A Tragedia Guaribas de Chico Chicote, Parte II



Guaribas Hoje

Quando nos aprofundamos no episódio da morte de Chico Chicote, começamos a desvendar os meandros da  selvagem política dos primeiros anos da república velha. Na verdade uma espetacular trama envolvendo correntes políticas de alguns das principais cidades do cariri, viriam trazer um tempero especial ao combate de Guaribas. Explico: O irmão de Chico Chicote, era o prefeito de Brejo Santo, Quinco Chicote, e por muitas vezes precisou usar toda a força política e ainda amargar alguns desabores em função da ação truculenta do irmão rebelde. Em determinado momento lideranças de Brejo Santo enviaram telegrama ao Presidente do Ceará; Moreira da Rocha; com queixas contra Chico Chicote, e pediam providências às forças do estado. Ato contínuo o mandatário maior do estado designou a volante do tenente José Bezerra, estacionada em Jardim, para atender ao pleito lhe enviado.

Na verdade começava ali o esboço de uma das maiores atrocidades da história do cariri. É importante mostrar outros personagens; ou, vítimas; desse bem tramado plano. Primeiro vamos nos deter em Antônio Gomes Granjeiro, de tradicional família sertaneja e amigo fiel de Chico Chicote; sua propriedade, o sítio Salvaterra; seria  a primeira parada da volante assassina de José Bezerra. O Tenente havia partido de Brejo Santo dizendo aos quatro ventos que iria em perseguição a Lampião, que de fato se encontrava ali perto, também na Serra do Araripe; Entretanto naquela madrugada do dia 1 de fevereiro de 1927, a volante seguiu direto para o sítio Salvaterra, com o intuito de efetivar o primeiro "acerto" daquela fatídica empreitada: Matar Antônio Gomes Granjeiro; crime encomendado pela família Salviano, inimiga de Chico Chicote e que se encontrava sob a proteção do poderoso Zé Pereira de Princesa.

Danielle Esmeraldo e Dr. Napoleão Tavares Neves no local onde foi morto Antônio Gomes Granjeiro

Cercaram a casa de Antônio Gomes Granjeiro pouco antes do alvorecer, dali levaram o dono da propriedade e mais os companheiros, Louro, Joaquim de Barros e Aprígio, todos violentamente mortos, degolados e queimados, a poucos quilômetros de Guaribas. A primeira etapa da empreitada a que foi contratado Zé Bezerra, estava cumprida.

Mais uma vítima seria assassinada covardemente pelas costas nesta manhã tenebrosa de fevereiro, no cariri cearense. Antônio Marrocos (foto ao lado), o Nêgo Marrocos, era cobrador de impostos em Macapá, atual Jati, na época município de Jardim. Ali mantinha antiga rixa com lideranças políticas locais que aproveitaram a oportunidade para também "peitarem" o tenente Zé Bezerra e acabar com a vida do referido inimigo. Depois de passarem no Salvaterra, foram a casa de Marrocos e praticamente o induziram a acompanhar a malta "oficial" até a propriedade de Chico Chicote, uma vez que o mesmo mantinha boas relações com Marrocos. Era o começo da manhã daquele dia e ao se aproximarem de Guaribas, Zé Bezerra deixou o grosso da tropa, composta por cerca de 70 homens e partiu junto com Marrocos, o tenente Veríssimo e com o sargento Antônio Gouveia e ainda o corneteiro Louro, de encontro a Guaribas.

Quando os moradores de Chico Chicote avistaram o pequeno grupo, avisaram ao patrão: "É o Nêgo Marrocos!" Naquele momento o segundo "acerto" da empreitada seria efetivado: O tenente Veríssimo imediatamente disparou um tiro de revolver nas costas de Antônio Marrocos, que ainda permaneceu vivo por algumas horas no cenário do grande combate. Ao ouvir aquele primeiro tiro, Chico Chicote voltou rapidamente com os seus para dentro de casa; começava ali um dos mais ferozes combates da era do cangaço, em terras cearenses.

Continua... 


Manoel Severo

NOTA CARIRI CANGAÇO: Essa Matéria estará distribuida em quatro postagens. Pesquisa : Fonte - Revista Itaytera  Volume 16 - Otacílio Anselmo; Cordel - A Tragédia das Guaribas, Maria do Rosario Lustosa da Cruz; entrevista Memorialista Napoleão Tavares Neves.

7 comentários:

Anônimo disse...

Senhores do blog, esse combate de Guaribas , que mais me pareceu, uma verdadeira ecatombe, nos traz a tona a personalidade perversa do tenente José Gonçalves Bezerra; figura que usou por várias vezes meios escusos para auferir poder haja visto esse episódio de Guaribas, quando a pretexto de perseguir Lampião, tramou e aceitou a "peitada" de inimigos de Chico Chicote para acabar com a vida do mesmo. Esse mesmo Zé Bezerra iria encontrar o mesmo destino sob as mãos de Severino Tavares e seus seguidores, na serra do araripe, tempos depois.

Parabens pela brilhante postagem e a narrativa fácil e elucidativa.

Dr. Samuel Rodrigues
Fortaleza

Anônimo disse...

O resgate da revista Itaytera nos enche de felicidade, abraços de parabéns a Manoel Severo e equipe, e gostaria de mandar recomendações ao grande Lindemberg de Aquino, homem referencia da cultura da região do Cariri.

Renato Fernandes.

Anônimo disse...

Os descendentes de senhor Antonio Gomes Granjeiro, são dirigentes de uma das maiores redes de lojas do Ceará nas décadas de 70 e 80 a eletro-granjeiro, que todos conhecemos.

Paulo Rima-fortaleza

Evandro Gabriel disse...

Sou natural de porteiras e me criei vendo meu pai contar essa história de chico chicote, fiquei maravilhado com a gama de detalhes das suas postagens. Me recordo de uma parte da versão do meu pai que relatou que no momento do cerco a fazenda guaribas lampião e seu bando estava assistindo tudo de cima da chapada do araripe.
a fazenda guaribas era localizada no sopé da chapada do araripe. Hoje é possível ver a casa do Chico Chicote e muitas arvores em volta registra no seu caule as marcas da sangrenta batalha de 1927.
Evandro....

Taty Munhon disse...

Acabei de ler e estamos emocionadas, pois de cara minha mae reconheceu a foto de seu avô,obviamente meu bisavô. Antonio Marrocos, que deixou uma familia de 6 filhos, gostaria de obter esse livro. Minha bisavó numa mais se casou e faleceu com 92 anos.

Efrahin disse...

Srs. do blog. Gostei muito de encontrar na internet algo sobre a história de meu bisavô. Neste ano minha avó Antonia Gomes Grangeiro (filha de Antonio Gomes Grangeiro) completa 100 anos. Meu pai (Gilberto Grangeiro Pereira) juntamente com alguns irmãos e sobrinhos estiveram nas Guaribas na casa que perteceu a nossa família fazendo um documentário que será exibido no aniversário de vovó.

Parabéns pelo trabalho.

Efrahin Alves Grangeiro
Juazeiro do Norte - CE

Selma disse...

o cabra de Chico Chicote por nome de Sebastião Cancão, é meu tio-avô!