CARIRI CANGAÇO PERSONALIDADE
VICTOR SAMUEL DA PONTE
AO VIVO, 20H NO INSTAGRAM DO CARIRI CANGAÇO
CARIRI CANGAÇO PERSONALIDADE
VICTOR SAMUEL DA PONTE
AO VIVO, 20H NO INSTAGRAM DO CARIRI CANGAÇO
A caatinga mirrada e nua, apareceu repentinamente desabrochando numa florescência extravagantemente colorida no vermelho forte das divisas, no azul desmaiado dos dólmãs e nos brilhos vivos das chapas dos talins e estribos oscilantes...
Uma das mais confusas e esquecidas passagens sobre o período do cangaço é a morte de Levino Ferreira. Estive no local do combate juntamente com os amigos pesquisadores Geraldo Antônio Junior (pesquisador e youtuber) , Fabiano Ferreira (historiador de Flores-PE) e João da Capoeira (membro do IHGPAJEU), onde colhemos alguns relatos de moradores descendentes de quem viu de perto o Combate da Baixa do Tenório, entre 4 e 5 de julho de 1925.
Lampião estava na Fazenda Melancia, município de Flores - PE, onde torturou o fazendeiro José Calú e liberou alguns viajantes que ele havia sequestrado na estrada. Depois partiu com seus cangaceiros até chegar na casa de Sebastião Cordeiro (Sebasto), morador da localidade Baixa do Juá, no Tenório. Lá foi bem recepcionado pelo fazendeiro onde jantou e encontrou dormida para todos. A casa ficava no pé da Serra Vermelha, marco divisório entre os municípios de Flores e Betânia, e onde existe um local conhecido por Furna de Lampião.
Na região encontramos o agricultor Raimundo Cordeiro, 79 anos, neto de Sebasto. 'Meu pai contava que Lampião estava muito desconfiado. Alguns cangaceiros jantaram e armaram rede para dormir nas árvores do terreiro da casa. Meu avô ofereceu uma rede, mas Lampião não quis e disse que iria ficar em pé. Quando foi meia noite ele disse que a casa estava cheirando a sangue e mandou os cangaceiros se levantarem. Saíram da casa e com pouco tempo o tiroteio começou', falou Raimundo Cordeiro. O combate foi contra a volante paraibana do tenente José Guedes que vinha em perseguição ao bando e acabou perdendo o seu sub-comandante, sargento Cícero de Oliveira, que tombou com um tiro na testa.
Várias versões já foram ditas e escritas sobre o Combate do Tenório (Baixa do Juá). Alguns escritores relatam que Levino morreu dentro da cozinha de uma casa na escuridão da noite. Uma segunda versão cita que o rastejador Belarmino Morais viu o vulto de um cangaceiro em cima do serrote de pedra gritando e atirou. Já outra versão sobre a morte de Levino diz que ele foi ferido no terreiro de uma casa, foi socorrido e morreu oito dias depois.
Na mesma região outro relato interessante encontramos do morador Luis Pereira da Silva (Luis de Puliça), nascido e criado no lugar e que foi nosso guia até o local do combate. Eles nos confidenciou uma versão local totalmente diferente das outras versões sobre a morte de Levino Ferreira. Segundo ele, os moradores mais velhos diziam que o combate aconteceu a tarde e no início da noite o irmão de Lampião foi ferido pela volante paraibana do tenente José Guedes. Ao ver o irmão ferido, o Rei do Cangaço - que já conhecia bastante o lugar - providenciou fazer o transporte do ferido nas costas rumo a furna da Serra Vermelha, enquanto outra parte do bando seguia atirando pela estrada para distrair e confundir a polícia. Transportado nas costas de um dos cangaceiros, Levino Ferreira faleceu no meio do caminho antes de chegar na furna da serra.
Quando amanheceu o dia, Lampião deu a ordem pra cortar a cabeça de Levino e mandou sepultar o corpo. Durante os anos seguintes nunca se soube o local exato ou qual a identidade dos três cangaceiros que faleceram no combate da Baixa do Juá, no Tenório. Sabe-se pela tradição oral dos moradores que um corpo foi sepultado embaixo de um juazeiro e outros dois corpos tiveram a ossada encontrada nos anos 60 e 70 no local do combate quando fizeram o alicerce para construir uma casa e no arado da terra para plantar. Vale ressaltar que anos depois há relatos de fragmentos de ossos humanos também encontrados na furna da serra que segundo moradores o cangaceiro Lampião se escondeu.
O corpo do cangaceiro sepultado no Juazeiro foi o único desenterrado posteriormente pelas volantes que chegaram na localidade dias após o combate. Uma moradora da época indicou o local para o capitão José Caetano e o tenente Higino Belarmino fazerem a identificação. Como estava sem a cabeça, não houve certeza na identificação.
Eis a dúvida. Porque sepultar o corpo de apenas um cangaceiro embaixo de um juazeiro e deixar os outros dois corpos de cangaceiros ao relento no campo de batalha sem nenhuma sepultura. Alguém pode até cogitar que esse corpo sepultado no juazeiro venha a ser o sargento Cícero de Oliveira, porém, a Força Volante encontrou o corpo sem a cabeça. Se fosse um policial volante não necessitaria de uma pessoa da região pra localiza-lo, pois, a própria volante já saberia o local e não utilizaria dessa prática de cortar a cabeça de um companheiro de farda. Pelo visto, esse corpo sepultado no juazeiro era um importante cangaceiro do reinado lampionico. Seria este o corpo do famoso Levino Ferreira da Silva ???.
