Archimedes Marques, Alcino Costa e Elane
Você deixou tudo a tua
cara
Só pra deixar tudo
Com cara de saudade. (Alice Ruiz)
O que chamamos de morte e que na verdade é apenas o
desencarne, o fim da vida terrena, é um caminho inevitável. Temos todos, um dia
ou outro, hoje ou amanhã, próximo ou mais demorado, de uma forma ou de outra, que
viver isso. Não porque é uma fatalidade do destino, mas porque faz parte da
vida desde que a nossa vida se faz vida. Mas o que sempre esperamos, torcemos e
pedimos ao Criador é que os bons, aquelas pessoas ILUMINADAS que só fazem o bem
ao seu semelhante durem mais tempo, sobrevivendo aos maus.
Assim cada um de nós vive, mesmo se de maneira
dolorosa igual, de um jeito diferente as diferentes perdas pelas quais temos
que atravessar, embora saibamos muito bem que dessas perdas ficam os seus
exemplos, positivos ou negativos.
E mesmo quando o tempo consegue aplacar essa dor, estancar
esse dissabor, sempre fica dentro da gente aquele sentimento indecifrável de
vazio junto com a saudade, sensações que perduram até chegar a nossa hora, então
passando tais sentimentos para os nossos amigos que também chorarão por nós,
caso mereçamos, e assim sucessivamente. É a vida daqueles que sobrevivem a vida
dos seus amigos, dos seus entes queridos.
Rostand Medeiros, João de Sousa, Lily, Dr. Ivanildo, Juliana Ischiara e o Mestre Alcino em noite de Cariri Cangaço.
Absoluta certeza tenho que não somente eu sinto
essas sensações com a perda do amigo ALCINO ALVES COSTA, mas também centenas de
outras pessoas, pois o CAIPIRA DE POÇO REDONDO (como ele próprio carinhosamente
gostava de ser chamado) sem dúvida alguma foi um homem ILUMINADO que
bem soube iluminar a todos que o cercavam, uma pessoa abençoada por Deus que irradiava
e continuará na saudade irradiando luz, irradiando alegria, irradiando paz,
irradiando harmonia, também irradiando determinação, irradiando a coragem do
bravo sertanejo. Alcino é desses abençoados amigos que para sempre ficam
guardados “debaixo de sete chaves”, pois além de tudo ele abençoava os seus
amigos com a sua áurea desprovida de qualquer maldade. As diversas homenagens e
eloquentes mensagens de despedidas desprendidas por seus amigos no cortejo funeral
ocorrido no seu querido Poço Redondo são inequívocas provas de tudo isso que
falei. Um amigo que bem soube plantar, regar e colher uma grande legião de
amigos.
Poço
Redondo, encravado nesse nosso sertão sergipano, na escaldante tarde desse dia
02/11/2012 (coincidentemente o dia dedicado aos mortos) chorou as suas lágrimas
de pesar desde a sua residência nas primeiras horas, a Câmara de Vereadores, a
missa de corpo presente na Igreja da Matriz, a Prefeitura até chegar ao
Cemitério local da cidade em verdadeira romaria de amigos, provando e
comprovando o quão querido era e continuará sendo o poeta, compositor, escritor,
pesquisador e historiador ALCINO ALVES COSTA, para mim e com certeza para a
grande maioria daquele povo, até então, A MAIOR PERSONALIDADE NASCIDA NAQUELAS
TERRAS.
Ana Lúcia e Alcino Costa
Da missa de corpo presente, além das eloquentes falas dos seus amigos, uma passagem ficará para sempre guardada na minha memória: uma rosa amarela brilhante e ensolarada retirada do nosso singelo buquê e repassada às minhas mãos pela minha companheira Elane Marques, cuja cor específica evoca sentimentos de calor, respeito, alegria, felicidade e amizade, depositada por mim sobre o caixão então fechado onde jazia o corpo do CAIPIRA DE POÇO REDONDO, rosa essa que também continha nas suas pétalas gotas das minhas lágrimas, notei como bom observador, que colocaram-na para dentro dessa urna funerária assim que fora aberta na própria igreja quando da bênção final com os Asperges sagrados de água benta realizados pelo Pároco local. Dessa minha simples homenagem e das suas conseqüências senti-me agraciado pelas circunstâncias em ver aquela rosa amarela a seguir junto com o corpo do amigo Alcino em direção ao seu descanso final.
Não
só os seus parentes e amigos, mas também a cultura sergipana, nordestina e
brasileira perde um grande ícone. O sertão perde uma imensa parte da sua
identidade. O movimento CARIRI CANGAÇO jamais será o mesmo sem a presença do grande
amigo de todos os seus componentes. A história do cangaço que sem dúvidas é das
mais legitimas expressão da nossa cultura, da cultura do nosso querido Nordeste,
deixa de ter em “vida matéria” dos seus maiores historiadores, embora as suas
obras, os seus legados, os seus escritos, os seus pensamentos, os seus
entendimentos, os seus ensinamentos vivam para sempre. Com toda certeza daqui a
centenas de anos ainda estarão citando ALCINO ALVES COSTA como fonte de
informação, pois as águas bebidas das suas fontes e também oferecidas ao
público foram águas de fontes saudáveis e não envenenadas, águas de fontes
puras e cristalinas, águas das fontes de um verdadeiro CABRA-MACHO SERTANEJO
que de tudo deixou a sua cara e com isso deixou tudo com cara de saudade como
bem diz a escritora e poeta Alice Ruiz no preâmbulo acima citado.
Ser
um desses amigos de Alcino, para mim foi um dos maiores privilégios, uma
verdadeira honra. De Alcino só me resta eterna gratidão por também fazer parte
da sua legião de amigos.Que
você seja bem sucedido também na sua nova morada amigo ALCINO ALVES COSTA e que
o seu exemplo de vida ensine os bons a ser melhores!
Archimedes
Marques,
Delegado de Polícia no Estado de Sergipe e também escritor do cangaço.
archimedes-marques@bol.com.br
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