Um dos recortes mais importantes, polêmicos e decisivos para o ciclo do cangaço, foi a nosso ver, a entrada das mulheres no cangaço a partir de 1930 quando Virgulino Ferreira trouxe para as hostes cangaceiras, sua Maria, a Maria de Déa, futura Maria Bonita. Sobre a entrada e a essência e repercussão da presença feminina nos bandos cangaceiros vamos encontrar uma infindável coleção de reflexões das mais variadas matizes e compreensões..."a entrada da mulher humanizou o cangaço, eu não tenho dúvidas; quanta selvageria foi amenizada ? Estabeleceu sim a verdadeira segunda fase do cangaço, isso não podemos desconhecer, foi um divisor de águas, tanto para o cangaço, exclusivamente masculino, quanto para tudo o que diz respeito à mulher nordestina, que embora vista como uma mulher forte, guerreira e trabalhadora, era essencialmente do lar, uma mulher criada para casar e cuidar do marido e dos filhos, bem como dos afazeres domésticos. Acredito que a entrada das mulheres para o cangaço é fruto da necessidade humana de querer viver em família, antes de serem embrutecidos e ferozes, acostumados com as incertezas entre a vida e a morte. Eram homens que sentiam a necessidade de ter uma família, de viverem em um núcleo familiar, mesmo em meio à caatinga e aos perigos comuns de suas rotinas. " assegura Juliana Pereira, advogada, pesquisadora e Conselheira Cariri Cangaço.
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Projeto: O Olhar Feminino sobre as Meninas e Mulheres do Cangaço... PodCast Cariri Cangaço
Lisiane Forte, Manoel Severo, Luciana Nabuco e Heldemar Garcia
Impossível fazer reflexões sobre a presença das mulheres no cangaço sem trazer à discussão a provocação: Existia amor no cangaço? As mulheres teriam sido a principal causa da derrocada cangaceira? E ai, é o Conselheiro Cariri Cangaço Wescley Rodrigues que reverbera a provocação: "A qual amor os senhores se referem quando discutem se teve ou não teve amor no cangaço?"
Já Aderbal Nogueira, pesquisador e documentarista, Conselheiro Cariri Cangaço revela: "Eu não acho que as mulheres foram a grande causa da derrocada do cangaço, mas estou convencido que elas atrapalharam e muito aqueles caras...E outra coisa essa historia de amor no cangaço eu também não acredito nisso não, em caso de tiroteio era cada um por si, eles se defendiam e elas que se virassem" E completa Aderbal Nogueira, "é muito bonito a poesia o que tá nos livros, etc, mas duvido que nenhuma mulher aqui desejasse viver uma vida daquelas e discordo da pesquisadora Juliana, não acho que houve humanização nenhuma... O amor no cangaço foi uma grande ilusão."
O médico, pesquisador e escritor Leandro Cardoso, Conselheiro Cariri Cangaço nos traz outra reflexão: "É importante levar em conta que a mulher, para cair no cangaço, deixava para trás a intensa rigidez moral, sexual e de comportamento que lhe era imposta pela sociedade machista, para experimentar uma rara sensação de liberdade, ganhando a caatinga na garupa do companheiro. Nas vezes em que a entrevistei, Durvinha falava da opressão que sofria em casa antes de acompanhar Virgínio: intermináveis caminhadas com latas d’água na cabeça e a muda submissão ao pai e aos irmãos. Era a constante da subserviência velada nas casas e fazendas do sertão" e continua Leandro: "Como falei no início, a participação feminina no cangaço está longe da passividade. A mulher, mesmo sem guerrear (exceção feita a Dadá), impôs sua presença no seio do bando, alterando inclusive a rotina dos grupos."
Já Alcino Alves Costa, patrono do Conselho do Cariri Cangaço, confirmava: "Na verdade o viver cangaceiro, especialmente da mulher, seria mais correto dizer - da menina-moça – aquelas juvenis sertanejas, que num instante de total infelicidade deixou a sua humilde, porém aconchegante residência, abandonando seu lar, deixando seus pais na mais completa agonia e desespero, para seguir a triste vida bandoleira, todas elas inebriadas pela ilusão do cangaço, é um capítulo extraordinário na história cangaceira." e conclui Alcino, "por que a caboclinha dos cafundós das caatingas, sem nenhum traquejo e nenhuma experiência de vida, se bandeou para o cangaço? Qual foi essa ilusão? Quem conhece a história desses casais que embelezaram e humanizaram o cangaço, tem que reconhecer que existia amor e muito amor na vida cangaceira."
"Como vemos há um universo vasto, lucido e interessante no que diz respeito à presença das mulheres no cangaço. Diante disso o Cariri Cangaço lança em primeira mão, dentro do projeto de seu PodCast, o capítulo "O Olhar Feminino sobre as Meninas e Mulheres do Cangaço" fala Manoel Severo.
Manoel Severo e Lisiane Forte, bastidores do PodCast Cariri Cangaço
Heldemar Garcia e Ricardo Beliel
Luciana Nabuco, Lisiane Forte e Heldemar Garcia
"Em junho desse ano estive aqui no Ceará para realizar algumas apresentações em parceria com meu marido Ricardo Beliel. Apesar da curta estadia, imensa foi a emoção em rever amigos e finalmente abraçar pessoalmente Manoel Severo, que definitivamente ancorou uma amizade especial e fraterna em nossas vidas. E sempre com doses generosas de alegria que é um dos melhores temperos da vida. Nessa caminhada tive a honra de ser convidada para participar do primeiro programa desta série do Podcast Cariri Cangaço, apresentado por Severo na companhia de Lisiane Forte, e celebrar a voz feminina nas artes, nas ciências, na vida comum, cotidiana e nas pesquisas que envolvem o cangaço. Historicamente essa voz feminina esteve subalternizada ao longo de séculos e tutelada. Porém, devemos entender que os princípios masculino e feminino são parte da mesma cabaça, e nenhum deve sobrepujar o outro. Em nós seres humanos temos esses dois princípios que coexistem. A cabaça é o nosso corpo, e a matéria sutil que nos permite sentir, pensar, criar extrai é essa multiplicidade dentro de nós. E sempre precisamos ousar para iniciar novos movimentos. É o que propõe Manoel Severo ao conduzir as vozes de mulheres em mais diversas atuações na sociedade contemporânea para trazer no Cariri Cangaço. Me sinto agraciada por esse encontro e aplaudo essa iniciativa. Vida longa ao múltiplo e ao feminino que habita em todos nós." LUCIANA NABUCO
Trata-se de inciativa ousada em trazer os vários olhares e leituras femininas, uma vez que reunirá mulheres; pesquisadoras, escritoras, multiartistas, atrizes, poetas, jornalistas, sociólogas, psicólogas, antropólogas, enfim; para nos revelar seus múltiplos olhares sobre esse recorte importantíssimo da historia cangaceira, a entrada das mulheres no cangaço. "O mais legal desse projeto do PodCast Cariri Cangaço sobre o olhar feminino é que essas talentosas mulheres reunidas pelo Cariri Cangaço, não são pesquisadoras da temática, isso mesmo, são olhares múltiplos, de outro público, por isso, tenho certeza que teremos programas extraordinários, à exemplo desse primeiro com a Luciana Nabuco e a Lisiane Forte" revela o jornalista Heldemar Garcia, produtor do Programa.
Manoel Severo, Luciana Nabuco e Lisiane Forte no PodCast Cariri Cangaço "O Olhar Feminino sobre as Meninas e Mulheres do Cangaço"
"Fugindo do habitual, o Cariri Cangaço inova e traz justamente a percepção e o olhar apurado de mulheres do mundo contemporâneo sobre as mulheres cangaceiras; convidamos mulheres talentosas do universo das artes, das culturas, das ciências, enfim; num programa novo, cheio de coisa interessante e bacana para ver, o resultado ficou muito bom. A presença luxuosa da Lu e da Lisi fizerem a diferença neste primeiro programa e vem muita coisas boa por ai, tem uma seleção de mulheres extraordinárias entrando em campo, espero que vocês possam gostar" fala Manoel Severo.
Vale lembrar que o Projeto do PodCast "O Olhar Feminino sobre as Meninas e Mulheres do Cangaço" pela natureza de sua realização e criação, por tratar-se inicialmente de um programa em estúdio, presencial, o Cariri Cangaço estará reunindo nesse primeiro momento, convidadas do estado do Ceará, da capital cearense. "Iniciaremos por Fortaleza, mas a ideia é aproveitar as agendas do Cariri Cangaço e produzir programas semelhantes em outros estados do nordeste" lembra Heldemar Garcia.
Maria Bonita... Luciana Nabuco e Lisiane Forte
Nossas convidadas...Neste primeiro programa da série, trazemos aos nossos estúdios em Fortaleza, a jornalista, escritora, ilustradora, poeta e artista plástica, LUCIANA NABUCO e a psicóloga, escritora, poeta e multiartista LISIANE FORTE.
Jornalista, tradutora, escritora e artista visual, nasceu no Acre e desde 2003 trabalha com a temática afro-indígena brasileira. Em 2012 escreveu e dirigiu o documentário “Mãos Feitas de Fé”, sobre rituais de candomblé. O documentário foi exibido no Benin. Realizou diversas exposições de suas pinturas na França e Brasil sobre o panteão místico afro-brasileiro. Autora e ilustradora de livros infantis, publica em 2018 Okan, a Casa de Todo Nós sobre a memória iorubá. Sua fonte inspiradora é o mosaico geográfico latino-americano com suas cores, força e mulheres e a arte como ponte de conexão entre os povos e memória ancestral. Yawo do terreiro de Matriz Africana Ilê Alá Casa de Oxalá e Oxum, inaugura em Imigram meus Pássaros sua primeira antologia poética. E agora apresenta Nossas almas murmuram na sombra, sua coletânea de contos de cunho biográfico.
Lisiane Forte, Psicóloga Clínica com Formação em Gestalt-terapia, Multiartista, Especialista em Grupos pela Universidade de São Paulo (USP). Colaboradora do Selo Editorial Mirada, Diretora de Comunicação da Academia Brasileira de Psicólogos Escritores (ABPE). Psicóloga Clínica da ASDEC, desde 2019. É proprietária do Espaço Lisiane Forte - Psicologia & Arte e atua há dezoito anos com Psicoterapia Individual e de grupos. Idealizadora do Grupo "COM TATO - Atelier de Mulheres", que aborda junto às participantes as mais variadas temáticas contemporâneas do feminino e já está na 45° edição até aqui, em 2022. Autora dos livros "Contos, Crônicas e Psicologia", "Psicologias em Reflexão I e II", “Liames”, “Zonas Abissais” e "Aqui e Agora Vol. I", publicados pela Editora Premius e pelo Selo Editorial Mirada..
PodCast Cariri Cangaço
20 de julho de 2022
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