Opinião Mossoró Por: Oficio das Espinguardas


Pesquisador Geziel Moura, em seu artigo - Mossoró Fabricou o Cangaço... - "No dia em que Mossoró (RN) demarcou, em sua história, como a principal resistência, norte rio-grandense, ao cangaço, tenho uma tese: “A invasão, frustrada, de Lampião a Mossoró, forjaram outras formas de cangaços lampiônico. Nessa direção, a resistência do povo mossoroense, em termos históricos, não foi a primeira imputada, a grupos de pessoas contra Lampião, um bom exemplo, ocorreu em 15 de maio de 1927 no ataque a, então, Vila de Belém do Arrojado, atualmente Uiraúna (PB). Provavelmente, a condição logística e de defesa, para o povo da vila, era mais frágil do que se configurou em Mossoró, e Lampião não conseguiu seus objetivos, naquele pequeno lugar da Paraíba.

Do ponto de vista pecuniário, mesmo sem receber a quantia de 400 contos de réis, Lampião não saiu do “Projeto Mossoró” com os bornais vazios, pois o que ele acumulou, desde sua entrada no Canto do Feijão (PB), até sua retirada para o Ceará, mostrou que neste quesito, a empreitada foi satisfatória.


Narciso Dias, Geziel Moura, Jorge Remígio e Jair Tavares no Cariri Cangaço

A grande perda de Colchete e, principalmente, Jararaca, não se constituiu, em termos práticos, resistência ao avanço do cangaço nordestino, foi mais um companheiro, cuja reposição viria depois.
Assim, penso o acontecimento de 13 de junho de 1927, como ruptura na história, cujos desdobramentos produziram outros modos de visibilidades do cangaço, não que o discurso, sobre este, tenham mudado, porém, tais discursos, produziram elementos diferentes.

Imagens de uma das trincheiras de Mossoró

Após Mossoró, o cerco a Lampião se intensificou, principalmente pelas volantes pernambucanas, cearenses e paraibanas, o que levou o capitão Virgolino, no ano seguinte, a cruzar o rio São Francisco às terras baianas, inaugurando a chamada, segunda fase, cuja arquitetura do movimento, se diversificou e favoreceu o aparecimento de outro cangaço, dentre os quais, a criação dos subgrupos, a divisão de região para as atuações dos subgrupos, a entrada das mulheres no bando, a intensificação da estética e da arte nos trajes e equipamentos dos cangaceiros, mudanças no “Modus operandi”, precisamente, na formação de rede de informantes e coiteiros, além da maneira de angariar valores, para o sustento da tropa.

Pesquisador Chagas Nascimento


Opinião pelo pesquisador potiguar, Chagas Nascimento: "A resistência de Mossoró, para ser melhor compreendida, tem que se ver por inteira, se olharmos só a meia hora do tiroteio, ela é irrisória em comparação com as outras batalhas. Mossoró em 1927, não convivia com a violência tão comum nos sertões, era uma cidade pacata e que vivia do seu comércio e indústria. Após o ataque em maio de 1927 ao município de Apodi-RN, despertou nas autoridades locais, que esta pacata cidade poderia ser alvo de um ataque igual ao que ocorreu em Apodi. Mossoró não tinha mais que meia dúzia de policiais. 


Aqui, não se tinha o costume do uso das armas. Autoridades procuram o governo do estado, e este nega reforçar o policiamento da cidade. O prefeito se reúne a várias pessoas da cidade, e decidem formar uma comissão, para angariar fundos para compra de armas e munições. Conseguem arrecadar Rs 23:000$000 (vinte e três contos de réis), vão a Fortaleza e lá compram 50 armas (entre fuzis e rifles, e aproximadamente 9.000 munições). 

