A Fortaleza da Serra Vermelha Por:Luiz Ferraz Filho

Imponente e Histórica Serra Vermelha...

Essa geração de hoje que as vezes pega seus veículos para curtir um final de semana, através da rodovia PE-390 (Serra Talhada/Floresta), não imagine o quanto de historia sobre o cangaço e até mesmo do Nordeste tem às margens desta rodovia. São casas e fazendas com vários logradouros que somente pesquisadores ou familiares dos personagens poderão decifrar em uma longa e boa prosa nos alpendres das casas velhas.

E foi neste intuito que mais uma vez fui visitar esses "templos históricos do cangaço", onde volantes e cangaceiros digladiavam em pleno sol do lendário Sertão do Pajeú. De carro, fiz o trajeto normal da rodovia saindo de Serra Talhada com destino a Nazaré do Pico até chegar em uma placa indicativa com o nome "Serra Vermelha".

 Atualmente nesta casa mora um bisneto do major Joao Nogueira. 
A casa foi reformada recentemente, mas ainda encontramos linhas de madeira queimadas que compõe o teto da casa.

Unico pedaço de madeira (linha) que sobrou do teto da antiga casa apos o incêndio da Serra Vermelha, episodio histórico do cangaço lampionico.

Não há nenhum estudioso do tema que nunca tenha lido sobre este nome. Foi ai na casa velha desta fazenda que nasceu o major João Alves Nogueira (ou João Barbosa Nogueira - filho este de Jose Barbosa Nogueira e Claudiana Maria das Virgens, esta filha de Francisco Alves da Fonseca Barros, da Barra do Exu), personagem crucial nas questões e vindictas familiares que ocasionaram o "ciclo do cangaceirismo". 

Como era filho de um abastado e conceituado fazendeiro, João Nogueira, foi prometido e casou com uma prima legitima de nome, Bevenuta Pereira Nogueira, filha do fazendeiro Manoel Pereira da Silva e Sá (Manoel Senhor, da Passagem do Meio) e Úrsula Alves de Barros (esta também filha de Francisco Alves da Fonseca Barros, da Barra do Exu -  irmã de Úrsula, mãe de João Nogueira). Diante deste entrelaçamento entre Joao Nogueira e Bevenuta Pereira, surgiria uma rivalidade familiar sem precedentes entre os parentes de ambas as familias. Disputa está que seria única e exclusivamente por causa da herança e do espólio do patriarca Francisco Pereira da Silva, fundador do próspero povoado de São Francisco e avô paterno de Bevenuta Pereira, esposa de João Nogueira.

 Gilson Nazaré, Zinho Nogueira, Manoel Severo e o autor, Luiz Ferraz Filho
Luiz Ferraz Filho recebe o Título do Cariri Cangaço das mãos de Ricardo Ferraz

Sabendo que seria duro enfrentar uma questão com os cunhados (Pereiras) por uma maior participação na herança que cabia a sua esposa, o major João Nogueira, se valeu de seus familiares Alves de Barros/Carvalho. Era ele sobrinho do todo-poderoso, coronel Antônio Alves da Fonseca Barros (da Barra do Exu), na época chefe politico da numerosa família Carvalho e que fazia oposição politica a família Pereira. Foi este o ponto-chave da questão.

Por ser o responsável pelas partilhas das heranças deixadas pelo pai (Francisco Pereira da Silva) e pelo irmão (Manoel Pereira da Silva e Sá), o ex-prefeito de Vila Bela (Serra Talhada), Manoel Pereira da Silva Jacobina (o Padre Pereira) seria o alvo principal. Em 16 de outubro de 1907, era ele assassinado em emboscada na Fazenda Poço do Amolar, próximo a vila de São Francisco. O crime recaiu de imediato para o major João Nogueira, como um dos mandantes, dando inicio assim a uma rixa familiar que atravessaria as fronteiras sertanejas.


Saturnino Alves Nogueira (neto de Ze Nogueira - assassinado por Antonio Ferreira 
e bisneto do major Joao Nogueira).  
Atualmente ele reside na casa velha juntamente com a esposa.

Joao Nogueira Neto olhando a Serra Vermelha pela janela da casa aonde seu pai (Luiz Alves Nogueira) e seu tio (Raimundo Nogueira) pularam no terreiro para enfrentar o bando de Lampião com 95 cangaceiros em agosto de 1926. Joao Nogueira Neto (nasceu em 1945) - Filho do sargento Luiz Alves Nogueira, que teve o pai covardemente assassinado em fevereiro de 1926 por Antonio Ferreira. 

