Quando Lampião quase foi aniquilado Parte I Por: Rostand Medeiros



 Rostand Medeiros e Dra. Francisquinha

Nos primeiros meses do ano de 1924, o chefe cangaceiro Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, mantinha junto com seu bando uma intensa atividade de pilhagens, assaltos e ataque aos seus inimigos na região fronteiriça entre os estados de Pernambuco e da Paraíba. Neste setor não eram incomuns as notícias dos cangaceiros nas cidades de Princesa (PB), Triunfo e São José de Belmonte (PE). São deste período dois grandes ataques do bando de Lampião contra o ex-companheiro de cangaço, Clementino Furtado, ou o famoso “Clementino Quelé”. 

Segundo o livro “Pernambuco no tempo do cangaço, Volume I”, de Geraldo Ferraz de Sá Torres Filho (Recife,2002), em sua página 328, informa que segundo o Boletim Geral nº 05, da Polícia Militar de Pernambuco, as primeiras horas da manhã de seis de janeiro e 1924, dia dedicado aos Santos Reis, o chefe cangaceiro atacou um sítio próximo a vila de Santa Cruz, atual cidade de Santa Cruz da Baixa Verde, a apenas seis quilômetros de Triunfo, acompanhado de um grupo de cangaceiros calculado em sessenta homens.

Virgulino e seu irmão Antônio Ferreira, em foto do início do cangaço

Durante seis horas de nutrido tiroteio, Clementino Quelé suportou juntamente com outros membros de sua família, uma terrível provação. Mesmo tão próximo a cidade de Triunfo, somente as onze daquela manhã foi que o sargento Higino Belarmino, ordenou o deslocamento de sua tropa para salvar os sitiantes. Diante do fogo dos policiais, Lampião ordenou a retirada. Na casa ficaram três mortos, sendo um deles irmão de Quelé, e um ferido.

Não satisfeito pelo fato de ter conseguido matar o ex-companheiro de bando, o chefe Lampião retorna cinco dias depois a casa de Quelé, com igual número de cangaceiros, e reinicia o ataque. Aparentemente desta vez a tropa veio em socorro dos sitiantes mais rapidamente. Entretanto, como na ocorrência anterior novamente Quelé perdeu outros parentes e amigos.
Diante da situação, Clementino Quelé o homem que suportou is ataques de Lampião, cruzou a fronteira e seguiu para a cidade de Princesa, onde através da influência do “dono” do lugar, o coronel José Pereira, sentou praça na polícia paraibana. Ele recebeu a patente de sargento e tratou logo de montar uma força volante para caçar seu maior inimigo e o seu bando.
Diante da repercussão destes combates, as forças policiais dos dois estados aumentam a pressão contra os cangaceiros. Pelos próximos dois meses circulam notícias da presença do bando na proximidade da vila de Nazaré e informações de um assalto ao sítio São Domingos. (Ferraz, op. cit. Págs. 331 e 332).



Major Theophanes Torres Ferraz

Entre os oficiais da polícia pernambucana que desejavam capturar, ou abater, Lampião estava o major Theophanes Torres Ferraz. Aos 30 anos de idade, este militar era considerado uma verdadeira lenda no seio da corporação em que atuava. Ferraz havia se notabilizado pela prisão do famoso cangaceiro Antônio Silvino, em novembro de 1914, após o tiroteio ocorrido no sítio Lagoa da Laje, na zona rural do atual município pernambucano de Vertentes. Há algum tempo ele estava baseado na cidade de Vila Bela, atual Serra Talhada, atuando no desbaratamento de grupos cangaceiros.

Considerado atuante, enérgico e determinado, o nome do major Ferraz é visto costumeiramente nas páginas dos antigos jornais conservados na hemeroteca do Arquivo Público do Estado de Pernambuco. Estes periódicos estampavam principalmente seus telegramas destinados a Eurico Souza Leão, então Chefe de Polícia de Pernambuco, cargo atualmente equivalente ao de Secretário de Segurança. Nestes relatos o major Ferraz dava conta da atuação da força policial no interior. 

Em março de 1924, a frente de uma tropa de vinte e cinco policiais, o major Ferraz seguiu de Vila Bela para várias localidades da região do Pajeú pernambucano. Consta que uma das missões do major Ferraz era arregimentar o maior número de homens para formar uma grande volante destinada a combater os cangaceiros que assolavam a região. 

Um dos locais para onde a tropa seguiu foi a Serra do Catolé, distante cerca de 30 quilômetros de São José de Belmonte. Este elevado maciço granítico, que possui altitudes que ultrapassam os mil metros, está fincada na região onde as fronteiras dos estados de Pernambuco, Ceará e Paraíba se encontram, tendo seu nome originado a partir da existência de uma grande quantidade de pequenas palmeiras conhecidas como coqueiro catolé. A força policial chegou à região da serra no dia 23 de março.

Continua...

NOTA CARIRI CANGAÇO: Agradecemos ao confrade Rostand Medeiros; presença confirmada no Cariri Cangaço 2010; o envio do referido artigo, que será postado em dois momentos.


Um comentário:

José Mendes Pereira disse...

O Virgulino Ferreira da Silva, o futuro capitão Lampião foi o cangaceiro que mais inquietou os sertões nordestinos. Confiante no grupo de asseclas que dispunha, em 27 de julho de 1924, resolveu atacar a cidade de Sousa, lá no Estado da Paraíba. E afirmam os pesquisadores que não era o principal objetivo, pois estavam dispostos a atacarem Cajazeiras, já que souberam por boca miúda, que a cidade estava preparada para uma suposta invasão do grupo de Lampião. E ao tomarem conhecimento desta defesa à cidade, não querendo ser vencidos, outros cangaceiros se juntaram a esse ataque, entre eles estava o Francisco Pereira Dantas, o Chico Pereira, que foi covardemente assassinado na cidade de Acari, no Estado do Rio Grande do Norte, um dos cangaceiros que havia entrado no mundo do crime para vingar a morte do seu pai, o coronel João Pereira, assassinado por Zé Dias, quando pernoitava em seu barracão, na cidade de Nazarezinho, no Estado da Paraíba. No dia 8 de Agosto de 1924, Lampião e seu bando foram surpreendidos por uma volante policial, na casa de um suposto protetor dos cangaceiros em Princeza, tendo como baixa policial de um soldado morto e um ferido. No final de Agosto surgiu um boato através da Candinha que Virgulino Ferreira da Silva havia morrido, e este foi confirmado pelo Governador de Pernambuco, saindo o artigo no dia 27 de Agosto de 1924, no “Diário de Pernambuco”. Mais uma vez as autoridades foram enganadas, pois na verdade, Lampião estava vivo e gozando de boa saúde. Ao tomar conhecimento sobre o mexerico, Lampião não parou por aí, continuou fazendo assaltos, depredações e mortes.
Desejo ao escritor Rostand Medeiros e todos os seus familiares: “UM FELIZ NATAL E PRÓSPERO ANO NOVO”.

José Mendes Pereira – Mossoró-RN.
Fonte de pesquisas:
Ivanildo Silveira
Romero Cardoso