Canudos e Pau de Colher: O Sertão e a Força do Messianismo , nos Grandes Encontros Cariri Cangaço

O Messianismo nos Grandes Encontros Cariri Cangaço

Messianismo tem o forte significado de representar ou ansiar o retorno, a volta, de um enviado divino, preponderantemente libertador – o messias - revivendo a promessa do Deus todo poderoso em enviar Seu mensageiro divino para para libertar a humanidade. Movimentos com essa essência forte e representativa se espalharam pelo mundo em várias épocas e circunstâncias, com resultados nem sempre divinos, muito pelo contrário, na grande maioria das vezes, com resultados funestos para seus protagonistas.

No Nordeste brasileiro, nas terras perdidas de nosso amado sertão, alguns desses movimentos "messiânicos" marcaram sua época e escreveram seus nomes na historia de nosso Brasil com tons de intolerância, preconceito e sangue, muito sangue, assim foi na Pedra do Reino, assim foi em Canudos, assim foi no Caldeirão, assim foi no Pau de Colher... 

Os Grandes Encontros Cariri Cangaço desta quarta-feira, dia 01 de setembro de 2021, traz ao debate dois desses importantes e emblemáticos episódios que marcaram para sempre; com letras de sofrimento e sangue; a memoria sertaneja: Canudos e Pau de Colher. Os dois estarão em debate e análise a partir de seus contextos sócio-político-religiosos, as condições que permitiram a eclosão e a força desses movimentos protagonizados tanto por Antônio Vicente Mendes Maciel, o Antônio Conselheiro; em Canudos; como pelo beato Senhorinho, no Pau de Colher; a busca da compreensão de seus pseudos discursos  messiânicos, seus seguidores, os embates, os conflitos de interesse e os cruéis e sangrentos desfechos e suas posteriores repercussões. 


Para o debate, Manoel Severo, curador do Cariri Cangaço, recebe os pesquisadores; professor e escritor Marcos Damasceno, de Dom Inocêncio no Piauí e o historiador João Batista Lima, de Canudos na Bahia. Para Marcos Damasceno "é imperioso o debate sobre o Pau de Colher, ainda tão pouco estudado, conhecido e compreendido pela grande maioria dos brasileiros, agradecemos ao Cariri Cangaço pela grande oportunidade de proporcionar esse qualificado debate, juntamente com o historiador João Batista, profundo conhecedor de Canudos, sem dúvidas teremos um espetacular programa." O historiador de Canudos, João Batista Lima ressalta "a honra de chegar ao Cariri Cangaço é muito grande e se agigante a partir de um debate sobre o messianismo em nosso sertão, Canudos e Pau de Colher sem dúvidas precisam ser esclarecidos cada vez mais e com mais responsabilidade para as novas gerações".


Grandes Encontros Cariri Cangaço

AO VIVO

No Canal do YouTube do Cariri Cangaço

Dia 01/09/2021 às 19h30



Antônio Rabelo é o Convidado Especial do Cariri Cangaço Personalidade no Instagram


Costumo dizer que somos movidos por paixão. As paixões acabam transformando-se em combustível precioso para a realização de nossos sonhos, sonhos de todas as naturezas... Assim tem sido com nosso empreendimento que é o Cariri Cangaço, assim tem sido com o senhor Francisco Antônio Rabelo do sertão maravilhoso de Quixeramobim. Mas, quem é o ilustre Francisco Antônio Rabelo, ou simplesmente Rabelo; como é conhecido por toda Quixeramobim e por todo o planeta ? Poderia dizer que Rabelo é o marido da dona Lúcia, ou o pai do David e do Darvin , poderia dizer que Rabelo é aquele "louco" apaixonado por fusquinhas, por skate e exímio piloto de motocross, ou ainda o esforçado cantor de rock romântico dos anos 80...

Mas vou começar pelo fim: O ilustre Francisco Antônio Rabelo, o Rabelo; é hoje um dos mais respeitados designer de jóias artesanais do Brasil. De sua oficina em Quixeramobim a Ceará Designer de Jóias Artesanais vem ano a ano conquistando a paixão e o respeito de todos que possuem um requintado bom gosto e prezam pela arte a partir das coisas do sertão. Rabelo utiliza todo o seu talento nato transformando pedras rústicas e as mais variadas matérias primas da caatinga em jóias preciosas, de rara beleza e extremo bom gosto. Sua produção tipicamente e preciosamente artesanal; anéis, brincos, colares, braceletes, dentre outros inúmeros acessórios, possuem um marca  inconfundível que tomou conta do Brasil e do mundo: A Marca Rabelo de Ser e de Fazer...

Antônio Rabelo, Rabelo ou simplesmente "Barão" é o convidado especial de Manoel Severo, curador do Cariri Cangaço, para o Cariri Cangaço Personalidade - Gente que Faz; nesta próxima segunda-feira, ao vivo, às 19h30 no Instagram do Cariri Cangaço, segue lá: @cariricangaço.

Memórias do Cangaço Por: Valdir Nogueira

Sinho Pereira e Luiz Padre

HÁ 100 ANOS, ÀS 4 HORAS DA TARDE DO DIA 24 DE AGOSTO DE 1921, NAS PROXIMIDADES DA POVOAÇÃO DE BOM NOME, SEBASTIÃO PEREIRA ASSASSINOU BARBARAMENTE O SR. JOÃO BEZERRA DO NASCIMENTO

Após uma peleja com a volante de Zé Caetano, em que perdeu a vida Luiz Macário, considerado um dos melhores cabras de Sebastião Pereira, evadiu-se este com seu grupo em direção a Bom Nome, porém, no caminho, bem próximo à vila, encontraram com o Sr. João Bezerra do Nascimento, no entanto, na ira em que estava possuído, em decorrência da morte de seu cangaceiro, desfechou Sebastião Pereira um tiro naquele inocente homem e o matou.