Luiz Ferraz Filho, Pesquisador ;Presidente da Comissão do Cariri Cangaço Serra Talhada
FONTE CONSULTADA:
(CARVALHO, Rodrigues de; Serrote Preto, Lampião e seus Sequazes)
(AMAURY, Antônio & FERREIRA, Vera; O Espinho de Quipá)
(FERRAZ, Marilourdes; O Canto do Acauã)
(MACIEL, Frederico Bezerra; Lampião, seu Tempo e seu Reinado)
(LIRA, João Gomes de; Memórias de um Soldado de Volante)
O experiente Raul Meneleu Mascarenhas; cearense da "gota serena" radicado em Aracaju, Sergipe e o jovem e talentoso Guerhansberger Tayllow; paraibano de Lastro; são os convidados especiais de Manoel Severo, curador do Cariri Cangaço para mais um espetacular e mais que polêmico programa sobre Virgulino Ferreira - Lampião, Cangaço e muito mais nos Grandes Encontros Cariri Cangaço desta próxima quarta-feira.
"Diante do convite de meu estimado amigo Severo, procurarei apresentar em minha participação as possibilidades de localizar as origens sócio-políticas do Cangaço dentro da história do Brasil, como também gostaria de fazer uma ressalva sobre a escrita do Cangaço; Gustavo Barroso; Rui Facó; Cristina Machado, em especial a esses três autores; trazer reflexões sobre o cangaço como um espaço de exercício de poder e ainda falar um pouco sobre a diferença entre Lampião e Chico Pereira, e a importância do nomadismo para Lampião" revela o pesquisador e escritor Guerhansberger Tayllow.
"Na verdade sou um dos menores pesquisadores e escritores da saga e creio que exista confrades nossos com mais competência, mas se o amigo Severo me dar essa missão, missão cumprida ! Trarei principalmente reflexões sobre meu mais novo livro: "A Dignidade de Virgolino Ferreira antes de ser Lampião" como também sobre a descoberta da filha de Corisco fora do relacionamento da união dele com Dadá, além de minha experiência e visão do Cariri Cangaço." assevera Raul Meneleu Mascarenhas.
DIA 26 DE MAIO DE 2021 ÀS 19H30
AO VIVO - YOUTUBE DO CARIRI CANGAÇO
Este trabalho é uma tentativa de leitura da trilogia de Honório de Medeiros. Trilogia que nasce com a publicação de Massilon, em 2010, perpassa a publicação de História de cangaceiros e coronéis, 2015, e tem o seu desfecho com a publicação de Jesuíno Brilhante, 2020
Honório de Medeiros propõe em sua
obra um estudo histórico sobre o cangaço a partir das relações de poder, um
estudo sobre as relações de poder e uma nova proposta para escrita da história
ao considerar que a história deve ser entendida, escrita e explicada por uma
perspectiva analítica e interpretativa.Como condição necessária para o trabalho
de pesquisa, o autor apresenta uma revisão da literatura preexistente acerca do
cangaço, propondo uma classificação em fases, tipos de estudos e tipos de
autores, procurando situar nesse contexto a sua proposta de abordagem.
As fases, que trata
por ondas, são três: a fase da produção dos fatos, quando se passaram os
acontecimentos; a fase da coleta dos fatos, quando os fatos passam a ser
registrados; e uma terceira fase, que deve ser a elaboração de teorias. Três também são os
tipos de texto: os que fantasiam, os que narram e os que pensam. E considera
também a presença de zonas de interseção: narrações que analisam; fantasias que
narram etc.
Quanto aos autores, reconhece três
grupos distintos: um grupo que reúne cantadores de viola, cordelistas,
contadores de estórias, xilogravuristas e poetas; um grupo que nomeia de
pesquisadores do cangaço, que são aqueles que se debruçam 192 sobre o tema; e o
grupo que congrega os pesquisadores acadêmicos sediados nas universidades. A
par desse contexto, elege, por sua vez, um caminho próprio de investigação que,
considera, deve partir de uma leitura crítica das fontes, aplicando uma
metodologia adequada e suportes teóricos condizentes. É essa a proposta que
desenvolve na construção da sua trilogia, o que se pode albergar em cinco
vertentes de abordagem distribuídas nos três volumes publicados.
A primeira vertente é o que se pode
considerar estudos sobre os estudos, que seriam os trabalhos em que o autor
expõe uma reflexão e uma visão crítica sobre os estudos existentes acerca do
cangaço.No primeiro volume, Massilon, é possível identificar os
seguintes textos nessa vertente: “Aplicação do método da ciência”; “O cangaço
em nova onda”; “A nova onda do cangaço”. No segundo volume, História de
Cangaceiros e Coronéis, os capítulos “Epifenômeno do cangaço”, “Tipos de
textos sobre o cangaço” e “Sobre história e conhecimento escolar”.
Um segundo viés compreende estudos
críticos mais aprofundados sobre as teorias e abordagens sobre o cangaço, quais
sejam, a teoria do escudo ético, do estudioso Frederico Pernambucano de Melo —
ensaio que integra o segundo volume, História de Cangaceiros e Coronéis —;
e um estudo crítico sobre Câmara Cascudo e o cangaço, adendo a Jesuíno
Brilhante, terceiro volume da série. O terceiro viés se volta para as
biografias e os perfis de cangaceiros, coronéis e outras figuras históricas do
contexto.
Uma quarta abordagem se detém aos
episódios e a outros aspectos. Em episódios, o ataque de Lampião a Mossoró; em
aspectos, podemos elencar o pacto dos governadores e o Rio Grande do Norte no
tempo dos coronéis. A quinta perspectiva, que perpassa todas as anteriores, é o
arcabouço metodológico e teórico. A metodologia adotada é plurimetodológica,
voltada para uma diversidade de fontes de pesquisa, e envolve levantamento
bibliográfico; pesquisa documental, que resulta do acesso a fontes documentais
diversas; e pesquisa etnográfica, que é a pesquisa de campo, que alberga a
coleta de depoimentos, realização de entrevistas e visita aos locais dos
acontecimentos.
