretamente na aorta, junto ao coração.

Depois da hecatombe de Piancó (PB), ocorrida no mês de fevereiro do ano de 1926, cuja participação do velho guerreiro das hostes volantes, natural do município de Pombal (PB), fora decisiva e marcante, houve aprisionamentos de militares da coluna Prestes, bem como da cozinheira da milícia que pregava novos rumos. Era uma baiana conhecida entre os revoltosos por tia Maria. Apenas um escapou da triste sina, devido aos apelos de muitos no sertão, inclusive do Padre Cícero.

Conforme ainda o entrevistado, um prisioneiro quando do sangramento pelos militares comandados pelo Coronel Elísio Sobreira, revelou ter feito muito isso quando da marcha da coluna, entre os diversos combates que travou.

Ainda em Piancó (PB), Arruda relembrou a chacina do barreiro, a qual vitimou o Padre Aristides Ferreira e diversos camaradas que lutaram bravamente para tentar conter o avanço da coluna. Todos foram sangrados por membros da coluna, consternados com as mortes dos cavalarianos que formavam a vanguarda da Coluna Miguel Costa - Prestes, os quais chegavam na cidade de Piancó (PB), e terminaram alvejados pela pontaria certeira do então sargento Manuel Arruda de Assis. 

José Romero Cardoso

FONTE: lampiaoaceso.blogspot.com


Alcino Costa na Era da Modernidade! Por: Manoel Severo

 

Alcino Alves Costa, o Caipira de Poço Redondo

Muitas são as voltas que o mundo dá, e que voltas!
Quem conhece o pesquisador e escritor Alcino Alves Costa; que priva de sua amizade, de seu dia a dia; sabe o tamanho da simplicidade e humildade do confrade de Poço Redondo. Sua forma de falar, de escrever, de andar, de se relacionar com as pessoas, é típica do bom povo sertanejo e de sua alma nobre e honrada.

Quem conhece Alcino Alves Costa, sabe que por décadas ele se manteve preso às coisa do seu lugar, às pracinhas do Poço, os bancos espalhados pelas calçadas, a conversa amena do final de tarde em baixo dos oitizeiros, o sorriso dos netos, e são muitos!!! E os amores das muitas mulheres, e são muitas!!!

Alcino Costa e a Professora Ana Lúcia

Hoje temos a satisfação de apresentar um novo Alcino Alves Costa: O cibernético, o homem da era da informática; é isso mesmo, depois de muito relutar, o querido Caipira de Poço Redondo se renda à maravilhosa Rede Mundial de Computadores; agora: visita sites, blogs, tem até email, e responde, quando lhes escrevem! Parabéns Mestre Alcino, você como sempre nos surpreendendo.

Para todos os confrades e amigos, aí vai o endereço do querido 
ALCINO ALVES COSTA
alcino.alvess@gmail.com

Manoel Severo

Lançado XII Fórum do Cangaço em Mossoró



Presidente da SBEC Ângelo Osmiro e Lemuel Rodrigues no lançamento do XII Fórum do Cangaço, em Mossoró - RN



XII Fórum do Cangaço em Mossoró-RN

DATA: 08 a 10 de junho de 2010
LOCAL: Universidade do Estado do Rio Grande do Norte - UERN
Coordenação Geral:Lemuel Rodrigues da Silva

Comissão Organizadora:
Alexsandro Donato Carvalho; André Victor Cavalcanti Seal Cunha; Emanuel Pereira Braz; Lemuel Rodrigues da Silva; Paulo Medeiros Gastão.
Organização:Associação Nacional de História – Núcleo Rio Grande do Norte - ANPUH-RN, Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço - SBEC e
Universidade do Estado do Rio Grande do Norte – UERN


PROGRAMAÇÃO

Dia 08/06/10 – Terça-feira.
19:15 h - Local: Auditório da FAFIC/UERN
Solenidade de abertura

20:00 h - Conferência de abertura
Tema: Cangaço: entre o saber histórico e o conhecimento escolar.
Conferencista: Prof. Ms. Honório de Medeiros (UNP/SBEC)
Coordenação: Ângelo Osmiro Barreto (Presidente SBEC)