As forças do capitão José Caetano se transportaram para o local, não encontrando mais o grupo de criminosos. Sobre a morte de João Bezerra, quando da única visita ao seu torrão natal, em 1971, 49 anos depois após a sua despedida do cangaço e partida para Goiás, declarou Sebastião Pereira numa entrevista concedida ao Sr. Luiz Lorena:

Lorena - Depois de tanta refrega por que se retirou para o Planalto Central do país?
Sinhô – A família Pereira (minha família) vivia atormentada em face de minhas ações. Era imperativo mudar a face da história.
Lorena – Quais os fatos que mais perturbaram você?
Sinhô – Vários. No começo tudo o que eu fazia errado dava certo. Com o passar do tempo tudo o que eu fazia certo dava errado.
Lorena – Entre estes, você pode destacar um?
Sinhô – Sim. A morte de João Bezerra em Bom Nome. Na forma como eu procedi, acelerou minha decisão. O meu estado de espírito estava de tal forma desajustado que eu já não tinha condição de conduzir as ações do grupo que comandava.

Vista panorâmica do distrito de Bom Nome, São José do Belmonte, a partir do Monte de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro
João Bezerra do Nascimento, residia na fazenda Carnaubinha, zona rural de Bom Nome, sendo filho de José Bezerra dos Anjos e Joana Batista do Nascimento, tendo matrimoniado-se com Vitoriana Josefina do Nascimento, sua prima legítima, no dia 20/4/1907, em cerimônia oficiada pelo monsenhor Afonso Antero Pequeno, na fazenda Boa Esperança, sendo ela filha de Manoel Desidério do Nascimento (ex-prefeito de Belmonte) e Josefa Maria do Nascimento.

A fatalidade fez com que João Bezerra perdesse a sua vida, inocentemente, quando foi brutalmente assassinado por Sebastião Pereira, crime ocorrido às 4 horas da tarde do dia 24/8/1921. No entanto, nessa região do sertão do Pajeú, onde quase todo mundo é parente, a mãe e o sogro de João Bezerra, eram parentes em segundo grau de Manoel Pereira da Silva e Sá, pai de Sebastião Pereira. Portanto naquela fatídica tarde, Sebastião Pereira, havia assassinado um suposto primo.

Valdir José Nogueira de Moura, pesquisador e escritor
Conselheiro Cariri Cangaço, São José de Belmonte-PE

Livro lança um olhar feminino sobre a história de Maria Bonita Por:Cairé Andrade

Escritora Nadja Claudino

Com novas percepções sobre a história de Maria Gomes de Oliveira (1910-1938), mais conhecida como Maria Bonita, a pesquisadora paraibana Nadja Claudino lança o livro Maria Bonita: entre o punhal e o afeto (Arribaçã Editora, 252 páginas, R$ 50,00), abordando discursos, histórias e movimentos sobre o cangaço, além de curiosidades sobre a famosa companheira de Virgulino Ferreira da Silva (1898-1938), vulgo Lampião.

A obra é o resultado de um interesse que surgiu na pesquisadora durante sua adolescência. De acordo com Nadja, a própria mãe a chamou para assistir a um documentário sobre o cangaço quando mais jovem e, desde então, foi despertado o desejo em se aprofundar sobre o tema. “Quando fui cursar História, escolhi o tema para escrever meu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) e, dentro dele, escolhi falar sobre Maria Bonita, pois percebi que faltava algo que problematizasse esses muitos discursos”, lembra.


Escrito por pesquisadora paraibana, “Entre o punhal e o afeto” traz novas perspectivas sobre o cangaço

Para a pesquisadora, uma novidade acerca da imagem de Maria Bonita é perceber como ela era interpretada pelo olhar majoritariamente masculino e sobre o papel feminino na sociedade da época. “A partir de Maria Bonita podemos perceber como as mulheres foram – e são – representadas pelos discursos masculinos. Procuro fazer isso no meu livro, lançar esse olhar sobre a história que vem sendo contada há mais de 80 anos por jornais, cordéis e outros livros”

Segundo Nadja Claudino, as cangaceiras – apesar de passarem por conflitos através do contexto em que viviam – se portavam, na maioria dos aspectos, como as outras sertanejas, devendo obediência e fidelidade ao seu companheiro e sem tanto poder nas decisões de grupos. “As mulheres quando escolheram o cangaço ou quando foram levadas para essa vida involuntariamente, perceberam que seus papéis não eram mais os mesmos de quando viviam no seio da sociedade sertaneja”, analisa. “Essas mudanças não se deram apenas no âmbito social: o papel da mulher mudou nas questões ligadas à maternidade e também à feminilidade. As mulheres cangaceiras pariam, mas não maternavam seus filhos, pois o ambiente do cangaço já havia inserido as mulheres mas nunca foi espaço para crianças, frutos das relações amorosas dos cangaceiros. Deixar de ser mãe, no sentido do cuidado com seu filho, subverteu a lógica de uma feminilidade que só seria completa com a maternidade”.

As mulheres, como lembra a autora, não entravam nos bandos como um reforço armado, mas sim para servir como companhia aos cangaceiros. “Penso que Lampião e os outros não pretendiam deixar a vida do cangaço e procuraram formar uma sociedade em que houvesse espaço para a ‘vida doméstica’”.

Mesmo sendo reescrito e interpretado há mais de 80 anos na TV, no cinema e no teatro, nos folhetins de cordel, além de estar presente no imaginário popular, como reforça a pesquisadora, ainda há muitos questionamentos sobre o cangaço e isso só reforça a importância de se estudar o movimento mais profundamente. “O Sertão, as poucas informações e o isolamento geográfico do qual os cangaceiros se aproveitavam para burlar as leis, serviram também para que surgisse uma narrativa misteriosa, cheia de imprecisões e também cativante para o nordestino, em particular para os que vivem na região sertaneja”, enumera. “Principalmente pela forma como as histórias dos cangaceiros foram passadas através do verso popular que alcançava espaços e se fazia entender pelo povo, ao trazer elementos da vida do sertão para os textos”, comenta.

Hoje se pode perceber, como aponta na obra, que Maria Bonita passou por pré-julgamentos a partir do próprio nome pelo qual se tornou conhecida, que são vistos na atualidade como posicionamentos estereotipados. “O olhar lançado sobre ela atende muito às discussões do momento que estamos vivendo de empoderamento das mulheres e de questionamentos sobre os papéis que nos foram impostos pela sociedade”, reforça a escritora. “Eu discuto o nome Maria Bonita, que era usado por jornalistas, mas não era usado dentro do grupo. É um nome que adjetiva apontando para a sua beleza, de como ela foi alvo de uma escrita libidinal, e de como a beleza é cobrada de nós, mulheres, e foi cobrada dela, até mesmo depois de morta”.