A pesquisa e o levantamento
bibliográfico se concentram em livros: obras gerais de história do Rio Grande
do Norte, trabalhos monográficos sobre cangaceiros, biografias, memória,
genealogia e estudos teóricos no campo da ciência, filosofia, biologia,
sociologia, direito, ciência política etc.; cordéis diversos, que contam a
história de cangaceiros e seus feitos; e revistas e jornais de ontem e de hoje.
Documentos diversos, compreendendo certidões de batismo e de óbito,
inventários; peças jurídicas, como processos, representações, denúncias,
pareceres, relatórios; cartas pessoais e cartas abertas (publicadas em
jornais). Todos são fontes exploradas e, em sua maioria, reproduzidas a título
de citação, adendo ou anexo.
Depoimentos, entrevistas e o “Diário
de Viagem” — quarta parte do volume Massilon —, que relata o
percurso da pesquisa de campo. Há também toda uma preocupação em documentar o
trabalho de pesquisa em notas de referência, aditivas e explicativas, em rodapé
e/ou ao final de cada volume, referendando as fontes pesquisadas, os
depoimentos colhidos e as entrevistas realizadas.
A título de anexo, o autor cuida da
reprodução de documentos, seja em fac-símile, seja transcrito. Também há a
menção, ao final de cada volume, das fontes bibliográficas consultadas. A par de
todo esse suporte metodológico, Honório de Medeiros desenvolve a sua teoria, o
alicerce para observar e compreender o fenômeno do cangaço e o estudo das
relações de 194 poder, e o faz ao apresentar os dados coletados, a análise e a
interpretação, refutando hipóteses consagradas pela historiografia e propondo
um novo olhar para a história.
A invasão de Lampião a Mossoró ganha
uma nova proposta de análise que considera as relações de poder e interesse dos
coronéis e refuta as premissas postas, construindo um novo paradigma para
entender a história. O mesmo acontece ao observar o pacto dos governadores como
decorrência dessa relação de poder; e não é diferente quando se debruça sobre a
dualidade “cangaceiro, herói ou bandido?” Honório de Medeiros não se julga fiel
da balança ou solucionador de questões históricas, mas apresenta prismas
analíticos e interpretativos se fiando na base plurimetodológica que adota.
A sua tentativa de biografar Massilon
esbarra em uma série de dificuldades oriundas dos desencontros e conflitos de
informação que permeiam os textos sobre o cangaço e, também, na ausência de
dados.O nome é a primeira verdade a encontrar para contar Massilon. Com tantos
nomes possíveis e pistas, Honório de Medeiros se encontra diante de um baralho
embaralhado: Benevides, Massilon Leite, Massilon Diógenes, Antonio Leite? Uma
figura e tantos nomes, qual seria?
O pesquisador é aquele que sabe aonde
deve ir. E Honório de Medeiros vai em busca dos registros de nascimento e
batismo e nada encontra, até que uma pista o leva ao inventário do pai do
cangaceiro e lá está o verdadeiro nome de Massilon: Macilon Leite de Oliveira. Mas
não se dá por satisfeito, pois sabe que pesquisar é entender as circunstâncias
das fontes, e se faz a pergunta que deixa também para o leitor: como saber se o
escrivão não se enganou? Honório de Medeiros entende que encontrar uma possível
resposta não é dirimir uma dúvida. Assim, o autor também revela mais uma faceta
do seu trabalho: um projeto de como se deve construir a história.
Honório de Medeiros é aquele que
compreende que fazer história é não se contentar com o que está posto e, dessa
forma, parte numa viagem em busca de novas fontes, que alimentam novas versões
da história, ciente de que só a par de todas elas, é possível analisar e
interpretar. O pesquisador é também, para Honório de Medeiros, aquele que
reconhece a ausência de fontes de pesquisa e que desconfia, compara, checa e
confronta todos os fatos. A construção de Massilon, a
biografia, obedece a uma forma de apresentação sistemática que nasce da divisão
lógica do autor para a exposição do tema. A primeira parte é dedicada ao motivo
(capítulo “A busca por Massilon”) e ao contexto (capítulo “O Rio Grande do
Norte e Sertão”). A segunda parte se volta para a descoberta e a revelação do
biografado: como se chamava, onde e quando nasceu, quais eram as suas feições —
e nesse quesito há toda uma investigação para identificar e recuperar a
presença de Massilon em uma fotografia, desvendando, assim, o único retrato
possível do cangaceiro. Além disso, o autor aborda temperamento, fatos da
vida, registros outros e, por fim, o fim, a morte do biografado.
Outro não é o percurso que promove ao biografar Jesuíno Brilhante, tanto nos capítulos que lhe dedica na primeira parte de História de Cangaceiros e de Coronéis, quanto, cinco anos depois, no terceiro e último volume da trilogia, dedicado à história de Jesuíno Brilhante e ao aprofundamento da tese. O ataque de Lampião a Mossoró também ganha contorno em História de Cangaceiros e de Coronéis, seguindo o mesmo caminho de explanação, passo a passo. Honório de Medeiros introduz, apresenta e passa a considerar as hipóteses e os envolvidos, cangaceiros e coronéis, e chega ao campo de análise para, então, propor a sua própria tese para leitura e intepretação.Para tanto, o autor trabalha a construção dos conceitos. É pelo capítulo “Do conceito de cangaço”, na terceira parte do volume Massilon, que ele começa contrapondo as definições de cangaço e de banditismo.