Dia 09/06/10 – Quarta-feira
08:00 h - Atividade de campo:
Local: Museu do Sertão
Exposição: Prof. Dr. Benedito Vasconcelos Mendes (DGE/FAFIC/UERN)
Debatedor: Prof. Dr. Hélder do Nascimento Viana (DHI/UFRN/ANPUH-RN)
Coordenação: Prof. Ms. Alexsandro Donato Carvalho (FE/UERN/ANPUH-RN)
Horário de saída e local: 7:00h. (Memorial da Resistência)

19:15 h- Local: Auditório da FAFIC/UERN
Mesa redonda - Tema: Historiografia do cangaço
Debatedores:
1º Prof. Antônio Vilela de Sousa (Rede Pública de ensino de Pernambuco/SBEC)
2º Prof. Esp. Marcílio Lima Falcão (DHI/FAFIC/UERN) 
3º Prof. Dr. Lemuel Rodrigues da Silva (DHI/FAFIC/UERN/SBEC)
Coordenador: Prof. Ms Francisco Linhares Fonteles Neto (DHI/FAFIC/UERN)
 
Dia 10/06/10 – Quinta-feira
08:00 h - Atividade de campo:
Visita a Capela de São Vicente e Memorial da Resistência
Mesa Redonda - Local: Capela de São Vicente:
Tema: Lugares de memória e suas influências na construção do discurso de cidade libertária.
Debatedores:
1º Prof. Esp. Fernando César Câmara (Rede Pública de ensino do RN)
2º Escritor Antônio Kydelmir Dantas de Oliveira (SBEC)
3º Escritor Geraldo Maia do Nascimento (SBEC)
Coordenador: Prof. Ms. Alexsandro Donato de Carvalho (FE/UERN/ANPUH-RN)

15:30 h - Assembléia Geral da SBEC.
Local: Auditório da FAFIC/UERN

19:15h - Posse da nova diretoria da SBEC
Local: Auditório da FAFIC/UERN
19:30 h - Mesa Redonda:
Tema: O Cangaço e a construção da identidade regional e seus reflexos no processo de ensino e aprendizagem.
Debatedores:
1º Prof. Esp. José Jadson Arnaud Amâncio (Rede Pública de ensino do Estado do Rio Grande do Norte e DHI/FAFIC/UERN)
2º Prof. Ms André Victor Cavalcanti Seal da Cunha (DHI/FAFIC/UERN)
3º Prof. José Paulo Ferreira de Moura (SBEC)
Coordenador: Prof. Ms. Emanuel Pereira Braz (DHI/FAFIC/UERN)

22:00h
Encerramento - Programação Cultural;
Espetáculo Chuva de bala no País de Mossoró
Local: Capela de São Vicente

ATENÇÃO: VEJA A SEGUIR COMO CHEGAR E ONDE FICAR EM MOSSORÓ
ÔNIBUS:
01. Viação Progresso - 3205.6881 - Natal.      V. Progresso - 3314.6914 - Mossoró.
02. Expresso Barros - 4006.0880 - Natal.
03. Itapemirim - 3664.0364 - Natal.
04. Viação Jardinense - 3205.4949 - Natal.
05. São Geraldo - 3205.2696 / 3205.4858 - Natal. 3316.7380 / 3316.0380 - Mossoró.
06. Expresso Cabral - 3223.4041 - Natal.
07. Viação Nordeste - 3205.6161 - Natal / 3316.2310 - Mossoró.
08. Guanabara - 3314.2360 - Mossoró.


