A construção discursiva de personagens históricos Por:Wescley Rodrigues

Wescley Rodrigues

Mais uma vez vem a baila o livro do ex magistrado Pedro de Morais, intitulado “Lampião, o Mata Sete”, que afirma ter sido o “Rei do Cangaço” um homossexual que viveu um triângulo amoroso e uma relação de fachada com Maria Bonita e Luiz Pedro, seu lugar tenente. As opiniões a cerca da obra são acaloradas, uns criticam, outras tratam-na com ar jocoso, e ainda há aqueles que a demonizam na tentativa de criar uma barreira para que os leitores não tenham acesso a tal produção. A priori deixo claro que não estou aqui para fazer uma defesa do livro em questão, mas para propor um novo olhar que historicamente, sociologicamente e antropologicamente estamos esquecendo, ou não queremos tirar as nossas vendas do comodismo para vislumbrá-la.

Primeiramente é bom salientar que sou completamente contrário a qualquer forma de censura a livros, vivemos em uma sociedade e estado democrático de direito, na qual a liberdade de expressão é princípio elementar que depõe a favor da dignidade da pessoa humana. Só porque um livro vai contra os nossos princípios ou as ideias que temos como verdadeiras, isso não nos autoriza a censurá-lo, pois ao fazermos tal, não estaremos longe do que fez a Igreja Católica com a sua lista de livros proibidos, ou a ditadura militar brasileira que impediu a circulação de toda obra que atentasse contra os seus princípios distorcidos de sociedade.


Não li na integra a obra do referido escritor, haja vista diretamente não poder criticá-lo ou elogiá-lo, mas confesso que pretendo ler, ao contrário da repulsa que alguns amigos pesquisadores do cangaço estão tendo com a obra, pois acredito que só através de uma minuciosa leitura é que estarei gabaritado para fomentar e construir as minhas análises de forma consistente sobre o escrito.

Mas para não me alongar na ideia apresentada, trago ao foco uma questão importante, essa diz respeito à fabricação dos personagens históricos. Antes de Lampião e seus cabras serem protótipos do Nordeste ou da sua dita masculinidade, cabras machos, de fibras, eles são produtos e sujeitos históricos. Como sujeitos históricos são fabricados, construídos, mediante discursos e narrativas. Falo isso por não acreditar em uma verdade histórica, mas uma verossimilhança, uma interpretação autorizada pelos documentos de um passado que já foi, o qual não poderemos resgatá-lo, somente interpretá-lo, representá-lo, mediante os vestígios que chegam ao presente. Essa é uma concepção que atenta de frente contra a teoria positivista de história que ainda vigora na atualidade.


Por ser uma figura histórica que é ditos por um corpus escriturário, Lampião é essa figura que congrega discursos, representações. O livro do Pedro de Morais ajuda-nos a entender um pouco dessas facetas narrativas que os mitos em torno das figuras históricas constroem. Esses são discursos que trazem em si a marca de seu lugar de produção. Por isso, conclamo os amigos a lerem a obra “Lampião, O Mata Sete”, não como um livro de história no sentido positivista, mas, como diriam os teóricos da história francesa, uma vertente de resignificação de personagens históricos a partir de propagandas de épocas distintas, uma página de entendimento de como a fabricação de um mito envolve polêmica e opiniões nem sempre comprováveis, mas que vão tornando-se válidas a partir de sua resignificação simbólica e infiltramento no imaginário e cultura histórica. Tal fabricação de personagens se deu com Napoleão, Hitler, Jesus Cristo, Delmiro Gouveia, Antônio Conselheiro, Padre Cícero, e tantos outros personagens históricos.

Acredito na necessidade de se abri um espaço no Cariri Cangaço 2012 para se debater tais questões fazendo um paralelo com o livro abordado há pouco.

Prof. Ms. Wescley Rodrigues
Sócio da SBEC
Sousa - PB  

11 comentários:

Aderbal disse...