Importante nessa conceituação é a
definição de Cascudo: “para o sertanejo [cangaço] é o preparo, carrego,
aviamento, parafernália do cangaceiro, inseparável e característica, armas,
munições, bornais, bisacos com suprimentos, balas, alimentos secos, mezinhas
tradicionais, uma muda de roupa, etc.” E também estabelece confrontos.Honório
de Medeiros refuta a concepção de bandido social proposta pelo historiador Eric
Hobsbawm. E vai mais longe: é impossível conceituar e explicar o cangaço em
razão das condições geográficas, sociais, econômicas etc.
Caldeirão que Honório de Medeiros
resumirá como “hipóteses do ambiente social” no seu “Esboço de conclusão”,
capítulo de Jesuíno Brilhante. Essa redução é simplista, considera,
e não abarca toda a complexidade e singularidade do fenômeno. Em Jesuíno
Brilhante, o autor considera novos aportes para a construção do conceito de
cangaceiro, levando em consideração que seriam figuras entre a santidade e o
banditismo. E sustenta que a teoria do escudo ético, de Frederico Pernambucano
de Mello, não é uma leitura que se aplica exclusivamente ao cangaço, e sim ao
banditismo de forma geral. Pernambucano teria partido, considera Honório de
Medeiros, da noção de fator moral apresentada por Câmara Cascudo em Vaqueiros
e Cantadores, que, por sua vez, teria bebido na fonte de Felipe Guerra,
em Ainda o Nordeste.
Tanto a noção de escudo ético quanto
a noção de fator moral consideram a justificativa moral do cangaceiro para
aderir ao cangaço como fator determinante, hipótese que Honório de Medeiros
propõe que possa ser substituída por uma teoria mais abrangente. Já no estudo
que empreende acerca de Câmara Cascudo e o cangaço — adendo do volume Jesuíno
Brilhante —, investiga a construção e o molde do pensamento cascudiano
acerca do tema. A perspectiva da ânsia de grandeza e impulso à revolta pessoal,
que serve para pensar o cangaço, lerá em Bertrand Russell; como colherá em
Albert Camus a noção de homem revoltado, que é aquele que, inconformado, reage,
para então propor a leitura da figura do cangaceiro a partir da noção de
outsider proposta por Howard S. Becker e Norbert Elias.
O outsider é o transgressor, o
desviante, o excêntrico que não espera viver com as regras estipuladas pelo
grupo. Dessa maneira, Honório de Medeiros propõe entender a figura do
cangaceiro pelo prisma do inconformismo. Compreender, e não julgar, alerta o
autor. E, assim, vai chegar ao conceito de cangaceirismo: é a história dos
inconformados, revoltados, outsiders. Outro conceito macro é o conceito de
coronelismo, que está atrelado a uma compreensão da estrutura de poder feudal
no Brasil monárquico e republicano. Honório de Medeiros se valerá do conceito
de coronelismo traçado por Raymundo Faoro em Os Donos do Poder.
Seria o coronelismo aquela mesma
estrutura de poder que se verifica na Europa feudal, um mundo de senhores
arbitrários, cuja vontade era a lei, associados ao clero, proprietários de
terras e do subjugo dos homens. O coronelismo é, portanto, uma forma de
exercício do poder. Outros aportes sustentam a construção do seu pensamento
teórico. Honório de Medeiros parte da ciência por uma perspectiva ampla e
transdisciplinar como caminho possível. O autor considera o racionalismo
crítico do filósofo britânico Karl Popper para construir uma abordagem
científica e aplica as regras do método científico para propor uma lógica das
informações como forma de validar ou não as hipóteses e, assim, escrever a
história.
O autor também vai se valer da noção
de campo social do sociólogo francês Pierre de Bourdieu, que compreende a
realidade como uma malha aberta, cujos pontos de interseção, os atratores
sociais, congregam fatos e ações semelhantes, formando uma malha social, ou
seja, um campo. Essa compreensão de campo social lhe permite observar
cangaço e coronelismo como fenômenos do mesmo campo social, o campo social do
poder. Ao considerar o cangaço um fenômeno social, Honório de Medeiros parte do
postulado do cientista político, sociólogo e antropólogo francês Émile
Durkheim, em As Regras do Método Sociológico, e equipara fato
social a fato natural, ou seja, considera os fatos sociais como passíveis de
teste, comprovação e validação.
O fenômeno, portanto, pode ser
comprovado pelas suas leis de recorrência, e as hipóteses levantadas podem ser
testadas. Dessa forma, considera Honório de Medeiros, os fatos são passíveis de
serem testados para serem comprovados ou não. Outra contribuição importante no
construto da sua proposta é a aplicação da teoria da evolução, do biólogo
britânico Charles Darwin. Honório de Medeiros se apropria do darwinismo ao
compreender o comportamento humano como uma evolução constante, uma busca pela
sobrevivência e adaptação ao meio, e se aproxima da corrente da bio-história. No
que tange ao estudo das relações de poder, o referencial é o cientista
político, jurista e historiador italiano Gaetano Mosca e sua teoria de classe
política. Mosca entende que um fenômeno não deve ser apenas estudado em sua
forma concreta ou apenas nas suas manifestações formais. É preciso compreender
a dinâmica que se esconde e sustenta as relações de poder e interesse e, assim,
compreender que os grupos funcionam a partir dos seus interesses de poder. O
cangaço, nessa leitura, apresenta-se como uma manifestação de poder e revolta
dos excluídos.
