A Invasão de Lavras por Quinco Vasques

Quinco Vasques ao centro de seus 10 filhos, na Carnauba dos Vasques

A espetacular programação do Cariri Cangaço - Edição de Luxo - Ano V em Lavras da Mangabeira, estava apenas começando. Ao final da tarde daquele 24 de setembro de 2015 a caravana seguiu sob o comando dos pesquisadores Cristina Couto e João Tavares Calixto Junior, para visitar os principais cenários da Invasão de Lavras pelo "Bravo Caririense" Quinco Vasques, de tradicional família do ramo dos Terésios de Missão Velha, isso em 1910.

"No amanhecer de sete de abril de 1910 o centro da cidade de Lavras da Mangabeira, no Centro-Sul cearense, era invadido por cangaceiros comandados por Joaquim Vasques Landim, o Quinco Vasques. Era político o intento, e como alvo, o mandão provisionado do feudo de Dona Fideralina – o Coronel Gustavo Lima. Não são muitos os relatos literários que atentem com riqueza de detalhes a este objeto, e ao presente trabalho, interessa uma tentativa de interpretação através do comparativo de duas versões díspares, principalmente. Nas páginas de O Rebate, periódico que circulou no Cariri entre julho de 1909 e setembro de 1911, nota-se uma destas versões, assegurada por seu redator principal, o Padre Joaquim de Alencar Peixoto. No jornal, uma série de cinco artigos atribui aos coronéis do Crato, inimigos declarados do Pe. Peixoto, participação crucial no evento. A outra versão apoia-se em autos de inquérito e em depoimentos do próprio Quinco Vasques, assim como de testemunhos e atenta à participação dos deportados de Aurora junto aos inimigos políticos lavrenses, próprios parentes do Cel. Gustavo, a fim de expulsarem-no, à bala, do poder municipal. Este episódio configurou-se como um dos de maior repercussão no cenário coronelístico do Nordeste do Brasil, à época, não só pela tentativa de deposição, propriamente, mas pela audácia na violação da predominância política estabelecida pela matrona Fideralina 
e o clã dos Augustos."   
Calixto Junior estabeleceu cinco paradas dentre as mais importantes que nos levariam ao episódio marcante de 1910. Em primeiro lugar, ainda fora do centro de Lavras fomos ao Trevo que divide os municípios de Lavras, Aurora e Caririaçu, de onde partiu Quinco Vasques com um razoável grupo de 50 jagunços e cangaceiros. Dali partimos para o Sítio Outeiro onde Quinco Vasques pediu que fossem redigidos dois bilhetes, "um para o Coronel Gustavo Augusto e outro para a polícia local". No Oiteiro o grupo de invasores já somavam mais de 100 homens em armas.

Numa terceira parada, agora já dentro da cidade, no "Beco da Igreja" a confraria Cariri Cangaço, sempre sob a orientação de Calixto Junior, conheceu o local das primeiras trincheiras e o local onde se fez a única vítima do inusitado episódio. Quinco Vasques comandou seus homens subindo pela Igreja e percorrendo os becos do centro até chegar a Casa dos Augusto, primeiro a casa de Dona Fideralina, que se encontrava no Sítio Tatu e depois prosseguiram em combate para a casa do principal protagonista da defesa, coronel Gustavo Augusto.

Primeira parada no Trevo de entrada de Lavras
Calixto Junior e Manoel Severo
 Caravana Cariri Cangaço na segunda parada no Oiteiro
 Terceira parada no "Beco da Matriz"
 Antônio Tomaz e Aderbal Nogueira em frente a Casa de dona Fideralina
Última parada: Casa do Coronel Gustavo Augusto

"Joaquim Vasques Landim, o Quinco Vasques ou Quinco Vasco. Nascido em 1874, aos 5 de janeiro, no sítio Santa Teresa (Missão Velha), veio casar-se em 1893, aos 9 de novembro, com Maria da Luz de Jesus (Marica), de 20 anos de idade, nascida no Sítio Olho d'água Comprido, do referido município. Depois de casado, Quinco Vasques deixou Santa Teresa, indo residir no sítio Tipi, em Aurora, onde foi vaqueiro de seu parente José Antônio de Macêdo (Cazuza). Morou, depois, nos sítios Boca das Cobras, em Juazeiro do Norte, Bico da Arara, na Serra de São Pedro (Caririaçu), e Passagem de Pedras, confinando-se este com o de Santa Teresa, seu local de origem."  

Quinco Vasques

"Vasques realizou diversas proezas. Questionou com os poderosos de Missão Velha, Isaías Arruda e Sinhô Dantas, sem objeção. Juntamente a três filhos, dentro de um vagão de trem, defrontou o temíveis Paulinos, de Aurora, que o haviam jurado para um primeiro encontro, mas retrocederam.  Todavia, nada se compara ao evento de 7 de abril de 1910, em Lavras da Mangabeira. Com efeito, Quinco Vasques abalaria as estruturas de uma das mais fortes oligarquias do Nordeste, até então, exclusivamente por eles próprios deturpada. Teria sido Joaquim Vasques um jagunço ou algum tipo de facínora? Seria Vasques um mercenário, ou apenas um aventureiro? Teria sido um herói regional, ou meramente alguém que, pelos repetidos atos de destemor, ganharia fama de bravo, tão somente?"