Meu polêmico e amigo Wescley, sou seu admirador de carteirinha.
Bem. Posso concordar mas discordando. Por que?
Quem sabe vou escrever um livro sobre 10 ex-cangaceiros que o Cariricangaço levou para o Cariri na sua segunda edição. Nesse livro esses ex-cangaceiros narram fatos desconhecidos do grande pùblico.
Somente coisas polêmicas.
Bem. Quem esteve la saberà que e uma grande mentira certo.
Porem quem não esteve vai comprar com gosto de gàz pra ler estòrias ate então desconhecidas.
É eu vou ganhar holofotes e uma boa grana em cima dos desavisados " pra não dizer outra coisa "
Amigo, e so o meu ponto de vista.
Obs. Deu certo os videos?
Aderbal Nogueira

Anônimo disse...

Olá pessoal.

Devo confessar que gosto muito do trabalho do amigo Wescley. Mas quero dizer que li com muita atenção o livro do "homem de Aracaju". Confesso que não consegui achar um fundamento sequer, onde se possa firmar para chegar as conclusões que chegou o autor. Quem ler o tal livro, facilmente vai perceber que o autor não tem o menor conhecimento sobre a história de Lampião.

Abraço a todos.

Sabino Bassetti.

José Lima Dias Júnior disse...

Prezado Wescley,

O seu artigo é de uma grandeza reflexiva e maturidade intelectual que me chamou atenção. Como você aponta a "resignificação de personagens históricos" é algo imprescindível para a compreensão do universo do cangaço. Avante!!!

Prof. José Lima Dias Júnior

Julio Cesar disse...

Amigos

Além do pouco ou nenhum fundamento, as citações de autores, reconhecidamente, conhecedores do cangaço e, particularmente, da saga lampiônica, estão todas fora de contexto, tentando ratificar uma opinião exclusiva do autor desse livro.
O capítulo sobre Maria Bonita é uma aberração. Com a palavra o amigo João de Sousa Lima.

Julio Cesar disse...

Caro amigo Wescley
Voce deve ler esse livro, embora eu tenha certeza, conhecendo sua capacidade acadêmica, que vai se decepcionar.
Primeiro, pela ausência das correções ortográficas, gramáticas e, principalmente, de estrutura do texto.
Segundo, pela forma com que o autor insere as citações dos grandes escritores, distorcendo as frases para o sentido que ele deseja, claramente fora do contexto.
Terceiro, mas me referindo à estrutura do texto, há capítulos onde o referido autor torna-se completamente prolixo, inserindo assuntos totalmente desconexos.
Quarto, as deduções que o autor elabora, são contraditórias com o pouco da história do cangaço que eu conheço, pois o autor faz várias afirmações, como a covardia e a homossexualidade explícita (segundo ele) de Lampião. Ora, será que homens como Corisco, Zé Baiano e outros não menos famosos, seriam temeriam e seriam liderados por um chefe covarde e afeminado, naqueles tempos?
Ele, também, afirma que Lampião e seu bando estavam pobres nos últimos anos do cangaço.
Bom, resta agora aguardar a sua leitura desse "livro".
Grande abraço
Julio Cesar Ischiara

Anônimo disse...

Muito bom o texto do Prof Wescley. O direito que temos de ler aquilo que desejamos e principalmente, escrever o que pensamos, impõe uma boa dose de responsabilidade. Pobres são os que em pleno século XXI, continuam sem essa possibilidade. O Cariri Cangaço seria atrofiado se não tivéssemos acesso a internet.

C Eduardo

Anônimo disse...

Amigo Wesley, livros deste tipo não merecem comentários de uma pessoa do seu nível.

Anônimo disse...

Wescley, livros deste nível dispensam comentários.

Robson Tavares disse...
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Anônimo disse...

Caro Amigos e Caro Prof. Ms Wescley Rodrigues,

Permita-me participar do debate impondo-me o imponderável quanto a sua opinião.

1. Reafirmo a liberdade de expressão é um VALOR que construímos às duras penas - passados inglórios - não se trata de censura a qualquer texto ou pessoa - há a necessidade de também de se restaurar a verdade acerca da conduta real das pessoas e personagens da nossa história. A esfera judicial é o mecanismo para dirimir desavenças, inclusive as de caráter MORAL. Se não existisse estaríamos irremediavelmente à mercê dos ventos e das invenções de qualquer um sem limitações. Censurar jamais, concordo. Restaurar a verdade moral das pessoas e famílias ultrajadas por quem quer que seja, buscando o amparo legal, recomendável sempre será e garante dirimir o limite de nós todos.