É a partir dessa perspectiva e da
junção dessas partes que o autor conecta cangaceiros e coronéis e estabelece o
cangaço como resultado das relações de poder, e é assim que também escreve uma
história do poder.Honório de Medeiros lança nos três volumes de sua trilogia, e
em quase duas décadas de pensamento e reflexão, uma nova perspectiva teórica,
metodológica e conceitual para a pesquisa e a escrita da história, abrindo as
portas da história no Rio Grande do Norte, dos estudos sobre o cangaço e sobre
as relações de poder, para uma nova perspectiva no século XXI.
GUSTAVO SOBRAL é jornalista
e escritor. Publicou e organizou diversos livros, dentre os quais “As
Memórias Alheias” e “Os Fundadores”.
Ensaio publicado na Revista da Academia Norte-rio-grandense de Letras Nº66, jan-mar, 2021, p.191-199.
Fonte: http://honoriodemedeiros.blogspot.com/ - 11 de maio de 2021
Entretanto, "aquele inverno era o mais rigoroso de todos os que podia lembrar..." inicia a teia maravilhosa tecida por Grecianny Carvalho Cordeiro em sua mais recente obra "Contos Escolhidos" compartilhada com o talento de Angélica Sampaio. O inverno ali não se passa nas tórridas trilhas de nossa caatinga, que facilmente poderia povoar nossa mais preciosa memoria afetiva, mas no universo mitológico nórdico, o universo de Asgard, Odin, Thor e Loki. Mas o que aquele inverno mais rigoroso de todos que podia lembrar, de Ragnarok, de Contos Escolhidos, de Grecianny Cordeiro, poderia ter de ligação com nosso sertão ? Ora: Sua essência. A essência das grandes sagas que sempre pontuaram a historia da humanidade e de seus heróis mitológicos. No sertão vivemos as mesmas sagas e os heróis mitológicos somos eu e você, cada um que aceita o desafio. Aqui como em Ragnarok; de Contos Escolhidos; o que nos move é a essência da verdadeira esperança e a certeza do caminho a ser percorrido.
Contos Escolhidos nos permite navegar sobre ondas do mais perfeito equilíbrio entre o mítico, imaginário e o mundo real; numa leitura leve, envolvente, prazerosa; como um inverno rigoroso e maravilhoso para lembrar. Se em noites de lua cheia em qualquer alpendre sertanejo vamos sentar para ouvir lendas e lendas, sobre o Saci, Boi Tatá, Cuca ou Iara - Mãe d'Agua, poderíamos facilmente trazer Ragnarok e sua Árvore do Mundo, Yggdrasill, ou Orfeu e sua bela Eurídice, ou ainda Tristão e Isolda...Poderíamos facilmente trazer Grecianny Cordeiro para uma conversa boa e animada sobre as coisas do mundo e tudo aquilo que nos faz sentir vivos e felizes.
Grecianny Cordeiro, um mulher cheia de talentos e desafios. Espetacular escritora, contista, jornalista e ainda promotora de justiça, dedica seu tempo a tudo que lhe é importante; a família, a profissão e as letras; missões que abraça com dedicação, perseverança e talento, talento facilmente observado em Contos Escolhidos ou em qualquer de seus romances: Anjo Caído, os dois volumes de Troia, Operação Prometeu, Cyberbullying e o precioso Siara, uma lenda de amor.
Manoel Severo , Curador do Cariri Cangaço
Serviço ; Contos Escolhidos, Sol Literário Editora - Sampaio, Angélica / Cordeiro, Grecianny Carvalho
Uma das mais preciosas obras literárias sobre um recorte
importante da historia do coronelismo nordestino; tendo o sul do estado do
Ceará do final do século 19 e começo do século 20, mais precisamente a
emblemática região do cariri; o Império do Bacamarte nos apresenta de maneira
aprofundada, a partir da entrega e talento de seu autor; Joaryvar Macedo;
sertanejo da “gema” nascido no Sítio Calabaço na emblemática cidade de Lavras
da Mangabeira, centro sul do Ceará; um dos mais importantes e surpreendentes períodos
do coronelismo de barranco, de todo o país. Fundamentada em vasta bibliografia,
pesquisa em periódicos da época, entrevistas com remanescentes e acima de tudo,
com a responsabilidade de um filho que fala de sua terra, de sua casa, de seu
quintal e de sua gente, Joaryvar Macedo consolida o Império do Bacamarte como
um marco no estudo do coronelismo nordestino.
Com a maestria e a sensibilidade que lhes são tão próprias,
Joaryvar une mestres como João Brígido, Abelardo Montenegro, Otacílio Anselmo, Rodolfo
Teófilo, Leonardo Mota, Nertan Macedo, Amália Xavier e tantos outros talentosos
e obstinados garimpeiros da história sertaneja para nos ajudar a compreender
esse que foi um dos períodos mais conturbados da historia recente de nosso nordeste.
As áridas terras de nosso sertão aprenderam e sofreram desde os tempos da
colonização, passando pelo império e desaguando nos tempos da velha república, com
as intempéries do clima, a pobreza e desigualdade, a ausência do Estado e com a
força e o poder do coronelismo, simbiose perfeita para outros flagelos no
sertão nordestino: os “cabras”, os jagunços e os cangaceiros. Notadamente com o
presidente Campos Sales; entre 1898 e 1902; e seu sucessor Rodrigues Alves; entre
1902 a 1906; consolidadores da famigerada “políticas dos governadores”,
instituto que ensejou por todo o país a expansão e fortalecimento das
oligarquias rurais, daí viríamos a conhecer um dos mais sombrios e violentos
períodos da história de nosso sertão, destacando o cariri cearense, berço e
palco de algumas das mais extraordinárias sagas de deposições, à força e à
bala, de todo o Brasil daquela época.