HOSPEDAGEM

01. Pousada Asa Branca –
End. Rod. BR-304, 292, km 38. Em frente a Estação Rodoviária. 3316.6012 /  3314.2828.
02. Regente Hotel.
End. Rua Felipe Camarão, 168 - Centro - 3316.1053. 
03. Hotel Villa Oeste.
End.  Av. Presidente Dutra, 870 A. Ilha de Santa Luzia - 3317.5533. reservas@villaoeste.com.br
04. GARBOS.
End.  Av. Lauro Monte, 1301. Abolição - 3064.1000. reservas@hotelgarbos.com.br
05. Hotel Imperial.
End.  Rua Santos Dumont, 237 - Centro. 3316.2210 / 3316.1838.
06. Hotel Ouro Negro.
End.  Rod. BR-304, 39, km 39. Próximo a Estação Rodoviária. 3317.2070 / 3321.6060
07. Hotel Sabino Palace.
End.  Av. Pres. Dutra, 1744. 3323.0800 / 3312.2296.
08. Hotel Terra do Sol.
End. Dnª Isaura Rosado, s/n. 3318.4486.
09. Hotel Thermas.
End.  Av. Lauro Monte, 2001. 3422.1200 / 3318.2266.
10. Hotel Valley.
End.  Av. Pres. Dutra, 360. 3315.1950 / 3316.2730.
11. Hotel Casa Blanca.
End.  Av. Pres. Dutra, 1453. 3321.6538.
12. São Luiz Plaza Hotel.
End.  Rua Des. Dionísio Filgueira, 125. 3316.9060 / 3321.6376.
13.  Vitória Palace Hotel.
End.  L E Morais, 110. 3318.1839 / 3318.1491.
14. Zenilandia Hotel.
End.  Ss Machado, 89 - Centro. 3321.2949. 


IMPORTANTE 
Inscrições: 01 a 30 de maio de 2010 
Valor: R$10,00 + 1kg de alimento não perecível 
Credenciamento: 08 de junho, das 7:30 h às 18:30 h

Maiores informações:
Lemuel Rodrigues da Silva 84-8868-0950/84-3315-2142  lemuelrsilva@hotmail.com


Cangaço: entre o saber histórico e o conhecimento escolar.

                            Uma vez que o espírito deste Fórum diz respeito a como o cangaço, enquanto epifenômeno, se faz presente no diálogo entre essas duas instâncias de produção do conhecimento, quais sejam o saber histórico e o conhecimento escolar, apresento, desde já, minha opinião, esperando suscitar questionamentos, controvérsias e, porque não dizer, críticas.
                            Creio firmemente que é por intermédio da crítica que conhecemos. A crítica no sentido grego do termo, não em seu sentido vulgar. A crítica que pressupõe um conhecimento existente previamente adquirido, fragmentação das expectativas em relação a esse conhecimento, elaboração de novas teorias explicativas que hão de ser submetidas a testes seja no grande palco da vida, seja na Academia, e, enquanto resultado, um novo conhecimento retificado que estará, por sua vez, à disposição de novas retificações, em um processo para o qual não se conhece fim.
Não por outra razão, ao defender esse primado metodológico, recordo sempre uma frase de Dom Hélder Câmara, hoje tão esquecido, mas tão presente no nosso imaginário de contestação à ditadura de 64, naqueles anos de chumbo: “Me enriqueces quando discordas de mim”. Como recordo, e cito também, e sempre, Gaston Bachelard, filósofo e poeta francês: “O conhecimento é sempre a reforma de uma ilusão”. Que venha a crítica, pois, para que eu possa reformar as minhas ilusões. 
                            Considero, portanto, para iniciarmos, que o diálogo entre os dois saberes, não-institucional e institucional, ou saber histórico e conhecimento escolar, acerca do epifenômeno do cangaço, ainda é incipiente, apesar da importância do tema.
                            Uma das causas pelas quais o cangaço não é ampla e profundamente discutido nas salas-de-aula é a resistência da Academia, chamemos assim a instância oficial de produção do saber científico, a aceita-lo e trata-lo como algo além de folclore. Aqui, folclore assume a proporção de um conhecimento menor, mera conseqüência superficial de leis naturais sociológicas precisas e demarcadas – estas sim, importantes, tal qual, exemplificando, a luta de classes.
O viés folclórico com o qual o cangaço é percebido pelo saber oficial releva, em larga escala, sua insistente presença histórica na contínua autoconstrução da própria identidade sertaneja, reforçando uma Paidéia ancestral que, entretanto, aos poucos, oferece sinais de fadiga, quiçá resultante do processo de globalização ao qual estamos submetidos.
Essa autoconstrução de uma Paidéia, de um “espírito de época”, processo calcado em fatos sociais – em outra linguagem podemos dizer episódios, acontecimentos, sucedidos que reforçam seus arquétipos fundantes e elaboram uma identidade social, esse suposto conhecimento menor, digamos assim para mantermos a linha de raciocínio, são todos do nosso conhecimento sertanejo: ressaltam a valentia do sertanejo; asseveram códigos de honra ancestrais; apontam bestialidades e crueldades desmedidas; relatam histórias e estórias de vinganças entre clãs; dizem da intervenção da justiça divina em assuntos terrenais; contam acerca de aparições, assombrações e fantasmas; falam do exercício do poder via baraço e cutelo; lembram casos de amor, traição e perdição; cantam tempos passados e glórias perdidas; seja por intermédio do cordel, seja pelo canto dos violeiros; seja pelas toadas, desafios e  repentes; seja via beatos e rezadeiras; seja pelos contadores de “causos” em conversas alpendradas após o sol se por nessas “quebradas do mundaréu” sertanejo, e, também, claro, através de toda a produção literária produzida de forma canhestra, artesanal, porém sincera, por uma legião de pesquisadores dos “acontecidos” do cangaço, que ao longo do tempo, pacientemente, coletaram e mesmo sem rigor científico, nos legaram um imenso acervo de informações alusivas aos cangaceiros.
É a esse imenso acervo, sobre as quais devemos nos debruçar com reverência, mas criticamente, todo esse acervo constituindo, por si somente, embora marginal ou periférico ao que supostamente importaria à burocracia das instâncias de produção do conhecimento, qual seja a discussão das grandes leis naturais sociológica, como a luta de classes já citada, uma caudalosa oportunidade de estudo e compreensão do espírito de um povo e de uma época, que a Academia resiste, embora eu saliente as honrosas e particulares exceções de sempre.
Ressalvo, com ênfase, que a nossa discussão cuida do diálogo entre o saber histórico e o conhecimento escolar, no que diz respeito ao cangaço. Não se trata, portanto, de criticar toda a imensa, complexa e bela construção acerca do cangaço empreendida pelos cantadores de viola, Cordelista, contadores de estórias, xilogravuristas, e poetas, dentre outros. Não. Muito pelo contrário. Diz respeito ao afastamento de parte considerável da Academia de toda essa produção coletiva sobre a qual devemos nos debruçar até com reverência, para melhor entendermos os movimentos sociais sertanejos nordestinos.
         Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa. Há muitos saberes, sabemos, e aquele acerca do qual estamos falando, torno a mencionar, diz respeito ao mundo da academia em relação ao cangaço e seu mundo, sua realidade, cultural ou física, sua “Paidéia”.
                            Penso em “Paidéia” no mesmo sentido que a ele atribui Werner Jaeger, quando se referiu ao “espírito” grego predominante nos séculos VIII a IV a.C. naquela Região fundamental para o nosso processo civilizatório. Penso em “espírito” da cultura sertaneja nordestina, e, assim, demarco o espaço territorial onde creio terem ocorrido os epifenômenos que, conectados entre si, quais sejam o coronelismo, o misticismo, e o cangaceirismo, constituem a face espiritual do nosso Sertão em certa e precisa dimensão histórica.
                            A resistência da Academia acontece, também, creio eu, na medida da fragilidade de parte, friso bem, de parcela da literatura acerca do cangaço no que diz respeito às pesquisas e as afirmações nela contidas. Entrevistas apressadas, cujos afirmações não são devidamente checadas; buscas superficiais, produzindo dados duvidosos; minudências desnecessárias; ausência de inter-relacionamentos entre fatos; conclusões forçadas e nitidamente reveladoras de simpatias ou ideologias; escritos mal cuidados, com redação questionável, editoração e impressão a desejar; tudo isso contribui, e muito, para o olhar de esguelha que o saber institucional dedica ao cangaço.  
                            Saliento, entretanto, certa literatura produzida pelos autodenominados “pesquisadores do cangaço” dentre os quais me situo tangencialmente, vez que minhas buscas dizem respeito, propriamente, ao epifenômeno do coronelismo. É inegável sua importância enquanto acervo para a produção do conhecimento científico. Entendo que a “literatura do cangaço”, por si só, constitui uma imensa fonte para estudo acadêmico. Quantas vezes não pensei em unir meus estudos de Filosofia do Direito e Coronelismo por intermédio da análise da literatura do cangaço e a forma como, por exemplo, ela trata acerca de como a norma jurídica era produzida, interpretada, aplicada e legitimada no tempo dos coronéis? Não caberia, por exemplo, aos estudiosos com formação jurídica, enquanto pós-graduação, um estudo dos instrumentos de legitimação jurídica, tal qual a manipulação do conceito de “justiça”, a concretizar o coronelismo?   
                            Finalmente ouso afirmar que a distância da Academia em relação ao epifenômeno do cangaço decorre, muitas vezes, de auto-limitações impostas por instrumentais teóricos equivocados. Refiro-me à tradição – o termo é esse mesmo – funcionalista americana, de um lado, e marxista, do outro. Tradição à qual se opõem, por exemplo, Jacques Le Boff, em uma perspectiva, e Norbert Elias em outra. Tais limitações comprometem a construção de uma História dos Movimentos Sociais Nordestinos, ou mesmo uma História do Sertão Nordestino, muito mais apropriada que uma História do Rio Grande do Norte, por exemplo, esta a depender de critérios artificiais para sua existência, qual seja a criação jurídica de um Estado, a delimitar o objeto de estudo.
                            Temos, portanto, três vertentes que deságuam nessa “folclorização”, nessa “minimização”, nesse apequenamento do epifenômeno do cangaço, a suscitar seu tratamento menor, às vezes até mesmo sobranceiro, por parte das instâncias oficiais de produção do conhecimento científico. Uma delas é a forma como o tema se reproduz no mundo do saber popular; outra é como ele se reproduz por meio dos trabalhos de pesquisadores acerca do assunto; e, finalmente, outra é o próprio resultado do trabalho da comunidade científica.
Aqui, faço um interlúdio para exemplificar como ocorrem essas limitações: no primeiro exemplo apresento textos de cordel; no segundo, um texto de um “pesquisador” do cangaço; e, no terceiro, textos de integrantes da “Academia”.
Percebamos como o cordel descreve e, em o descrevendo, mitifica e folcloriza Lampião. O primeiro exemplo tem o seguinte título: “Encontro de Lampião com Kung Fu em Juazeiro do Norte”, seu autor é Abraão Batista, e está transcrito na “Antologia da Literatura do Cordel” de Sebastião Nunes Batista:
Lampião, todos conhecem
mas não sabem interpretar
só sabem falar mal dele
porque não quiseram indagar
a causa que ele abraçou
e o que o forçou a matar.

