A Chacina da Tapera dos Gilo no Cariri Cangaço Floresta

Caravana Cariri Cangaço na Tapera dos Gilo

A tarde do terceiro dia de Cariri Cangaço Floresta 2016 também nos reservava surpresas. Na programação sob o comando de Marcos de Carmelita e Cristiano Ferraz: Fazenda Tapera, cenário da tragédia que envolveu a família Gilo.

Chegando a Fazenda Tapera, Cristiano Ferraz e Marcos de Carmelita apresentaram aos convidados do Cariri Cangaço o lugar dos principais acontecimentos que culminaram com a chacina da família de Manoel Gilo na trama de Horácio Novaes que se valeu do chefe maior do cangaço, Virgulino Ferreira em 1926, há exatos 90 anos.

 Marcos de Carmelita e a recepção na Tapera dos Gilo
 
 

Registro do Cariri Cangaço Floresta 2016 na Tapera dos Gilo
Por Raul Meneleu
Fonte:http://meneleu.blogspot.com.br/2016/05/a-chacina-da-familia-gilo-por-lampiao.html

Quem nos conta também um pouco dessa história é o pesquisador e escritor João de Sousa Lima: "Em dezembro de 1925 o senhor Gino Donato do Nascimento descobriu que 12 burros de sua propriedade tinham desaparecidos. Manoel Gilo, filho mais velho de Gilo Donato, seguiu as pistas dos animais indo encontra-los em Lavras de Mangabeira, Ceará, em posse do coronel Raimundo Augusto, que havia comprado os animais de Horácio Grande. A verdade é que Horácio Grande foi processado e preso por esse roubo e depois jurou matar Gilo Donato.

Tempos depois realizou um frustrado ataque a residência de Gilo onde saiu baleado e perdeu o comparsa apelidado de Brasa Viva. Horácio Grande depois entrou no bando de Lampião e através de sua irmã e sua esposa forjou cartas falsas como se fossem de Gilo Donato afrontando o Rei do Cangaço." 

 Caravana Cariri Cangaço a caminho do local exato da Chacina dos Gilo
Quixabeira centenária, testemunha muda da grande chacina: As marcas das balas permanecem para a eternidade na Tapera dos Gilo
 Marcos de Carmelita no local onde outrora foi a casa sitiada dos Gilo, totalmente destruída pela sanha de Horácio Novaes e Virgulino Ferreira

"Manoel Gilo ! Um homem não podia ser mais valente que aquele, era atirando do alto da cumieira e pulando na sala tocando sanfona e metendo fogo nos cangaceiros, quando acabou a munição foi arrancado de dentro da casa ainda vivo pelos cangaceiros e levado diante do rei do cangaço, Virgulino Ferreira."
Marcos de Carmelita

 
Caravana Cariri Cangaço a caminho do Cemitério onde estão sepultados os corpos da Família Gilo, vitimas da chacina de 1926.


"Todo Florestano tem conhecimento que a luta se deu em um sábado, dia da feira, não existia feira na quinta, sábado era dia 28. Os filhos dos almocreves que foram capturados na estrada também confirmam a data. Os depoimentos do Senhor Eliseu que conviveu com os moradores da Fazenda Monte em Belém do São Francisco e que foram presos junto com os outros na Quixabeira do Riacho do Arcanjo, confirmaram a mesma história. Véio, filho de Zé de Anjo, ainda vivo e extraordinariamente lúcido, teve um caso amoroso quando era muito jovem, tinha uns dezoito anos, com Luciana Barros , a Lulu, que estava dentro da casa dos Gilos na hora do ataque e que perdeu seu pai, também morto pelos cangaceiros na casa de Joaquim Damião. O problema é que a Tapera e os outros grandes combates em Floresta foram muito pouco escritos e pesquisados", revela Marcos de Carmelita.

 Campo Santo da Tapera, onde repousa a família Gilo
 
 Pesquisadora Ana Lúcia , de Petrolina e Prof. Urbano Silva de Caruaru
 
José Irari, pesquisador de São José de Piranhas 
 
Ingrid Rebouças

O episódio se deu em 28 de agosto de 1926, um sábado, dia de feira. Pela madrugada Lampião com um grupo de mais de 90 cangaceiros e tendo a seu lado Horácio Novaes, depois de prender almocreves que se dirigiam para a feira, atacou a Tapera, sitiando a família Gilo depois da trama que reuniu os Gilo para um jogo de baralho. 

