Dente por Dente, Olho por Olho Por: Bosco André

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Pesquisador Bosco André em foto no Cariri Cangaço 2009


No dia 20 de outubro de 1908, casou-se no Sítio Silvério, nas proximidades da Serra do Mato, quartel general  do Cel. Santana, a minha Tia paterna Maria das Dores André (Dôra) com Martinho Zacarias Gonçalves, tendo sido escolhidos como padrinhos de casamento, o meu tio Raimundo André e o Sr. Antonio Batista Magalhães, cunhado do famoso Padre Manuel Antonio Martins de Jesus (tio dos intelectuais Cearenses Antonio Martins Filho, Fran Martins e Martins de Alvarez), também parente do citado Cel. Santana. 

O meu tio morava em Juazeiro do Norte, onde era comerciante  e  casado com a Sra. Nicolina Nivardo da Cruz (Dona Nicol), prima legítima do Sr. José Geraldo da Cruz, conhecido farmacêutico e que foi Prefeito de Juazeiro do Padre Cícero, por cinco vezes. De Juazeiro ao Sítio Silvério, distam cerca de trinta quilômetros, segundo a tradição da minha família, Dona Nicol, esposa do meu tio, era muito bonita e àquela época os cangaceiros costumavam tomar as mulheres, especialmente mulheres bonitas,  que transitavam nas estradas do Cariri, então o meu tio contratou dois cangaceiros em Juazeiro para  servir de guarda costas e levá-los (ele e a esposa) até o Sítio Silvério residência de seus pais (dele) e ali assistir o casamento da sua irmã, com a recomendação aos cangaceiros, um, por nome de João Alvino: “de que iam para a casa dos seus pais e que não queria qualquer picuinha, ou confusão”. 

Tudo devidamente acertado, seguiram a viagem. No Sítio Silvério, no Oratório de São José,  realizou-se o casamento, sob as bênçãos do Padre Manuel Antonio, em seguida os noivos foram receber as bênçãos dos pais, para depois realizar-se o jantar e  a  festa dançante (meu avô e seus filhos, meus tios todos eram tocadores de viola, armônica (sanfona), cavaquinho, bandolim, eram os animadores das festas, eram os  Gonzagas da época do Cariri). Iniciada a festa dançante na casa do Pai da noiva, Sr. João André, no mesmo sítio Silvério, os casais todos apostos no salão, para dançarem, quando o cangaceiro João Alvino, foi tirar uma dama para dançar e esta recusou-o. 

João Alvino, foi para o canto da grande sala, onde se realizava o baile e colocou o seu rifle portátil nas pernas para atirar na moça que o recusara para dançar. A dançarina alvo do tiro perpetrado por João Alvino, ao ser localizada no meio do salão, foi alvejada, sem contudo o  fascínora  atingir   seu desideratum,  pois no movimento da dança, o tiro veio a atingir ao Sr. Antonio Batista Magalhães, abastado Senhor de Engenho e por outro lado parente próximo do Cel. Santana, que se encontrava do outro lado da sala. Feito o disparo o cangaceiro João Alvino, saltou de costas por cima de uma janela e já caiu de pé no meio do terreiro, foi quando o seu chapéu caiu. 

Juntando-se ao seu companheiro de cangaço que veio de Juazeiro acompanhando ao meu tio e sua esposa, empreenderam fuga para cima da Serra do Araripe. Com o acontecimento acabou-se  a festa e foi levado para a sua casa o Sr. Antonio Batista Magalhães, com um tiro na perna, à altura do joelho, sua esposa Dona Toínha, irmã do Padre Manuel Antonio, recolheu-se a um quarto e disse que o cangaceiro voltava,  às custas das suas orações. E ao amanhecer do dia, o cangaceiro João Alvino, estava a dormir por volta já das sete horas da manhã, dentro de umas leiras de batatas por trás da casa da sua vítima, Antonio Batista. A empregada da casa o reconheceu e veio avisar. O meu tio Raimundo André, foi a pessoa indicada para que abordasse ao cangaceiro, que o acordou  e perguntou-lhe se sabia o que tinha havido na noite anterior?  ao  que foi respondido: “de que, de nada sabia”. 