Se Lampião foi cangaceiro
foi que o forçaram a matar
ele era bom e justiceiro
antes de o incriminar
pois a justiça dos homens
as vezes não sabe julgar.

No entanto o meu assunto
o que agora vou descrever
é de Lampião, o cangaceiro
com Kung Fu do karatê
e se você não o conhece
vai agora o conhecer...
E prossegue.
Outro exemplo. Este, um clássico do cordel, colhido da mesma obra, cuja autoria é de José Pacheco, e tem como título “A Chegada de Lampião no Inferno”:
Um cabra de Lampião
Por nome Pilão Deitado
Que morreu numa trincheira
Em certo tempo passado
Agora pelo sertão
Anda correndo visão
Fazendo mal-assombrado.

E foi quem trouxe a notícia
Que viu Lampião chegar
O inferno neste dia
Faltou pouco pra virar
Incendiou-se o mercado
Morreu tanto cão queimado
Que faz pena até contar.

Morreu a mãe de Canguinha
O pai de Forrobodó
Três netos de parafuso
Um cão chamado Cotó
Escapuliu Boca Ensossa
E uma moleca moça
Quase queimava o totó.

Morreram 10 negros velhos
Que não trabalhavam mais
E um cão chamado Tráz-cá
Vira-volta e Capataz
Tromba-Suja e Bigodeira
Um por nome de Goteira
Cunhado de Satanás.
Por fim outro clássico do cordel colhido da obra de Sebatião Nunes Batista, da autoria de Rodolfo Coelho Cavalcante, que tem o seguinte título: “A Chegada de Lampião no Céu”:
Chegando no gabinete
Do glorioso Jesus
Lampião foi escoltado
Disse o Varão da Cruz
Quem és tu filho perdido
Não estás arrependido
Mesmo no Reino da Luz?

