Saudades de Alcino, o Caipira de Poço Redondo

Alcino Alves Costa

Há exatos tres anos, neste mesmo primeiro de novembro, desta vez em 2012, partia para o céu um dos seres humanos mais brilhantes que a comunidade que pesquisa o cangaço já conheceu. De Sergipe, e sua amada Poço Redondo, Alcino Alves Costa nos deixava para assumir mais uma Missão, certamente também essa, ligada a sua grande paixão... Sertão!

Naquele dia, amanhecemos mais tristes, e naquela hora elevamos uma prece a Deus pela chegada do Decano, o incrivel Caipira de Poço Redondo, Alcino Alves Costa, Patrono do Conselho Consultivo do Cariri Cangaço; pesquisador, escritor, poeta, Mestre e amigo.

Hoje o sertão amanheceu mais triste.
O galo cantou mais rouco,
E os pássaros, as nhambus e as jaçanãs
Pareciam gorjear mais tímidos.
Hoje o Sertão amanheceu mais triste:
Seu poeta maior partiu.
O sol nascia parecendo trazer uma só dor:
A dor daqueles que amaram,
Amam e sempre amarão
Um dos seres humanos mais fantásticos
Que já pisaram
O chão tórrido e sofrido do sertão,
Da caatinga amada de todos nós.
Vai, Alcino, vai Caipira, vai Decano,
Tua missão agora é no Céu.
Não te preocupes, porque aqui ficaremos bem,
Com uma saudade sem tamanho,
Mas com teu exemplo
De amor às coisas de nosso sertão,
De amor às pessoas,
De amor à vida.
Muito obrigado, querido amigo Alcino,
Por ter-nos permitido compartilhar contigo
Um exemplo de vida.
Todos os momentos vividos a teu lado
Ficam guardados no fundo do coração.
Saiba que fizeste e farás sempre parte de nossas vidas.
Se o teu sertão alegre chora,
É de felicidade,
Por poder testemunhar a grande festa no Céu!
Por lá,
Todos estão falando e cantando:
“Hoje é festa no Céu,
Chegou o Caipira de Poço Redondo,
O Decano do Sertão!
Preparem as alpargatas
E o xaxado aprumado,
Que o bicho vai pegar!"

Manoel Severo
Curador do Cariri Cangaço


NOTA CARIRI CANGAÇO:Alcino Alves Costa, sergipano de Poço Redondo, Filho de Ermerindo Alves da Costa e de Emeliana Marques da Costa, era pesquisador, escritor, radialista, poeta, compositor, contador dos causos do sertão, político.Sócio da SBEC - Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço e  Conselheiro do Cariri Cangaço, do qual hoje é seu Patrono.
Nasceu no dia 17 de junho em 1940, em Poço Redondo, no seio de uma família que contava com mais quatro irmãos e duas irmãs. Muito jovem, enfronhou-se na política local. Foi prefeito por três vezes, entre meados da década de 1960 e fins da década de 1980. No entanto, abandonou essa paixão cheia de sobressaltos por outras que lhe eram mais caras: a família, os livros, a música e, como não podia deixar de ser, o Sertão. Passou parte da vida ouvindo histórias sobre o cangaço. Autor dos livros "Lampião além da versão - mentiras e mistérios de Angico", “Preces ao Velho Chico”; “Sertão, viola e amor”; “Canindé do São Francisco, seu povo e sua história”; “O sertão de Lampião”; e “Poço Redondo, a saga de um povo”. Auditor fiscal aposentado, poeta, compositor e historiador, foi por 3 vezes Prefeito de Poço Redondo.
Certamente, em alguns anos, o legado que vem sendo construído por Alcino será investigado por algum estudioso do pensamento sergipano e nordestino. Sua obra é reveladora do universo mental de uma das “nações” que compõe o Brasil. Afinal, o sertão nordestino estudado por Alcino representa outro Brasil. Não o Brasil do litoral, capturado em sua alma pelos escritos de Gilberto Freyre, José Lins do Rego e dezenas de outros cientistas sociais e literatos. Falo do Brasil dos sertões nordestinos, o “outro Nordeste”, como diria Djacir Menezes. Alcino faz parte de um seleto grupo que teima em desvendar a história e a cultura desses recônditos do Brasil. Alcino Alves Costa, nosso Caipira de Poço Redondo, o Decano dos vaqueiros da história.

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