Tempos depois, em conversa com Venancio, disse Mario que, ao ouvir o grito de Sabino previnindo-o para que nada dissesse a policia, teve vontade de correr, mas temeu um tiro nas costas. O grito de sabino foi, de inicio, interpretado como uma ordem para voltar. Venancio fala da existencia, no grupo, de um cangaceiro chamado Criança, que tinha 14 anos de idade, e usava rifle de seis tiros.
Momentos depois da saida de Mario de São, um dos cangaceiros, eram 46 ao todo, trouxe preso o velhoLucio, em cuja casa Venancio se hospedara. Levado a presença de Sabino, declarou haver mandado um menino buscar o cavalo que, segundo informação em poder do bando, era gordo, descansado e ligeiro. Sabino, ao ouvir de Lucio a conversa da ida do menino, chamou-o de velho safado e mentiroso, dizendo-lhe qinda que fosse logo ver o animal, sob de levar umas chibatadas na cara.
Vamos, Seu Lucio, ver o cavalo do homem - disse Venancio, temendo pela sorte do amigo. Em companhia de um cangaceiro indicado por Sabino, seguiram os dois com a missão de trazer o animal. O local não ficava muito longe dfe onde o grupo se encontrava. O cabra que nos acompanhou - explica - era um tipo alto, delgado e vestia uma tunica de oficial da policia. Ia a cavalo, enquanto nós iamos a pé. Quando subimos, a capoeira era grande. Depois vinha o carrasco. Aqui e acolá uma moita no meio da caatinga. Foi aí que me veio a ideia salvadora: Olhei para o cangaceiro e disse: moço, alem do cavalo que seu Sabino mandou ver para o capitão, existe outro mais adiant, tambem bom e descansado. "Se estiver mentindo cabra safado eu te mato". Venancio jogava a ultima cartada com a historia de um cavalo que só existia em sua imaginação. Mas como evitar que o cangaceiro fosse atélá? Parecia impossivel. Veio-lhe a vontade de segurar no cabeçote dp animal do cangaceiro e derruba-lo da sela e depois fugir. Mas o bando estava perto.
Minutos depois chegava o menino com o cavalo, comprovando que de fato o velho Lucio havia falado a verdade. Empolgado com a beleza do animal, após ouvir a expressão: Este é o cavalo que o capitão preferiu, o cabra mandou Venancio ver o cavalo imaginario, levando o outro pela corda para mostrar ao chefe. Um episodio acorrido antes da decisão do cangaceiro: Venancio olha para o velho Lucio e diz baixinho: Seu Lucio, eu vou fugir. Eu não volto mais aqui. Daqui não vai escapar ninguem. Venancio, não faça isso, que eles me matam. Cala a boca que o cabra vem aí.
Voltando a falar sobre a fuga, disse Venancio: Enquanto o cabra ia seguindo com o cavalo eu ia andando de costas, em sentido contrario. Vendo que ele não olhava, fui pulando de moita em moita, pois conhecia a serra como a palma da minha mão, até que alcancei o carrasco. Nem vaqueiro bom me pegava. O coração batia como se quisesse saltar. Aqui e acolá era surpreendido com barulho no mato e me escondia pensandoserem os bandidos. Eram reses pastando.
As duas da tarde alcancei a estrada que demandava a Jardim. A essa altura já me encontrava a salvo do famigerado grupo. Mesmo assim me assustava com qualquer barulho. Só penetrei na estrada bem perto da cidade. O itinerario maior foi vencido dentro domato bravo, cansado, suado, com fome e com medo.
Mario de São percorreu todocomercio de jardim e não canseguiu reunir os cinco contos de reis. Era muito dinheiro para aquela epoca. Apelando para familiares de Vieira que moravam proximo da cidade, completou a importancia do resgate, que não foi entregue, pois, ao chegar em Caririzinho, o grupo já havia batido em retirada, depois do insucesso do cerco de Ipueiras dos Xavier. No meio do caminho, Lampião, duplamente revoltado - os cinco contos de reis não recebidos e o malogro de Ipueiras, matou perversamente o fazendeiro Pedro Vieira, que não teve, como os seus companheiros, inclusive o velhoLucio, a sorte de escapar com vida da furia insopitavel do famoso Rei do Cangaço - Capitão Virgulino Ferreira da Silva.
Antônio Morais
Blog do Sanharol
.
NOTA CARIRI CANGAÇO: O companheiro Antônio Morais é uma figura inigualável; um dos melhores contadores de história que conheço; conduz como ninguém um dos blogs mais simpáticos de nossa região, o "blog do sanharol", nitidamente uma grande sala de estar onde se reunem os muitos filhos, amigos e admiradores da emblemática Várzea Alegre. Ao amigo Morais, o abraço da família Cariri Cangaço.
.
.
NOTA CARIRI CANGAÇO: O companheiro Antônio Morais é uma figura inigualável; um dos melhores contadores de história que conheço; conduz como ninguém um dos blogs mais simpáticos de nossa região, o "blog do sanharol", nitidamente uma grande sala de estar onde se reunem os muitos filhos, amigos e admiradores da emblemática Várzea Alegre. Ao amigo Morais, o abraço da família Cariri Cangaço.
.
3 comentários:
Amigo Severo:
Quando eu fiz a primeira postagem, ainda não tinha visto a segunda parte. Mas logo em seguida foi que a encnotrei.
Ótima história, muito bem detalhada.
Seu Antonio Morais está de parabéns! Valeu e como valeu!
José Mendes Pereira - Mossoró-RN.
Amigo Antônio Morais,um belo texto sobre Lampião e seu cabras da peste. Confesso que, na verdade, nunca fui um apaixonado pelo Rei do Cangaço, mas entendendo que ele teve lá suas razões para reagir contra as autoridades da sua época.
Abraços do amigo de sempre,
Raimundo Nonato Rodrigues, o paraibano.
Parabens - excelente trabalho.Alfredo Bonessi-GECC-SBEC
Postar um comentário