Disse o bravo Virgulino
Senhor não fui culpado
Me tornei um cangaceiro
Porque me vi obrigado
Assassinaram meu pai
Minha mãe quase que vai
Inclusive eu coitado.
Observemos, agora, como o pesquisador do cangaço Fenelon Almeida, em seu livro “Jararaca: o cangaceiro que virou santo” descreve Massilon, sem apontar suas fontes:
Benevides, ou Massilon Leite, natural do Rio Grande do Norte, era elemento bastante conhecido naquela Região. Suas raízes assentavam no distrito de Borges, município de União, no Ceará.
Essa informação, sem qualquer fundamento, é reproduzida em “Lampião e o estado maior do cangaço”, de Hilário Lucetti e Magérbio de Lucena, também sem que sejam citadas as fontes, razão pela qual acredito ter sido colhida em Fenelon Almeida:
Suas origens (os autores estão se referindo a Antônio Massilon Leite, o Benevides) assentavam na localidade de Borges, às margens do Rio Jaguaribe, entre os municípios de Russas e Jaguaruana, no Ceará.
Os mesmos autores, na mesma obra citada, dizem um pouco mais para a frente, ainda sem citar a fonte:
 Viajou depois para o sul do país (comentando o final da carreira de cangaceiro de Massilon), indo parar no Rio Grande do Sul, onde ingressou na Polícia Militar, terminando por aposentar-se como oficial da polícia daquela unidade da federação, provavelmente com nome diverso do que usava nos tempos do cangaço.
Em meu livro a ser lançado aqui em Mossoró talvez em Setembro próximo mostro qual o verdadeiro fim de Massilon, apresentando prova documental de sua morte.
Um último exemplo colhido dos pesquisadores do cangaço é extraído do livro “Lampião o Cangaceiro e o Outro”, de Fernando Portela e Cláudio Bojunga.
Começo por dizer que não entendi o título. O que ele quer dizer? Bom, o livro é iniciado com o seguinte parágrafo:
O capitão andava descuidado. Naquele Julho de 1938 começou a confundir o poder das rezas fortes com a constante necessidade de desconfiar de tudo e de todos. Quem sabe aceitara a lenda de que seu corpo era mesmo fechado quando bastava apalpá-lo sob a roupa espessa para contar os buracos de bala. Talvez se sentisse apenas cansado e vulnerável – o olho vazado lacrimejando um isolamento de mais de vinte anos. O fato é que nos últimos tempos o Capitão andava descuidado.
O que é isso? Literatura? História? A bem da verdade não parece ser nem uma, nem outra.
Quanto ao trabalho da Academia, vejamos um texto colhido na internet, da pesquisadora da Fundação Joaquim Nabuco Semira Adler VAINSENCHER, cujo título é Cangaço, disponível em: <http://www.fundaj.gov.br>, atualizado em 2009, que começa com a seguinte afirmação: “O banditismo parece ser um fenômeno universal”. Pude colher, além desse truísmo criticável, algumas outras assertivas da autora, que submeto à platéia:
a) “Bandidos são indivíduos frios, calculistas, insensíveis à violência e à morte”;

