O Homem que sonhou Filmar Virgulino Por:Manoel Severo

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Ademar Bezerra de Albuquerque

Ademar Bezerra de Albuquerque nasceu em Fortaleza no dia 19 de julho de 1892. Perdeu os pais com 10 anos de idade e partiu para a labuta com uma determinação invejável para os meninos de sua idade, aos 23 anos casou com Lasthenia Campos de Albuquerque, tendo o casal nove filhos: Francisco Afonso, Antonio Afonso, Paulo Afonso, Pedro Afonso, Suzana, Lastenia, Maria Lucíola, Marta e Luis Afonso. Foi funcionário por 40 anos do Bank of London, entretanto a veia artistica fazia parte e viria  se tornar marcante na vida de Ademar.Sua criatividade artística teria uma manifestação inicial no campo da fotografia e do cinema, com destaque para a criação da Aba Film em 1934, empreendimento definitivo no ramo de fotografia. antes mesmo disso havia inaugurado seu primeiro laboratório fotografico ainda com 18 anos.

Uma das páginas mais fascinantes da história deste grande cearense se deu em 1925 quando produziu o primeiro filme sobre Padre Cícero: "O Joazeiro do Padre Cícero", o documentário nos traz imagens da vida cotidiana e da fé que cercava o santo padre do Joazeiro... registra também imagens de Missão Velha, Crato e Barbalha. O filme foi lançado no Cinema Moderno em Fortaleza no dia 8 de dezembro. Nesse curta metragem é possível ver Padre Cícero caminhando nas ruas de Juazeiro do Norte e tendo ao seu lado personalidades políticas e atrás de si uma pequena multidão.

Benjamim Abraão

Foi nessa época que Ademar viria a conhecer outro grande personagem desse capítulo, sobretudo para os estudiosos do cangaço: O imigrante libanês Benjamin Abraão Botto, secretário particular do Padre Cícero. Aqui inicia-se mais uma etapa para os investigadores da história. A farta literatura indica que ali, naquele momento, Ademar Albuquerque não só teria emprestado farto material fotográfico, como introduziu Benjamin nas artes da fotografia e do cinema, inclusive, quando em 1926 da presença de Virgulino em Juazeiro, Benjamin Abraão teria tentado, sem sucesso, filmar o cangaceiro e seu grupo.

Naquele momento, a eu ver, parecia realmente ter nascido a semente principal para a ousada empreitada de filmar e fotografar Virgulino Ferreira e seu bando. O tripé formado pela força e carisma de Padre Cícero, a invencionice e inteligência de Benjamim e a visão de futuro e senso de oportunidade de Ademar, iriam possibilitar um dos maiores feitos do cinema nacional: Filmar Lampião. Até aqui sabíamos que teria sido fruto apenas da engenhosa cabeça do libanês andante, desse momento em diante, a partir do depoimento de Nirez; post acima; temos mais um elemento a considerar: Tudo havia nascido da cabeça de Ademar Albuquerque.

Padre Cícero Romão Batista

A associação entre Adhemar Albuquerque e Benjamin Abrahão viria a se consolidar em 1936 com o fornecimento de equipamento e treinamento específico para utilização, daí, um labirinto próprio da saga lampiônica começa a se descortinar até que Benjamim se vê novamente diante do Rei do Cangaço, e se dão as primeiras fotografias e o primeiro rolo de filme. Ao final, relíquias fotográficas de valor inestimável retratando as imagens dos cangaceiros que perteciam aos vários grupos comandados por Virgulino e o filme "Lampeão" , montado na Aba Filme, mas de imediato envolvido por restrições e ameaças oficiais. No dia 2 de julho de 1938 a película teria uma exibição de carater privado. O Cine Moderno em Fortaleza recebia a seleta platéia de autoridades, entre essas, o Chefe de Polícia Capitão Cordeiro Neto. Depois dali foi decretada a apreensão do referido filme pelo diretor do Departamento Nacional de Propaganda, o braço de censura do governo ditatorial, Lourival Fontes.
 
"Secretário Segurança Publica Estado do Ceará Fortaleza. Tendo chegado ao conhecimento do Departamento Nacional de Propaganda, estar sendo annunciado ou exhibido na capital ou cidades desse Estado, um filme sobre Lampeão, de propriedade de "Aba Filme", com sede á rua Major Facundo, solicito vos digneis providenciar no sentido de ser apprehendido immediatamente o referido filme, com todas suas copias, e respectivo negativo, e remettel-os a esta repartição, devendo ser evitado seja o mesmo negociado com terceiros e enviado para fora do paiz. Attenciosos cumprimentos. Lourival Fontes, director do Departamento Nacional de Propaganda do Ministério da Justiça."


Cine Moderno por ocasião da exibição de Lampeão, Acervo coronel Edynardo Weyne

O tempo nos traria os trágicos desdobramentos de tão festejada empreitada. Em maio do mesmo ano Benjamim Abraão seria assassinado  com quarenta e duas facadas no estado de Pernambuco. Em julho, também do mesmo ano, tombariam mortos; Lampião, Maria e mais nove cangaceiros, no estado de Sergipe e do filme; só nos resta 11 intermináveis e memoráveis minutos, eternizando um mito. Ademar Bezerra de Albuquerque, faleceu aos 83 anos de idade, no dia 17 de julho de 1975.


FONTES:
palavracultura.blogspot.com blog de nossa amiga, profa.Rosilene Melo
fortalezanobre.blogspot.com de Leila Nobre
http://www.memoriadocinema.com.br/

Manoel Severo
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4 comentários:

José Mendes Pereira disse...

Confrade Manoel Severo:

Parabéns pelo seu excelente texto sobre as filmagens do cangaço.
No texto do escritor Aderbal Nogueira, há uma controvérsia, segundo ele. Mas essa controvérsia poderá ser logo estudada por eles mesmos, e chegarão a uma conclusão, a quem realmente pertence a ideia de filmar Lampião nas caatingas.

José Mendes Pereira - Mossoró-RN.

Demetrius Calvin disse...

Caro amigo Manoel Severo, parabens pelo bem construido texto sobre o empresário Ademar Albuquerque, elucidativo e mostra a grande figura que ele foi. Agora se ele teve ou não a idéia de primeiro filmar o rei do cangaço, mais um mistério...

Grande abraço, já temos a data do seminário do cangaço deste ano?

Demetrius Calvin

Anônimo disse...

Quanto existe de coincidência e quanto existe de determinação das autoridades, combinando ação federal e estadual, para que julho de 1938 fosse tão decisivo para o fim do cangaço? Na matéria de Manoel Severo, vemos que neste mês aconteceram: apreensão do filme de Abrahão/ABA, o assassinato de Benjamim Abrahão (a motivação desse assassinato tem ligação possível com personagens do mundo de Lampião) e ação decisiva do tenente João Bezerra contra o bando do Rei do Cangaço. A possibilidade de uma campanha com origem no Catete é bastante provável, visto que o Departamento Nacional de Propaganda, órgão do Ministério da Justiça, ordenou a apreensão da fita e certamente solicitou ações mais enérgicas das policias estaduais no combate ao cangaceirismo.

C Eduardo.

Anônimo disse...

Concordo plenamente eduardo, houve uma grande confluencia de interesses e o Virgulino acabara definitivamenete de ser inoportuno para as elites de então da ditadura vargas, aí não teve choro nem vela, concordo com vc. Foi o fim.

Thiago Mota