Genocídio na Serra do Araripe completa 73 anos Por: Antônio Vicelmo

 

 ANTôNIO INÁCIO da Silva, remanescente do Caldeirão, no local do massacre da comunidade, na Mata dos Cavalos. Os remanescentes do Beato José Lourenço, depois de expulsos do Caldeirão, foram para a Serra do Araripe.

Crato, 11 de maio de 1937. Moradores da Mata dos Cavalos e do Sítio Cruzeiro, em cima da Serra do Araripe, foram acordados com o barulho dos aviões que sobrevoavam à floresta com o objetivo, segundo o brigadeiro José Sampaio Macedo, comandante da operação, de localizar os seguidores do beato José Lourenço, que foram expulsos do Sítio Caldeirão no ano anterior, no dia 11 de setembro de 1936. Era o começo do fim dos renascentes do Caldeirão que, banidos de suas terras, tentaram sobreviver escondidos no meio da mata, vivendo como animais nômades, ou arranchados em barracos de palhas, alimentando-se de frutos silvestres e da caça. Após 73 anos desse ataque, que se caracterizou como um verdadeiro genocídio, pouca gente se lembra do massacre. Muitos escritores e jornalistas confundem a invasão, ocorrida em setembro de 1936, do Caldeirão com a destruição violenta e cruel da comunidade no ano seguinte. A Diocese do Crato, por exemplo, promove uma celebração no dia 11 de setembro de cada mês, lembrando a história dos seguidores do beato. No entanto, a data de hoje, que envergonha a elite cearense da época, passa despercebida.

Na cabeça do aposentado Antonio Inácio da Silva, a data nunca será esquecida. Inácio, que reside no Sítio Ramado, em cima da Serra do Araripe, é um dos poucos sobreviventes do Caldeirão. Ele, hoje com quase 90 anos, mostrou o local onde aconteceu o massacre. O único vestígio é um velho barreiro seco que fornecia água para a comunidade. Os barracos, veredas e até mesmo os túmulos dos seguidores do beato foram cobertos pela floresta. Na mente dos sobreviventes, a tragédia nunca se apagou. Ele lembra que no caminho para a comunidade, com 14 anos de idade, ele ouviu o barulho dos aviões. Ao encontrar os primeiros conhecidos, recebeu a triste notícia: "Acabaram com tudo". Os que restaram entraram de mata adentro, onde passaram a viver como bichos, dormindo ao relento. Inácio não gosta nem de lembrar a perseguição contra sua família.

O médico e pesquisador Magérbio Lucena, autor do livro "Lampião e o Estado Maior do Cangaço", resgata a memória do passado, com o objetivo, segundo afirma, de restaurar para as novas gerações fatos que estão sendo apagados pelo tempo, ou distorcidos pela conveniência de alguns. Magérbio diz que ninguém foi morto durante a evacuação da comunidade do Caldeirão. Em maio de 1937 foram iniciados os conflitos da comunidade com a Polícia. A reação foi violenta. Contingentes policiais do Cariri e de Fortaleza invadiram a área dispostos a acabar com tudo. Segundo dados oficiais, mas de 400 seguidores do beato morreram na batalha. Foram enterrados numa vala comum. Os sobreviventes entraram de mata adentro, fugindo das perseguições.

Antônio Vicelmo
Repórter do Jornal Diário do Nordeste
 
Fonte: Blog do Crato

NOTA CARIRI CANGAÇO: Durante o Cariri Cangaço 2010, teremos Visita Técnica ao Sítio Histórico do Caldeirão do Deserto, do Beato José Lourenço; seguida por Conferência sobre o Tema, com o Professor Doutor Lemuel Rodrigues e Mesa de Debates compostas pelos Professores Domingos Sávio e Sandro Leonel.
 

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