Natural
de Conceição, município paraibano localizado no Vale do Piancó, Cícero Costa de
Lacerda se destacava pelo seu notável conhecimento a respeito doi poder
medicinal da flora sertaneja. Era habilidoso no atendimento primeiros socorros,
bem como no preparo de chás e meizinhas, diversidade de xaropes naturais,
chamados de “lambedor”, elaborados a partir de misturas de mel de abelha, folhas,
cascas e raízes de plantas da caatinga, destinados à cura dos mais diversos
males. Não por acaso, Cícero Costa entrou para história como “o médico dos cangaceiros”.
Atendendo
chamando de Luiz Padre e Sinhô Pereira, em abril de 1919, participou da defesa
do povoado São Francisco, reduto da família Pereira do Pajeú, que há muito se encontrava
em guerra com a família Carvalho. Naquela ocasião, o capitão da força
pernambucana Holanda Cavalcante, aliado dos Carvalhos, decidiu ocupar aquele florescente
povoado de Vila Bela, atual Serra Talhada/PE, sob o pretexto de que era um valhacouto
de bandidos que praticavam os mais variados tipos de crimes na região.
Em fins de agosto de 1918, após um cerrado
tiroteio, Eustáquio de Morais, subdelegado de Bonito, atual município de Bonito
de Santa Fé/PB, então povoado de São José de Piranhas/PB, baleou e prendeu o
famigerado cangaceiro Cícero Costa. A sua
permanência na cadeia de Bonito trouxe um enorme clima de tensão ao lugar, principalmente
devidos as informações que corriam dando conta de que um grupo de cangaceiros
se organizavam em Milagres, no vizinho Estado do Ceará, com vistas a vir
resgatá-lo da prisão. A vigilância da cadeia foi reforçada e logo que o preso
estava em condições de viajar, em meados de setembro, foi conduzido para a
cadeia da cidade de Patos, sob uma forte escolta comandada pelo experiente
tenente Manoel Benício.
Posteriormente, quando totalmente
restabelecido, com igual esquema de segurança Cícero Costa foi conduzido para a
cadeia de Pombal, o abrigo seguro para os fora-da-lei de maiores
periculosidades. Porém, a estadia do bandido na cadeia não foi tão demorada
como almejada pelas autoridades. No início de julho de 1920, o Jornal do
Comércio veicula notícia dando conta que “Os cangaceiros Cícero Costa, José
Coelho da Silva, Pedro Neco Fernandes e Melquíades Januário da Silva, que a
muito custo haviam sido capturados e recolhidos a cadeia de Pombal, dali
fugiram, auxiliados pelo soldado do destacamento policial Severino Alves de
Oliveira”.
O
soldado Severino Alves de Oliveira, que facilitou a fuga dos perigosos bandidos,
aderiu às hostes cangaceiras, integrando o bando de Cícero Costa, onde foi
batizado pelo cognome de “Fortaleza”. Em correspondência datada de 6 de outubro
de 1921, publicada no jornal “O Norte”, de 8 de outubro, o tenente Manoel
Cardoso, então delegado de Conceição, Estado da Paraíba, comunicou ao Chefe de
Polícia do Estado que se encontrava preso na cadeia daquela cidade o cangaceiro
Severino, vulgo Fortaleza, ex-praça que deu fuga ao célebre criminoso Cícero
Costa quando preso na cadeia de Pombal. Adiantava o delegado, que o referido
havia sido preso em uma diligência comandada pelo sargento Horácio.
Cícero
Costa deixou registrada em sua extensa ficha criminal alguns fatos que mancharam
de forma indelével a história do nordeste brasileiro. Dentre os quais, podemos
destacar as seguintes façanhas de abominosas recordações: 1. Assalto à Fazenda Nazaré de Dona Praxedes (20/01/1919),
viúva do coronel Domingos Furtado, um dos mais rentáveis financeiramente da
história cangaceira; 2. trucidamento do valente João Flandeiro (12/01/1922), um
humilde sertanejo que ousou contrariar os arroubos arrogantes do poderoso major
Zé Inácio do Barro; 3. o “Fogo de Coité” (20/01/1922), episódio em que o Padre Lacerda
heroicamente sustentou fogo contra o ataque de um bando integrado pelos mais
afamados bandoleiros que estavam sob o auspicio do major Zé do Barro; 4. ataque
ao então povoado de Jericó (24/01/1922), seguido do assalto a Fazenda Dois
Riachos do Coronel Valdivino Lobo, além a outros fazendeiros da região de Catolé
do Rocha (26/01/1922; 5. assalto à baronesa de Água Branca (23/06/1922),
considerado o primeiro evento em que Lampião chefiou um bando. Realizado com
objetivo de arrecadar recursos para cobrir despesas da viagem de Sinhô Pereira,
foi por conta do sucesso desta missão que Lampião ganhou sua admiração e
recebeu a chefia do bando em definitivo dois meses depois, quando o vingador do
Pajeú partiu para o Estado de Goiás.
A
partir da segunda metade de 1922, quando Luiz Padre, Sinhô Pereira major Zé
Inácio já haviam deixado o Nordeste, Cicero Costa permaneceu mantendo a
parceria criminosa com o antigo bando dos vingadores do Pajeú, agora comandado
pelo jovem Virgulino Ferreira, alcunhado de Lampião. Consta neste período, o
memorável ataque a cidade de Belmonte que redundou o bárbaro assassinato do
Coronel Luiz Gonzaga Gomes Ferraz, em sua própria residência, fato ocorrido na
madrugada do dia 20 de outubro de 1922. Neste mesmo episódio também foi a óbito
o soldado Heleno, que fazia a defesa, e, do lado dos atacantes, morreram
Antonio Cachoeira e José Dedé, o cangaceiro Baliza, reconhecido como um dos
estupradores no ataque ao povoado de Jericó, no município de Catolé do Rocha. Cícero
Costa saiu ferido, juntamente com os companheiros Zé Bizarria e Ioiô Maroto,
membro da família Pereira, um dos comandantes da horda criminosa.
A
carreira criminosa de Cícero Costa findou-se no início de 1924, ocasião em que ele
foi prestar socorro paramédico ao seu amigo Lampião que estava gravemente
ferido na Serra do Catolé, município de Belmonte, Estado de Pernambuco. O bando
de malfeitores foi atacado pela força paraibana, comandada pelo tenente Cícero
Oliveira e o sargento José Guedes, volante que também contava com o
ex-cangaceiro Clementino Quelé e o soldado João da Mancha, este último tido
como o sangrador oficial da polícia paraibana. Após intenso troca de tiros, os
cangaceiros Cícero Costa e Lavandeira foram gravemente alvejados, capturados e
depois sangrados, sob os olhares dos seus comparsas Levino, Meia Noite e outros,
que impotentemente assistiam a cena macabra por entre as folhagens da mata
cerrada.
José Tavares de Araujo Neto, pesquisador - Pombal-PB
05 de maio de 2021
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