Mais um Jararaca? Por: Marilene Araujo de Barros

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Este senhor será mesmo um dos jararacas?
 
Sou Marilene Araújo de Barros, professora aposentada da Rede Pública de Ensino Estadual de Sergipe, graduada em História e pós-graduada em Gestão Escolar. Resido na cidade de Poço Redondo-SE, desde 1983. Sou natural de Pernambuco, lá do sertão de Águas Belas, nas vizinhanças da Fazenda Nova, do lendário Audálio Tenório. Apesar da proximidade existente entre os dois estados, as atribuições no trabalho, à correria do dia-a-dia, juntamente a outros fatores pessoais, me levaram a ficar por vários anos sem rever o lugar onde nasci e vivi grande parte de minha vida, e que apesar das dificuldades existentes naquela época, a seca como exemplo, viver uma vida totalmente interiorana era tarefa bastante difícil, mas confesso, fui muito feliz naquele solo pernambucano, especialmente durante a minha saudosa infância, é que o viver naquele sertão era regado de um patrimônio cultural que não mais existe nos dias atuais e certamente nos futuros. Sou grata a Deus por ter tido o privilégio e a ventura de nascer naquele mundo, naquela época, e naquele lugar.

Com o passar dos anos chega a minha aposentadoria e com ela a disponibilidade de tempo. Bateu-me uma vontade louca de realizar algumas viagens, especialmente para as terras de Pernambuco, priorizando as localidades em que outrora eu e minha família residimos, e foram tantas que prefiro citar em outra ocasião.

O policial Luiz e o possível ex-cangaceiro Jararaca
 
Em dezembro de 2010, eu, meu irmão Luiz (policial civil), minha irmã Ana, minha sobrinha Lara, filha de Luiz, seguimos para Pernambuco, iriamos rever nossas antigas moradias, além de visitar velhos amigos e parentes. Confesso ter sido uma viagem deveras emocionante. Foi comovente ver a velha casa da fazenda Riacho Fundo, local de meu nascimento. Ditosa e antiga moradia sertaneja, patrimônio de meu avô Manoel de César, e posteriormente, herdade de meu pai, o saudoso e amado Zé de César.
 
O Riacho Fundo, quando pertencia a meu avô, foi atacado por Lampião que desejava justiçar Manoel de César devido o mesmo ser um fiel aliado do governo de Pernambuco. Em minha meninice eu via nas portas do armazém, ao lado da casa-grande, os furos causados pelas balas cangaceiras. Após visitar a velha fazenda Riacho Fundo seguimos até a povoação Garanhunszinho, mais uma de nossas antigas moradias. Naquela localidade que parece não ter avançado e nem retraído no tempo, encontramos algo que nos chamou atenção. Em uma humilde casinha, ao lado de um armazém, nos deparamos com um senhor de provecta idade. A ele nos dirigimos e curiosos dispusemos em fazer-lhe perguntas. Surpresos, notamos que aquele ancião possuía uma memória elogiável.

Em suas respostas o mesmo disse ter nascido no dia 13 de outubro de 1913 e se chamava Aristides Lins Maranhão, nascido lá pras banda de Bom Conselho, também em Pernambuco. Segundo suas palavras, ainda jovem, veio trabalhar na Fazenda Nova, onde tinha a proteção do Dr. Audálio. De repente, aquele velhinho fez uma declaração bombástica que nos deixou admirados e perplexos. Ele asseverou ter sido cangaceiro de Lampião, com o nome de Jararaca.

Discorrendo sobre esta novidade, seu Aristides contou que: em uma das visitas de Lampião a Fazenda Nova, o mesmo simpatizou com ele, surpreendendo ao poderoso homem daquele sertão. O rei cangaceiro pediu que aquele rapaz o acompanhasse, pois havia simpatizado com ele, pedindo assim, permissão ao Dr. Audálio para levar consigo o seu trabalhador.
Lara, filha do policial Luiz, ao lado do senhor Aristides, o possível Jararaca
 
Após grande insistência, o fazendeiro permitiu a ida de seu agregado para a companhia de seu grande e fiel amigo. No entanto, disse a Lampião que a permissão seria de cinco anos e assim que terminasse esse prazo o mesmo fosse devolvido a sua companhia. Lampião concordou e lá se foi Aristides para se tornar mais um dos Jararacas. Segundo os dizeres do ancião, este acontecimento se deu por volta dos anos 30. A promessa foi cumprida. Cinco anos depois Aristides estava de volta e foi viver por muitos anos ao lado de seu tão respeitado e temido patrão. Em fevereiro de 2011 voltei a visitá-lo por mais duas vezes e a sua versão sobre ter sido o cangaceiro Jararaca não havia mudado uma vírgula sequer.

É verdade? Não sei. Com a palavra os pesquisadores e estudiosos do cangaço.

Marilene Araújo de Barros
Poço Redondo - SE
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11 comentários:

Juliana Ischiara disse...

Amiga Nena, parabéns pelo artigo, além de bem escrito nos trás uma informação importante e que deve ser investigado.

Soube que amiga agora é devota de Pe. Cícero... rsrsrsrs, quando eu for a Poço Redondo vamos conversar mais sobre este assunto.

Fico feliz por sua postagem, seja muito bem vinda ao grupo de pesquisadores do cangaço.

Abraço

Juliana Ischiara

Julio Cesar disse...

