Memorial Revive as varias Faces de Padre Cicero no Edição de Luxo 2015


A ultima noite de Cariri Cangaço - Edição de Luxo - Ano V, teve como palco o Memorial Padre Cicero, na cidade de Juazeiro do Norte. Para uma plateia seleta de pesquisadores de todo o Brasil o ultimo Painel do evento trouxe como tema As Varias Faces do Santo do Juazeiro, quando os pesquisadores Emerson Monteiro e Laílson Feitosa com a moderação do presidente do GECC, Ângelo Osmiro, fecharam com `chave de ouro` uma das edições mais festejadas do Cariri Cangaço.

A noite teve inicio com as apresentações do colecionador do cangaço e Conselheiro Cariri Cangaço Ivanildo Silveira trazendo "Lampião Moderno" de Carlos Araujo e da cordelista juazeirense Rosário Lustosa que trouxeram a arte do cordel para a grande abertura do ultimo dia de evento. "Este meu cordel foi elaborado a partir de uma provocação de Paulo Gastão, que me mandou o livro dele Lampião por ele mesmo, então dai fui construindo o cordel como uma autobiografia do rei do cangaço" revela Rosário Lustosa.

 Ivanildo Silveira e o poema Lampião Moderno de Claudio Araujo
Cordelista Rosário Lustosa e a obra de Paulo Gastão


Manoel Severo, curador do Cariri Cangaço responsável pelas boas vindas aos convidados presentes, ressaltou a "magia" de "estarmos encerrando o Cariri Cangaço no solo sagrado de Juazeiro do Norte, terra de tantas historias, forca e tradição, notadamente por seu grande ícone, Padre Cicero Romão Batista" e na oportunidade o Conselho Cariri Cangaço outorgou ao pesquisador e escritor de Juazeiro do Norte, Daniel Walker o Titulo de Amigo do Cariri Cangaço.

Para o homenageado da noite, Daniel Walker, "o trabalho do Cariri Cangaço se traduz como admirável, não sei onde Manoel Severo encontra tanta forca para diante de tantas dificuldades realizar um evento tao qualificado e gigante, com tanto significado para o Brasil".

Manoel Severo e Francimary Oliveira outorgando o Titulo a Daniel Walker

"O relógio assinalava cinco horas quando Cícero Romão Batista nascia numa humilde casa de número 157 da Rua Grande, hoje Rua Miguel Limaverde, no Centro de Crato. O dia era 24 e corria o mês de março do ano de 1844, durante uma madrugada fria motivada pelo inverno e a tradicional temperatura amena inerente a uma cidade privilegiada por se localizar no sopé da Chapada do Araripe. Era o segundo filho do casal de agricultores Joaquim Romão Batista e Joaquina Vicência Romana.
Oriundo de uma família pobre do sertão cearense, ele foi criado entre duas irmãs: “Mariquinha” e Angélica. Ainda jovem, com 18 anos, viu seu pai morrer vitimado por uma epidemia de cólera e, dezesseis anos após, a morte da irmã Angélica. Nesta época, já era o Padre Cícero Romão que acompanhava a recomendação do corpo da mana mais velha. Ele começou a sentir sua vocação para o sacerdócio após ter lido sobre a vida de São Francisco de Sales, fazendo voto de castidade ainda aos doze anos.


O ingresso no Seminário da Prainha, em Fortaleza, ocorreu quando tinha 21 anos de idade e, cinco anos após, já estava sendo ordenado. Padre Cícero retornou ao Crato no ano seguinte, mas sua identidade maior foi com o vilarejo denominado “Joazeiro”, pertencente àquele município. Daí em diante tornou-se o evangelizador e líder espiritual da comunidade, que passou a respeitá-lo. Faltavam apenas 18 dias para o sacerdote completar 45 anos quando um fato despertou a atenção de todos. Após consagrar a hóstia e pôr na boca da beata Maria de Araújo, viu a mesma transformar-se em sangue.
Segundo historiadores, a notícia correu e passou a atrair fiéis de todos os lugares. Enquanto a localidade ia se transformando num centro de romarias, Padre Cícero era suspenso das ordens. Muitas foram as versões para os fatos ainda hoje objeto de estudos. As peregrinações tiveram continuidade e até cresceram após a morte do “Padim”. Hoje, Juazeiro do Norte acolhe cerca de 2,5 milhões de romeiros por ano."