Com clareza, responsabilidade e sua escrita firme, Joaryvar Macedo, nos permite viajar ao cariri dos primórdios do século 18, quando revela os principais e decisivos conflitos armados que teriam forte repercussão na formação da região; personagens como Bárbara de Alencar e seus filhos; Tristão Gonçalves e José Martiniano; sem esquecer ícones como Pereira Filgueiras e Pinto Madeira, dali, passo a passo a epopeia das deposições e mudanças de mando no cariri cearense, sob a égide do bacamarte e o beneplácito da oligarquia Acyolina de Nogueira Acyoli; vão sendo dissecadas com a crueza e violência dos próprios episódios, mas com a leveza das linhas esclarecedoras traçadas por Joaryvar.
1901 tem início a famosa e impressionante saga das
deposições no cariri cearense: Antônio Joaquim de Santana; um dos mais
proeminentes representantes do Clã dos Terésios; ou simplesmente Coronel
Santana, da famosa Serra do Mato depõe Róseo Jamacaru em Missão Velha. Em 1904
no Crato, teremos o coronel Belém de Figueiredo sendo apeado do poder pelo
coronel Antônio Luís Alves Pequeno, seguida da deposição em 1906 do coronel
Manuel Ribeiro da Costa; o Neco Ribeiro; de Barbalha, por João Raimundo de
Macedo, ou coronel Joca do Brejão, esse; irmão do coronel Santana que havia
seis anos antes, tomado à bala o município de Missão Velha. No mesmo ano
iríamos encontrar a deposição do coronel Marcolino Alves de Oliveira do
município de Quixadá, atual Farias Brito, pelos “mandões” daqueles rincões:
Joaquim Fernandes de Oliveira e José Alves Pimentel; além do curioso episódio de
novembro de 1907 envolvendo dois destacados membros do Clã dos Augustos em
Lavras da Mangabeira. Dona Fideralina, a matriarca mais famosa do sertão, patrocinaria
a retirada do poder de um de seus filhos, coronel Honório Correia Lima em favor
de outro filho, coronel Gustavo Augusto Lima, em um dos momentos mais
sanguinários daquelas paragens no belo vale do rio Salgado.
Joaryvar Macedo ainda nos brinda com os episódios sangrentos
de conflitos armados por todo o conturbado ano de 1908: em Santana do Cariri,
Campos Sales, Aurora e ainda Araripe, quando os potentados locais engalfinhavam-se
munidos do bacamarte e da sanha pelo poder perpetrando e consolidando a égide
da violência. Nesse ano de 1908 vamos encontrar o destaque para a chegada ao
cariri cearense do polêmico medico baiano Floro Bartolomeu; uma das mais emblemáticas
e influentes personalidades da história destes lados do sertão nordestino,
principalmente por sua estreita ligação com o santo do Juazeiro: Padre Cícero
Romão Batista, como também o famoso “Fogo do Taveira”, conflito armado nas
terras do Coxá, no município de Aurora, ate hoje cantado em prosa e verso como
um dos mais emblemáticos embates da época. O tempo passa e chegamos ao ano de
1910 e a invasão de Lavras da Mangabeira pelo “Bravo Caririense”, Quinco
Vasques desafiando a força e o poderio do coronel Gustavo Augusto Lima do Clã
dos Augustos, intento logrado pela defesa do filho de Fideralina e seus cabras
e a consequente prisão do destemido Quinco Vasques.
E assim Joaryvar Macedo sem esquecer o Pacto dos Coronéis de
1911 em Juazeiro do Norte ou mesmo a Sedição de 1913, dentre outros episódios,
nos traz a partir de uma leitura envolvente os principais aspectos daquela
conturbada época; com cheiro de chumbo e morte; que por muito tempo ainda viria
a pontuar por esses rincões sertanejos. Traçando as principais causas, as
principais características de seus protagonistas e ainda as repercussões
politicas, o Império do Bacamarte é obra obrigatória a todos que pretendem
conhecer um pouco mais dessa feição do coronelismo nordestino.
Por ocasião de nosso Cariri Cangaço 2018 em Fortaleza, o
Conselho Alcino Alves Costa em sessão solene dentro do evento que ocorreu na
Casa José de Alencar; da Universidade Federal do Ceará; viria a prestar uma das
mais justas homenagens da comunidade que pesquisa temas nordestinos; foi
conferido ao pesquisador e escritor Joaquim Lobo de Macedo, Joaryvar Macedo, o Título de Personalidade Eterna do Sertão,
honraria entregue pelos Conselheiros Bosco André e Cristina Couto. O nobre
escritor cearense foi representando por sua esposa, dona Rosalba Macedo, o
genro Hélio Santos e as netas Ana e Clara, num dos momentos mais importantes da
agenda do evento. E hoje novamente temos a honra de reencontrar Joaryvar e seu
imortal Império do Bacamarte; a partir do convite feito pela família a mim para participar,
com esse texto, do lançamento da mais nova edição da obra que sem dúvidas é um
clássico dentro dos clássicos. Joaryvar, você conseguiu a proeza de tornar
imortal mais esse “Império” e o mesmo só consolida a sua imortalidade. Yokatane!
Manoel Severo, Fortaleza 21 de maio de 2021
Manoel Severo Gurgel Barbosa é fundador e curador do Cariri Cangaço; diretor da SBEC – Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço; Acadêmico Fundador da ABLAC - Academia Brasileira de Letras e Artes do Cangaço; Membro da ACLA - Academia Columijubense de Ciências, Letras e Artes; Membro da Academia Lavrense de Letras; Membro da Academia Apodiense de Letras, Diretor do GECC – Grupo de Estudos do Cangaço do Ceará e Membro Honorário do GPEC – Grupo Paraibano de Estudos do Cagaço e do GFEC-Grupo Florestano de Estudos do Cangaço. Recebeu os Títulos de Cidadão Honorário dos municípios de Maranguape, Quixeramobim, Crato e Missão Velha; no Ceará, Piranhas em Alagoas e Floresta em Pernambuco.