Maria do Socorro Pereira Diniz (esposa de Joao Nogueira , este filho de Luiz Nogueira e neto de Ze Nogueira). Dona Socorro vem a ser sobrinha-neta de Sinhô Pereira

Inconformando com a morte de Padre Pereira, um sobrinho dele, Manoel Pereira da Silva Filho (Né Pereira - cunhado de João Nogueira), toma a frente na vingança familiar. Dias depois, ainda em outubro de 1907, são assassinados de emboscada Eustáquio Gomes de Sá Carvalho (primo legitimo de Antonio Clementino de Carvalho - Antônio Quelé) e Joaquim Alves Nogueira (rico-fazendeiro da Fazenda Tabuleiro - irmão de João Nogueira).

Talvez na cabeça de Né Pereira, o assassinato de Joaquim Nogueira foi no intuito de cessar parte dos recursos da família Alves Nogueira, para financiar e sustentar a questão contra eles. Já a morte de Eustáquio foi devido ele ter o mesmo perfil pacifico e de liderança sobre a família Carvalho, tal como Padre Pereira tinha sob a família Pereira.

Balas de fuzil que ficaram após o combate na Fazenda Serra Vermelha , em agosto de 1926, guardadas por João Nogueira Neto (filho de Luiz Nogueira e neto de Ze Nogueira).
A casa velha da Fazenda Serra Vermelha , fica exatamente as margens do Riacho São Domingos,menos de 1 km , da Fazenda Matinha e do Sitio Passagem das Pedras (onde nasceu Lampião). Do outro lado do Riacho São Domingos (bem pertinho da casa velha da Serra Vermelha) existe o cemitério local onde estão enterrados o major João Nogueira e Ze Saturnino (primeiro inimigo de Lampião).  

Lampião havia cercado a casa velha de Ze Nogueira para tocar fogo.
 Os irmãos Luiz e Raimundo na foto acima (já órfãos do pai assassinado por Antonio Ferreira) sustentaram o combate até que Lampião começou a incendiar a casa. Nisso, vendo a casa incendiada, os dois (Luiz e Raimundo) e mais um amigo (Ze Barros) e um morador (Zé Paixão) pularam no terreiro para se salvarem e correram.Ao pular a cerca, Zé Paixão foi ferido mortalmente. 

 Local onde o morador Zé Paixão foi ferido mortalmente após escapar do incêndio na casa velha da Serra Vermelha. 

Capela ao lado da casa aonde estão enterrados Luiz Alves Nogueira e Raimundo Alves Nogueira que combateram o bando de Lampião com 95 cangaceiros .
Parede com as marcas do incêndio de agosto de 1926.

Diante desta questão toda com toda a família Pereira, o major João Nogueira fez de sua casa na Fazenda Serra Vermelha uma "fortaleza de resistência" aos possíveis ataques dos cunhados (Né Pereira, Praxedes Pereira, Luiz Pereira, Quinca Pereira, Zé Menino, Joãozinho Pereira e depois Sinhô Pereira) e demais familiares da numerosa e poderosa família Pereira. Joao Nogueira era cunhado e inimigo mortal de Né Pereira e Sinhô Pereira. E foi justamente nesta casa ao pé da serra que dá o nome da secular fazenda, há cerca de 2 km da rodovia, que sentei no banco velho de aroeira e voltei no tempo onde a honra pessoal estava acima de qualquer sentimento de parentesco familiar.

Luiz Ferraz Filho, pesquisador - Serra Talhada, Pernambuco
FONTE: (LORENA, uiz - Serra Talhada: 250 anos de historia) - (WILSON, Luis - Vila Bela, os Pereiras e outras historias) - (SOBRINHO, Jose Alves - Ze Saturnino: Nas pegadas de um sertanejo).

3 comentários:

Anônimo disse...

Parabéns a esse jovem , que tem gosto em contar o passado de nossa gente! Nem sempre o passado nos orgulha, mas temos que entender melhor o que aconteceu, para ai sim aceitar e respeitar nos antecedentes.
Continue sempre relembrando as grandes historias que marcaram nossas gerações.

Sandro disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

Eu queria telefone luiz ferrais filho historiador