Filósofa argentina Esther Díaz e Guerhansberger Tayllow
Escrever
para este blog é sempre um exercício de memória: rememoro os primeiros passos,
os primeiros eventos e todas as redes que o Cariri Cangaço proporcionou. Sempre
acreditei na possibilidade do diálogo entre a universidade e as produções que
são desenvolvidas cotidianamente para além de seus muros. Nessas produções
encontrei amigos, afetos e espaços. Sonhei desde o primeiro dia na
possibilidade da criação, de entregar algo assinado por mim, mas que ao mesmo
tempo estivesse em conexão com outros. Foi assim que surgiu meu primeiro livro,
através do encontro com o Cariri Cangaço e as orientações recebidas enquanto
aluno do curso de História na UFCG/Cajazeiras.
É
verdade que também contei com a sorte, pois em Cajazeiras vive um dos maiores
livreiros sobre o cangaço. Trata-se do professor Pereira; Conselheiro Cariri Cangaço; homem digno, sábio e
de espírito iluminador. Conversar com Pereira, sentí o clima do seu livreiro
sempre foi um disparate de estímulo. Para quem gosta desse universo a companhia
de Pereira é um acontecimento, momento de leitura de muitas páginas. Daí
surgiram as primeiras indicações de livros, direcionamentos que me encaminhavam
para a realização de projetos. Sou muito grato ao amigo e professor Pereira,
obrigado!
No
decorrer do tempo fui afunilando minhas reflexões em torno do cangaceiro
paraibano Chico Pereira. Enquanto muitos estavam interessados na verdade
histórica sobre o personagem, percebi que essa “verdade” biográfica foi
construída por meio de múltiplos interesses em redes de memórias. A medida que dissecava
as redes memorialísticas do passado em
torno de Chico Pereira, costurava outras no presente com pessoas incríveis. Em
Nazarezinho (terra de Chico Pereira) conheci Iris Mendes, mulher militante nas causas
culturais e de um coração encantador. Iris é sertaneja que, assim como Jarda,
sabe soletrar a mensagem do perdão e do
amor que o padre Pereira deixou em sua construção narrativa sobre seu pai
cangaceiro. Iris, muito mais do que amiga tornou-se uma
irmã.
Guerhansberger Tayllow recebe o Diploma do Cariri Cangaço durante o Cariri Cangaço na cidade de Lastro, Paraíba.
o
Nesse
mesmo momento tive a oportunidade de conhecer e estabelece amizade com o
professor e escritor José Romero, que já não está entre nós, mas que nunca
deixou de fazer presença nos meus escritos e nas minhas lembranças. Romero nunca
se recusou em ajudar foi um dos grandes divulgadores dos meus escritos.
Obrigado eterno amigo!
Vejam
só quantas redes costurei. Na verdade, muitos e muitas que fazem parte dos
eventos do Cariri Cangaço me ajudaram de alguma forma. Esse é o lado humano e
corpóreo da pesquisa, atravessado por afetos e recordações. Não por acaso o
resultado foi um livro plural desde o título: Nas redes das memórias: as
múltiplas faces do cangaceiro Chico Pereira até as ultimas páginas que
inconformadas com essa condição, isto é, de serem as últimas, apontaram para novos caminhos, outros territórios.
Agora
venho oferecer ao olhar crítico do leitor meu mais novo livro VIRGULINO CARTOGRAFADO:
RELAÇÕES DE PODER
E TERRITORIALIZAÇÕES DO CANGACEIRO
LAMPIÃO. O mesmo foi fruto de uma pesquisa de mestrado pela qual busquei
lançar reflexões sobre a primeira fase do cangaço lampiônico (1920-1928)
através de conceitos espacias (como espaço e território). Espero ter conseguido
lançar novas interpretações, tarefa difícil dada a quantidade de trabalhos
sobre a vida do cangaceiro Lampião. Trata-se de uma conversa criativa entre um jovem historiador com geógrafos,
antropólogos e filósofos já consagrados. É um livro que não tem medo de
dialogar, argumentar, entra e sair de
territórios. A tese principal é que Lampião viveu e constituiu uma multiterritorialidade.
É um trabalho inspirado por autores do pensamento nômade, que em sua feitoria
possibilitou o nomadismo profissional do próprio autor. É um escrito de vida
diante de tantos eventos de morte. Isso porque minha vida está diretamente
relacionada com os meus estudos. Foi nesse universo que encontrei amigos,
respeito, admiração e conhecimento.
Guerhansberger Tayllow
Pesquiador e escritor do Cariri Cangaço
La
Rioja, Argentina, 28 de novembro de 2019.
Um comentário:
Suas palavras cheias de conhecimento, vem confirmar que para nós, o"Cariri Cangaço é mais que um evento, é um sentimento", como diria nosso Curador Manuel
Severo.
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