 Emerson Monteiro, Ângelo Osmiro e Laílson Feitosa

Emerson Monteiro revela "nossa principal intensão `e contextualizar a historia do nordeste e nesse contexto a figura mítica de Padre Cicero Romão Batista, dentro deste sertão feudalista sempre esquecido pelas elites do litoral e do sudeste." E continua Emerson Monteiro, "na verdade vamos procurar falar desta briga entre os poderosos e a alma sertaneja que procurava se preservar e procurava uma salvação, dai o messianismo e dentre desse vemos padre Cicero, padre Ibiapina, e mais recentemente frei Damião, e diante disso que me proponho nesta noite fazer algumas considerações" e pontua, "Padre Cicero foi um de nos, nascido nas mesmas dificuldades que os sertanejos possuem, foi apaniguado por um grande coronel local e com a partir dai teve a oportunidade de ir ao seminário e de tornar padre, numa época em que não haviam oportunidades, onde aqui e em todo o nordeste imperava a lei do mais forte"

"Foi nesse cenário que padre Cicero veio a Juazeiro e come;ou a atender aos necessitados  mostrando o que mais sabia fazer, amor, conselheiro, compreensão, generosidade e começa a tratar o pobre com consideração e assim passou a ser considerado um revolucionário pela igreja, ele trazia em si o desejo de apostolar o sertão a partir da necessidade daquele pobre povo, realizando um apostolado mistico cristão".

Emerson Monteiro, Angelo Osmiro e Lailson Feitosa

Emerson Monteiro pondera, "quando chegam em Juazeiro vindos da Bahia o Conde Van De Brule e Floro Bartolomeu perceberam imediatamente toda forca do santo padre e a confiança do povo romeiro em padre Cicero e aqui vamos começar a identificar a capitalização politica para si, por parte deles, da forca de Padre Cicero. E ai vamos ver padre Cicero ate se tornando vice-presidente do Ceara e deputado federal, sem nunca ter saído de Juazeiro para tomar posse, naquela época Juazeiro era um mundo de insegurança onde pesava a forca do bacamarte. E dai se estabelecia Cicero com personalidade mistica, messiânica e dai a gente ver na linguagem de Gláuber Rocha, "Deus e Diabo na terra do sol".

 Manoel Severo, curador do Cariri Cangaço
Josué Macedo e Reclus de Pla, Sabino Bassetti e Ivanildo Silveira
Antonio Tomaz e Aderbal Nogueira, Rosário Lustosa e Nezite Alencar 
Jose Bezerra, Rosário Lustosa, Padre Agostinho e Renato Bandeira em noite de debate sobre Padre Cicero
Heitor Feitosa, Narciso Dias e Renato Bandeira, Jair Tavares, Fátima Cruz e 
Professor Pereira, Geraldo e Rosane Ferraz

O professor Laílson Feitosa, segundo painelista da noite nos traz um pouco da genealogia de Cicero Romão Batista "apenas uma casca dessa grande arvore" , remontando a epoca da colonização do Ceara, da região dos Inhamuns e do próprio Cariri. "Cicero tinha como tetravô Joao de Sousa que manteve uma relacao com uma india da nacao Juca de nome Angela, depois tivemos sua trisavó Ana, bisavós Ana de Faria e Jose Ferreira Gastão pais de Vivencia Gomes que casou com Joaquim Romão Batista, pais de Cicero Romão Batista."

E continua com detalhes o professor Laílson Feitosa, "Ana de Faria, bisavó do Padre Cícero nasceu aos 23 de agosto de 1778, recebeu a 20 do mês seguinte na pia batismal da igrejinha de Cococi o nome de sua mãe, isto é, Ana, sendo seu padrinho José de Araujo Chaves, da Carrapateira,José de Araújo Chaves foi um proeminente membro da família Feitosa no período colonial cearense) Ja os pais de Ana de Faria (Homônima da mãe e desconheço o nome do pai, ainda sendo analisado alguns nomes), se casaram aos 13 de junho de 1764, a cerimônia foi celebrada na dita capela de Cococi e compareceram as mais altas figuras da região, tendo por testemunhas Coronel Francisco Alves Feitosa, patriarca da Família Feitosa no Ceará, e seu filho, o não menos famoso Coronel Manoel Ferreira Ferro, que foi Comandante do Regimento de Cavalaria dos Inhamuns."
Laílson Feitosa ainda provoca, "para quem disse que a religiosidade e o Padre Cícero se apagarão ao longo do tempo, outros que enaltecem o Cangaço apenas pela violência e não analisam filosófica e sociologicamente, argumentar com adversidade: Coronel de batina, padre coiteiro etc é de uma falta compreensão incrível, leem e não entendem o que estão lendo, ou o que leem não é ciência, só especulação".