Mandado um emissário a casa do Cel. Santana, para dar ciência do ocorrido e que o cangaceiro estava ali, O Cel. Santana,  se encontrava viajando, então  veio em seu lugar o seu primo e primo da vítima João Vasques (que segundo os contemporâneos da época, João Vasques, parecia muito com o Cel. Santana), que ao chegar procurou de imediato ao cangaceiro, com quem manteve uma breve conversa e atirou na sua cabeça. João Vasques ao chegar a casa de Antonio Batista, mandou que fosse jogado o corpo daquele cachorro (o cangaceiro) numa grota. O meu tio Raimundo André, foi quem mandou, enterrar o  corpo do infeliz João Alvino e dias depois ao encontrar-se em Juazeiro do Norte, com o companheiro de João Alvino, o outro cangaceiro da viagem ao Sítio Silvério, este, lhe contou o que havia acontecido para a volta de João Alvino, para o teatro da sua morte: “ao chegarem em cima da Serra, João Alvino, disse que ia buscar o seu chapéu, pois não era covarde! tendo o seu companheiro, advertido de que não voltasse, pois ao saírem dali, ouviu pessoas dizendo que o baleado, tratava-se de pessoa da família do Cel. Santana”. 

Prosseguindo a viagem, João Alvino, insistia  em ir buscar o seu chapéu, até que em fim voltou. Deduzindo-se daí pela crendice popular, de que fora as orações da mulher de Antonio Batista, que atraíra o cangaceiro João Alvino, para o seu infortúnio – a morte. Esta narrativa me foi contada  pelo meu pai – José André Gomes (Zeca André), irmão da noiva daquele fatídico dia,  a época meu pai, com 14 anos de idade e estando próximo a João Vasques e a João Alvino, ouviu quando este, disse após a breve conversa com João Vasques: “não faça isso comigo não, Cel. Santana!”, estas foram as ultimas palavras de João Alvino, então o cangaceiro,  morreu achando que ali naquele momento, o seu algoz era o Cel. Santana.    

Bosco André
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4 comentários:

Anônimo disse...

João Bosco André,

As histórias dos bastidores dos nossos coronéis aqui do cariri cearense são ricas em detalhes e com certeza o competente historiador tem feito um trabalho fabuloso em trazer através deste site do cariri cangaço, um pouco de alguma delas, deixando registrado pedaços daquele tempo em que Joaryvar Macedo intitulou "O Império do Bacamarte".

Parbéns pelo belo trabalho.

Professor Audenor Nunes
Fortaleza

Anônimo disse...

Muito bom, esse Coronel Santana , parece tal qual lampião? as coisas aconteciam e ele recebia a culpa???? rsrsrsrsrss
Muito bom, parabéns.
Nivaldo

Anônimo disse...

Caro Pesquisador Bosco André,

Ficamos maravilhados por ter a oportunidade de ler as histórias desses coronéis marcantes de nosso cariri; e como o professor audenor nunes frisou: "O IMpério do Bacamarte" de Joaryvar macedo é a Bíblia para quem deseja conhecer mais a fundo as origens do coronelismo do inicio do século passado em nosso cariri.

Parabens
Dr. Leonel Saraiva
Fortaleza

Anônimo disse...

Prezado Primo Bosco André,

Como você sabe, sou um grande admirador das suas pesquisas, principalmente as que evidenciam fatos da nossa família. A minha mãe, Nilza, sua prima legítima, nunca me falou que no dia do casamento da minha avô (mãe Dôra) tenha havido a morte do cangaceiro. Será que seu pai (tio Zeca André) não contou esse fato para ela? De qualquer forma, parabenizo-lhe por essa grande contribuição à história do nosso Cariri.

Fortaleza, 19/06/2010

Francisco das Chagas SOARES.