Caravana Cariri Cangaço no Sítio Outeiro em Lavras da Mangabeira

Depois de percorrer os principais cenários da invasão a Caravana Cariri Cangaço foi recebida no gabinete do prefeito municipal de Lavras da Mangabeira, Dr Tavinho Bisneto, onde foram apresentadas armas e outros artefatos pertencentes ao seu Bisavô, coronel Gustavo Augusto Lima. Do gabinete do Paço Municipal a confraria Cariri Cangaço se deslocou até a Câmara Municipal onde participou de Conferência, Debate e Lançamento do Livro de Calixto Junior "Considerações sobre a Invasão de Lavras em 1910.

Prefeito Tavinho Augusto e Manoel Severo
Veridiano Dias e o bacamarte de Coronel Gustavo Augusto

A solenidade marcou também a entrega de Títulos de Amigo do Cariri Cangaço aos pesquisadores; José Sabino Bassetti de Salto, São Paulo; Alcides Carneiro de João Pessoa, Paraíba e Reclus de Plá de Santana de Duque de Caxias, Rio de Janeiro, além do conferencista da noite, pesquisador e escritor João Tavares Calixto Júnior.

 Secretária de Cultura Cristina Couto
 Manoel Severo
Câmara Municipal de Lavras da Mangabeira
João Tavares Calixto Junior , a Conferencia e Título do Cariri Cangaço
Fátima Cruz entrega Diploma Cariri Cangaço ao pesquisador Sabino Bassetti
 Geraldo Ferraz entrega Diploma ao pesquisador Reclus De Plá de Santana
Oleone Coelho Fontes entrega Diploma ao pesquisador Alcides Carneiro

"De acordo com o processo faziam parte do grupo armado de Quinco Vasques, dentre outros, os seguintes: Fenelon Carneiro Guerra, José Lino Simões, Vicente Maurício, Tremeterra, Matias de Tal, Belo Fernandes (vulgo Belinho), Pedro Calangro, Manoel Mouco, João Marreca, José Terto, Antão de Tal, Joaquim Gonçalves, José Cornélio, João Mariano, José Rosa, João Paulino, Ildefonso de tal, Joaquim Jardim, Antônio Sabino, Antônio Rosa, Josino (filho de Antão de tal) e Zezé. Ao término da luta, constatavam-se na turma de Vasques, alguns feridos, ao passo que do lado de Gustavo, tombara sem vida o subdelegado local, Possidônio Faustino.   

Contam alguns lavrenses, mais em dia com os acontecimentos da terra, que o referido Possidônio Faustino, que também guardava fama de jagunço ou cangaceiro, recebera tiro de rifle na testa, durante a refrega. Afirmam que a primeira trincheira, teria sido erguida nas proximidades do beco da Matriz, e que os cangaceiros Carneiro, Vicente Justino, Bodega e os Leandros, todos do grupo de Gustavo, aguardavam a tropa de Vasques, de prontidão, junto a Possidônio. Informam ainda, que o referido Bodega, que ladeava o subdelegado Possidônio durante o tiroteio, avisava sobre o risco que aquele corria ao atirar e depois, erguer-se numa tentativa curiosa de conferir o resultado. A cada tiro dado pelo militar, observava atento um dos cangaceiros de Vasques, que, no minuto propício, acertou-o de fronte à face. Do centro de Lavras, depois de recuado o bando, rumou Joaquim Vasques com o grupo ao Sítio Calabaço, no riacho do Rosário, cujos proprietários, à época o Capitão Joaquim Lobo de Macêdo e Maria Joaquina da Cruz, lhes eram parentes. Atente-se ao fato de que a esposa de Vasques, Maria da Luz de Jesus, era prima legítima da referida Maria Joaquina da Cruz.  Na casa do engenho, onde os feridos receberam curativos, descansou e alimentou-se o batalhão, enquanto na casa-grande, repousava o chefe . Tornou-se providencial a casa grande no Calabaço já que a investida, sofrivelmente praticada, fracassou e o percurso de volta seria longo. O malogro do ataque teria de ser fatal por deficiência de planejamento. O contingente foi inexpressivo (cento e cinquenta homens), calculadamente, enquanto não se ignora que, nos casos de deposições, algumas centenas eram organizadas. Na de Totonho Leite em Aurora, por exemplo, arrebanharam-se cerca de seiscentos. Além disso, os atacantes já chegaram fatigados, tendo perfeito a jornada a pé, tirando mais de uma légua por hora [9]. Considerem-se, ainda, a insuficiência de munição, bem como os preparativos para a resistência e defesa dos atacados, sem se falar no reforço policial que se aproximava da cidade ao ensejo da debandada. Refeitos da fadiga, reestabelecidas as forças no sítio Calabaço, retornou Quinco Vasques com seus homens, a Caririaçu, tendo alguns se dispersado no trajeto."  

Trechos dessa postagem, em grifo vermelho: Passagens do Livro "Considerações sobre a Invasão de Lavras em 1910" de João Tavares Calixto Junior, lançado nesta noite.

Cariri Cangaço
Edição de Luxo - Ano V
Percurso em Lavras e Câmara Municipal
Lavras da Mangabeira, 24 de Setembro de 2015

Nenhum comentário: