Uma das mais preciosas obras literárias sobre um recorte importante da historia do coronelismo nordestino; tendo o sul do estado do Ceará do final do século 19 e começo do século 20, mais precisamente a emblemática região do cariri; o Império do Bacamarte nos apresenta de maneira aprofundada, a partir da entrega e talento de seu autor; Joaryvar Macedo; sertanejo da “gema” nascido no Sítio Calabaço na emblemática cidade de Lavras da Mangabeira, centro sul do Ceará; um dos mais importantes e surpreendentes períodos do coronelismo de barranco, de todo o país. Fundamentada em vasta bibliografia, pesquisa em periódicos da época, entrevistas com remanescentes e acima de tudo, com a responsabilidade de um filho que fala de sua terra, de sua casa, de seu quintal e de sua gente, Joaryvar Macedo consolida o Império do Bacamarte como um marco no estudo do coronelismo nordestino.
Com a maestria e a sensibilidade que lhes são tão próprias, Joaryvar une mestres como João Brígido, Abelardo Montenegro, Otacílio Anselmo, Rodolfo Teófilo, Leonardo Mota, Nertan Macedo, Amália Xavier e tantos outros talentosos e obstinados garimpeiros da história sertaneja para nos ajudar a compreender esse que foi um dos períodos mais conturbados da historia recente de nosso nordeste. As áridas terras de nosso sertão aprenderam e sofreram desde os tempos da colonização, passando pelo império e desaguando nos tempos da velha república, com as intempéries do clima, a pobreza e desigualdade, a ausência do Estado e com a força e o poder do coronelismo, simbiose perfeita para outros flagelos no sertão nordestino: os “cabras”, os jagunços e os cangaceiros. Notadamente com o presidente Campos Sales; entre 1898 e 1902; e seu sucessor Rodrigues Alves; entre 1902 a 1906; consolidadores da famigerada “políticas dos governadores”, instituto que ensejou por todo o país a expansão e fortalecimento das oligarquias rurais, daí viríamos a conhecer um dos mais sombrios e violentos períodos da história de nosso sertão, destacando o cariri cearense, berço e palco de algumas das mais extraordinárias sagas de deposições, à força e à bala, de todo o Brasil daquela época.
Com clareza, responsabilidade e sua escrita firme, Joaryvar Macedo, nos permite viajar ao cariri dos primórdios do século 18, quando revela os principais e decisivos conflitos armados que teriam forte repercussão na formação da região; personagens como Bárbara de Alencar e seus filhos; Tristão Gonçalves e José Martiniano; sem esquecer ícones como Pereira Filgueiras e Pinto Madeira, dali, passo a passo a epopeia das deposições e mudanças de mando no cariri cearense, sob a égide do bacamarte e o beneplácito da oligarquia Acyolina de Nogueira Acyoli; vão sendo dissecadas com a crueza e violência dos próprios episódios, mas com a leveza das linhas esclarecedoras traçadas por Joaryvar.1901 tem início a famosa e impressionante saga das deposições no cariri cearense: Antônio Joaquim de Santana; um dos mais proeminentes representantes do Clã dos Terésios; ou simplesmente Coronel Santana, da famosa Serra do Mato depõe Róseo Jamacaru em Missão Velha. Em 1904 no Crato, teremos o coronel Belém de Figueiredo sendo apeado do poder pelo coronel Antônio Luís Alves Pequeno, seguida da deposição em 1906 do coronel Manuel Ribeiro da Costa; o Neco Ribeiro; de Barbalha, por João Raimundo de Macedo, ou coronel Joca do Brejão, esse; irmão do coronel Santana que havia seis anos antes, tomado à bala o município de Missão Velha. No mesmo ano iríamos encontrar a deposição do coronel Marcolino Alves de Oliveira do município de Quixadá, atual Farias Brito, pelos “mandões” daqueles rincões: Joaquim Fernandes de Oliveira e José Alves Pimentel; além do curioso episódio de novembro de 1907 envolvendo dois destacados membros do Clã dos Augustos em Lavras da Mangabeira. Dona Fideralina, a matriarca mais famosa do sertão, patrocinaria a retirada do poder de um de seus filhos, coronel Honório Correia Lima em favor de outro filho, coronel Gustavo Augusto Lima, em um dos momentos mais sanguinários daquelas paragens no belo vale do rio Salgado.
Joaryvar Macedo ainda nos brinda com os episódios sangrentos de conflitos armados por todo o conturbado ano de 1908: em Santana do Cariri, Campos Sales, Aurora e ainda Araripe, quando os potentados locais engalfinhavam-se munidos do bacamarte e da sanha pelo poder perpetrando e consolidando a égide da violência. Nesse ano de 1908 vamos encontrar o destaque para a chegada ao cariri cearense do polêmico medico baiano Floro Bartolomeu; uma das mais emblemáticas e influentes personalidades da história destes lados do sertão nordestino, principalmente por sua estreita ligação com o santo do Juazeiro: Padre Cícero Romão Batista, como também o famoso “Fogo do Taveira”, conflito armado nas terras do Coxá, no município de Aurora, ate hoje cantado em prosa e verso como um dos mais emblemáticos embates da época. O tempo passa e chegamos ao ano de 1910 e a invasão de Lavras da Mangabeira pelo “Bravo Caririense”, Quinco Vasques desafiando a força e o poderio do coronel Gustavo Augusto Lima do Clã dos Augustos, intento logrado pela defesa do filho de Fideralina e seus cabras e a consequente prisão do destemido Quinco Vasques.
E assim Joaryvar Macedo sem esquecer o Pacto dos Coronéis de 1911 em Juazeiro do Norte ou mesmo a Sedição de 1913, dentre outros episódios, nos traz a partir de uma leitura envolvente os principais aspectos daquela conturbada época; com cheiro de chumbo e morte; que por muito tempo ainda viria a pontuar por esses rincões sertanejos. Traçando as principais causas, as principais características de seus protagonistas e ainda as repercussões politicas, o Império do Bacamarte é obra obrigatória a todos que pretendem conhecer um pouco mais dessa feição do coronelismo nordestino.
"O evento destacou a obra, que teve sua primeira edição publicada há 30 anos e, em 2022, ganhou uma reedição, abordando a temática do coronelismo no Cariri cearense, assim como o autor e historiador, que faleceu há 30 anos. Requerida pelo presidente da Casa, deputado Evandro Leitão , a solene foi presidida pelo primeiro-secretário da Alece, deputado Antônio Granja , que parabenizou a família do escritor Joaryvar Macedo e destacou a relevância do livro. Segundo o parlamentar, o livro é um marco para a história do Estado e principalmente do Cariri. Com a nova edição, o livro estará presente em diversas bibliotecas, principalmente nas universidades, permitindo que o conhecimento da história do Ceará seja mais difundido por estudantes, pesquisadores e interessados, afirmou o deputado." Confirma a assessoria de imprensa da Assembleia Legislativa.
Assembleia Legislativa do Ceará -Sessão Solene 30 Anos de Lançamento do Império do Bacamarte , 19 de maio de 2022
Nenhum comentário:
Postar um comentário