O tiroteio rompeu o silencio do local e foi ouvido em Floresta. Na cidade, o capitão Antônio Muniz de Farias, comandante das forças volantes que estavam na cidade, apesar do clamor e da provocação de Manoel Neto, decidiu não socorrer os valentes Gilo, sob a despeita de não deixar desprotegida a cidade de Floresta.


Dona Djalmira de Sá (de vestido azul) e Rosa Amaral (de saia marrom), descendentes dos Gilo recebem a Caravana Cariri Cangaço na Tapera
 Manoel Severo e a emoção de Rosa Amaral, falando sobre a cachina da Tapera..."Meu avô nos proibia de brincar com as balas que a gente achava, ele dizia que elas eram a prova da desgraça que caiu sobre nossa família" 

"Rosa Cleonice Amaral é filha de Deusdeth Manoel Amaral e de Cleonice Nascimento Amaral. Filha de 
um relacionamento amoroso de Manoel de Gilo da Tapera e uma mulher conhecida por Maria Romeira, nasceu uma menina chamada Elenita. De Elenita nasceu Deusdeth que casou - se com a prima em segundo grau, Cleonice, filha de seu tio avô Cassimiro Gilo. 
Portando a jovem da foto, é bisneta de Manoel de Gilo e neta de Cassimiro Gilo, da fazenda Tapera." nos fala Marcos de Carmelita.


 
Narciso Dias, Roberto Soares, Rosane Soares, Ivanildo Silveira e João Simplício na Tapera
 
 Manoel Severo e José Bezerra Lima Irmão na Tapera
Manoel Severo, Carlos Mendonça e Louro Teles

Continua Marcos de Carmelita..." Outro fato curioso e histórico é que Cristino Gomes da Silva Cleto, entrou para o bando de Lampião no dia 24 de agosto de 1926. No dia 28 ele participou efetivamente da Chacina na Tapera dos Gilos. Devido a sua rapidez e valentia, foi batizado nesse fogo com o apelido de Corisco."

E recorremos novamente a João de Sousa Lima:" Manoel Gilo foi capturado ainda vivo, estando morto seu pai Gino Donato, o irmão Evaristo, o cunhado Joaquim Damião e Ângelo de Rufina. Na estrada ficaram mortos Perminio, Henrique (casado com uma irmã de Gilo), Zé Pedro, Ernesto (da fazenda São Pedro), Janjão, Alexandre Ciriaco (morto quando tentava defender os Gilos e que tinha vindo da fazenda São Pedro), Pedro Alexandre (na Barra do Silva)."

E continua João: "ainda tombou morto um soldado que havia ido com Mané Neto, que mesmo estando baleado e com poucos homens sob seu comando, mesmo assim contrariou as ordens do capitão Muniz e foi tentar salvar a família Gilo. Com a quantidade de cangaceiros sendo muito superior ao grupo de Mané Neto ele comandou uma retirada. Lampião pegou Manoel Gilo e perguntou o porquê dele mandar as cartas confrontando Lampião. Manoel Gilo respondeu que era analfabeto e não sabia escrever..."

 
 

Na visita do Cariri Cagança a Tapera, a filha de Cassimiro, dona Djalmira Maria de Sá, relembrava os fatos narrados por inúmeras vezes por seu pai. Seguindo a caravana nos levou aos escombros da casa onde houve a chacina e ao campo santo onde estão sepultados seus ancestrais. 

 Ingrid Rebouças, Magno Araujo, Manoel Severo, Gerlane Carneiro, Maria Aparecida e Marcos Antonio
  Ivanildo Silveira, Betinho Numeriano, Manoel Severo e Ricardo Ferraz; 
abaixo, Veridiano Dias e Geraldo Ferraz

Cariri Cangaço Floresta
28 de Maio de 2016, Fazenda Tapera dos Gilo
Floresta, Pe
Fotos: Louro Teles, Ingrid Rebouças, Igor Silva, José Tavares, Urbano Silva, José Irari e Magno Araujo

Um comentário:

Anônimo disse...

Ângelo de Rufina, morreu na década de 50, vítima de picada de cobra, em Piranhas-AL Quem morreu na Tapera foi seu irmão Chico de Rufina. Por isso que eu digo: Cada macaco no seu galho!