Na era do cangaço, Poço Redondo foi berço de muitos cangaceiros e cangaceiras. Hoje, seu solo fértil faz florescer mais uma historiadora e vaqueira da história do cangaço.
Texto delicioso, direto e que traz mais um mistério a se somar aos tantos outros que nos deliciam nessa caminhada.
Parabéns Marilene. É um grande prazer tê-la novamente por perto.

Um grande abraço

Julio

IVANILDO SILVEIRA disse...

MUITO INTERESSANTE ESSE ARTIGO, ACIMA POSTADO PELA SRA. MARILENE.

A LITERATURA CANGACEIRA, APENAS EM UMA OBRA SEGUNDO PESQUISEI, FALA DA EXISTÊNCIA DE 03 "JARARACAS "...

O Primeiro - JARARACA I -integrou o Bando de Lampião e foi morto pelas volantes comandadas pelos Tenentes Manoel Benicío/PB e Optato Gueiros, no ano de 1922, no município de Vila Bela/PE.

O Segundo -JARARACA II -José Leite de Santana, era antural de Buíque/PE. Foi soldado do exército, tendo participado de Revolta em SP. Foi morto, em junho/1927, após o Ataque a Mossoró/RN.

O Terceiro - JARARACA III - era baiano, e entrou para o bando de Lampião, quando esse entrou para a Bahia. Estava no grupo em 24/abr/1932, na Faz. Umbuzeiro do Touro/BA, quando morreu "PONTO FINO", irmão de Lampião.

SERÁ O JARARACA IV,(desconhecido da bibliografia cangaceira ), o SR. ARISTIDES, descoberto pela Sra. MARILENE ??

Como falou a amiga JULIANA, o assunto merece ser ESTUDADO/PESQUISADO EM PROFUNDIDADE.

Trata-se, de um GRANDE ACHADO !!!


Abraço a todos.
IVANILDO ALVES SILVEIRA
Colecionador do cangaço
Natal/RN

Anônimo disse...

Ficar com Lampião e seu bando por cinco anos tem muita coisa para nos contar. Que bom esse achado.Temos muitas coisas a perguntar a ele.Obrigado pelo excelente trabalho.Alfredo Bonessi - GECC- SBEC

Narciso disse...

Muito interessante esse achado da professora Marilene;faz sentido esse cidadão ter mesmo sido um cangaceiro do rei do cangaço,pelas explicações do Dr.Ivanildo os indícios são fortes,pois pelo que sabemos o último Jararaca morreu em 32,se ele o substitui estaria com 19/20 anos,cinco anos depois estaria deixando o bando praticamente às vésperas(força de expressão)do fatídico 28/07/1938,em angico. Ainda há uma possibilidade de resposta se consultássemos candeeiro ou vinte -e-cinco,para sabermos se eles recordam-se desse suposto Jararaca no bando. Bela postagem da professora.
Um abraço à todos.

Narciso Dias

Samuel Albuquerque disse...

Parabéns senhora Marilene.
Muito bom seu texto. Ele alimenta o caráter investigativo dos estudiosos do Cangaço.
Registrar memórias é a garantia de que a História poderá ser escrita.
Parabéns! Espero ler outros textos de sua autoria.
Att,
Samuel Albuquerque
Presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe

Anônimo disse...

Muito interessante mesmo, se realmente for verdade, esse senhor tem muita história para contar, talvez pode surgir uma novidade a respeito de Lampião e seu bando. Parabéns a senhora Marilene.
Att,
Neto - Natal/RN

Yeddi45 disse...

Acabei de assistir um documentário chamado "COMPLOT" em espanhol mas com legendas, são 13 documentarios sobre complôs, em um deles...foi o primeiro que assisti, contou o complô para matar lampião e seu bando, todos devem saber que eles foram delatados por pessoas "amigas" e que tambem na noite beberam de conhaque com veneno e a comida tb...tanto é (isso nao sabia) que os urubus que comeram os restos dos cangaceiros, morreram tb, devido tanto veneno que ja estava no corpo....depois passo o nome do filme e detalhes p assistir na internet.
Mas o que me chamou a atencao foi justamente essa historia que acredito ser verdadeira, ou seja, existe o Jararaca IV...pois nesse documentario, comentou que Lampiao quando morria um de seus valentes ele buscava outros valentes que queriam se ingresar no cangaço, mas mais jovens e batizava com o nome do cangaceiro falecido. Bem tudo indica que há indicios desse velhinho estar falando a verdade.

Dados do filme documentário:
Complot 2002NR1 temporada

Essa série aborda as intrigas e ações que mudaram o rumo da história latino-americana, como o assassinato do ditador Trujillo ou o do líder Emiliano Zapata.

Gênero:
Programas de TV, Documentários, Documentários para TV, Documentários históricos

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Unknown disse...

MEU NOME É JOSE VENTURA DE ANDRADE, NASCIDO EM AGUAS BELAS-PE., EM DEZEMBRO DE 1949 E GOSTARIA DE ME COMUNICAR DIRETAMENTE COM A PROFª. MARILENE. SERIA POSSIVEL ?
MEUS ENDEREÇOS ELETRONICOS: ventura.petrolina@gmail.com ou ventura.petrolina@hotmail.com.
AGRADEÇO PELO GENTIL APOIO QUE DER AO MEU PLEITO.

Anônimo disse...

Prezado Ivanildo: Na verdade, foram QUATRO, e não três Jararacas. O último deles participou da invasão a Pernambuco e Paraíba em 1936. Entrou no bando de Virgínio junto com Candeeiro em fins de 1935. Abraço. Sérgio Dantas.'.

Unknown disse...

Meu querido vovozinho, esteja em um bom lugar