Em mensagem encaminhada à Assembleia Legislativa, datado de 15 de novembro de 1842, o presidente da província da Paraíba, Pedro Rodrigues Fernandes Chaves, assinalou: “A cadeia de Pombal é a obra mais urgente da Província. Sem ela a polícia não chegará jamais ao estado que é para desejar”. Acrescentou que em virtude dessa demanda inadiável, havia iniciado os serviços de construção da referida obra, a fim de disponibilizar um lugar seguro para guardar os criminosos e assim as autoridades pudessem processá-los.
Informou ainda que na legislatura
anterior, em virtude da insuficiência dos recursos consignados no orçamento,
havia autorizado que a obra fosse executada através da administração direta. No
entanto, os serviços foram inviabilizados por conta da falta de operários e
materiais no lugar, o que ensejou a necessidade de abertura de um processo
licitatório para a contratação de interessado em executar os serviços. Sendo
que o cidadão Bernadinho José da Rocha Formiga foi a única pessoa interessado
no pleito.
De personalidade forte e arbitrária,
Pedro Chaves fez um governo marcado por medidas polêmicas, que lhe custaram um
atentado contra sua vida em pleno exercício do cargo. À título de ilustração, é
oportuno registrar uma correspondência que Felis Rodrigues dos Santos,
Tenente-coronel e comandante do Batalhão de Pombal, em 14 de janeiro de 1845,
enviou ao então Presidente da província, Frederico Carneiro de Campos,
solicitando a reintegração de um oficial do seu batalhão que teria sido vítima
de perseguição do ex-presidente Pedro Chaves:
“Peço a V.
Ex.ª mercer de mandar reintegrar o exercício do capitão da 5ª Companhia, João
Neiva da Silva, que foi demitido pelo excelentíssimo Presidente o Ex.ª Sr.,
Pedro Chaves, sem o mais pequeno motivo, e nem crime algum, somente por
espírito de partido integrando ao Capitão Gonçallo José da Costa homem este
perseguidor dos inocentes que são afeitos ao sistema constitucional e a S.M.
I.”
O término do mandato de Pedro Chaves, em 3 de fevereiro de 1843, abriu uma crise de governabilidade sem precedentes. Em um lapso de dez meses a província teve sete presidentes. Essa instabilidade administrativa repercutiu negativamente em todas as obras públicas que estavam em andamento, a exemplo da cadeia de Pombal.
Nomeado por carta imperial de 14 de novembro de 1844, no
dia 18 do mês seguinte, Frederico Carneiro de Campos toma posse como Presidente
da Província da Paraíba do Norte. Uma de suas primeiras medidas é fazer o
levantamento de todas as obras paralisadas, encargo confiado ao Engenheiro
Francisco Pereira da Silva, que em seu relatório anotou que na vila de Pombal
havia uma cadeia principiada, em que apenas os alicerces das paredes mestras
estavam respaldados na flor da terra.
Ao concluir o seu mandado, Frederico
Carneiro de Campos encaminha à presidência da Assembleia Legislativo um
Relatório de Prestação de Contas, datado de 16 de novembro de 1848, no qual
reporta à importância das cadeias nas Vilas de Areia e Pombal, ambas já em fase
de conclusão:
“A
transcendência destas obras não tem necessidade de encarecimento para quem
reside na província, e há observado que os presos da terceira comarca, a
noventa léguas desta capital, tem de fazer esse penosíssimo trajeto, quando
lhes tocarem ao júri, ou mesmo às inquirições judiciais, e de instrução de seus
respectivos processos: eles têm sido algumas vezes, também por essa falta de
prisões, levados à de Pajeú de Flores, que, fora da alçada desta província,
apresenta ainda outros não menos sensíveis inconvenientes, que por
desnecessário deixo de enumerá-los.”
Com referência à cadeia de Pombal, ele
faz um breve histórico e apresenta prazo para o recebimento da obra:
“A
história da construção da cadeia de Pombal está traçada em meus precedentes
relatórios: neles achará V. Excia. mais que quanto eu aqui poderia dizer para
mostrar o que se há feito a tal respeito. Esse edifício está contratado com
Bernardino José da Rocha, sendo seu fiador o proprietário José Alves da
Nóbrega, pela quantia de 15:400$000 réis; deles já recebeu 9:200$000 réis; e
deve concluir a obra até dezembro deste ano, segundo o estipulado.”
Em 1864, Frederico Carneiro de Campos
foi nomeado presidente da província do Mato Grosso. Poucos dias depois, em 12 de
novembro, quando estava no rio Paraguai, foi
aprisionado por soldados paraguaios juntamente com toda tripulação e
passageiros do navio Marquês de Olinda. Este fato é tido como um dos episódios
que contribuíram para desencadear a Guerra do Paraguai. Assim como toda
tripulação e passageiros do navio Marquês de Olinda, Frederico Carneiro de
Campos faleceu preso na fortaleza paraguaia de Humaitá, em
3 de novembro de 1867. Por ironia do destino, o
grande responsável pela conclusão da cadeia de Pombal morreu na prisão.