A “rainha sertaneja e mulher guerreira”, termos apontados por Nadja Claudino, são problemáticos por reduzir a imagem da mulher. “’Guerreira’ é um adjetivo utilizado incontáveis vezes para designar mulheres que sofrem, que mantém duplas jornadas de trabalho, ganham salários menores e se mantêm ‘belas’, suaves, amorosas, ‘maternais’ e ‘femininas’. Somos muitas Marias Bonitas e precisamos vencer grandes barreiras e julgamentos para escrevermos o nosso destino”, diz Claudino, que ressalta: “ A história de Maria Bonita é atualíssima”.


As histórias da mais famosa mulher do cangaço – como conta a pesquisadora Nadja Claudino, na obra Maria Bonita: entre o punhal e o afeto – não podem ser comprovadas, já que ela não sobreviveu para se lembrar do próprio passado.

“Ao contrário de Sila ou Dadá, que sobreviveram ao fim do cangaço, tudo o que se tem sobre Maria Bonita foi dito por pessoas que conviveram com ela ou saiu da imaginação dos escritores. Não encontrei nada que Maria Bonita tenha dito em entrevistas ou relatos próprios, e esse silêncio foi propício para que os outros falassem por ela”, julga.

A pesquisadora revela encontrar diversas representações da companheira de Lampião nas artes. “No cordel, por exemplo, Maria Bonita aparece como uma mulher capaz de derrotar um grupo de volantes, de comandar homens, de ser de fato uma guerreira. Numa minissérie televisiva da Rede Globo, ela aparecia cortando as orelhas das rivais. Surge também como uma mulher que intercedia junto à Lampião pela vida de algum sertanejo que ela julgasse inocente. Em matérias de jornais como o Diário de Pernambuco, ainda na época do cangaço, aparecia como mulher que dava chicotadas na cara das vítimas do banco”.

A pesquisa da paraibana, portanto, baseia-se também nessas possibilidades retratadas da companheira de Lampião. “É justamente sobre essas histórias que pode construir meu trabalho, não querendo trazer à tona uma verdade impossível de ser apreendida, mas sim os discursos criados sobre Maria Bonita. O que se sabe de fato é que ela pagou com a vida sua ousadia, teve que romper com o seu mundo para viver um amor radical com um fora da lei e foi e continua sendo alvo de julgamentos”.

Há, ainda, por outro lado, muito a ser descoberto sobre a figura histórica tão relevante para o Nordeste sertanejo. Partindo do que resultou em Maria Bonita: entre o punhal e o afeto, Nadja Claudino pretende explorar outros temas que conversam com o que ela aborda em seu livro. “Pretendo partir para outro tema que, de certa forma, dialoga muito com esse. Por enquanto, não penso em escrever outro livro sobre cangaço, mas tenho muito interesse que essa produção cresça e que a história das cangaceiras seja repensada”, finaliza.

Cairé Andrade

caireandrade@gmail.com

(Matéria publicada no jornal A União, em 26 de abril de 2020)

Nadja Claudino é Gente que Faz no Cariri Cangaço Personalidade, AO VIVO no Instagram

A professora e historiadora Nadja Claudino marcou a sua estreia no mundo literário com uma obra acadêmica de grande valia para todos aqueles que se interessam por história contemporânea, sobretudo na formação social dos sertões nordestinos na primeira metade do século XX, com movimentos próprios, como o cangaço, fruto de infinitos estudos e pano de fundo para romances, cordéis, etc.

Nadja Claudino nos trouxe através de seu livro "Maria Bonita: entre o punhal e o afeto" novas e importantes percepções sobre a história da Rainha do Cangaço; companheira de Virgulino Ferreira - o Lampião, Maria Gomes de Oliveira (1910-1938), mais conhecida como Maria Bonita, a pesquisadora paraibana , aborda em sua obra, discursos, histórias e movimentos sobre o cangaço, além de curiosidades sobre a mais famosa de todas as cangaceiras.

Para falar de seu trabalho e de sua pesquisa sobre o universo feminino dentro do Cangaço, Nadja Claudino é a convidada especial de Manoel Severo desta noite, ao vivo, no programa Cariri Cangaço Personalidade na plataforma Instagram: @cariricangaço.


Para Nadja, "uma novidade acerca da imagem de Maria Bonita é perceber como ela era interpretada pelo olhar majoritariamente masculino e sobre o papel feminino na sociedade da época. “A partir de Maria Bonita podemos perceber como as mulheres foram – e são – representadas pelos discursos masculinos. Procuro fazer isso no meu livro, lançar esse olhar sobre a história que vem sendo contada há mais de 80 anos por jornais, cordéis e outros livros”

Ainda segundo Nadja Claudino, as cangaceiras – apesar de passarem por conflitos através do contexto em que viviam – se portavam, na maioria dos aspectos, como as outras sertanejas, devendo obediência e fidelidade ao seu companheiro e sem tanto poder nas decisões de grupos. “As mulheres quando escolheram o cangaço ou quando foram levadas para essa vida involuntariamente, perceberam que seus papéis não eram mais os mesmos de quando viviam no seio da sociedade sertaneja”, analisa. “Essas mudanças não se deram apenas no âmbito social: o papel da mulher mudou nas questões ligadas à maternidade e também à feminilidade. As mulheres cangaceiras pariam, mas não maternavam seus filhos, pois o ambiente do cangaço já havia inserido as mulheres mas nunca foi espaço para crianças, frutos das relações amorosas dos cangaceiros. Deixar de ser mãe, no sentido do cuidado com seu filho, subverteu a lógica de uma feminilidade que só seria completa com a maternidade."