b) “O monopólio da terra e o trabalho servil, heranças das capitanias hereditárias, sempre mantiveram o empobrecimento da população e impediram o desenvolvimento do Nordeste, apesar do empenho de Joaquim Nabuco e da abolição da escravatura”; 
c) “O cangaço, o fanatismo religioso e o messianismo são episódios marcantes da guerra civil nordestina: representam alternativas através das quais a população regional pode retaliar os danos sofridos, garantir um lugar no céu, alimentar o seu espírito de aventura e/ou conseguir um dinheiro fácil”;
d) “Já naquela época, o cangaceiro Jesuíno 
Brilhante (vulgo Cabeleira) atacou o Recife, mas foi preso e enforcado”; 
e) “Em meio a crendices e superstições, os milagres - muitas vezes, resumidos a simples conselhos de higiene ou procedimentos diante da subnutrição - atraem grandes romarias para Juazeiro, ainda mais porque os seus conselhos são gratuitos”;
f) “Vale ressaltar que um fator decisivo para o extermínio do bando de Lampião  é o uso da metralhadora, que os cangaceiros tentam comprar, mas não obtêm sucesso”.
                            Não fiquemos, entretanto, nesse patamar. Ousemos mais. Peguemos, por exemplo, um clássico da historiografia do cangaço, qual seja “Guerreiros do Sol”, de Frederico Pernambucano de Mello, em sua segunda edição, e nos detenhamos no seu prefácio, assinado por Gilberto de Mello Kujawsky. Lá para as tantas Kujawsky afirma, ao se referir aos cangaceiros:
                            A dedicação integral às armas, quando levadas ao fanatismo, exige a misoginia, como garantia da invulnerabilidade do guerreiro. Na medida em que este se abandona à tentação da mulher, ou do sexo, ele “abre o corpo” e se expõe à virulência implacável do inimigo.
                            E prossegue:
                            No entanto, a analogia surpreendente e inesperada do homem do cangaço, modelado pela disciplina do sol, das armas e do ascetismo sexual, na tensão crispada e solitária do princípio masculino, essa analogia se revela é com a figura do guerreiro, tal como descrita pelo poeta-soldado japonês Yukio Mishima, no livro traduzido sob o título “Sol e Aço”. Sol e aço fazem o contexto do homem do cangaço e do samurai de Mishima.
                            E conclui:
                            A chave da analogia entre os “guerreiros do sol” e o samurai de Mishima está na radicalização unilateral do princípio masculino hermetizado em si mesmo como fonte invulnerável de energia épica, temperada pelo sol e aço.
                            Agora concluo eu: o prefaciador não entende da ética dos samurais, do Japão feudal, do “caminho do guerreiro”, expresso no “Haga-kuri”, da relação mística entre a aristocracia militar japonesa e o “dai-sho”, o culto da espada, típica do xintoísmo por eles professado, e, tampouco, de cangaceiros. Para a diferença ser mais claramente entendida, basta lembramos que os samurais eram aristocratas, enquanto os cangaceiros, com raras e honrosas exceções, representantes do proletariado, verdadeiros “outsiders”.
                            Esse tipo de “literatura”, que o próprio sertanejo chistosamente poderia definir como tendo muito osso e pouco tutano, compromete a construção de um saber rigoroso e consolida o aspecto “folclórico” do cangaceirismo. E, ao fazê-lo, por reproduzir um “modelo”, o insere no presente e no futuro, gerando dúvidas quanto à possibilidade de discutirmos os fenômenos sociais próprios do Sertão Nordestino em sua dimensão científica nas salas de aula.               
                            Um outro exemplo que é possível citar diz respeito à perspectiva marxista mecanicista encontrada em obras como “História do Cangaço”, de Maria Isaura Pereira de Queiróz. Lá para as tantas ela diz:
                            (...) não é possível admitir que o cangaço se configure como um movimento social.
                            Foi, realmente, uma resposta à miséria, o que se evidencia no fato de que desapareciam, quando a chegada das chuvas reinstalava o modo de vida habitual.
                            E nas conclusões da obra:
                            Se a falta de oportunidade de trabalho nas caatingas e fora delas pode explicar por que surgiram bandos independentes no início do século XX, perdurando por muitos anos, e igualmente por que se formaram as volantes, que eram tropas de polícia especialmente destinadas ao combate do cangaço, a mesma razão permite compreender por que, a partir de 1940, desapareceu inteiramente o cangaço independente, anulando também a necessidade de volantes que lhe dessem combates. A industrialização...
                            Ou seja, para a Autora o cangaço independente acabou em decorrência do surgimento da industrialização que suscitou o surgimento de mercado de trabalho...
