Massilon e a República de São Vicente Por:Janio Rego

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A arte de Aldemir Martins

Acho que compreendo a dificuldade de Carlos Santos em escrever no seu blog sobre Massilon, o livro de Honório de Medeiros sobre o cangaceiro que foi um dos protagonistas mais importantes do ataque de Lampião a Mossoró em junho de 1927, mesmo ele tendo acompanhado o autor no primeiro lançamento do livro, no sertão do Cariri, durante um seminário sobre o tema Cangaço, o Cariri Cangaço.

Não é fácil escrever sobre aquilo que acicata nossa memória e nos remete à infância, à turma do Patamar, ao que ele próprio, Santos, tratou de nomear como a República Independente do Patamar da Igreja de São Vicente da qual somos remanescentes, como o autor Honório de Medeiros que diz assim, na introdução do livro:“Nasci e cresci à sombra da Igreja de São Vicente, a igreja da “bunda redonda”, brinquei, assisti missa, novena de Santo Antônio, sem perder o contato com as marcas que o combate contra Lampião deixou em suas paredes e na sua torre”. Centralizando a figura do cangaceiro potiguar que foi parceiro de Lampião no ataque que foi rechaçado da torre da igreja, Honório de Medeiros remonta a engrenagem do coronelismo e do Poder político no Nordeste rural e repagina e estimula a revisão crítica da história da invasão do Rei do Cangaço a Mossoró em 1927.

(…)um novo conceito para o cangaço, dentro de uma perspectiva científica que identifique o geral no particular e afaste, de vez, o estudo do cangaço do mero “contar casos”. Surpreende no livro também, além desse viés do pesquisador sobre o cangaço, o caráter genealógico e emotivo que o autor revela na introdução: (…)se agregou o interesse de sempre acerca da história da minha família materna, da qual é o momento precioso, desde a fundação de Martins até a resistência oposta por Rodolpho Fernandes à Lampião”. Ao mesmo tempo em que escreve sobre o roteiro geográfico e factual de Massilon que passa pela Paraiba e Ceará, estados por onde andou em busca de informações, Honório constrói um arcabouço emocional da marcante trajetória e origem da família materna dele, os Fernandes do Rio Grande do Norte, do qual ele faz questão de revelar que é a nona geração do patriarca que fundou e deu nome à cidade serrana de Martins.


Mas para leitores como nós, eu e Carlos, fica difícil não ver em cada capítulo a imagem da Igreja de São Vicente. Mesmo que não seja o capítulo em que Honório descreve, preciso como um roteiro cinematográfico, a hora do tiro disparado por Manoel Duarte e que matou o cangaceiro Colchete. O patamar hoje está mais curto e mais baixo do que aquele em que os republicanos brincavam pela manhã e à noite. Apenas dois degraus e chão pedregoso como nunca. Arrancador de chamboque nos dedos dos pés. Os canteiros, construídos por padre Sátyro no auge da perseguição aos jogos de bola dos meninos, estes permanecem intactos sendo que agora têm plantas. As crianças foram rareando nas residências em torno do Patamar. A cidade. O tempo. Os hábitos. O jogo de bola acabou-se muito antes da capelinha da bunda redonda tornar-se cult e festejada.

Estivemos lá na igreja, na missa e quermesse dos 80 anos de idade do Careca com a entrega aos fiéis da capela pintada, restaurada, nova como em 1919. E amarela, bem amarelinha.Foi muito interessante. Padre Sátyro no altar: Eu vi São Vicente sorrir! Eu vi São Vicente sorrir! O octogenário e sua retórica vibrante, sabedoria dos oradores sacros, tradição dos copistas do conhecimento e da liturgia.

Depois tivemos que ouvir a Prefeita da Cidade. Mas nos compensaram os doces vicentinos vendidos no meio da rua lateral, a Francisco Ramalho, defronte à casa de Marcos Porto, esse já tornado memória e lenda do Patamar que já carece de um livro. Ele também um Fernandes. No Rio Grande do Norte esse lado familista é muito importante. O livro de Honório permite ver que laços ancestrais construíram esse orgulho familiar que de certa forma marca o Estado do Rio Grande do Norte.

Janio Rego
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4 comentários:

José Mendes Pereira disse...