2.Para quem está distante fisicamente da área de atuação do cangaço de Lampião, talvez valha a opinião porque, diferente de sua opinião, acredito na VERDADE HISTÓRICA. Afinal ainda são fatos muito presentes na memória dos sertenejos mais idosos e descendentes - contando o período de 1918 a 1938 - são 94 e 74 anos respectivamente até o ano presente.
Venha conviver alguns dias com esse universo social e você entenderá o que afirno. Para os pesquisadores que buscam somente as 'representações' ai sim valem as verossimelhanças.

3.Gostaria sinceramente de entender sua aprente contradição: "a priori deixo claro que não estou aqui para fazer uma defesa do livro" e mais adiante "Por isso conclamo os amigos a lerem a obra 'Lampião, O Mata Sete'....não como um livro de história, mas, uma vertente de resignificação de personagens históricos ...... opiniões nem sempre comprováveis, mas que vão tornando-se válidas....

Cabe uma reflexão simples: se não faço a defesa de algo então como posso conclamar o seu conhecimento e mais concluir que esse algo vai se tornando válido?

Penso que a minha discordância com a sua opinião é profunda. Tanto no sentido histórico-sociológico-antropológico como no MORAL, ÉTICO E FILOSÓFICO, e porisso reitero a necessidade da RESTAURAÇÃO DA VERADE.

Voldi Ribeiro
Sociólogo e Pesquisador.
Paulo Afonso-BA

Anônimo disse...

Amigo Voldi,

Inicialmente agradeço as suas palavras, elas enriquecem o debate.
Pois bem, vamos aos fatos.

Acredito que fui mal interpretado quando falei a respeito da leitura do livro. Não defendi o livro do Pedro de Morais, haja vista, apesar de não acreditar em uma VERDADE, tenho como pilar de sustentação da minha concepção de História, antes de tudo, as informações que os vestígios documentais podem nos deixar de um passado.

No entanto, quando falo que não acredito na verdade histórica, estou dizendo que o passado no seu todo não tem como ser resgatado, esse só nos chega pelas migalhas do tempo, sendo eles repletos de silêncios, ausências e, por vezes, invencionices.

O intuito ao escrever sobre o livro “Lampião, o Mata Sete”, foi o de tentar propor uma releitura da obra, tanto é que afirmo que façam uma leitura não de um livro de história. Caro amigo, como sabes, os personagens na história, principalmente os que estão em processo de mitificação, estão envoltos por inúmeras narrativas contraditórias, e todas elas pretendem dizer algo sobre o mito, construí-lo, de acordo com suas verdades ou o lugar social de sua produção.

Confesso não acreditar no triângulo amoroso e na homossexualidade de Lampião, acho, até que me provem o contrário, que não se tem documentos que cheguem para provar tal coisa de forma categórica, podendo só ser levantado hipóteses simplórias.

Aos familiares cabe realmente o direito pleno de zelar pela moral de seus antepassados, como legalmente se está respaldado na letra da lei.

Quando escrevi o texto não foi um olhar de fora para dentro do Nordeste, mas um olhar de um “caboco” nascido e criado nas brenhas de Cajazeiras – PB.

Reafirmo a minha descrença em uma verdade histórica, essa só havendo na perspectiva positivista ou nos pensamentos, por vezes ultrapassados e que não dão conta de toda a vida social, do grande Émile Durkheim. Ao contrário do que achas, o mundo é uma representação, estamos constantemente construindo essas, elas que vão dando sentido a vida social.

Mas o fato de não haver uma verdade histórica, não nos gabarita a conjecturar sobre o passado a partir de nossa mera imaginação. A verossimilhança que falo deve ser baseada em documentos, documentos que sejam questionados, problematizados e dignos de fé. O respeito aos documentos e esses como mola mestra dos estudos do passado deve ser preservado acima de qualquer concepção teórico-metodológica.

Saudações cangaceiras.

Prof. Ms. Wescley Rodrigues
Brasília - DF