Izaias Arruda e o Incendio da Ponte Parte I Por:José Cícero

 Mesa de abertura do Cariri Cangaço em Aurora no ano de 2011

Há anos que esta história me intrigava. Algo que nunca saíra de vez da minha cabeça. Tanto que, depois de várias investidas em vão para saber o local exato onde o incêndio ocorreu – por sorte, alguns meses atrás terminei encontrando o que procurava, isto é – a ponte do Olho d’água localizada entre o povoado de Quimami (Missão Velha) e Ingazeiras (Aurora).
 
Quando já me dirigia para a ponte do Jenipapeiro nos rumos do riacho dos Porcos nas proximidades de Ingazeiras, distrito de Aurora tive a sorte de parar numa bucólica residência de um agricultor. Um senhor de aproximadamente 80 anos. Cordato e hospitaleiro. Após falar-lhe do que eu estava procurando, ele de súbito, disse saber de toda a história contada-lhe um dia pelo seu genitor já falecido. E mais, que eu estava errado quanto a localização. A tal ponte não era a do jenipapeiro e sim, uma outra situada um pouco mais a frente a uma légua e meia dali. A ponte do incêndio ficava na localidade rural de Olho d’água. Aquela dica para mim foi muito mais que uma surpresa agradável. Foi um lenitivo. E assim, seguimos(eu e a minha equipe). De moto, ficou mais fácil vencermos as léguas tiranas das estradas empoeiradas. Chegamos finalmente ao local procurado. A ponte era magnífica. Exaustos mas recompensados por mais uma constatação histórica.
 
No ano passado, havia ido a Missão Velha e tendo inclusive conversado com o pesquisador Bosco Andréa acerca deste fato. Tudo estava, ainda como agora um tanto quanto nebuloso. Um mistério. De lá fui até a ponte/pontilhão das Emboscadas. Por sinal uma bela obra de arquitetura. Confiante de que havia sido ali o ambiente onde tudo ocorreu. Só em seguida é que fiquei sabendo que também não era lá. De novo estava eu desolado. E agora, diante do local exato pude constatar que se trata mesmo de uma bela ponte metálica de engenharia arrojada para os padrões da época. Logo que chegamos pude notar que bem ao lado, havia um canteiro de obras com vistas à construção da ferrovia denominada Transnordestina - obra do governo federal ainda da era Lula. Uma nova ponte estaria sendo projetada. E que será construída paralela a esta da Reffesa. Torço para que, com a suposta desativação da antiga linha, que pelo menos a histórica ponte onde todo o fato ocorreu venha a ser preservada. Posto ser ela, um patrimônio arquitetônico e histórico não somente de Aurora e Missão Velha, mas de todo o Cariri.

 
A Pesquisa de campo

Vasculhamos todo o matagal em seu entorno, assim como o leito do rio, quando pude, para minha alegria descobrir algumas peças antigas de ferro retorcido que estavam enterradas na lama, assim como cobertas pelo mato(ver foto). Tudo o que aquele senhor nos informou estava ali diante dos nossos olhos. Era a história viva e pulsante de um tempo ido, como que desafiando o olhar dos contemporâneos. O rio estava belo, mesmo que rasgado e maltratado pelas máquinas que estavam a construir a nova ferrovia. Vi muita destruição em boa parte do percurso. Uma verdadeira agressão ao rico e ao bioma da nossa caatinga como um todo. Tudo em nome de um progresso devorador que parece puder tudo. Até mesmo devastar e destruir os nossos ecossistemas e a nossa própria história.
 
Era gozado a forma como os operários da Transnordestina nos olhavam. Talvez, por não compreender o nosso propósito de pesquisa. Ficavam curiosos. Vendo-me com a minha equipe a fotografar tudo, a esquadrilhar o ambiente em suas minúcias; como a procurar algo no vazio. Descobrimos peças de metais enterradas na areia do rio. Checamos restos de antigos dormentes. Buscando assim qualquer vestígio possível daquele remoto acontecimento, passado a mais de 80 anos. Era possível ver os sinais de fogo nos pilares da velha ponte. Tudo ali parecia está realmente carregado de antigas memórias.
 
Eu olhava para aquela ponte e imaginava o velho coronel Izaías Arruda e Zé Gonçalves com todo o seu bando de jagunço em suas infindáveis estripulias. Lampião e seus comandados... Além dos grandes potentados e outras autoridades que um dia passaram por ali. Por fim, saber que por sobre aquela ponte do Salgado passou boa parte do antigo progresso do Cariri foi para mim uma sensação das mais indescritíveis. Um misto de saudade, alegria e curiosidade.

Continua...

José Cícero
http://blogdaaurorajc.blogspot.com/

2 comentários:

Anônimo disse...

Essa história do coronel Izaias Arruda, é muito boa, parabens ao zé cicero pelo belo trabalho.

Ana Oliveira
FM Universitária
Fortaleza

IVANILDO SILVEIRA disse...

COMO SEMPRE, O MESTRE JOSÉ CÍCERO PALMILHANDO A SUA REGIÃO, E, DESVENDANDO OS MISTÉRIOS DOS TEMPOS DO CANGAÇO.

ADMIRO MUITO OS AMIGOS BOSCO ANDRÉ E JOSÉ CÍCERO, COMO OS DECANOS QUE NÃO DEIXAM PASSAR EM BRANCO, AS MEMÓRIAS DE SUA REGIÃO..
PARABÉNS AMIGO.
ABRAÇO E, ESPERO A PARTE II do belíssimo texto.

IVANILDO SILVEIRA
Colecionador do cangaço
Natal/RN