Conheço a produção de arte de Liara Leite não é de
hoje. Os pés fincados nas melhores fontes da criação popular, levantada com
apuro em pesquisas que conduz sem detença, anos a fio, atualizando-as em
viagens por todo o Nordeste. Mas aí reside apenas o ponto de
partida de que se serve como mulher situada: uma brasileira do Ceará,
consciente do espaço de referências que a envolve. Ricas referências, diga-se
de passagem, de que o Nordeste é pródigo.
A cabeça segue sendo a de artista
comprometida com as motivações do cotidiano, dispondo de universo íntimo,
visitando sem disfarce a contemporaneidade, às voltas com tudo aquilo que
confere individualidade à obra concebida. A marca da criação pessoal. Parte, assim, da melhor tradição
popular regional, mas não se detém a copiar passivamente o que lhe chega da
pesquisa, atitude que a converteria nesse monstrengo que é o falso artista
popular, a sorrir com dentadura postiça.
Liara é, assim, de um modo muito seu e
muito consciente, uma artista de hoje, que sabe - com Gilberto Freyre - que a
modernidade não exclui a tradição, antes a orienta. E confere a densidade das
coisas que ficam.É assim a arte de Liara. Foi dessa
maneira que aprendi a apreciar o traço inconfundível que confere a quanta
proposta estética sai das suas mãos e de seu universo íntimo, esteja ela onde
estiver.
Frederico Pernambucano de Mello
Pesquisador e Escritor
Recife-Pernambuco
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