CITAÇÕES:http://www.arribacaeditora.com.br/livro-lanca-um-olhar-feminino-sobre-a-historia-de-maria-bonita/

HOJE AO VIVO EM NOVO HORÁRIO 19H30

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Umbuzeiro Onde a Cangaceira Lídia foi Morta por Zé Baiano Por:Rangel Alves da Costa

 
Rangel Alves da Costa

O ano era 34. No Coito da Pia das Panelas, nos sertões sergipanos de Poço Redondo, a cangaceirama estava amoitada quando uma tragédia logo se anunciou. O cangaceiro Coqueiro havia flagrado Lídia e Bem-te-vi mantendo relações sexuais. Só que Lídia era companheira de uma fera chamada Zé Baiano. Então o mundo desandou. A fera entrou em completo estado de insanidade e resolveu matar a traíra. Mesmo com discordâncias no bando, Lídia foi amarrada no umbuzeiro para ser morta na manhã seguinte. Ao alvorecer, Zé Baiano se armou com pedaço de pau e destroçou a ex-amada. Morte terrível, a pauladas. Depois abriu uma cova logo adiante e por cima despejou pedra e areia. Coqueiro, o delator, também não teve melhor fim. Foi morto e deixado aos urubus. Já Bem-te-vi caiu no oco do mundo, desesperadamente fugindo da morte certa. Após as mortes, a cangaceirama tomou novo rumo sem olhar pra trás. E Lídia ficou. E ainda está lá. Sem uma cruz sequer, apenas com umas poucas pedras marcando seu descanso final. Cangaço, cangaços. Histórias e tristes sinas!

Rangel Alves da Costa, pesquisador e escritor
Conselheiro do Cariri Cangaço
Poço Redondo-SE

Serra Grande em Novo Momento do Grandes Encontros Cariri Cangaço


Os números são impressionantes até para aqueles que são afeitos ao estudo do fenômeno: 10 mortos, 14 feridos, quase 300 militares numa sanha desesperada em busca de dar fim a Virgulino com seus mais de 115 cangaceiros; foram cerca de 3 mil tiros em quase 10 horas de combate naquele longínquo 
26 de novembro de 1926.

Semana passada os Grandes Encontros Cariri Cangaço reuniu os amigos de todo o Brasil para debater um dos combates  mais emblemáticos de todo o ciclo do cangaço. Manoel Severo, curador do Cariri Cangaço recebeu para o AO VIVO no canal do YouTube do Cariri Cangaço, os pesquisadores Luiz Ferraz Filho de Serra Talhada e Louro Teles de Calumbi; ambos profundos conhecedores do episodio que viria marcar a historia dos combates entre os cangaceiros e as forças volantes: o combate de Serra Grande.

O programa iniciou com Luiz Ferraz Filho nos trazendo um panorama geográfico e histórico de toda região da Serra Grande, que na época do combate; 1926; se estendia de Vila Bela (atual Serra Talhada) ate Flores, passando por Calumbi ; na época distrito de Flores e local exato onde aconteceu o famoso fogo. Em seguida o pesquisador e Conselheiro do Cariri Cangaço, Louro Teles trouxe os principais detalhes da ligação de Virgulino Ferreira Lampião com Calumbi, isso desde os tempos em que a família Ferreira dedicava-se ao oficio de almocreve e os "meninos" filhos de seu Zé Ferreira acompanhavam o pai no oficio mor da familia, passando pelos muitos episódios de conflitos e a própria invasão do bando a Calumbi, Louro Teles ainda apresentou a amizade do rei do cangaço com moradores do lugar, coiteiros, os amigos, os inimigos, e um surpreendente romance e até um suposto filho do rei cego com uma menina chamada Tatu, das roças velhas. 

Manoel Severo e Louro Teles em plena caatinga


O combate de Serra Grande vem situar-se entre duas das mais polêmicas passagens da saga do filho de seu Zé Ferreira, vulgo Lampião, a saber; em Março do mesmo ano o rei dos cangaceiros visita Juazeiro do Norte para se integrar às forças dos Batalhões Patrióticos e receber fardamento e armas na Meca de padre Cícero Romão Batista e logo em seguida ao combate que ocorreu em novembro, escreveria a ousada carta ao governador de Pernambuco, Júlio de Melo, sugerindo a divisão do território pernambucano entre os dois.

Outra polêmica acaba nos conduzindo ao grande combate; o que teria realmente acontecido em relação à morte do irmão do cangaceiro mais famoso da história? Antônio Ferreira; irmão de Virgulino e seu braço direito; teria tido sua vida ceifada a partir de um “sucesso” envolvendo Luiz Pedro na fazenda Poço do Ferro, de Ângelo da Gia, em meados de 1926 ou inicio de 1927, mas existem pesquisadores que defendem a hipótese que a morte estaria diretamente ligada a ferimentos recebidos pelo cangaceiro no sangrento combate de Serra Grande, onde está a verdade?




Imagens do primeiro episódio dos Grandes Encontros Cariri Cangaço: Lampião na Serra Grande

Jararaca Ataca a Vila de Flores Por:Caiçara do Rio dos Ventos

Cangaceiro Jararaca preso em Mossoró, junho de 1927

Em 3 de abril de 1927 Jararaca ataca a Vila de Carnaíba. Já se passaram 93 anos desde que a outrora bela e formosa Vila de Carnaíba de Flores, foi atacada pelo famigerado cangaceiro Jararaca. Nesta linda e aprazível cidade interiorana de Pernambuco, nasceu um dos poetas "mais grandes" da cultura nordestina. Compositor de temas vibrantes, poeta e folclorista, conhecido pelo nome de Zé Dantas.

José de Sousa Dantas Filho tinha apenas 6 anos de idade quendo isso aconteceu. Vou aqui homenagear, aproveitando o espaço, o Grande Poeta: Zé Dantas, grande compositor sertanejo, conhecido por suas belas canções, como “O xote das meninas”, “Derramar o Gás”, “A Volta da Asa Branca”, “O Forró de Mané Vito”, “Vozes da Seca”, “Vem Morena”, “Algodão”, “Cintura Fina”, “Imbalança”, “Mané e Zabé”, “Minha Fulô”, “Noites Brasileiras”, “São João na Roça”, “Paulo Afonso”, “Riacho do Navio”, “Sabiá”, “Samarica parteira”, “Siri Jogando Bola” entre outras obras. 