Manoel Severo na abertura do Cariri Cangaço em Juazeiro do Norte
Cariri Cangaço - Edição de Luxo - Ano V em Juazeiro do Norte
Família Cariri Cangaço em Juazeiro
Grande noite de encerramento no Memorial Padre Cícero: Manoel Severo, Ivanildo Silveira, Antonio Vilela, Veridiano Dias, Sabino Bassetti, Hilton, Jose Bezerra Lima Irmão, Luiz Ruben e Oleone Fontes.
Elane Marques, Ingrid Rebouças e Juliana Pereira

A noite ainda se prolongou com um amplo debate com a participação de inúmeros pesquisadores de todo o Brasil, provocando uma lucida releitura sobre esse personagem vital para a historia do nordeste que foi Padre Cícero. Participaram ativamente do debate, Aderbal Nogueira, José Bezerra Lima Irmão, Renato Bandeira, Padre Agostinho, dentre outros.

Edna Ferreira de Caruaru afirma: "O Cariri Cangaço é um projeto valioso, pois nos remete aos fatos que deram origem à nossa história nordestina, e o melhor de tudo isso é a forma como essa história é apresentada. Torna-se um “conto” pois seus narradores são pessoas preparadas e hábeis, nos encantam com a simplicidade e a espontaneidade de suas falas e nos passam um conhecimento ímpar, extraordinário. Como professora, se eu fosse destacar um momento especial, seguramente seria a aula que tivemos embaixo das árvores, principalmente pela presença de vários alunos. Isso foi fantástico, acho fascinante poder compartilhar com as novas gerações, estimulando novas pesquisas, e despertando nos discentes o gosto pela história de nossa gente. Parabéns a todos os que fazem parte desta grande empreitada."

Antônio Tomas, João de Sousa Lima, Juliana Pereira, Lena Costa, Antonio Vilela, Veridiano Dias e Neli Conceição
Juliana Pereira, Narciso Dias, Jorge Remigio,Manoel Serafim e Tereza Cristina, Neli Conceição, Ana Lúcia e Iris Mendes de Medeiros
Celsinho e Jaqueline Rodrigues
Padre Agostinho e Elane Marques

O pesquisador Antonio Edson de Alagoinhas complementa: "Meu grande e estimado amigo Severo. De coração, você com certeza percebe isso, a honra é minha de fazer parte da família Cariri Cangaço. Cada participação, uma surpresa. Desta vez em Juazeiro do Norte foi minha terceira participação. Confesso que minha presença será indiscutível sempre - só se Deus não permitir - em todo Cariri Cangaço a ser realizado futuramente. Para mim não existe dificuldades nem distância. Estar com essa família não tem preço!"

Ao final uma unica certeza, mais uma vez o desafio havia sido vencido, com determinação, trabalho e compromisso de uma equipe valiosa, o Cariri Cangaço - Edição de Luxo - Ano V, comemorou em alto estilo, primando pela organização, qualidade e ética nas discussões e por toda a programação, sua quinta edição no Ceará. Agora se avizinham os auspiciosos momentos de uma agenda cheia de novidades inéditas e muita ousadia, então que venha a Agenda Cariri Cangaço 2016... Aguardem.

Cariri Cangaço
Edição de Luxo - Ano V
Memorial Padre Cícero, 25 de setembro de 2015
Juazeiro do Norte, Ceará - Brasil

Um comentário:

Anônimo disse...

Parabéns a todos os participantes, debatedores, palestrantes...Manoel Severo, amigo querido e pai de todos nós, que Deus te conceda as bençãos necessárias para continuar mostrando ao mundo, que, conhecer a história do cangaço é também, criar fortes laços de amizades... nossa família CARIRI CANGAÇO, não é Minas Gerais, mas quem a conhece não esquece jamais!!!

Maria Amélia de Souza Araújo
Floresta - PE