O assalto a Mossoró deve-se a Massilon, quando, em Belém do Brejo do Cruz, no Estado da Paraíba, em confronto com a polícia assassinou um soldado. E temendo ser justiçado, conseguiu fugir em direção às caatingas, e lá se incorporou ao bando de Lampião. O tempo foi se passando e aos poucos ele foi se tornando um homem paparicado pelo capitão Lampião.
Mais ou menos no mês de abril, ou no princípio do mês de maio de 1927, Massilon já se sentindo um homem de confiança de Lampião, fez-lhe a proposta para juntos fazerem uma invasão a Mossoró, afirmando ele que era a maior cidade potiguar, sendo bem estruturada, com um comércio que rendia muito, e além do mais tinha bancos como bons movimentos. E com certeza, assaltando-a, sairiam daqui com os bolsos e bornais abarrotados de dinheiro.
Mas diz o jornalista Alexandre Gurgel, que Massilon era apaixonado por uma das filhas do prefeito Rodolfo Fernandes, e sendo astucioso, sabendo que se os seus compassas aceitassem invadir Mossoró, ataque que ele tinha plena certeza que daria certo, seria uma boa oportunidade para levá-la consigo para as caatingas do nordeste.
Mas Lampião não sabia que o maior interesse de Massilon pelo ataque a Mossoró, era a paixão irresistível que ele tinha pela filha do prefeito. É claro que se ele antes tivesse tomado conhecimento desse desejo incontrolado do assecla pela moça, com certeza não teria dado a mínima atenção às suas palavras, e nem tão pouco vindo a Mossoró.
Na agenda de anotações de Lampião nunca fora registrada a possibilidade de algum dia atacar Mossoró, simplesmente por três razões:
1 – Não era conhecedor das terras do Rio Grande do Norte, e principalmente Mossoró que fica já próxima ao litoral;
2 – A padroeira da cidade é a Santa Luzia, e ele apesar que era facínora, era um dos seus admiradores. E não tinha em sua mente pensamentos guardados para lutar contra ela, depredando e assassinando pessoas que viviam sob o seu olhar;
3 – Também era um dos seus lemas: não invadia cidades que tivessem igrejas com duas torres, como a catedral de Santa Luzia.
Mas mesmo temendo isso, Lampião e o bando, juntos, fizeram reunião, no intuito de chegarem a mais desenvolvida cidade do Rio Grande do Norte. Combinaram e partiram para a grande empreitada.
Lampião não era muito de confiar em coiteiros e cangaceiros, pois afirmava que ambos eram faca de dois gumes. Mas caiu nessa, de ter ouvido a conversa de Massilon.
E já decidido, partiu com a sua saga para a perigosa invasão, sendo os bandos comandados por: Benevides Leite, o Massilon, José Leite de Santana, o Jararaca, Sabino Gomes, e o cangaceiro Vinte e Dois; mas todos eram subordinados ao estado maior.
O grupo era composto por mais de 50 cangaceiros, que posteriormente depois da frustrava invasão de Mossoró, a maior parte se desligou, inclusive Massilon e seu irmão Pinga Fogo, que se debandaram sem nunca mais darem notícias onde estavam morando.
“Há um vago comentário que após a invasão de Mossoró, Massilon foi embora para Goiás, e posteriormente para São Paulo. Nos anos 50, ele foi visto no nordeste, sendo dono de um caminhão novo, e com motorista particular. Mas essas informações não foram reconhecidas pelos grandes pesquisadores”.

O amigo Janio Rego faz uma referência ao Marcos Porto, filho de Francisco Fernandes Porto (Chico Porto), e irmão de Júnior Porto, que morava em uma das esquinas das laterais da Igreja de São Vicente.
Tive a oportunidade de ser seu vizinho nos anos 80, lá no conjunto Wlrick Graff, no grande Alto de São Manoel; dono de uma sorveteria, e que muito cedo Deus o chamou para junto de si. Era uma excelente pessoa, com uma educação fora do comum.

José Mendes Pereira – Mossoró-Rn.

Anônimo disse...

Cangaceiro potiguar, não é apenas o Jesuíno Brilhante? Para mim, é uma surpresa saber que Massilon é norte-riograndense. Sinceramente desconfio dessa afirmação, em razão dos livros que já li acerca desse maravilhoso tema.

José Edilson de A. G. Segundo

Anônimo disse...

Com relação ao grande bandido Massilon, diria ao companheiro José Edilson que a revelação de que massilon era realmente Potiguar foi a partir de pesquisas do escritor e pesquisador Honorio de Medeiros, um livro simplesmente espetacular.

E quanto a invsão de Mossoró, caro José Mendes, não podemos esquecer o cearense Isaias Arruda, grande mentor do assalto.

sds

Henrique Lopes D'aora
Recife

B.D.Saldanha disse...

Concordo com o que diz José Edilson de A.G.Segundo. O 'pesquisador' Honório de Medeiros, muitas vezes se perde em suas 'pesquisas' dando vez a boatos, muitos deles infundados. É preciso mais critério para não ser taxado de boateiro em vez de historiador. Meu conselho é que pesquise mais suas obras, e se não tiver plena certeza, embasada em documentos e depoimentos, NÃO PUBLIQUE!
B.D.saldanha.