Pois bem, voltemos ao ataque do cangaceiro Jararaca. Carnaíba das Flores, que está situada à margem direita do lendário Rio Pajeú. Foi assaltada pelo temível cangaceiro Jararaca e seu grupo de 13 cabras. Aqui esse artigo, iremos dissertar o histórico que o Padre Frederico Bezerra Maciel escreveu no seu livro CARNAÍBA, A PÉROLA DO PAJEÚ:  "Procedente das bandas de Sítio dos Nunes, ao chegar ele, alta madrugada, em Carnaíba velha,  espécie de subúrbio com casas separadas e esparçadas do outro lado do rio. Aprisionou o fogueteiro Faustino para que servisse de guia indicando as casas do telegrafista e dos comerciantes da vila. De 4 horas e 30 minutos para as 5 horas da manhã atravessou o denso e fofo areal do rio sêco com seu grupo e o prisioneiro guia entrando na rua principal pela passagem ao oitão esquerdo do vapor do descaroçador de algodão de manuel josé da silva. 

Frederico Bezerra Maciel

Em todo o percurso da longa, alinhada e bela rua, arborizada de cajaranas e findando na igreja do orago  Santo Antônio, foi o guia mostrando as casas comerciais e residenciais dos principais homens de dinheiro Manuel José, Zé Martins, Major Saturnino Bezerra, Zé Dantas (pai), enfim já perto da igreja do lado esquerdo de quem ia, a casa do telegrafista Emídio de Araújo conhecido por Emídio Grande. Na realidade não devia este ser chamado de telegrafista e sim de telefonista pois o que havia era um telefone na repartição pública federal para passar telegramas. Aproveitando-se ali de um descuido do grupo, conseguiu o fogueteiro fugir pela e cercas de pau a pique e avelós dos roçados das vazantes.

No largo patamar da igreja, os cabras, entre talagadas de cachaça, xaxavam,   batendo como coice das armas na calçada e cantando mulher rendeira, com isso despertando os habitantes do lugar, que logo compreenderam tratar-se de cangaceiros. Em seguida, o próprio Jararaca deu três tiros na porta da entrada da casa do telegrafista, o qual respondeu, de dentro, com um tiro. Isto fez o grupo temer entrar na casa. Então, após uns quatro tiros na porta da casa vizinha, residência de Zé Veríssimo, que logo fugiu com a esposa pelo portao do muro, rebentaram
a porta da frente e nela entraram. Abriram a mala, quebrando-lhe a fechadura estragaram as roupas encontradas, rasgando um vestido e queimando outro, nada roubando porque seus donos quase nada possuiam. Vivia o pobre Zé Verissimo do modesto emprego de caixeiro de balcao na loja do major Saturnino, Na outra casa, pegada à de Verissimo, morava o cabo Severino, comandante do destacamento, que saiu correndo por detrás, sem detonar um tiro. Os cinco soldados do destacamento, que moravam juntos, em acanhado casebre de António Conserva, guarda da linha, situado no mesmo correr da rua, porem mais em cima, bem no oitão direito da igreja e distante do patamar da igreja de apenas 4 metros, também correram pelos fundos. O soldado Zé Inácio que morava bem na frente do telegrafista e que estava doente de febre tifoide, temendo por sua sorte, enrolou-se num cobertor e saiu pela cerca do quintal para a residència de Joaquim Leandro da Silva, conhecido por Joaquim Borrego, atrás da lgreja, o qual estava ausente.

A familia deste, como todas as outras da vila, deitadas no chão, temendo as balas. Depois da casa de Veríssimo, entraram os cangaceiros, forçando porta e janela, na residéncia do major Saturnino, situada a 18 casas abaixo. O major estava fora. E sua esposa, D. Naninha Grande, ficou sozinha com a fuga de seu filho, Zé Bezerra, pelo quintal. Os cabras respeitaram a mulher, mas roubaran rifle e dinheiro. Daí seguiram para a residència de Manuel José,  no outro cordão de rua, bateram na porta.  A esposa Maria Brasileiro foi atender. Dois cangaceiros entraram e foram logo exigindo dinheiro. Manuel José apareceu e disse que o dinheiro estava guardado na loja. Enquanto um cangaceiro acompanhava Maria Brasileiro até a loja, o outro ficou mantendo o esposo como refém.  Na loja Maria teve a presença de espirito de não mostrar o cofre mas tão somente a gaveta do balcão com o apurado do dia e que na ânsia foi logo raspado pelo cangaceiro. Muito dinheiro miúdo em moedas e cédulas, importancia total pequena. O outro companheiro tão preocupado em manter o refém nem atinou mandar abrir o baú onde estavam guardadas as jóias, no qual se sentara de propósito Manuel José. Logo que o primeiro voltou e os dois iam começar contar o dinheiro, ouviram-se tiros do lado de fora. Os dois fugiram levando o dinheiro.
 

Os carnaibanos começaram a se movimentar para a reação. Ora, cada comerciante mantinha cabras para defesa em casos como este. Por exemplo, Major Saturnino tinha os cabras João Mororó e João Teotônio; Zé Martins tinha Mané Quitola; Luís e Eliseu Cassiano tinham João Lessa; Zé Dantas tinha Zé Marques, Manuel José tinha seu cunhado Zé Vital... E muitos possuíam armas próprias. Uns 20 decididos carnaibanos pulavam de um muro para outro a fim de estabelecer os planos de resistência e tomavam posição nas entreabertas das janelas e em outros resguardos. Os soldados voltaram para o embate. Dois deles que estavam no quartel estabelecido numa casa quase em frente da de Manuel José não podendo fugir começaram a atirar para o ar a fim de intimidar, mais com isso gastando multa munição atoa. Nesse então, das janelas da rua começaram a partir tiros esparsos de ponto. Depois fechou-se o tempo.

Por trás do antigo cemitėrio morava um cidadão da Barra de São Serafim, chamado Manuel Florentino. Conseguiu ele entrar no beco formado pelo vapor de Zé Jordão e o chalé de Zé Martins e fazendo frente ao beco de Manuel José. Deitado, amparou-se nuns paus, ali colocados deitados, a modo de dique para as águas das enxurradas da rua nos tempos de chuva. Dali atirava de ponto na direção do beco de Manuel José, para onde havia corrido alguns cangaceiros por causa dos tiros disparados de vários pontos da rua. Nessa corrida um dos cangaceiros deixou cair seu fuzil no meio da rua. Parte dos cangaceiros, da porta e das janelas da morada de Manuel José, atirava para dentro da rua respondendo aos detensores. 