Após as compras, estas armas e munições, são divididas para ficarem sobre a guarda dos responsáveis dos principais pontos a serem defendidos. Quando se soube da vinda de Lampião para esta cidade, ela já estava preparada para resistir. E isso é que é bonito de se ver, uma comunidade se reunir e, combater o bom combate, contra as forças do mau. Não é à toa, que até nos anos 60, esse dia era comemorado em Mossoró, com feriado programa de rádio com uma novelinha dos fatos aqui ocorrido. E até hoje, no mês de junho, as pessoas se emocionam com a apresentação no adro da igreja de São Vicente, um espetáculo rememorando os fatos. "E viva o Chuva de Bala no País de Mossoró!!!".

Rodolpho Fernandes

Acho que Mossoró foi a gota que faltava para Lampião se escafeder da região. O ataque a Mossoró foi planejado em terras cearenses. Logo após o ataque a Mossoró, o próprio governo do estado do Ceará, começou a perseguir o bando sem lhes dar tréguas. Neste caso, se fechava o último reduto que lhe dava guarida. Paraíba já tinha fechado as suas portas desde o ataque a Souza em 1924, Pernambuco fez uma campanha intensa, pós Serra Grande em 1926. Com Eurico de Sousa Leão fustigando a sua polícia para prender cangaceiros e coiteiros. Diante disso, só tinha uma saída: "Atravessar o Velho Chico". Opina Chagas Nascimento.


Neli Conceição, Sálvio Siqueira e Noádia Costa

Opinião do pesquisador Sálvio Siqueira:"Naquele tempo, em toda e qualquer região produtiva, sempre havia seus líderes, coronéis, que sempre usaram de determinadas artinhas para conseguirem consolidarem seus poderes. Esses líderes, além da participação de pessoas locais, tinha alianças com pessoas fora da própria região. Ao mesmo tempo em que uma parte estava 'por cima', a parte que estava 'por baixo', cogitava e elaboravam planos para tomarem o poder. O plano de saquear Mossoró, nunca que estivera nos neurônios de Lampião. Parte dos aliados fora da região, e com isso, pode ter certeza, juntamente aos aliados 'internos', dentro da redondeza, foram os elaboradores do plano.


Vejo Lampião não passar de uma simples marionete nessa empreitada toda. Acredito que tenha sido escolhido pelo seu desempenho mostrado anteriormente. É dessa forma que noto ao analisar o que aconteceu... fazendo uma análise do anterior ao fato propriamente ocorrido. O jogo foi jogado, as fichas foram apostadas e o resultado, para muitos, não fora o imaginado. Mexeram os cordões, jogaram a isca, e ele, o chefe mor do cangaço, engoliu-a com anzol e tudo. Logicamente que isso não retira o mérito dos defensores. Só não acredito em ser totalmente uma região pacata, sem conviver com os problemas que existiram em toda e qualquer região economicamente 'frutífera', gerando cobiças e invejas aos exploradores.



Lampião e bando em Limoeiro do Norte, retornando de Mossoró

Continua Chagas Nascimemto: "Amigo Sálvio,gostaria de ver nomes citados. A história de Mossoró, não consta homens em armas derrubando quem está no poder. Pelo menos pós século XX. Na época do ataque a Mossoró, a família Fernandes é quem mandavam na política local. O chefe da oposição deveria ser o farmacêutico Jerônimo Rosado. Homem honrado e um pacifista, que sempre se preocupou com o bem de Mossoró. Não conheço, na história de Mossoró, este chefe político belicoso, capaz de botar em risco uma cidade inteira em função do poder."

Fala Salvio Siqueira:"Fica difícil de citar nomes que fizeram parte do complô. no entanto, fica fácil chegar-se a essa conclusão quando vemos sérios estudos/pesquisados, como por exemplo citando Sérgio Dantas, quando o mesmo refere: "(...)Lampião tentava demover o régulo cearense da imprudente empresa. Refutava com veemência a proposta de invasão do Estado e, principalmente, a sugestão de assalto a Mossoró. Temia – por vasta experiência – a “grandeza” da cidade salineira. Compreendia difícil subjugá-la.