                            Como superar esses obstáculos epistemológicos, que impedem um diálogo mais amplo e profundo entre o saber histórico e o conhecimento escolar, no que diz respeito ao epifenômeno do cangaço?
                            Como recuperar uma tradição de estudo desse Sertão que, segundo Ariano Suassuna, forneceu matéria-prima para a aquisição do vigor e personalidade do cinema nacional, tais quais DEUS E O DIABO NA TERRA DO SOL ou VIDAS SECAS; que ambientou A BAGACEIRA, de José Américo de Almeida; PEDRA BONITA – CANGACEIROS, de José Lins do Rêgo; O SERTANEJO, de José de Alencar; DONA GUIDINHA DO POÇO, de Oliveira Paiva; LUZIA HOMEM, de Domingos Olympio; e OS SERTÕES, de Euclides da Cunha, ao qual o autor do ROMANCE DA PEDRA DO REINO, em ensaio acerca de SEM LEI E SEM REI, de Maximiniano Campos, um romance do cangaço, considera a maior obra surgida até agora na Literatura brasileira.
Antecipo a solução, para ser proativo: suscitando a crítica, ou seja, o debate, a discussão, o intercâmbio incessante de idéias. E como fazê-lo?  Como criar e fortalecer meios por intermédio dos quais esse diálogo se expanda e frutifique?
Para a existência da crítica é necessário o fortalecimento das instituições de base, tais quais a Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço (SBEC), a ANPUH-RN, o Grupo de Pesquisa em Ensino de História e Geografia, suas realizações, fóruns, congressos, encontros, painéis, seminários, cada vez mais freqüentemente e cada vez mais envolvendo a sociedade. Nesse aspecto, saúdo entusiasmado o viés deste encontro, que se consubstancia em uma discussão acerca da tensão entre o que se elabora em termos de saber no mundo lá fora e o que se elabora em termos de saber dentro dos muros das Escolas.
Fortaleçamos a SBEC. Queiramos sua presença na Universidade e nas Escolas, como queiramos a Universidade e as Escolas na SBEC. Queiramos, cada vez mais, diálogos com outras instituições de base, ou seja, ONGs, Associações, Fundações, tudo com vistas à construção de metas comuns. Podemos sonhar em uma transformação, à médio e longo prazo, dessas instituições de base, junto com a Universidade, em uma REDE, uma malha aglutinadora e exportadora de conhecimento específico acerca do Sertão Nordestino. O Sertão de Graciliano Ramos, Guimarães Rosa, Euclides da Cunha, Patativa do Assaré, Ercílio Pinheiro, Pe. Cícero, Luis Gonzaga, Ariano Suassuna, dos Coronéis, do construtor de Paulo Afonso, do ciclo do couro, da cana-de-açúcar e do algodão, do cangaço, do misticismo, das rebeliões, dos casos de honra, e assim por diante.
Talvez pareça um sonho. É possível. Se assim o é, vamos mais longe ainda. Sonhemos sempre. E sonhemos grande. Um dia quiçá encontremos, em nossas elites, e no nosso povo, a consciência da importância da nossa história, a história do Sertão, mais especificamente, do nosso Sertão nordestino, desse Sertão que Euclides da Cunha, poeta e cientista, gênio da raça, ao descrever a epifania da chegada do inverno em suas terras ásperas, permite compreender sua beleza trágica. Ouçam:
Mas ao entardecer de uma tarde qualquer, de março, rápidas tardes sem crepúsculos, prestes afogadas na noite, as estrelas pela primeira vez cintilam vivamente.
Nuvens volumosas abarreiram ao longe os horizontes, recortando-os em relevos imponentes de montanhas negras.
Sobem vagarosamente; incham, bolhando em lentos e desmesurados rebojos, na altura; enquanto os ventos tumultuam nos plainos, sacudindo e retorcendo as galhadas.
Embruscado em minutos, o firmamento golpeia-se de relâmpagos precipites, sucessivos, sarjando fundamente a imprimidura negra da tormenta. Reboam ruidosamente as trovoadas fortes. As bátegas de chuva tombam, grossas, espaçadamente, sobre o chão, adunando-se logo em aguaceiro diluviano...
E ao tornar da travessia o viajante, pasmo, não vê mais o deserto.
Sobre o solo, que as amarílis atapetam, ressurge triunfalmente a flora tropical.
É uma mutação de apoteose.
Os mulungus rotundos, à borda das cacimbas cheias, estadeiam a púrpura das largas flores vermelhas, sem esperar pelas folhas; as caraíbas e  baraúnas altas refrondescem à margem dos ribeirões refertos; ramalham, ressoantes, os marizeiros esgalhados, à passagem das virações suaves; assomam, vivazes, amortecendo as truncaduras das quebradas, as quixabeiras de folhas pequeninas e frutos que lembram contas de ônix; mais virentes, adensam-se os icozeiros pelas várzeas, sob o ondular festivo das copas dos ouricuris: ondeiam, móveis, avivando a paisagem, acamando-se nos plainos, arredondando as encontas, as moitas floridas dos alecrim-dos-tabuleiros, de caules finos e flexíveis; as umburanas perfumam os ares, filtrando-os nas frondes esfolhadas, e – dominando a revivescência geral – não já pela altura senão pelo gracioso porte, os umbuzeiros alevantam dois metros sobre o chão, irrandiantes em círculo, os galhos numerosos.
Muito obrigado, e viva o Sertão.