A imponente fortaleza, localizada no
centro da vila, nas proximidades das Igreja Nossa Senhora do Bom Sucesso, atual
Igreja Nossa Senhora do Rosário, é uma edificação de majestosa beleza
arquitetônica. Possui uma área de 320 metros quadrados e a coberta em forma
piramidal, constante de telhados em quatro águas, cujo vértice atinge a
aproximadamente sete metros de altura; paredes laterais, em alvenaria de pedra,
com um metro de largura. Na parte frontal, um portão de grades em ferro maciço
e quatro janelas reforçadas com grades duplas, assim como as demais janelas das
celas; na enxovia, cela destinada aos presos de maior periculosidade, à altura
de cerca de 3 metros foi instalada um forro em robustas vigas de madeira de lei
com cerca de 30 cm de distância uma da outra, a fim de impossibilitar
tentativas de fuga por via área.
A edificação foi alicerçada sobre
maciça camada de rocha, de forma a impedir qualquer tentativa de fuga por via
subterrânea, tendo as seguintes dependências: enxovia, cela segura, cela
feminina, salão, sala livre, corredor, enfermaria e uma sala que servia de
guarita para as sentinelas. O portão interno, que separa a sala livre do
corredor, só foi instalado em 1861, serviço feito pelo serralheiro João
Pereira.
Ao longo dos seus 133 anos de
funcionamento como a mais importante unidade carcerária do interior da Paraíba,
a cadeia de Pombal passou por algumas reformas, mas que não alteraram o
significativamente o projeto original. Os serviços se resumiram praticamente a
adaptações de algumas dependências.
As reformas mais relevantes
aconteceram em 1897, no governo do Antonio Alfredo de Gama e Melo, e trinta
anos depois, ou seja, em 1927, na gestão do presidente João Suassuna. O
presidente Gama e Melo deixou registrado que, mesmo seu governo passando por
sérias dificuldades financeiras, havia determinado a criação de uma comissão de
pessoas distintas da localidade, para a qual repassou a quantia de 3:000$000
destinada a execução dos serviços da cadeia da cidade de Pombal.
Por sua vez, João Suassuna, no
Relatório enviado à Assemblei Legislativa, prestou a seguinte informação: “Está
em vias de conclusão, na cadeia de Pombal, uma reforma que habilitará o prédio
a receber quarenta sentenciados, ou seja, o quadruplo da lotação a que estava
reduzida aquela detenção. Devo especial referência a esse melhoramento, pela
boa vontade com que os habitantes locais auxiliaram o governo, assinando quotas
apresentadas pelo esforçado dele gado José Gadelha, alma da iniciativa”.
A antiga cadeia foi desativada
definitivamente em 1972, quando foi construída uma nova unidade carcerária na
cidade. Ernani Sátiro de Sousa era o governado do Estado e Dr. Atêncio Bezerra
Wanderley era o prefeito de Pombal. Em 1989, na gestão do prefeito Francisco Queiroga Sobrinho, a velha fortaleza passou a
sediar a Casa da Cultura, um pequeno museu que ainda não atingiu o seu
verdadeiro objetivo, notadamente pela falta de uma gestão verdadeiramente
comprometida com a preservação de nossa memória.
José Tavares de Araujo Neto, pesquisador - Pombal-PB
19 de Maio de 2021
Desde os longínquos tempos de nossa colonização; a partir do Vale do Rio Salgado se ergue uma terra, um povo, um sentimento; que tem dignificado ao longo de sua existência o orgulho de ser sertanejo. A miraculosa aparição sob o frondoso juazeiro, da imagem de São Vicente Ferrer , onde hoje se localiza a atual matriz da cidade, consolidou a força da fé que unida à vocação forte de homens e mulheres de fibra inigualável, fazem a história de um dos mais tradicionais municípios do estado do Ceará: Lavras da Mangabeira.
O ano de 1927 teria sido um ano a ser esquecido pelo rei do cangaço; em 27, Uiraúna, Ipueira dos Xavier e por fim Mossoró, formaram heroicas resistências a Virgulino Ferreira e seu bando. Depois da malograda epopeia de Mossoró, o destino apontava novas paragens para o bandoleiro das caatingas, no radar do rei cego: As terras da Bahia.
E assim em agosto de 1928, Lampião ao lado de mais cinco cabras atravessa o caudaloso Velho Chico, sentido norte-sul; o "Homem" chegava a Bahia e um novo reinado haveria de se consolidar. O tempo para recompor suas forças e reagrupar homens para suas hostes acabou contando mais uma vez com todo o talento e as ligações perigosas do rei do cangaço.
Personagens emblemáticos como os Coronéis , Petronilio Reis, João Sá, João Maria; cangaceiros que marcaram a história como os Ingrácias: Zé Baiano, Zé Sereno; fariam parte dessa nova pagina do cangaço de Virgulino Ferreira, que depois se alastraria com sucesso pelas terras alagoanas e sergipanas, mas... quem foi o primeiro e importante anfitrião de Virgulino na Bahia, ou... quem foi a primeira anfitriã ?
Quem era Zefa Perdida ? Qual sua ligação com os Ingrácias ? Qual o papel de Zefa na vida bandida dos vários membros da família? Que ligações possuía, que relações mantinha? Porque Lampião a procurou antes de qualquer outra atitude em solo baiano no longínquo agosto de 1928 ? Quem eram os Ingrácias ?
Para responder essas questões e aprofundar o debate sobre Zefa Perdida, Manoel Severo, curador do Cariri Cangaço, recebe os pesquisadores, Manoel dos Santos Neto, Raimundo Marins e José Bezerra Lima Irmão, para um "ao vivo" sensacional sobre esse personagem pouco estudado pela literatura do cangaço.
"Rastreando Zefa Perdida-A Anfitriã de Lampião na Bahia"
Grandes Encontros Cariri Cangaço
Quarta-feira - Dia 19 de Maio de 2021, 19h30
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