O cangaceiro Jararaca, testemunha da conversa, lembrou com fidelidade, dias mais tarde, a resistência de Lampião ao assédio ferino do Coronel Arruda: “Lampião nunca tencionara penetrar nesse Estado porque não tinha aqui nenhum inimigo e se por acaso, para evitar qualquer encontro com forças de outros Estados, tivesse que passar por qualquer ponto do Rio Grande do Norte, o faria sem roubar ou ofender qualquer pessoa, desde que não o perseguissem.”

Honório de Medeiros e Manoel Severo

E continua Sálvio Siqueira: "Honório de medeiros nos mostra isso: "Seus projetos grandiosos de ataque à cidade que ele conhecia muito bem, conversados pelo Sertão paraibano, os mesmos projetos que através de Argemiro Liberato chegaram aos ouvidos de Rodolpho Fernandes, finalmente iriam se concretizar(...)". Ainda citando Honório: "(...)Entretanto se essa participação do Coronel foi circunstancial cabe, agora, perguntar o seguinte: o ataque a Apodi e Mossoró, no espaço de trinta e três dias, foi, também, circunstancial ou havia um nexo entre eles, anterior ao próprio ataque?(...)Quanto à existência do nexo existem os seguintes fortes indícios:

A correspondência de Argemiro Liberato avisando previamente do ataque. O aviso do Coronel Chico Pinto ao Coronel Rodolpho Fernandes após a invasão de Apodi e antes de Mossoró; A menção ao projeto do ataque a Mossoró feito por jornal da cidade; A presença, tendo em vista seu passado, nos dois ataques, enquanto protagonista, de Massilon(...) Se decorrente de um planejamento, então como explicar esse liame entre as invasões? Se o há, necessariamente passa pelo único personagem cuja presença nos dois ataques não foi circunstancial: Massilon. Nesse caso somente a história de Massilon anterior aos fatos pode explicar o ataque a Mossoró. Suas relações, seus antecedentes, sua geografia. Esse é o “x” da questão(...)". Finaliza Sálvio Siqueira.


"O ataque a Apodi, pode ter sido por questões políticas. Mas o de Mossoró, não acredito! Só se alguém me provar, com fatos concretos. E até agora, não conheço nenhum. Os que existem, são conjecturas. Baseado nisso, também faço a minha: se em Apodi foi fácil a rapina, por que não tentar o mesmo em Mossoró, só visando lucros ?! Opina o pesquisador mossoroense Chagas Nascimento.

"Eu só posso citar o que está escrito nas entrelinhas dos livros, e, também, fazer as minhas conjecturas, em cima do que elas me revelam. Não quero aqui dizer que o que está escrito seja a verdade propriamente dita, porém, são as únicas fontes de pesquisas que vi. Mas, o caro amigo, que dai é, deve ter suas razões, e certezas, no que cita. No entanto, como o amigo, eu e outra qualquer pessoa, temos o direito e a liberdade de ter-mos nossa autoanálise sobre os fatos, qualquer que sejam, históricos. Isso confirma-se, quando do comentário acima cito "...É dessa forma que noto ao analisar o que aconteceu...", quando referi 'noto', chamei para mim, expus minha opinião, que muito bem pode estar equivocada, respeitando sempre a conclusão das análises dos outros." Conclui Sálvio Siqueira.


Chagas Nascimento: "No dia seguinte ao ataque, a primeira força que chegou a Mossoró, foi a paraibana. O Sr. Jerônimo Rosado recebe um telegrama de João Suassuna:" - Jerônimo Rosado (20) Mossoró. Patos, 15 - Ciente ter prezado amigo telegrafado capital historiando movimento e agradecendo cooperação nossos contingentes. É pena que não acreditasse em tamanha audácia dos bandidos para ter enviado forças há mais tempo. Também fomos surpreendidos, pois do Ceará vinham informações oficiais, de que quadrilheiros não estavam mais na zona do Cariri. Aceite felicitações pela resistência e salvação dessa bela cidade, tão grata recordação para mim. Abraços (a) João Suassuna - Presidente do Estado"


Debate: Mossoró
Fonte: Oficio das Espinguardas
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