Outra parte, da esquina do fim do muro da mesma casa respostava ao beco. Pedro Orenuno ordenou a seu companheiro recém-chegado, Pedro Martins, a ir ver o Fuzil caido para com ele fazer boca de fogo, isto é, lhe dar cobertura sustentando o fogo. Arrastando-se, o xará apanhou o fuzil e permaneceu ali, no mesmo ponto, deitado, atirando. Quando o tiroteio já com quase 2 horas cessou um pouco, disse Pedro Florentino ao outro: só se tomar o portão do oitão. 

Quando atravessou a rua entrou no beco, recebeu Pedro Florentino as cargas de um rifle peiado e de um fuzil, utilizados por dois cangaceiros. Por sorte apenas um balaço de fuzil o atingiu na parte superior da coxa atravessando-a sem atingiu o osso. Colando-se na parede, revidou Pedro Florentino e de ponto no cangaceiro do rifle, acertando-lhe na mão, o qual deixou a arma no canto da parede e nesta imprimindo de sangue sua mão ferida. Pelo portão detrás do muro, ainda na mesma casa fugiram os restantes cangaceiros. Abrindo a porteira do curral, pularam a cerca que dá para a vazante e desta ganhararm o rio. Prenderam Manuel Torquato para mostrar o caminho do Sítio dos Nunes.

Pegaram dois cavalos para os baleados. Torquato safou-se, dizendo; - Lá vem a policia! Rumaram eles para o Serrote do Capim ou para a serrinha dos Eustórgios. Atrás deles, saíram alguns mascates de Carnaiba, como Zé Agostinho conhecido por Zé Boa Vista, Elpidio do Velho Brejeiro, os empregados de Zé Martins, além de João Mororó... não os encontrando, nem deles tendo noticia. Também não tinham rastejadores para tomarem a pista. Afora o rifle, peiado com um lenço grande, deixado no beco, foi encontrado, dentro da roça, um bornal com farinha, carne e rapadura, cuja correia partira, de certo, no momento de seu possuidor pular a cerca.

Os cangaceiros, como os militares da policia, não possuíam tática de guerra. Tipico o ataque de Jararaca a Carnaíba. Por isso, o que Ihes faltava em estratagema, sobrava em desmandos e perversidade. Somente Lampião, naquela época no Sertão, sabia usar de tática e que táticas geniais! Mais tarde surgiria seu irmão Ezequiel com pendores táticos, mas prematuramente morto."

Do livro CARNAÍBA, A PÉROLA DO PAJEÚ do escritor Padre Frederico Bezerra Maciel. Fonte:http://meneleu.blogspot.com/

Thiago Menezes do Odisseia do Cangaço é Gente que Faz no Cariri Cangaço Personalidade AO VIVO no Instagram


Temos ao longo deste pouco tempo de estreia de nosso Cariri Cangaço Personalidade; há exatos três meses, na plataforma do Instagram; tido a oportunidade de trazer grandes personalidade do universo da arte e da cultura popular de nosso nordeste, por lá passaram pesquisadores, escritores, poetas, sanfoneiros, músicos, interpretes, produtores culturais, fotógrafos, artesãos e até chef de cozinha , numa autêntica festa da integração cultural que é a marca do Cariri Cangaço.

Para o programa desta segunda-feira, o Cariri Cangaço Personalidade recebe o documentarista e Youtuber sergipano, Thiago Menezes, criador do canal Odisseia do Cangaço, onde periodicamente nos traz recortes da memoria e historia do cangaço em solo nordestino, com destaque para alguns dos principais cenários e personagens desta saga do sertão. 

Manoel Severo e Thiago Menezes

"Para nós do Cariri Cangaço é uma alegria receber no Personalidade; em nosso Instagram; o querido amigo Thiago Menezes do Odisseia do Cangaço, que desenvolve um trabalho espetacular na divulgação dessa saga tão forte e capilar que foi o cangaço, além de tratar-se de um ser humano espetacular, com um talento imenso e um coração gigante, é uma grande honra para nós, sem dúvidas teremos um bate papo super banaca" revela Manoel Severo, curador do Cariri Cangaço.

Pedro Batista, "Madinha" Dodô e o Povo de Santa Brígida Por:Manoel Belarmino

Estátua de Pedro Batista em Santa Brígida

A cidade de Santa Brígida (BA) está a 450 km ao norte de Salvador, capital da Bahia. E não muito distante de nós aqui de Poço Redondo, sertão sergipano. Quem for a Santa Brígida conhecerá a história do conselheiro Pedro Batista tido como santo por muitos sertanejos. O município de Santa Brígida, que vive da agricultura de subsistência, foi adotado pelo conselheiro, como lugar de morada, que já peregrinava pelos estados de Alagoas, Sergipe e Pernambuco e era conhecido pela sua sabedoria, conselhos, curas e por libertar as pessoas dos maus espíritos. Certamente esteve na região de Poço Redondo, Monte Alegre e Carira, e depois Jeremoabo e fixando-se em Santa Brígida.

Os romeiros caminhavam em centenas para Santa Brígida para ver o conselheiro. Sua chegada na cidade data do dia 14 de junho de 1945, e logo correu pelo Sertão, que o conselheiro Pedro Batista estava ali, o que transformou a vida do lugar. Os romeiros vinham com dinheiro para alugar ou comprar propriedades para se instalar próximo a Pedro Batista. Madrinha Dodô foi uma das romeiras de Padre Cícero que se deslocou das terras de Água Branca, em Alagoas, para acompanhar o beato, fazendo trabalhos comunitários e peregrinando por diversas cidades do Nordeste. Aos poucos ela foi conquistando o respeito e admiração da população.

Beato Pedro Batista

Madrinha Dodô foi a grande seguidora espiritual de Pedro Batista, chegando a ser até comparada com a Irmã Dulce. O conselheiro Pedro Batista morreu aos 80 anos, em 11 de novembro de1967. Madrinha Dodô, nasceu em 1902 e recebeu o nome de Maria das Dores, desde cedo, aos 12 anos, começou a seguir Pedro. Ela morreu aos 92 anos, em Juazeiro do Norte e foi sepultada em Santa Brígida.
O povo de Pedro Batista se tornou um grupo grande de peregrinos e romeiros. Pedro Batista andou pregando por diversos lugares dos estados de Alagoas, Pernambuco e Sergipe. Fixou morada no povoado Santa Brigada, hoje cidade, atraindo romeiros e peregrinos dos mais diversos lugares do Nordeste.

"Madinha Dôdo"

No local, estabeleceu-se um arraial formado por seguidores que vinham receber as bênçãos e os conselhos. Mesmo acusado de promover o "fanatismo" religioso, conseguiu com sua influência, distribuir terras para os pobres, instalação de escolas e eletricidade para a cidade.
Muitos sertanejos desta região são devotos de Pedro Batista. Na casinha de rezas e orações de Dona Zefa da Guia, no centro do oratória, entre as imagens do Padre Cícero, do Preto Velho, de Nosso Senhor Jesus Cristo e da Mãe das Dores, está a imagem do Conselheiro Pedro Batista, como santo e exemplo da religiosidade popular sertaneja. Nos tempos atuais, ainda é grande a quantidade de sertanejos e sertanejas que todos os anos caminham para Santa Brígida na Santa Romaria de Pedro Batista e Madinha Dodô.

Manoel Belarmino, pesquisador e escritor,cordelista
Conselheiro do Cariri Cangaço
Poço Redondo-SE

Lampião na Serra Grande - O Maior Combate da História, nos Grandes Encontros Cariri Cangaço


O ano de 1926 talvez tenha sido um dos mais marcantes dentro do ciclo cangaceiro do Rei Cego; Virgulino Ferreira da Silva, vulgo Lampião; destacamos pelo menos dois episódios que por si só, justificam nossa narrativa inicial: A visita a Juazeiro do Norte a convite de Floro Bartolomeu para compor as fileiras do Batalhão Patriótico e sua polêmica "patente" de capitão e o extraordinário combate da Serra Grande, o maior confronto entre as forças volantes e os bandos cangaceiros. Serra Grande, pedaço de chão encravado no sertão pernambucano de Virgulino Ferreira, serra enigmática com seus mais de 900 metros de altitude situada entre os municípios de Calumbi, Flores e Serra Talhada, no famoso Vale do Pajeú. Serra Grande, palco do maior combate que o cangaço de Lampião protagonizou ao longo de seus 20 anos de reinado

Se a visita à Meca do nordeste sob o olhar do santo do Juazeiro, Padre Cícero aconteceu em março, o mais famoso "fogo" de Lampião: Serra Grande, aconteceu em novembro, dia 26 do ano de 1926. O sequestro do representante da Standart Oil Company, o mineiro Pedro Paulo Magalhães Dias, acontecido entre Triunfo e Vila Bela quando Lampião exigia a quantia de vinte contos de réis por seu resgate e o posterior ataque ao sitio Varzinha pelo bando de Lampião, quando perdeu a vida o sertanejo José de Esperidião, seriam o estopim para o mais espetacular combate dentre todas as refregas cangaceiros-volantes: o famoso combate da Serra Grande.

Ali começava a consolidar-se a figura de Virgulino Ferreira como o grande estrategista da guerrilha nas caatingas e carrascais sertanejos. O bando composto por cerca de 100 a 115 cangaceiros subiu a serra e prevendo a persiga de grande força volante em seu encalço, preparou mortal emboscada a partir de sua localização privilegiada, que permitia uma visão completa do campo da batalha.

Com quase dez horas de fogo serrado; com o combate iniciando depois das oito da manha e estendendo-se até o anoitecer, o que se viu foi a ampla vantagem numérica das forças volantes; que somavam quase 300 homens; ser pulverizada pela estratégia cangaceira, boa parte dela referente à extraordinária posição assumida pelo bando. 
 
As forças volantes sob o comando de Higino Belarmino e ainda contando com Arlindo Rocha, Manoel Neto e Euclides Flor acabaram sendo submetidas a um revés histórico com quase 30 soldados entre mortos e feridos. Entre as "vítimas morais" o destaque para o valoroso Arlindo Rocha; que teria comentado que os cangaceiros almoçariam bala e acabou recebendo um balaço no rosto que lhe fraturou o maxilar inferior; e bravo nazareno Manoel Neto, que recebeu balaço nas duas pernas, além do episódio onde Euclides Flor recolocou ainda em combate as vísceras abdominais de Vicente Ferreira, ou Vicente Grande, baleado no estômago, desastre total para as forças volantes, enquanto no bando cangaceiro, nenhuma vítima registrada.


Os números são impressionantes até para aqueles que são afeitos ao estudo do fenômeno: 10 mortos, 14 feridos, quase 300 militares numa sanha desesperada em busca de dar fim a Virgulino com seus mais de 115 cangaceiros; foram cerca de 3 mil tiros em quase 10 horas de combate naquele longínquo 26 de novembro de 1926.

O "pleno êxito" no mais pungente de todos os combates do ciclo do cangaço ainda traria um peculiar e ousado desdobramento, quando no dia seguinte à Batalha da Serra Grande, Lampião, da Fazenda Barreiros, estabeleceu o refém Pedro Paulo Magalhães Dias, como portador de outro marcante e pitoresco episodio da carta endereçada ao então governador de Pernambuco, Dr. Júlio de Melo, com a proposta de dividir o estado em dois:"...Governo o sertão até as pontas dos trilhos em Rio Branco (Arcoverde), e vosmecê daí até a pancada do mar no Recife..." nascia Lampião, o Governador do Sertão...

Para trazer luz à esse episódio; um dos mais extraordinários de toda a história do cangaço; Manoel Severo, curador do Cariri Cangaço, recebe nesta quarta, dia 11 de agosto de 2021 dentro dos Grandes Encontros Cariri Cangaço, os pesquisadores, Lourinaldo Teles; o conhecido Louro Teles, escritor e Conselheiro Cariri Cangaço, autor de "A maior batalha de Lampião: Serra Grande e a Invasão de Calumbi" e Luiz Ferraz Filho, Presidente da Comissão Organizadora do Cariri Cangaço Serra Talhada, para um espetacular programa que promete nos transportar no tempo e no espaço nos permitindo voltar ao mais extraordinário campo de batalha do cangaço.

Antonino Saldanha: Da série “Inquilinos ilustres da cadeia velha e Pombal” Por:José Tavares

Cadeia antiga de Pombal

Fazendeiros do município de Brejo do Cruz, Antonino da Silva Saldanha e seu primo Joaquim (Quinca) da Silva Saldanha, inimigos políticos e pessoais, travavam o mais renhido conflito armado do alto sertão paraibano. Após ter sua Fazenda Palha reduzida a cinzas em consequência de um ataque do inimigo, Antonino decide ir residir no vizinho município de Catolé do Rocha, na Fazenda Santana, distante do seu contendor e próxima as propriedades dos seus amigos e correligionários da família Suassuna. Pouco tempo depois, Antonino junto aos seus asseclas invadem e incendeiam as Fazendas Nova Aldeia, Bom Sucesso e Nova Esperança, propriedades de Quinca Saldanha

Em 27 de maio de 1911, foi a vez de Quinca Saldanha ir à forra, no histórico episódio que ficou mais conhecido como “O Fogo de Santana” ( https://www.liberdadepb.com.br/no-tempo-do-cangaco-quinca-saldanha-x-antonino-saldanha-e-o-fogo-de-santana/). Na manhã daquele fatídico dia, Quinca Saldanha, à frente de um grupo jagunços, invadiu a Fazenda Santana, cercou a casa sede, abrindo intenso fogo, no que respondido pelos ocupantes da casa, que além do próprio Antonino, contava com seis homens de sua extrema confiança. Esta refrega terminou com um saldo de 7 mortos, sendo 2 do lado de Antonino, inclusive um vaqueiro que foi atingido por uma bala perdida, o outro, dizia-se, teria sido morto pelo próprio Antonino que desconfiou de traição do companheiro. Quinca Saldanha saiu com cinco homem a menos, que ficaram estirados sem vida no terreiro do seu velho inimigo.

Quinca Saldanha

Naquela época, as hegemonias política dos vizinhos municípios de Catolé do Rocha e Brejo do Cruz eram disputas por duas forças antagônicas, cujos grupos eram comandados pelo coronel Valdevino Lobo Ferreira Maia e seu primo coronel Francisco Hermenegildo Maia de Vasconcelos (coronel Francisco Maia). Quinca Saldanha e seus irmãos, Benedito e Plinio (Marinheiro), eram ligados politicamente ao grupo do coronel Valdevino Lobo. Antonino Saldanha juntamente com os irmãos Suassuna, liderados pelo influente advogado João Suassuna, que mais tarde vem a ocupar o Presidente do Estado da Paraíba, integravam o grupo do coronel Francisco Maia.

Por conta do “Fogo de Santana”, foram instaurados processos criminais contra Antonino e Quinca Saldanha, sendo que o primeiro foi preso pelo tenente Genuíno Bezerra e, por medida de segurança conduzido para a cadeia de Pombal. Contra Antonino havia ainda outro processo em aberto em Patu, no vizinho Estado do Rio Grande do Norte, por uma tentativa de assassinato naquela comarca, ocorrida em 1908.

O processo contra Antonino Saldanha foi desaforado de Catolé do Rocha para julgamento na comarca de Sousa/PB. A sua defesa foi patrocinada pelos advogados João Suassuna e João Vieira Carneiro O réu foi absolvido por unanimidade, porém, em vez de colocá-lo em liberdade, o juiz determinou que ele fosse transferido para a cadeia de Patu, a fim de responder ao processo que estava em aberto naquela comarca.

Quando Antonino era conduzido para o Rio Grande do Norte, a escolta foi bruscamente surpreendida por um grupo de homens fortemente armados, que resgataram o preso. Esta versão oficial foi contestada de forma veemente pelo coronel Valdevino Lobo. Segundo o coronel, não houve esse ataque. Na verdade, o preso teria sido libertado graças a uma ardilosa tramoia planejada pelos irmãos Pio e Anacleto Suassuna, delegado e subdelegado de Catolé do Rocha, com a conivência do chefe político coronel Maia: “Na ocasião em que Antonino seguia escoltado para o vizinho Estado, em um lugar previamente combinado com a escolta, fugiu tomando um bom cavalo que o aguardava.”

José Tavares de Araujo Neto

Pelo episódio ocorrido na Fazenda Santana, em 10 de julho de 1914, Quinca Saldanha foi submetido a julgamento na Comarca de Pombal, sendo igualmente absolvido por unanimidade. Atuaram na defesa os advogados Cavalcanti Mello e João Vieira Carneiro, que também havia defendido Antonino Saldanha. João Vieira Carneiro (Joca Carneiro) foi presidente da Câmara dos Vereadores de Pombal. Era pai do ex-prefeito e ex-deputado federal Janduhy Carneiro e do ex-governador da Paraíba e ex-senador Rui Carneiro.

Em fevereiro de 1922, quando os cangaceiros, sob o comando de Sinhô Pereira e Ulisses Liberato de Alencar, vieram assaltar a fazenda Dois Riachos, propriedade do coronel Valdevino Lobo, o bando se dividiu estrategicamente em dois grupos, sendo que um deles pernoitou na fazenda Maniçoba, de Pio Suassuna, e o outro na Fazenda Santana, de Antonino Saldanha, ambas localizadas no atual município de Riacho dos Cavalos, na época pertencente a Catolé do Rocha.

O fazendeiro Janduy Suassuna Saldanha, que por duas vezes foi prefeito da Cidade de Riacho dos Cavalos (PB), representa uma prova inconteste boas relações mantidas entre Antonino Saldanha e a família Suassuna, já que ele era neto de Antonino Saldanha pelo lado materno e neto de Pio Suassuna pelo lado paterno, fruto da união matrimonial entre Francisca da Silva Saldanha e Américo Suassuna.

José Tavares de Araujo Neto, Pesquisador - Pombal PB